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sábado, setembro 13, 2025

‘Uma escapadela secreta onde o verão perdura’: as viagens favoritas dos leitores do Guardian, em setembro, na Europa

 

Ao ver o título da notícia do Guardian (acima, no título), patriota como sou, fui logo ver se aparecia algum destino português. E sim, aparece. Fiquei contente. Mas fiquei admirada. Évora é uma cidade linda (e onde se come bem) mas, ainda assim, estava à espera de um lugar mais pitoresco ou mais desconhecido ou com uma oferta mais diversificada. No entanto, reconheço, é disparate meu, na volta até demonstro algum provincianismo ou alguma miopia.

O Alentejo banha-se em luz dourada até finais de Setembro e Outubro. A região estende-se desde florestas de sobreiros a praias selvagens do Atlântico, com temperaturas diurnas ainda a rondar os 20°C. Na cidade caiada de Évora, ruínas romanas e praças tranquilas convidam a um passeio tranquilo. Mais a oeste, a costa perto de Vila Nova de Milfontes oferece ondas quentes e areias quase desertas. O Alentejo é lânguido e soalheiro, um refúgio secreto onde o verão se prolonga e o tempo parece parar.
Autor do texto: Matthew Healy.
Autor da fotografia:  Praça do Giraldo, Évora. Fotógrafo: Philip Scalia/Alamy

Numa altura em que alguns dos meus amigos andam no laré por locais longínquos e enviam fotografias maravilhosas, eu sinto-me cada vez melhor no nosso país, e, em particular, em casa, seja na da cidade, por acaso perto do mar, seja na do campo, no meio do nada, rodeada de serras e de silêncio. 

No outro dia o meu marido estava a sugerir uma viagem e eu, que antes estava sempre numa de ir e que adorava planear, escolher hotéis, ir à aventura, agora penso sobretudo na maçada de fazer malas, na falta de conforto que representa a ausência dos nossos sítios tão bons, ou penso no déjà vu que já tudo me parece, quase como se já nada é verdadeiramente novidade. E quando, no meio deste comodismo, abro uma excepção e penso em ir visitar algum lugar, o que me ocorre é sair de manhã, irmos de carro, levarmos o nosso querido cãobeludo mais fofo, e regressarmos ao fim do dia. Quem me viu e quem me vê.

Mas depois, quando tento situar, no tempo, o momento em que comecei a desinteressar-me por ir viajar, localizo facilmente. Primeiro foi o meu sogro com uma doença grave que nos enchia de preocupação, que ia fazer tratamentos, que era preciso acompanhar, visitar, que nos fazia ter receio de nos ausentarmos. Depois, durante esse mesmo período, foi a minha sogra, também muito mal, internada durante bastante tempo, depois em casa, acamada, a precisar de cuidados permanentes. O que esse período nos trouxe a nível emocional e logístico não tem explicação. A seguir, durante esse mesmo período, foi o tremendo avc do meu pai. Aí a nossa vida complicou-se severamente. Eu e o meu marido cheios de trabalho, com responsabilidades que não podiam ser compatibilizadas com a ocupação que nos era requerida, e as preocupações a sucederem-se, umas atrás de outras. As férias passaram a ser apenas no país e fora de casa não mais que uma semana de seguida. E, ainda assim, íamos sempre com o credo na boca. Entretanto, morreu o meu sogro, algum tempo depois a minha sogra. Depois veio a covid, o confinamento, a morte do meu pai, e, quando já apenas sobrevivia a minha mãe, vieram os horríveis problemas com ela, que me iam levando a uma tremenda depressão tal a situação complexa que ela atravessou. Impossível afastar-me. Já lá vai um ano e picos que se foi, já poderia ter recuperado os meus velhos hábitos de nos pormos na alheta, de irmos passear e descobrir outras terras. Talvez um dia. Mas não sei.

Em retrospectiva, lembro-me de quando trabalhava, saindo de manhã e regressando ao fim do dia, os fins de semana sempre tão cheios de visitas e de mil compromissos, sempre sem tempo para usufruir tranquilamente da nossa casa. Agora consigo fazê-lo. Olho para as árvores, sento-me a ouvir os pássaros, rego, ocupo-me da casa, o meu marido ocupa-se com o jardim, lemos, cozinhamos, caminhamos. Tempos muito tranquilos. 


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Desejo-vos um bom sábado

quarta-feira, setembro 10, 2025

Ro Ro, ou a graça das mulheres-meninas

 

Confesso a minha ignorância: nunca tinha ouvido falar em Angela Ro Ro. Mas devota do Bial como sou, se ele a leva às suas gostosas conversas, eu estou lá. Portanto, pus-me a ouvir.

E, à medida que a ouvia, risonha, provocadora e engraçada como uma adolescente, mostrando continuar sequiosa de vida e diversão, pronta para os amores, ia-me lembrando de uma amiga que é assim. Muito, muito assim (apenas com a diferença de que Angela Ro Ro é gay e a minha amiga é hetero).

Tal como vejo, pela entrevista, que Angela Ro Ro tinha a fama de ser uma malandreca, também a minha amiga, quando entrou a sério na adolescência, virou uma bela safadinha. Tinha fama de alta namoradeira ou mais que isso, fazia coisas que, por vezes, me deixavam um bocado perplexa, sobretudo por achar que ela caía com demasiada facilidade nos braços errados. Mas ela não me ouvia. Não ouvia ninguém. Parecia tomada por uma urgência de experimentar tudo, de quebrar todos os tabus.

Mas, à posteriori, vim a verificar que, afinal, era muita parra e pouca uva. Muitas aventuras, muitos empolgamentos, e, depois, muitas decepções, muitos desgostos. Conta que foi várias vezes traída. No fundo acreditava demais em quem, se via à légua, que não merecia qualquer crédito. Mas ela não via o mesmo que os outros. Olhares racionais e objectivos não eram com ela, toda emoção, toda inocência.

Talvez por isso ou talvez porque a vida, por vezes, prega partidas a quem não o merece, amores verdadeiros, grandes, intensos, duradouros, que não a fizessem sofrer, não os teve.  

Mas não ficou ressentida nem desanimada. De facto, ainda agora continua a ser tal como se descobriu quando, adolescente, resolveu abraçar a vida sem reservas: alegre, brincalhona, sedutora, irreverente, com uma tremenda vontade de amar e de ser amada, a mesma adorável adolescente. E... continua a dar com os burrinhos na água pois continua a atirar-se, sem reservas, para os braços de quem não tem condições de retribuir a paixão. No entanto, continua, sorridentemente a acreditar que o melhor ainda está para vir, a correr atrás da sorte, do amor, da paixão. E eu, do mais fundo do meu coração, desejo que um dia encontre alguém que a ame como ela, desde sempre, desejou ser amada.

A voz INESQUECÍVEL de Angela Ro Ro | Conversa com Bial | GNT

No #ConversaComBial , uma homenagem especial à icônica Angela Ro Ro, cantora e compositora que marcou a MPB com sua voz potente e canções inesquecíveis.

Com uma carreira iniciada nos anos 70, Angela deixou clássicos como Amor, Meu Grande Amor e Compasso, tornando-se referência de autenticidade e emoção na música brasileira.



domingo, agosto 10, 2025

A vida dos muito ricos

 

Não sou mas conheço alguns. Nunca aparecem nas revistas. Nunca aparecem na televisão. Raramente vão aos restaurantes da moda. Raramente vão às praias da moda.

Geralmente estão nas suas casas. Um deles tem uma casa de férias, dizem que 'normal', ou seja, nada daquelas villas que ostentam fortuna por todos os poros e janelas, numa aldeia perto da costa vicentina. Dizem que vai, de calções e chinelos, ao minimercado mais perto, geralmente comprar peixe para assar. Digo 'dizem' pois nunca ninguém viu, foi um irmão que uma vez comentou isso e, quando contra-comentaram que ninguém lá deve desconfiar quem ele é, respondeu que claro que não, ninguém sonha. Esse que comentou, outro igualmente rico, também é especialista em churrascos. Gosta de assar peixe e carne não apenas para a família como para os amigos. Se lhe perguntarem se conhece algum daqueles restaurantes super estrelados dirá que isso não é para ele. Quando se vai ao restaurante com ele, não apenas escolhe restaurantes 'normais' como, no fim, se é ele que paga, no fim põe os óculos e está meia hora a olhar para a conta e a conferir se não puseram uma água ou um queijinho a mais.

Um desses muito ricos, quando em ambiente informal, em casa, mesmo que com convidados, no inverno usa geralmente um pullover de lã que é mais comprido de um lado do que outro, de tricot, já todo 'pendão' e com um ou outro buraco, de tipo malha caída. Todos os anos usa o mesmo pullover, gosta dele e acha que está bom, que não faz sentido deitar fora. 

É gente que parece ser despojada. Parece, mas não é. Pelo contrário são até forretas, 'poupadinhos'.

Uma vez vim ao lado de um deles numa viagem de avião. Tinha comprado uns charutos na freeshop. Vínhamos na conversa e, às tantas, quis ver o que eu tinha comprado. Quando viu a caixa de charutos, perguntou quanto tinham custado, e, pela entoação, foi quase como se achasse se eu tinha gastado dinheiro uma inutilidade, ainda por cima dispendiosa. 

As televisões e as redes sociais mostram-nos grandes hotéis, resorts de luxo, e, invariavelmente, estão sempre cheios. Mas não destes muito ricos, pelo menos dos old school. Aliás, do que conheço, penso que sentem um certo desprezo por esse jetset endinheirado que por aí anda gastando balúrdios e exibindo as suas férias, as suas toilettes, os seus luxos. 

Por exemplo conheço um que é rico, diria que bastante rico. Mas não é tão rico como os anteriores. Vai de férias todos os anos, duas semanas, para a Quinta do Lago, milhares como podem imaginar, e conhece todos os Belcantos desta vida, todos os vinhos renomados e envelhecidos, e frequenta torneios de golfe um pouco por todo o mundo e faz questão de ter sempre carros ultra topo de gama. Os primeiros, os muito ricos, de certa forma troçam, ainda que discretamente, com os luxos deste último, quase como se achassem que é coisa de gente deslumbrada. 

É grande a diferença entre o old money e o restante. 

Claro que há ainda as pessoas que conservam todos os hábitos do old money, porque em tempo o tiveram, apesar de já não serem tão ricos assim. Esses ignoram os novos-ricos embora, no íntimo, penso que invejem um pouco o seu sucesso e a sua ascensão, quase como se pensassem que são alpinistas socias que vêm ocupar, usurpar, o seu lugar na sociedade.

Pelos vistos os muito ricos do Brasil não são como os muito ricos em Portugal. Pelo que vejo no vídeo abaixo, não só gostam de ostentar a riqueza como acham que é pouca, que ricos são os outros. É uma questão cultural.

De qualquer forma, embora espelhando uma realidade diferente (pelo que ouço, os muito ricos do Brasil seriam considerados em Portugal novos-ricos), partilho o vídeo em que o Bial fala com um antropólogo que tem investigado a vida dos ricos.

Por que os RICOS OSTENTAM? Michel Alcoforado TE CONTA | Conversa com Bial | GNT

O antropólogo @‌michelalcoforado experienciou o mundo dos muito ricos através da chamada “observação participativa”, para entender como pensam, o que consomem e por que ostentam tanto.

No #ConversaComBial, ele explica como a riqueza no Brasil não diz apenas sobre dinheiro, mas também sobre poder, acesso e pertencimento. 

Desejo-vos um feliz dia de domingo

terça-feira, agosto 05, 2025

Dar de mamar até as crianças terem 6 anos? Mas está tudo doido ou quê? Poupem-me.

 

Não vi, até agora, nenhuma concretização de jeito por parte do Governo Montenegro. Antes das eleições, já por duas vezes, era vê-lo, fanfarrão: que fazia e que acontecia, era só chegar ao governo, e todos os problemas se resolveriam em 2 ou 3 meses -- e, afinal, como é público e notório, tudo em que tocou ficou ainda mais estragado.

Por isso, não pode haver dúvidas sobre a minha opinião geral sobre a falácia Montenegro. Mas isso não me tolda o raciocínio. Sou, e creio que enquanto tiver a mente a funcionar normalmente, assim serei isenta. Pelo menos, esforço-me por isso. E é assim que hoje vou sair em defesa de Madame Palma Ramalho.

Enfim... mais ou menos...

No que se refere ao tema da legislação laboral, continuo sem perceber qual a necessidade de tanto fuzuê. Trabalhei durante anos e anos e nunca vi que a legislação fosse um problema. Saídas por negociação, saídas por extinção de posto de trabalho, saídas por despedimento com justa causa ou mesmo despedimento colectivo são o pão nosso de cada dia. Sem espinhas.

Claro que não se consegue despedir, unilateralmente falando, alguém só porque sim. Pode não se gostar nem um bocadinho de uma pessoa, pode saber-se que é um traste de primeira, que é uma pessoa tóxica ou psicopata, e, ainda assim, não conseguirmos livrar-nos dela. Sei do que falo. Passei por situações em que toda a gente queria ver uma doida varrida pelas costas: má profissional, má colega, perigosa mesmo. Em relação a mim, por diversas vezes, usou tácticas intimidatórias. E, ainda assim, o mais que conseguimos foi mudá-la de funções. Poderíamos, claro, ter avançado para um despedimento individual coercivo. Mas teríamos que carrear provas, teríamos que nos preparar para que um advogado nos fizesse a vida negra, teríamos que arcar com o risco de que fosse para as redes sociais deturpar tudo e causar danos reputacionais à empresa. Engolimos em seco e engendrámos uma solução em que fizesse o mínimo de estragos. Mas, ainda assim, continuo a defender que é preferível arcar com as consequências de ter gente pestilenta e imprestável nas empresas do que correr-se o risco de que patrões desonestos ajam discricionariamente contra trabalhadores indefesos que não lhes caiam nas boas graças.

Por isso, de cada vez que vejo que a bandeira da legislação laboral anda outra vez de mão em mão, dou um passo atrás e fico, cepticamente, à espera de ver o que vai sair dali. Felizmente, de forma geral, as montanhas parem ratos. Haja paciência.

Não quero com isto dizer que não haja aspectos a burilar. Há. Pormenores, aspectos específicos, pontuais. E, nesses casos, mais inteligente seria se partidos, sindicatos e associações patronais pensassem no País e não nas corporações em que se entrincheiram.

Mas, aqui chegados, eis que salta para a arena o tema da amamentação. O Governo quer limitar a redução de horário (duas horas) aos primeiros dois anos. Quando ouvi, pareceu-me normal, inócuo. 

Contudo, de repente, levantou-se um banzé do caraças, toda a gente a defender que as mulheres devem ter duas horas a menos de trabalho para amamentar crianças até aos 6 anos. De loucos. Pela cabeça de quem é que passa que é normal uma mulher dar de mamar a crianças com mais de 2 anos? Em especial, que o faz em horário diurno? Está tudo maluco ou quê?

Falo com conhecimento de causa. Foi há muito tempo mas a realidade é a mesma: uma mãe a amamentar os filhos.

Amamentei a minha filha até ela ter 13 meses. Já o contei: já falava e andava e ainda mamava. Mamava de uma mama, depois levantava-se, dizia, 'agora a outa', sentava-se na minha outra perna, encostava-se a mim, e mamava. Claro que o fazia depois de ter comido a papa da manhã, antes de sairmos, e, à noite, antes de ir para a cama. Por fim, só à noite. E eu confesso: fui eu que acabei com aquilo, já estava fisicamente saturada, já me custava. E foi um processo natural que ela também aceitou bem. Disse-lhe: 'A mãe já não tem mais leitinho nas maminhas. Sabes como vamos fazer? Já és grande, agora vais passar a beber um copinho de leite como os meninos crescidos'. E assim aconteceu, naturalmente.

De todas as minhas amigas, colegas e conhecidas eu fui a única que amamentei até tão tarde. Toda a gente achava um disparate, quase como se fosse uma cedência ao mimo de uma criança. Não quis saber. A minha intuição dizia-me que era benéfico para ela e assim foi.

Na altura, só havia licença de amamentação no primeiro ano da criança.

Com o meu filho, foi diferente. Sempre speedado, com um ritmo sempre difícil de acompanhar. Mamou até aos 4 meses, mas sempre foi um desatino. Quando a minha filha mamava, era um momento tranquilo: aninhava-se em mim e mamava pausadamente. O leite do meu peito sempre foi proporcional às suas necessidades. Com ele sempre foi o oposto: mamava sofregamente, mamava, mamava, com uma força e uma velocidade que não dava para acreditar, parecia que estava sempre esgalgado de fome. Claro que depois engasgava-se. Eu assustava-me imenso, ficava sem conseguir respirar e eu levantava-o, abanava-o. Enquanto isso, o meu peito ficava a esguichar leite enquanto ele tossia, engasgado, o leite a atingi-lo na cara, a entrar-lhe para os olhos e, quando se desengasgava, chorava, incomodado. O meu peito, face a tal sofreguidão, produzia leite até mais não poder, transbordava, encaroçava. Quando chegou aos 4 meses, deixou de querer mamar. Tive um desgosto grande, uma grande preocupação. Custou-me muito que esse elixir, essa garantia de saúde, não pudesse ser-lhe proporcionada. Tentei de tudo, mas ele foi taxativo. Fechava a boca, torcia-se, rabiava, esperneava. O leite acabou por ir secando. Por essa altura, já tinha introduzido a comida sólida no seu regime, e era só disso que ele queria. Não papas, que isso o agoniava, queria era sopa, comida com sabor. Devorava comida normal. Mas, bebé que era, como tinha que beber leite, dava-lhe no biberão. Mas só de eu lhe pôr a tetina na boca, começava com vómitos. Tinha que apanhá-lo a dormir, para lhe dar leite à socapa. Mas criou-se, cresceu, fez-se grande e forte. E mantém-se um bom garfo.

A tendência agora é que a amamentação seja exclusiva até aos seis meses. Acompanhei o processo pelos meus netos.

Mas o facto de haver mais um ou dois meses de amamentação em exclusivo ou de ser claro que o leite materno é uma mais valia e que prolongar-se até aos dois anos pode não ser o disparate que antes parecia, não significa que seja natural, saudável (lato sensu), amamentar uma criança para além dos dois anos, em especial durante o dia. Diria que é um absurdo sem pés na cabeça e duvido que haja mais do que meia dúzia de mulheres que o faça. Duvido muito.  

Dito isto não quero dizer que não faça sentido que as mães (ou os pais, à vez) não devam ter redução de duas horas de horário de trabalho até as crianças terem 6 anos. Chamemos-lhe 'licença de acompanhamento parental'. Isso, sim, faz sentido.

Relembro os meus tempos de jovem mãe, com horário rígido, sem redução após eles terem 1 ano. Eu com uma menina quase bebé, depois grávida e com ela ao colo ou pela mão, depois com um bebé de colo e ela, pequenina, pela mão. Não usava carro nessa altura. Nessa altura o meu marido estava na Marinha, sem flexibilidade para me apoiar mais, e, depois, quando saiu de lá, entrou para uma multinacional que o tirava frequentemente de Lisboa e do País. Não foram tempos fáceis. Mas era o que era e, apesar dos sacrifícios, sobrevivemos. Na boa. 

Mas poderia ter sido melhor. Não tive mais uns quantos filhos por me ser tão difícil (e por não ter suporte ou apoio logístico para as dificuldades do dia a dia). Tivesse eu tido uma vida mais facilitada e não teriam sido dois, teriam sido uns três ou quatro filhos. Se bem que o que eu gostava mesmo era de ter tido uns seis. Mas era impensável, ingerível.

Mas agora que o mundo mudou e que a flexibilização de horários é uma coisa normal, que o regime de trabalho pode ser híbrido, pode -- e deve -- ir-se mais longe.

A demografia em Portugal é uma lástima. Mesmo que os imigrantes nos venham dar uma ajuda no rejuvenescimento populacional, não chega. 

Tudo deve ser feito para incentivar a natalidade e o mínimo que se pode fazer é garantir que os pais possam acompanhar minimamente os seus filhos pequenos, trabalhando menos 2 horas por dia até que atinjam os 6 anos.

Isso e mais medidas: todas são poucas para incentivar os pais a terem mais filhos. Creches gratuitas, horários flexíveis e reduzidos sem redução de ordenado, abono de família generoso e crescente consoante venham mais filhos para a família. E o mais que, razoável e inteligentemente, se saiba pôr em prática.

segunda-feira, agosto 04, 2025

É assim que a Inteligência Artificial vai destruir a humanidade...? Em 10 anos...?

 

Já o referi e tenho vontade de repescar essas memórias para ilustrar o meu raciocínio. Houve uma altura em que ia a Paris com alguma frequência. Por exemplo, via anúncios à Minitel no metro ou na rua numa altura em que, por cá, nem se sabia bem o que era. Por cá, mais tarde, quando a Telepac começou a oferecer serviços, nas empresas era uma confusão para se conseguir perceber como usar. 

Ainda me lembro de ver estudos para analisar quais as vantagens do fax. Criaram-se novos processos para aproveitar a rapidez do fax. Quando se adoptou, destronou o telex. Desapareceram as salas de telex e as Operadoras de telex.

Também me lembro de, em Paris, ver, com espanto, uma pessoa a conduzir e com uma coisa grande na mão através da qual falava como se falasse ao telemóvel. Depois reparei que não era o único.

Também acompanhei a atribuição de telemóveis na empresa, sendo contemplado com um porque era directora. Era uma coisa enorme e pesada e só dava para servir de telefone. Por essa altura, na empresa dele o meu marido foi contemplado com um BlackBerry e lembro-me de, na empresa, haver discussões para se perceber vantagens e desvantagens de cada um. Se na altura desta revolução me falassem que os telemóveis poderiam fotografar e filmar e enviar as imagens de imediato diria que estavam a sonhar. Isso estava fora das melhores conjecturas.

Numa visita que fiz à sede de uma multinacional em Zurique, vieram mostrar-me uma coisa que acharam que eu apreciaria muito. Era um Grid, um microcomputador. Explicaram-me o que era e mostraram-me o Lotus 123. Fiquei fascinada. Em Portugal só mais tarde começaram a ser comercializados os computadores pessoais com as suas aplicações de tratamento de texto e de folha de cálculo.

Achei uma coisa tão vital que consegui que se formassem algumas pessoas que, por sua vez, formaram centenas de pessoas na empresa. 

E, mais tarde, quando finalmente a oferta de internet começou a ser comercial e operacionalmente interessante, lembro-me de haver grandes discussões sobre quem deveria ter acesso e se haveria forma de restringir o uso. Havia receio que algumas pessoas se entretivessem a ver imagens pornográficas em vez de trabalhar. Bati-me convictamente para que fosse dado acesso geral pois achava que a internet era uma porta aberta para o mundo e a empresa ter trabalhadores informados e curiosos era uma mais valia. E levei a minha avante.

Tudo isto parece pré histórico. Mas não é. 

Só que de aí para cá as coisas evoluíram tão exponencialmente que um mundo sem internet e sem telemóveis parece inviável. 

Viajar por países desconhecidos ou por lugarejos sem sinalização sem GPS parece hoje impossível. Mas era possível (embora desafiante) e isso aconteceu até não há muito tempo atrás. Como somos agora guiados, verbalmente, em tempo real, com indicação precisa de cada desvio, da existência de acidentes, em cada canto e esquina do nosso percurso, pode parecer já uma banalidade. E, no entanto, quanta tecnologia e quanto conhecimento estão envolvidos...

A velocidade do progresso só não nos deixa estupefactos porque já nos habituámos a ela. Mas a mim, que sou velha como o caraças e que tenho acompanhado isto desde o início, deixa-me mais do que estupefacta: deixa-me apreensiva. E deixa-me apreensiva porque sei que a tecnologia anda a um ritmo superior ao que as organizações precisam para se adaptar -- isto admitindo que percebem que têm que se adaptar.

Se por um lado a tecnologia (por exemplo, a nível da Inteligência Artificial) é extraordinária e deve ser integrada na nossa vida, por outro é impossível controlar a forma como é usada.

Pela parte que me toca, inofensiva aposentada, só uso para o (meu) bem. Por exemplo, o programador de rega voltou a pifar. O eletricista não está por cá e, com este calor, sem rega seria o desastre para o jardim já que as mangueiras não chegam a todo o lado. Fotografei o aparelho e passo a passo fui guiada até que voltou a trabalhar. Um ténis novo, aparentemente o melhor possível, topo de gama, impec a olho nu, magoa-me o pé num certo sítio. Fotografei o sapato e pedi informação. Explicou-me qual o problema e indicou-me a solução. O meu marido lembrou-se de fazer um acompanhamento de legumes assados no microondas, saudável e rápido. Perguntou ao chatgpt e saiu-lhe um belo acompanhamento. Quando recebi o relatório de umas análises, digitalizei e pedi informação. Relatório imediato e bem explicado. Precisei de ter um contrato para um certo assunto. Pedi-lhe e obtive um de tal maneira bem feito que foi aceite sem uma questão, como se tivesse sido feito por um advogado de mão cheia. Coisas assim, simples. Além disso, pela minha experiência, de vez em quando, quando quero estar 100% segura ou alguma coisa me parece inconsistente, vou validar o que 'ele' diz e não raras vezes detecto algumas imprecisões. Corrijo-o e acabo por receber uma resposta 'limpa', sem incorrecções. 

Mas imagine-se isto mal usado ou usado por quem não se dá ao trabalho de validar ou por quem quer usar para efeitos nocivos. Ou no ensino, usado por alunos que fazem os trabalhos dispensando-se de estudar, investigar, aprender. 

Ou, pior que isso, usando o algoritmo para incorporar programação mal intencionada. 

E não falo, porque me parece óbvio, que isto torna dispensáveis muitas profissões.

Mas os riscos são maiores que isso. A BBC não é propriamente sensacionalista. Recomendo que vejam o vídeo abaixo. Está legendado. Claro que há sempre quem desvalorize. Se calhar, quando eu cheguei a Portugal e disse que tinha visto pessoas a conduzirem e ao telefone houve muita gente que achou que era uma excentricidade francesa, um brinquedo. Ou, quando eu cheguei cá e disse que fazer o orçamento da empresa poderia passar a ser uma coisa automatizada que permitia fazer simulações em tempo real, houve quem me achasse uma deslumbrada ou uma miúda que falava do que não sabia. Há sempre quem não consiga ver o alcance do que por aí vem e só dê por ela quando a onda está a passar-lhe por cima.

Talvez não venha a ser drama nenhum. Talvez. Assim o espero. Mas, por via das dúvidas, deveríamos prestar atenção ao assunto, ouvir os que talvez saibam um bocadinho mais do que nós.

AI2027: Is this how AI might destroy humanity? - BBC World Service

A research paper predicting that artificial intelligence will go rogue in 2027 and lead to humanity’s extinction within a decade is making waves in the tech world. 

The detailed scenario, called AI2027, was published by a group of influential AI experts in the spring and has since spurred many viral videos as people debate its likelihood. The BBC has recreated scenes from the scenario using mainstream generative AI tools to illustrate the stark prediction and spoken to experts about the impact the paper is having.  


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Desejo-vos uma boa semana

segunda-feira, julho 28, 2025

Um domingo feliz

 

Festejámos, em família, o último aniversário de Julho, o terceiro. Daqui por poucos dias iniciam-se os de Agosto, mais três. Bem quero manter-me na linha, mas as tentações são sempre mais que muitas. Claro que eu poderia manter-me de boca fechada, em especial quando chega a hora dos bolos. Mas com a falta de açúcar que entra na minha dieta rotineira, quando me apanho com um doce à frente nem tento controlar-me. Pelo contrário, sobe em mim uma insana vontade de me desforrar, vontade essa que não contrario.

De cada vez que nos encontramos pasmo com o que está a acontecer-me. Estou, de dia para dia, relativamente mais pequena. Uma coisa que me deixa diminuída, digamos assim. E, contudo, fora deste contexto há quem me ache alta. Alta eu sei que não sou mas, caraças, também não sou uma anãzinha. Mas é assim que me sinto quando estou ao pé dos mais altos. E repare-se que a meio da semana almoçámos com dois dos meninos e no domingo anterior tinha estado com todos. Portanto, não passou um mês desde que os tinha visto. E, no entanto, juraria que este domingo estavam todos mais altos. Já ao fim do dia, fiz questão de me fazer fotografar entre os dois rapazes mais altos. Grandões, peludos, cabeludos, com o braço sobre os meus ombros, tenho que virar a cabeça para cima para lhes ver a cara. A impressão que me faz o ritmo a que isto se processa. 

A minha menina também já está uma mulher. No outro dia, andando em passeio, estava a apanhar banhos de sol sobre uma rocha e a fotografia que o meu filho enviou tinha sido tirada de um ângulo em que eu não via muito bem a cara. Parecia-me ela mas achei que pelo corpo não podia ser, devia ser a mãe dela. Virei o telemóvel para ver se a via de frente mas o telemóvel rodava a imagem. Só então reparei na minha nora, de pé, na água, junto à rocha. Só visto. Também já me ultrapassou. Com os seus olhos claros, toda ela grande, faz-me lembrar as jovens do norte da Europa. O mano seguinte também está mais alto, claro, quase a apanhar-me. Mas ainda não entrou naquela fase da adolescência em que, quais feijões mágicos, deitam corpo diariamente. O mais novo, ainda na primária, evidentemente ainda se mantém um menino (apesar de um espertalhão e de um reguila de primeira, o que não é de admirar face à 'escola' que tem de todos os lados - para além dos dois irmãos, pelo lado do pai tem dois primos e, pelo lado da mãe, tem mais quatro; isto já para não falar dos primos em segundo grau e dos inúmeros filhos dos amigos dos pais).

Enfim, é a vida a florescer, uma primavera radiosa.

Os telemóveis têm vida própria e o meu volta e meia, geralmente à noite, dá um toque que me parece o de uma mensagem a chegar. Vou ver e é para me dizer e mostrar que tem uma nova história. . Há dois dias era uma história de há 3 anos. Por sua alta recriação, junta fotografias, passa-as de carreirinha como um vídeo e junta-lhe uma música. Quando fui ver até estremeci. A primeira era da minha mãe, toda sorridente, jovem, bem encarada, elegante. Estávamos no Algarve. Um dos meninos já estava espigado mas o que hoje está já da altura do mais alto ainda era um menininho, bem mais pequeno, nem se compara, carinha de menino. O que eles cresceram nestes três anos nem dá para acreditar.

Fiquei a pensar que a minha mãe, naquela altura em que respirava saúde, em que andava pela praia sem se cansar, sempre na boa, em que, a caminho dos noventa, nos deixava pasmados com a sua vitalidade, mais do que certamente já tinha o mal a crescer dentro dela. Aliás, creio que foi pouco depois disso que fez um exame que alertava para a probabilidade de haver ali um problema, recomendando exames complementares, exame esse que ela escondeu de toda a gente bem como escondeu o facto de a médica lhe ter telefonado duas ou três vezes a insistir para ir fazer o exame e a informá-la do que poderia vir por aí. Mas, na altura das fotografias no Algarve, por tudo o que me recordo e pelo seu ar tranquilo e bem disposto das fotografias, tenho quase a certeza de que ela pensava que estava tudo bem. E como não, se não tinha qualquer sintoma? Sabia, isso sim, que tinha insuficiência cardíaca, mas não era nada de especial e os médicos diziam que, na idade dela, era normalíssimo. Estava medicada e eu estava descansada. Nunca a vi a tomar um único comprimido que fosse, mas, se eu lhe perguntava, dizia que já tinha tomado e que depois voltava a tomar à noite, antes de se deitar. Porque haveria eu de desconfiar? No entanto, poucos meses depois vim a descobrir que a insuficiência cardíaca se tinha agravado e que, se eu sabia que um dos comprimidos ela se recusava a tomar por achar descabido e com muitos possíveis efeitos colaterais (julgando eu que a médica estava ao corrente dessa sua decisão e a relevava), muito provavelmente também não tomava o outro que eu julgava que, para ela, era pacífico. Mas, naquela altura, ela estava tão bem que eu não tinha razão para duvidar de coisa alguma. Isto há três anos. E ela já morreu há ano e meio. Ou seja, tudo o que se passou, passou-se muito rapidamente e de uma forma muito incompreensível para mim pois a gestão que a minha mãe fez do seu quadro clínico deixava-me muito confusa. Com o que vim a descobrir aos poucos, estou em crer que o que a arrasou mais e motivou as suas decisões foi o seu pânico em tomar medicamentos e, com certeza, muito mais, em fazer quimio ou radioterapia. Preferiu fazer de conta que tomava os medicamentos e, sobretudo, preferiu fazer de conta que não sabia o mal que tinha.

Mas, enfim, não vale a pena estar a pensar nisto. Tenho que pensar que, com a idade que tinha, provavelmente não poderia mesmo fazer tratamentos agressivos e viveríamos todos na angústia de saber que não viveria muito. Assim, pensávamos que não tinha nada e ela não se viu forçada a ser tratada como uma doente terminal. E, se calhar, acreditou naquilo que em que falávamos muitas vezes: nestes casos, a idade joga a favor, as células já não se multiplicam rapidamente. Aparentemente tinha esperança de viver muitos mais anos e isso também foi bom.

Hoje os meninos lembraram-se dos belos crepes que ela fazia. O mais novo disse que nunca mais tinham comido daqueles crepes. Não sei quem disse que, sim, já tinham comido, sim. Ele esclareceu: 'Feitos pela avó não'. Apeteceu-me comentar que ficava contente por se lembrarem dela. Mas não quis parecer que estava a querer puxar ao sentimento, pensei que isso poderia deixar os miúdos constrangidos, poderiam pensar que me estavam a entristecer ao falarem nela. As coisas devem ser naturais. É bom que percebam que a vida continua, que a alegria deve viver entre nós, juntamente com as memórias que cada um guarde.

Quando chego ao fim do post, penso como hei-de resumir tudo num título. Agora vacilo. Ia escrever 'Um domingo feliz com saudades dentro' mas vou deixar ficar só o 'um domingo feliz' porque as memórias e as saudades não têm que macular a felicidade. Não maculam. Integram-na.

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E ia escrever sobre mais uns vídeos que, agora à noite, vi com declarações de várias mulheres que foram vítimas de assédio e abuso por parte do Trump, mas, vejam só, derivei para esta conversa. Acontece, não é?

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Desejo-vos uma boa semana a começar já por esta segunda-feira

sexta-feira, julho 11, 2025

O 'mistério' dos muitos ricos e dos amigos deles

 

Já aqui falei disso algumas vezes: conheço um homem muito rico, diria que verdadeiramente muito rico. E também conheço dois amigos desse homem deveras ultra rico. Esses dois amigos dele não são muito ricos -- diria que, à luz dos nossos níveis, talvez média alta.

Ao longo de anos assisti às mordomias que o muito rico proporcionava àqueles seus amigos. E, quando falo em mordomias, falo apenas no que é visível a olho nu. Vão de férias para locais longínquos e muito caros, passam férias na vasta herdade do muito rico, fazem vida de ricos. E, quando falo dos amigos do homem muito rico, falo também das respectivas mulheres (e, até dado ponto, isto é, enquanto eram adolescentes e viviam com os pais, presumo que também os filhos). Ouvi falar em empréstimos e em empregos para filhos e noras mas disso não sei de nada em concreto, apenas sei pelo que se falava. 

Não o escondiam. Pelo contrário, quando estávamos juntos, era normal que viessem à baila situações em que se percebia que tinham ido e estado juntos aqui e ali e acolá. Não era explicitado que o muito rico pagava tudo, viagens, estadias, almoços e jantares, mas não era difícil adivinhar pois não era possível ser de outra maneira. 

Nunca vi nos amigos que aceitavam esses mimos qualquer pudor ou reserva. Nem nunca vi o muito rico fazer qualquer referência a nada disso. 

Quando eu me questionava junto de amigos comuns como era possível que os outros andassem sempre à pendura e vivessem à babugem do amigo outro, diziam-me: 'Não pense segundo os parâmetros comuns. Para eles é normal. São amigos. Para o X (chamemos assim ao muito rico) é a única maneira de viajar ou passar férias na companhia dos outros. Ele sabe que os outros não têm como serem eles a bancar aqueles luxos. E a ele não lhe faz qualquer diferença. Provavelmente muito disso vai a custos das empresas, está a ver, não está?, deve ser contabilizado nas empresas como deslocações em serviço, despesas de representação etc. E para os os outros também já passou a ser normal. As mulheres também são amigas umas das outras. Se o outro faz questão de que passeiem e passem férias juntos, para eles também é agradável. Também lhe são úteis pois, em muitas matérias, têm conhecimentos que o outro não tem.'

Um outro que também os conhecia bem, dizia-me: 'É uma relação fraternal. O X é muito mais rico que os outros. Para ele, mais uns milhares, menos uns milhares não fazem qualquer diferença. Já é um hábito. E não se esqueça: isto é o que a gente sabe, o que se vê...'

Um dos ditos beneficiados com a amizade generosa do X tem uma casa maravilhosa, numa zona que se não é protegida anda por lá perto. Um projecto de um conceituado arquitecto. Nunca lá estive mas vi muitas fotografias. Por vezes, comentava-se: 'Alguma vez ele tinha dinheiro para uma tal obra de arte?' Acha...?'. Isto, sobre essa tal casa, pois a casa habitual é uma moradia numa das mais privilegiadas e caras zonas da cidade. Com o que se conhece dos seus rendimentos de trabalho e não trabalhando a mulher, tudo aquilo é curioso. 

Mas não há festa social, de família ou de comemoração em que as três famílias não estejam juntas, divertidas: o homem muito rico e a mulher, e os dois amigos e respectivas mulheres. Uma amizade forte, um coeso inner circle.

Não faço ideia -- mas não faço mesmo -- se alguma vez o muito rico emprestou dinheiro aos amigos. Talvez tenha sido ele a pagar algumas obras ou projectos ou decorações (embora não possa afirmar se sim, se não) mas admito que talvez não tenha rolado. Admito. Mas não sei. Mas, se isso aconteceu, quase apostaria que teria rolado em dinheiro vivo não fosse, de outra forma, deixar rasto e ainda terem que pagar imposto de selo (é que doações sem que haja vínculo familiar directo obrigam a que se declare à AT e se pague imposto de selo, e se há coisa que são é 'poupadinhos'). Mas isto, que fique bem claro, são especulações minhas.

Poderia referir mais alguns pormenores desta relação fraternal em que, com toda a naturalidade, todos, incluindo as mulheres e os filhos, usufruíam da amizade do amigo ultra-rico mas não vale a pena pois são apenas isso, pormenores de uma relação que vista de fora pode parecer estranha, incompreensível mas que, para os próprios e para os próximos, parece ser completamente normal.

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terça-feira, julho 08, 2025

Quando formos para melhor

 

No fim de semana, parte da família esteve a banhos no sudoeste e, da outra parte, um dos meninos esteve numa festa de anos, numa destas festas que também são happenings, desta vez incluindo equitação. Fui recebendo fotografias de uns e de outros, uns a mergulharem, outras a cantarem, um a andar a cavalo. 

Portanto, a casa não esteve tão cheia como quando estão todos, mas foi igualmente bom. Se sei que estão todos bem também estou bem. 

O bem estar e a felicidade são estados de geometria variável.

No outro dia recebi uma fotografia de uma das minhas primas com o seu neto mais novo, o que conheci no dia do velório e que voltei a ver no dia da cremação da minha tia. Na fotografia estava também o meu tio que, como sempre, estava impecável. Por tanto que tem passado e mantém-se inalterável, sempre muito bem arranjado, sempre com boa cara, mesmo muito bem. Está quase igual ao meu avô, seu pai.

O tempo passa a correr, é o que é. Penso que o nome deste meu tio, o petit nom pelo qual era chamado, foi a segunda palavra que disse (a primeira foi cão). Embora pouco efusivo -- nada a ver com o meu outro dia que falava alto, que ria, que conversava e contava histórias --, sempre admirei a contenção e os modos reservados deste meu tio. Levava-me a andar na sua bela mota, com cromados reluzentes. Os meus pais não queriam, mas ele transgredia. Eu sentia o cabelo ao vento em especial quando ele curvava. Ninguém usava capacete. Depois arranjou uma namorada bonita, com uns grandes olhos verdes e uma voz com um timbre distinto. Levou-me algumas vezes com ele quando ia namorar. Aquela namorada despertava-me curiosidade. Devia ter uns quatro anos, eu, e achava que ela parecia uma artista de cinema. Algum tempo depois fui a menina das alianças e levei um vestido todo feito de renda branca e o cabelo apanhado em cima, com uma fita de rendas em volta.

Agora ele já tem uma bisneta que é igual, igualzinha, à minha prima. Até na forma como se riem, gargalhando de forma franca, aberta. Agora a minha prima já não ri assim, está muito parecida com o pai, nos modos contidos. Mas, quando era pequenina, a minha prima ria muito. Eu também. Por vezes tínhamos ataques de riso e partíamo-nos a rir. A minha mãe diz que ficava com vontade de rir só de ver como nos ríamos. 

E, para além da bisneta que é igual à filha, quando era pequenina, o meu tio agora tem este bisneto bebé, também muito fofo.

É aquilo que digo. A nossa vida humana dura enquanto nos aguentamos na passadeira rolante. De vez em quando há um que sai. Um ano depois da minha mãe, foi a minha tia que saiu. Mas, entretanto, pouco antes tinha entrado um novo bebé.

As famílias recompõem-se. É um fenómeno fractal. Também os nosso corpos vão libertando células velhas e novas vão aparecendo. Pouco somos daquilo que um dia fomos.

Contei, num vídeo que publiquei agora no Instagram, como, no outro dia, um dos meus meninos me perguntou para quem ficaria este espaço a que, entre nós, damos um outro nome mas a que aqui, no blog, chamo heaven: 'Olha lá, quando tu e o avô forem para melhor, o 'heaven' fica para mim ou para o pai?'. Num primeiro momento não percebi. Depois percebi que ele queria dizer 'quando forem desta para melhor'. Não me fez impressão a pergunta. Pelo contrário, fico contente que gostem tanto deste lugar. Já há uns anos, um outro menino, com mais hesitação, me tinha perguntado o que aconteceria a isto quando nós morrêssemos. 

O que me preocupa e o que me custa, isso sim, é pensar como pode ser difícil a sua vida quando forem adultos, quando tiverem os seus próprios filhos. Gostava que se mantivessem juntos, amigos uns dos outros, que vivessem numa terra verdejante, amena, pacífica, em que todos se estimassem e amparassem, em que o futuro fosse promissor e aguardado com optimismo e alegria. Isso era mesmo o que eu queria. 

Mas receio tanto... Hoje esteve outro dia de calor difícil de suportar. As temperaturas sobem, sobem. E, muito sinceramente, não vejo que em Portugal estejam a ser tomadas medidas estratégicas, de longo prazo, para combater, na medida das nossas possibilidades, as alterações climáticas. E devia haver um toque a rebate, medidas globais, que tocassem a toda a gente.

Vejo que na Suíça o Estado está a financiar o arranque do betão dos pavimentos para o substituir por jardins. Junto às casas, nos parques públicos, em todo o lado em que tal faça sentido, é um movimento que está a começar. Pretende-se que os solos consigam absorver as águas para que os rios não transbordem, pretende-se devolver à natureza o que à natureza nunca deveria ter sido retirado.

Vejo que na Dinamarca há incentivos estatais para que, a nível geral, a alimentação usual comece a ser substituída por alimentação sobretudo baseada em vegetais. A poluição resultante das explorações intensivas, nomeadamente de animais, é muito relevante. Tudo o que se possa fazer para a reduzir, sem prejuízo para a saúde humana, é de louvar.

Seria interessante que houvesse, por cá, uma chamada de atenção para a necessidade de se fazer alguma coisa -- e um plano de acções para fazer o que há a fazer.

Partilho os vídeos. Dá para activar a auto-tradução que, já se sabe, não é famosa mas que pode ser uma ajuda para quem não esteja à vontade com a língua inglesa.

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"Recuperar o espaço do betão: Como as cidades suíças estão a ficar mais verdes" - Focus on Europe

O betão está a abrir caminho para o solo, enquanto os ativistas suíços trabalham para recuperar o espaço urbano para a natureza. Como o solo absorve muito melhor a chuva, a iniciativa promete reduzir a carga sobre os sistemas de esgotos urbanos.

O ambicioso plano da Dinamarca para impulsionar os alimentos de origem vegetal | FT Rethink

Os alimentos de origem vegetal são essenciais para a transição verde da Dinamarca e deverão proporcionar benefícios económicos e de saúde significativos. A pequena nação escandinava é agora líder mundial neste sector. Então, como é que a Dinamarca fez isso? Será que esta estratégia poderia funcionar noutros locais?

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Dias felizes

domingo, julho 06, 2025

Galinha-choca

 

Os meus avós paternos tinham, no quintal, uma grande capoeira. Havia o recinto ao ar livre, cercado por uma vedação e havia umas casinha que comunicava com o recinto através de uma passagem em arco. Podia entrar-se directamente quer para o recinto, quer para a casinha. Ao recinto ia-se para limpar e lavar o chão, com agulheta, para pôr água fresca, para lhes dar milho ou sêmeas. Aí os meus avós nunca queriam que eu entrasse. Mas deixavam-me ir à casinha. Espreitava a ver se não estava nenhuma galinha e para ver se havia ovos na cestinha. Se havia, eu recolhia-os. E, por vezes, a minha avó fazia-me uma gemada, quer com ovo completo quer apenas com gema. Mexia bem com um pouco de açúcar. Adorava.

Se alguma galinha ficava choca e isso lhe era permitido, então a galinha tinha direito a tratamento vip. Mas muitas vezes não queriam, não sei porquê, e sacrificavam a pobre da galinha com banhos debaixo da torneira do quintal, a galinha tentando fugir, estrebuchando com todas as suas forças, e o meu avô ou avó agarrando-a com firmeza.

Mas quando a coisa podia ir adiante, a partir de certa altura a galinha era deslocada para a 'casinha', não a pequenina, anexa à capoeira, mas um anexo que também havia no quintal. Esse anexo tinha uma parte com ferramentas, muitas, algumas penduradas na parede do fundo, outras em bancadas. Tinha também uma parte em que estavam os produtos colhidos pelo meu avô na horta. Batatas em caixas no chão, cebolas entrançadas penduradas em réstias, algos também pendurados, entrançados, e uma coisa de que eu gostava imenso, tomates chucha, também pendurados pela rama, igualmente entrançada. Duravam todo o ano. A casinha tinha umas janelas pequenas pelas quais entrava pouca luz e a porta, que tinha uma janela também com portada, tal como as janelas, também não deixava entrar muita luz. Era neste anexo, à meia-luz, que a galinha chocava os ovos. E era ali que nasciam os ovos. Para mim era um sentimento misto: por um lado andava sempre naquela expectativa: já nasceram? estão quase? os ovos já estão bicados? Mas, por outro lado, aqueles pintos meio molhados, esquisitos, feios, meio apardalados, intimidavam-me bastante.

A minha avó não queria que eu andasse por ali a cirandar e não queria que eu fizesse barulho. Por vezes, ajudava-os a nascer. E pegava-lhes. Eu nunca consegui. Bichinhos assim, demasiado frágeis, sempre me fizeram muita impressão.

Mas o pior foi o que uma vez aconteceu. Creio que já o contei mas, como não tenho a certeza, arrisco a contar. 

O meu pai houve uma altura que também quis ter uma capoeira no quintal. Felizmente foi sol de pouca dura pois nem ele nem a minha mãe tinham o mesmo à vontade que a minha avó. Mas, enquanto durou, calhou uma galinha ficar choca. Não sei porquê, resolveram montar apartamento para a galinha, creio que nos dias antes do 'parto', num recanto da sala de jantar. Quando os pintos começaram a sair dos ovos, foi uma atrapalhação. Para mim, pequena, aquilo era uma preocupação. Intuía que os parteiros não tinham sabedoria para a situação. E eles não queriam que eu andasse ali de roda para não stressar a galinha e os pintos. Só que eu não resistia a espreitar. E, numa das vezes, dei com um dos pintos estendido e a esticar uma perna. Apesar de ser uma criança pequena, já tinha ouvido a expressão 'esticar o pernil' e percebia o significado. Então, em pânico, saí dali a correr fui ter com a minha mãe, mas, tão, aterrorizada estava, que mal conseguia falar. A minha mãe não percebeu a razão daquele pavor mas eu empurrei-a para a sala de jantar e, com esforço, lá consegui balbuciar que o pinto estava a morrer. A minha mãe também não era corajosa para essas situações mas lá foi espreitar. Os pintos estavam todos bem. Chamou-me. Mas, quando um dos pintos se espreguiçou, meio a dormir, esticando a pata, ela percebeu o que tinha acontecido.

Ao ver, no vídeo que aqui partilho, o pinto recém-nascido a cair de sono, lembrei-me disso.

E ao ver os pintos a quererem sair do ovo, voltei a sentir, mas a sentir vividamente, aquele susto e receio que sentia há mil anos, quando, pequenina, num compartimento quase sem luz, aguardava que o milagre do nascimento se desse.

Esta galinha mãe fala com os seus ovos – e eles cantam de volta! | BBC Earth

Já se perguntou como é que uma galinha ajuda os seus pintainhos a chocar? Conheça a Patricia, uma galinha anã de Pequim dedicada, que mantém os seus ovos à temperatura ideal e cacareja suavemente para guiar os seus pintos ao mundo.


Um bom dia de domingo

domingo, junho 29, 2025

Jeff Bezos ou o primo da Madalena Abecassis -- ou quando o casamento deixa de ser um simples casamento

 

Tive vontade de completar o título com "... e passou a ser uma grande palhaçada" mas contive-me. Cada um sabe de si. Além disso, não se podem analisar as coisas independentemente do tempo em que ocorrem. As circunstâncias vão formatando as mentes.

Para mim um casamento é a formalização de uma união que, de alguma forma, já existe. Cada um já tem que saber que é com o outro que quer viver e formar família. Pode até acontecer que isso já esteja a acontecer sem que o 'papel passado' faça qualquer falta. 

Se fosse hoje, provavelmente não me tinha casado pois passava bem sem a cerimónia e sem a festa. Simplesmente, parece que, naquela altura, era normal as pessoas casarem-se. Casei-me sem sequer nos ocorrer que poderíamos, simplesmente, viver juntos. Mas também não sei se, na altura, a união de facto já tinha o enquadramento que hoje tem. E, de resto, também não sei se hoje estar-se casado é igual, em termos de direitos, a viver em união de facto. Se houver algum inconveniente, também não vejo que o casamento faça mal.

Mas, seja como for, para mim o casamento é uma formalização, um acto administrativo, e pode ser também um momento de reunir família e amigos dos dois lados para que se conheçam e convivam.

Já contei que o meu casamento foi decidido e tratado creio que num mês. Fomos ao notário e perguntámos qual a primeira data disponível. E foi nessa data que ficou. Era uma sexta-feira e nem pensámos que poderia ser um transtorno, o meu pai é que me censurou por isso (mas também foi uma censura relativa e, além disso, compreendi o que ele dizia, que era dia de trabalho, que as pessoas teriam que tirar um dia de férias). Depois fomos escolher um sítio para o copo de água. Vimos uns dois ou três e optámos por um lugar simpático, na cidade, com uma ementa que nos agradou. O fotógrafo foi um amigo da faculdade. Para a toilette, achei-me 'mascarada' de noiva se usasse um vestido todo produzido (que era o que havia) e por isso optei por uns jeans justinhos brancos, umas sandálias em cor nude, e uma túnica branca em organza bordada também a branco, um modelo Augustus. Depois é que percebi que era totalmente transparente. Naquela altura isso seria um bocado descabido. Por isso, usei por baixo, um top de algodão, ultrafino, de alcinhas ultrafinas. Tudo simples, sem qualquer complicação ou artifício. 

Os casamentos dos meus filhos não foram nada disto, foram grandes festas, creio que talvez umas duzentas pessoas em ambos os casos, locais preparados, com música, com reportagem fotográfica de qualidade, tudo num outro comprimento de onda. Mas, ainda assim, românticos, muito alegres, muito genuínos: a festa foi feita por eles e pelos convidados.

Agora, quando vejo os casamentos transformados em eventos, organizados como se fossem espectáculos de entretenimento e diversão, espaços e momentos de exibição, fico um pouco incomodada. Já nada têm a ver com a partilha de uma decisão íntima.

O casamento do Bezos com Lauren Sánchez é o cúmulo dos cúmulos do que, em minha opinião, é um anti-casamento. Tomados e ungidos pelo ultra poder da sua ultra galáctica fortuna conceberam o casamento como uma ultra ficção. Para disfarçar a ultra arrogância, doaram dinheiro e convidaram os convidados a fazerem doações. Os ultra ricos a darem esmola aos pobrezinhos, à cidade pobrezinha quase a afundar-se, ao planetazinho pobrezinho tão cheio de problemazinhos climáticos e o escambau. E os convidados incluem a rainha dos reality shows e da cinturinha de vespa e respectivas sisters e recauchutada mamã, a rainha das entrevistas, uma rainha supostamente a sério, o rei dos pc's, o rei do titanic e mais toda a espécie de exemplares do showbizz e arredores. Faltou o candidato a nobel da paz, o dos belos e grandes feitos, o da boquinha de rosa e mãozinhas de  bebé. Foi pena. A coisa teria ficado mais composta. Mas fez-se representar: veio a menina de seu papá, em róseo e abrilhantado vestido, mais o seu empreendedor marido, partner do sogro na visão de uma Gaza virada para a dolce vita, high luxury resort. Não sei quem celebrou o acto, se terá sido um cardeal escolhido a dedo ou se dispensaram a bênção divina. Tanto faz. E o que se viu foi que, depois de ter ajudado a eleger o tal que faltou, depois de se muscular e injectar para ser um eternamente jovem, o todo poderoso noivo resolveu dar o cinéfilo nó com a sua insuflada e reluzente noiva na terra da morte em veneza e isso, só por si, já seria uma heresia sem perdão.

Mas, neste mesmo dia, o instagram mostrou-me um outro casamento. Tudo filmado pela Madalena Abecassis. Talvez fosse o casamento de um primo. Um reality show a céu aberto. No meio do copo de água (e será que ainda se chama copo-de-água a uma cena destas?), apareceram uns polícias. 'Vem aí a bófia!', gritou alguém, creio que ela. E, de repente, os polícias não eram polícias, eram dançarinos disfarçados de polícias. Não sei se chegaram a fazer strip se ficaram assim mesmo. O que sei é que algemaram pessoas, apontaram armas à cabeça dos convidados. E toda a gente ria, tudo bem bebido, tudo descontrolado, tudo numa histeria colectiva, e ela sempre a filmar, tudo a festejar o facto de estar com uma pistola apontada à cabeça. E eu, vendo isto, interrogo-me: é isto um casamento? O que é que se celebra assim? 

Confesso: vi sem acreditar no que estava a ver. A perversão ou a distorção de valores parece não ter limites. Não são só os governantes que fazem coisas incompreensíveis. São os cidadãos, os que elegem governantes perigosos, são os cidadãos que, no seu dia a dia, revelam ter mentes viradas do avesso, uma perversão colectiva que parece avançar sobre a consciência das pessoas como uma imparável mancha de óleo.

Tudo isto é demasiado chocante para mim.

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Felizmente ainda há protestos. Mas são devorados, engolidos pelo buraco negro da perversão.

Jeff Bezos and Lauren Sanchez's wedding underway in Venice | BBC News

Reality stars, actors, royals and A-listers have travelled to Venice for the lavish wedding of Amazon founder Jeff Bezos and TV presenter Lauren Sanchez. 

Oprah Winfrey, Orlando Bloom, Kylie Jenner and Ivanka Trump were just some of the celebrities seen on the boats and streets of the Italian city on Thursday and Friday. 

But the event has attracted protests from a variety of groups in Venice, including locals fighting over-tourism to climate change activists. 

The festivities are expected to last three days, ending with a large party for the married couple and their hundreds of guests on Saturday.


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Desejo-vos um belo dia de domingo

quinta-feira, junho 19, 2025

Bons momentos, boas memórias, jardins, boa gestão da água (para combater a desertificação), etc.

 

Gosto de livros, de filmes e de vídeos sobre jardins e jardineiros. Sobretudo, gosto de jardins. 

Tenho vivido bons momentos ao longo de toda a minha vida. 

Não guardo traumas (ou, pelo menos, não dou por eles). Sempre relativizei o que me desagradava. Na escola devo ter passado por situações menos boas pois toda a gente se lembra de ter passado e eu não devo ser diferente dos outros. Mas, de facto, não me lembro. Situações boas de que me lembre são aos montes. Provavelmente desde miúda que reajo como sempre me ter lembrado de ter reagido: não ligar a mínima ao que me desagrada.

Por exemplo, lembro-me de que, quando cheguei ao 1º ano do que se chamava Ciclo Preparatório, hoje 5º ano, não conhecia ninguém na minha turma. Na altura, as turmas eram inteiramente femininas. Várias das minhas colegas tinham andado juntas na escola primária e, portanto, já eram amigas. Eu aterrei num mundo desconhecido. Isso para mim foi apenas uma alegria, um mundo novo a descobrir. Era tudo desconhecido: o espaço, o ambiente, as professoras, as colegas, as regras. Com dez anos acabados de fazer ia, de autocarro ou a pé, sozinha para a escola e da escola para casa. Os meus pais trabalhavam e, por isso, eu estava por minha conta. Achava isso natural. Talvez estranhando não verem a minha mãe, perguntavam-me por ela e eu dizia que ela estava na escola, a dar aulas, era professora. Lembro-me de um dia uma colega me ter dito, com ar abespinhado, que eu julgava que era melhor que as outras e, quando eu me mostrei admirada e perguntei porque dizia ela isso, me ter respondido que eu dizia que a minha mãe era professora. Lembro-me bem do meu espanto e de ter dito: 'Mas ela é professora!'. E lembro-me de ter pensado: 'É mesmo burra, se calhar queria que eu dissesse que a minha mãe estava em casa, só para ser igual às outras'. Não me aborreci. Relativizei, achei apenas que ela era burra. E ao longo de todos os anos em que com ela convivi mantive a mesma opinião: só diz burrices.

Por isso, se alguém me chateou (e, repito, só me lembro dessa vez), borrifei.

A minha mãe por vezes arreliava-se por eu ser assim. Disse-me várias vezes que me achava excessivamente racional. Na realidade, eu sempre fui muito o oposto dela. Embora para o exterior ela mostrasse alguma resistência à opinião alheia, a verdade é que se incomodava muito com isso. E guardava mágoas e ressentimentos. Eu zero. Não queria saber disso para nada. Ela às vezes dizia-me: 'disseram isso de ti e não queres saber..?'. E eu respondia que não, não queria saber. Zero, zero. Por isso, quando ela às vezes mostrava opiniões negativas sobre alguém, eu nunca sabia porquê. Se alguma vez tinha sabido, já tinha esquecido. Ela ficava passada comigo. Achava-me excessivamente desprendida. 

Mas dos momentos bons não me esqueço. E não os desvalorizo.

Podem ser situações aparentemente insignificantes mas, para mim, muito relevantes. Por exemplo, e já falei disso muitas vezes, dos momentos bons, relembro os que vivi, ainda que fugazmente, nos viveiros em que ia comprar pequenas árvores para tornar o nosso terreno pedregoso naquilo que é hoje. Já não me lembro como se chama a terra, se é Chamusca, se é Azambuja, sempre confundi os nomes. Saía de casa muito cedo, metia-me a caminho para lá estar muito cedo (não me recordo bem mas tenho ideia que aquilo abria às oito). Depois escolhia as arvorezinhas, levava o carro cheio e regressava a Lisboa, para ir trabalhar. 

As jardineiras, simpaticíssimas, de galochas, andavam pelo meio de todo aquele mundo, um mundo perfumado, húmido, generoso, a terra negra, fértil -- e elas conheciam todas as espécies pelo nome correcto, sabiam como cresciam, como se faziam, escolhíamo-las em conjunto, eu pedia a opinião delas, elas juntavam-se para andar comigo. Acredito que achassem curioso que ali chegasse aquela mulher vinda de Lisboa, vestida daquela maneira, de saltos altos, toda produzida, e por ali andasse conversando com elas, escutando-as com tanta atenção. Cheguei a dizer-lhes que as invejava, que não me importava de trabalhar ali. A forma como faziam transplantes de vasinhos para vasos maiores, a forma como tratavam as plantinhas como bebés, como animaizinhos que precisassem de cuidados, enternecia-me.

No liceu detestei botânica. Hoje penso que a forma como se ensina destrói a curiosidade e o gosto dos miúdos. Muito se deveria repensar sobre a forma de ensino.

Mas também é certo que o meu gosto por árvores, por flores, por trepadeiras, é um gosto mais espiritual que académico ou funcional. Por exemplo, não me sinto atraída por saber as regras de uma poda correcta ou por fazer uma horta. Mas gosto de andar junto às plantas, contemplá-las, venerá-las. É um gosto poético, um gosto imaterial, quase abstracto, difícil de explicar. 

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Não obstante, gosto de ver vídeos como este que aqui partilho em que se abordam temas bem pragmáticos, muito terrenos. Muito pertinentes. Este é um dos tipos de sabedoria que me cativa.

Portugal is Turning into a Desert – Can This Farming Method Save It?

Portugal is slowly turning into a desert. But is the real issue a lack of water—or poor water management? Lars and Denise are using a powerful technique to restore the land and prevent desertification. This technique can be applied anywhere in the world—not just in Portugal or dry regions. By using this method, you’ll gain a deeper understanding of farming and how to work with nature instead of against it.

In this short documentary, Lars—who has spent years working with nature—explains the basics of his approach, inspired by syntropic farming. Want to learn more? Together with Lars and Denise, I (Sara) have created step-by-step videos to teach this method.

00:00 - 00:37 Intro

00:37 - 02:17 Results

02:17 - 05:56 How to regenerate the land? Permaculture vs. syntropic farming

05:56 - 08:06 How long does it take to regenerate? No dig vs. dig

08:06 - 12:20 Water management

12:20 - 13:03 Step-by-step tutorials

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Dias felizes

segunda-feira, junho 09, 2025

Era eu? Sou eu?

 

Quando eles saíram -- e é sempre aquela alegria de estarmos juntos, os rapazes falando insaciavelmente de futebol, toda a gente conversando, muito apetite em volta da mesa, depois uns vendo a final do Roland Garros, outros jogando vólei ou badminton ou descansando e sempre muito movimento e boa disposição -- deitei-me no sofá e adormeci. Ferrada. Na televisão estava a dar futebol, claro. Mas não dei por nada. 

Às tantas, ouvi, remotamente, uns apitos e não percebi de que se tratava, mas também não acordei.

Só depois de o meu marido me chamar várias vezes, dizendo que depois não durmo de noite, é que consegui começar a despertar. Percebi que os apitos eram do microondas, ele a aquecer o jantar. Acho que lhe disse que eu não jantava mas não me lembro de nada. Quando consegui levantar-me do sofá, comi uma banana e uns miolos de amêndoa. Também tinha lanchado, era normal que não tivesse tido fome para jantar. E, ao lanche, imagine-se..., até comi umas fatias de brownie que dois dos meninos tinham feito. Ai a minha dieta... Como nunca como doces, aquelas fatias de bolo souberam-me ainda mais maravilhosamente.

Depois, estive a ver televisão e a ler um pouco mas ainda estou com sono. Creio que foi porque acordei mais cedo do que devia. Passou um carro com uma sirene e os cães da vizinhança desataram todos a uivar. Como durmo de janela aberta, ouve-se tudo. Ainda tentei dormir mas já não consegui. E fiquei em défice. Longe vão os tempos em que dormia umas cinco horas ou cinco e picos, vá lá seis, e ficava para as curvas. Agora tenho que dormir no mínimo sete horas. Dá ideia que acumulei e que que estou a pôr em dia. Ou isso ou ainda é efeito covid, já aqui falei nisso muitas vezes.

Estou a escrever e a ouvir a rega. Gosto de ouvir regar. Gosto de sentir o ar fresco e húmido que vem da terra. É quase como chover. Gosto de ouvir a chuva, gosto do cheiro da terra molhada. 

Estava aqui a pensar que os meus filhos me contam coisas dos seus trabalhos. Falam-me de situações pelas quais também passei, identifico-me com o que dizem, com os stresses em que se vêem, reconheço os dilemas que enfrentam ou a que assistem. Sinto-me solidária. Compreendo-os muito bem, já estive no papel em que eles estão agora. Mas, estando tudo ainda tão presente, a verdade é que me parece que era outra-eu ou, então, que eram outros tempos, tempos que atravessei por acaso, ou outras geografias que frequentei também por acaso. 

Acomodamo-nos a tudo, é certo. Para mim, começar a trabalhar em ambiente empresarial aos vinte e dois anos, vinda de uma realidade académica (estudar e ao mesmo tempo ser professora) foi natural. Ver-me metida em projectos de grande complexidade e ser acompanhada por especialistas do Banco Mundial que vinham dos Estados Unidos para se reunirem comigo e verem a evolução do meu trabalho era natural. Ter filhos pelo meio era natural. Arranjar tempo para uma dedicação que sempre foi absoluta era natural. Ocupar cargos dirigentes aos trinta e poucos era natural. Seleccionar empresas internacionais para trabalharem comigo em projectos inovadores e disruptivos era natural. Mudar de área profissional ou de empresa ou acumular áreas ou trabalhos em várias empresas era natural. Trabalhar horas a fio, fazer apresentações para muita gente, participar em projectos de reorganização que implicavam 'libertar' milhares de pessoas era natural. Sempre foi tudo natural. Sempre me adaptei sem esforço, sem 'teorias de cão caça', sem me vitimizar ou sem me achar especial. Sempre me senti bem na minha pele. Travei montes de lutas, fui contestada, contestei, parti louça, virei mesas, atirei granadas para cima da mesa (pelo menos, era o que diziam que eu fazia). Mas para mim isso era natural. Não me enervava, não me zangava, não me tirava o sono. Parecia que ser assim e viver assim era a minha natureza. E era.

Mas a verdade é que, agora que larguei tudo, me sinto ainda melhor. Não sinto falta, não tenho saudades. Se calhar, mudei. 

Talvez que uma possível explicação seja que, durante todos aqueles muitos anos, sempre me mantive próxima da minha família, eles sempre foram a minha primeira e inquestionável prioridade, o meu verdadeiro propósito. Ou seja, se calhar toda a minha vida profissional sempre foi uma adjacência, uma circunstância, talvez uma necessidade mas não a minha verdadeira natureza. Não sei, é uma tentativa de explicação. Além disso, também sempre consegui compatibilizar todo aquele frenesim com um espaço meu, vital, para ler, para escrever, para bordar, para pintar. Roubava ao sono. Para não prejudicar o meu tempo com a família, era quando todos dormiam que eu ia fazer aquelas coisas de que sentia falta. 

E ainda é assim. Ainda não consegui desligar-me do hábito de ser quando a casa está silenciosa que eu abro o computador (digo que abro porque é portátil e o fecho quando acabo de escrever) e solto as mãos e me entrego a estes momentos só meus. 

Claro que é bizarro dizer que os momentos são só meus e, ao mesmo tempo, estar a soltá-los aos sete ventos, para que quem quiser os conheça. Mas isso já são outros quinhentos, são os paradoxos destes tempos em que podemos comunicar com o mundo inteiro em tempo real e, ao mesmo tempo, fazer com que todas as palavras e imagens fiquem a pairar por aí até ao fim dos tempos.

E pronto, já estou a divagar. Nem sei se alguma destas coisas que estou para aqui a dizer faz grande sentido. Vou mas é dormir.

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Boa semana

Dias felizes. Saúde e boa disposição.

terça-feira, junho 03, 2025

A Inteligência Artificial vai atirar o desemprego para uns assustadores 20%? Já é caso para alarme?
Ou vamos esperar a ver no que dá e, até lá, que não nos doa a nós a cabeça...?

 


Quando comecei a trabalhar havia profissionais que, mais tarde, desapareceram. Por exemplo, havia codificadores. Mais tarde, as próprias pessoas escolhiam os códigos que, de entre a lista, melhor se adequavam. Na informática, que ocupava enormes 'salões', havia 'analistas' de diversos tipos, programadores e 'operadores de recolha'. Os diversos serviços enviavam diariamente montanhas de documentos que estes últimos 'recolhiam'. Aos poucos, a 'recolha' acabou pois os diversos serviços introduziam a informação directamente nos sistemas.

Dentro dos centros de informática propriamente ditos, espaços gigantescos, havia os preparadores que organizavam a sequência em que entravam os 'jobs' e, para a informação ser cozinhada, havia programas que 'corriam' de noite. E, de manhã, os estafetas distribuíam lençóis, 'pijamas', por todos os serviços - listagens enormes de papel às risquinhas com buraquinhos dos dois lados. Aos poucos isso foi saindo nas impressoras que estavam nos serviços e mais um conjunto de profissionais ficou sem trabalho.

Havia salas enormes com operadores de telex. Os serviços preparavam o que hoje seriam mails, os 'contínuos' levavam à sala dos telex's. 

E havia a enorme sala de dactilografia. Só senhoras. Eram elas que 'batiam à máquina' cartas, relatórios, contratos e o que houvesse a fazer em letra de forma. Algum tempo depois, essas salas desapareceram.

Outra das salas enormes, enormes mesmo, era a da Contabilidade. As facturas dos fornecedores chegavam lá, eram contabilizadas em máquinas de manivela, e eram registadas e arquivadas em mais do que uma via.

Já mais recentemente, as facturas chegavam, alguém abria os envelopes, organizava-as e passaram a ser digitalizadas à chegada e, a partir daí, todo o processo passou a ser automatizado, com sistemas que transformam imagem em dígitos, com workflows para que circulassem por quem as aprovava, e, daí até entrarem directamente no sistema, eram um ai. Vários profissionais foram dispensados, claro. Posteriormente, a mudança foi ainda maior com os fornecedores a registarem directamente as facturas no portal que a empresa disponibilizava. E mais redução de pessoal, claro.

Fazer o orçamento da empresa e fazer o acompanhamento mensal, quando entrei, ocupava muita gente e era um trabalho terrível. Tinha que se recolher informação manual de todas as áreas e fazer infindáveis cálculos manuais. Fazer uma alteração implicava, frequentemente refazer todo o processo. O produto do orçamento era um dossier enorme, cheio de folhas datilografadas, que era distribuído pelas direcções. Mensalmente eram produzidos, em papel, relatórios com os desvios e as suas explicações bem como uma projecção dos impactos no resultado anual. Uma trabalheira que hoje dificilmente se imagina.

Aos poucos, os escritórios foram encolhendo. O que antes requeria edifícios gigantes com muitas centenas de funcionários ficou reduzido a um andar em que a maioria das pessoas já estava afecta a áreas mais 'nobres' como planeamento, investigação, inovação, qualidade, gestão de talento e coisas assim.

Fora dos escritórios a revolução foi também brutal. Os armazéns, por exemplo, antes fervilhavam de gente: uns recebiam o material, outros codificavam, outros inseriam as guias de entrada em dossiers e em folhas de registo para serem 'recolhidas' ou, mais tarde, directamente no sistema, isto depois dos codificadores catalogarem tudo. Depois havia os que arrumavam os artigos, outros que faziam inventários, outros que atendiam quem lá ia levantar artigos e, aí, faziam os movimentos inversos. Hoje poucas pessoas lá trabalham. Tudo está informatizado, automatizado.

E podia continuar mas o panorama seria sempre o mesmo.

Em cada um destes movimentos houve sempre alguém que foi sacrificado mas, vendo a posteriori, nada disto foi globalmente dramático pois as pessoas iam sendo 'reconvertidas', outras saíam com indemnização e arranjavam lugar noutras actividades. E isto era um processo gradual.

O que aconteceu nas empresas em que trabalhei, aconteceu em todo o mundo.

Mas não sei se a revolução que a inteligência artificial não vai ser mais disruptiva. Não a vejo como um interruptor -- hoje funciona assim e amanhã já é de outra maneira e, de um dia para o outro, saltam pessoas aos milhares -- pois as organizações levam tempo a assimilar as mudanças e a adaptar-se. Mas, assim que se inicie a migração para processos que incorporem a inteligência artificial, o movimento será irreversível e rápido.

Hoje ainda não sabemos dizer ao certo todas as áreas em que a IA vai mexer mas é só questão de começar. Onde ela entre, o movimento será imparável.

A nível caseiro, já a uso a toda a hora -- e já sinto que há um antes e um depois do ChatGPT. Dou um exemplo: contei no outro dia que a rega não tinha arrancado. Herdámos o sistema de rega com a compra da casa. Tem sido sempre uma aventura atinar com o seu funcionamento pois não ficou nenhum manual e, quando tínhamos jardineiros, cada um mexia à sua maneira, dizendo que tinha reprogramado. E havia noites em que regava em permanência, outras vezes arrancava de dia, em horas impróprias, outras vezes funcionava dia sim, dia não. Quando resolvemos que estávamos melhor sem jardineiros, esse imbróglio passou para nós. O incrível mundo das electroválvulas e das estações e dos programas passou para nós. O mal das coisas complexas e sofisticadas -- que dão para adaptar a tudo e mais alguma coisa e que permitem combinações de tudo com tudo -- é que descortinar o que está programado e o que se pode fazer sem fazer perigar todo aquele equilíbrio instável é um desafio. O meu marido é apologista da técnica de mexer o menos possível. Eu sou o contrário: eu sou de tentar perceber tudo e depois refazer tudo em consciência. Mas, antes, faltava-me o apoio técnico. 

Até que chegou o ChatGPT. Agora fotografo o programador e coloco dúvidas. Ele reconhece a marca e o modelo e começa a interpretar o que vê. E vou seguindo o que 'ele' diz. Claro que ele não me diz tudo às primeiras pois é sabido que a maior ignorância é a que desconhece a dimensão da sua ignorância. Portanto, não pergunto tudo o que há para perguntar e, portanto, vou recebendo respostas que são apenas uma parcela do que há a fazer. Uma luta. Tentativas infrutíferas umas atrás de outras. Mas não desisto. Faço, fotografo o que diz o monitor, volto ao ChatGPT, volto ao programador, e assim sucessivamente. Neste momento, já estou mais perto de dominar a coisa. Ainda não estou lá, mas já vi a luz ao fundo do túnel mais longe... Claro que ainda não cheguei à parte a que provavelmente nunca me atirarei: a do aspecto físico da coisa, o das electroválvulas, a sua associação às estações respectivas. Mas, se calhar, até para isso, 'ele' me ajudaria. O que antes requereria um jardineiro especialista em sistemas de rega, agora está nas minhas mãos e nas do ChatGPT. 

E quem diz isto diz interpretar um balanço e uma demonstração de resultados, apontando pontos críticos, áreas a requerer atenção -- e isto através do 'upload' de um ficheiro ou de fotografias. Isso ou interpretar análises clínicas ou relatórios de exames médicos. Ou fazer o upload de um livro, ou de um contrato ou do que for, e pedir um resumo, uma apresentação ou o que for. E o trabalhinho aparece imediatamente feito.

O impacto disto nas empresas, nos escritórios de advogados, na Administração Pública, na Investigação, na análise das imagens de exames médicos, em todo o lado..., vai ser imenso.

Claro que haverá sempre muitas profissões que não desaparecerão. Muitas. E novas profissões surgirão. Muitas. 

Estudar o impacto, área a área, de tudo isto é imperioso: para programar a formação e as vagas por curso, para repensar a sociedade no seu todo. Se tudo for pensado e planeado, decorrerá sem sobressaltos de maior. Se nada se fizer, será um ver se te avias de crises, crises daquelas bem problemáticas.

A entrevista que o Anderson Cooper conduz com o CEO de uma empresas de Inteligência Artificial é interessante. Penso que é um tema que deveria ser trazido para a ribalta. Em vez de andarem mais do sete cães a um osso a ver quem diz mais mal do Gouveia e Melo mais valia que se antevisse o futuro. Com pés e cabeça. Com factos, com objectividade. Com gente que saiba e não com papagaios. Estou farta de papagaios.

AI company's CEO issues warning about mass unemployment

Anthropic CEO Dario Amodei tells CNN's Anderson Cooper that "we do need to raise the alarm" on the rise of AI and how it could cause mass unemployment.

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Imagens geradas, a meu pedido, pelo Sora (IA)
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Dias felizes