Tive um dia complicado, enredada nas manigâncias burocráticas de funcionários que me atrapalham a vida com mentalidades e atitudes burocráticas, sem o mínimo de compreensão. Nem falo em empatia. Falo em compreensão básica. Dizem-me que o que é preciso fazer é aquilo que os outros fora das Finanças dizem que é impossível. Há um senhor que diz que se tem que fazer uma coisa que só na Conservatória se faz. E a Conservadora diz, embora com todo o respeito e em linguagem jurídica, que os das Finanças vão mas é dar banho ao cão pois o que querem é tecnicamente impossível. E é taxativa: já disse o que tinha a dizer, não vai dizer mais nada. Face a isso, lá fui outra vez para as Finanças.
Portanto, uma audiência. Uma audiência que me tirou do sério.
Na sequência disso, mal cheguei a casa fiz uma exposição para uma Notária.
E mais umas quantas coisas.
Portanto, não levem a mal mas hoje já não tenho cabeça para me insurgir contra as marcelices que se sucedem em catadupa nem para o que quer que seja que puxe pelo lado sério do meu pensamento.
Até podia falar da entrevista ao Galamba na CNN. Comoveu-me. Ainda não foi ouvido pelo MP. Ainda não conhece o processo. O que sabe, sabe-o pela Comunicação Social. Entraram-lhe pela casa, para fazer buscas, estando as filhas a dormir. Escutaram-no durante anos. Ninguém merece tamanha pulhice. Os danos de toda a espécie que isto causa na vida de uma pessoa... E, disseram os juízes da Relação, tudo porque se esforçou por fazer o melhor para o País. Qual crime...? Num outro dia, eu falaria sobre isto. Esta entrevista merece ser falada. E não tem a ver com a entrevista, pois ele foi até bastante contido, mas também não deve ser esquecido pois não é só uma coisa incompreensível por parte do MP (ia dizer canalhice mas não quero ir por aí), é também tudo muito obra do Marcelo que não descansou enquanto não lhe fez a cama. O que Marcelo pressionou António Costa para correr com o Galamba é coisa que não deve ser esquecida. Mas tem que ser num outro dia. Hoje estou com a cabeça feita em água.
Por isso, deixem-me mas é distrair-me com esta rapaziada aqui abaixo me põe bem disposta.
Calças que se rasgam nas virilhas | Fugiram de Casa de Seus Pais | RTP
Um problema que já lhe causou forte embaraço junto da polícia e que poderá ser resolvido, apenas, se ele tirar as calças.
Quando chegámos, antes de abrirmos a porta de casa, o meu marido foi abrir o portão que dá para o lado de trás. E aí disse: 'Acho que temos aqui um pequeno problema...' e a voz não augurava nada de bom. Fui ver. As portadas da cozinha estavam abertas de par em par. Mau... E as janelas estavam abertas, basculantes. Ficámos os dois a olhar para aquilo. Somos cuidadosos ao sair. O meu marido, em especial, verifica sempre tudo antes de sairmos. Naquele momento pensei que nos dois últimos meses não tínhamos lá ido. Entre a última vez e este sábado aconteceu aquele episódio da lagarta do pinheiro que ia causando a morte do nosso ursinho felpudo. Não foi in heaven mas in heaven há imensos pinheiros e, em alguns, há daqueles ninhos delas e é normal, pela primavera, vermos procissões delas. Como não temos zonas delimitadas onde possamos reter a fera, resolvemos não arriscar. Até agora.
Fomos dar uma volta por fora da casa e constatámos que não estava mais nenhuma janela ou portada aberta. Menos mal. O meu marido inspeccionou a janela da cozinha por fora e não viu sinais de arrombamento.
Ainda assim, abrimos a porta um pouco a medo. O meu marido foi inspeccionar a casa por dentro. Tudo bem.
Já mais tranquilos, constatámos: 'O alarme não disparou... E, além disso, como é que se põe uma janela a bascular pelo lado de fora...?'. E dentro de casa parecia que ninguém tinha entrado.
O meu marido, então, disse: 'Sabes uma coisa? Isto não abona nada a nosso favor...'. E eu pensei a mesma coisa: se calhar fomos mesmo nós que deixámos as janelas abertas...
Mas depois arranjei uma desculpa: a última vez tinha sido um dia dos diabos. Eu e o meu marido estávamos com reuniões. Pelo meio, foi lá o senhor que, tempos antes, tinha arranjado a salamandra e a tinha deixado no meio da casa porque, quando perguntou ao meu marido qual o lugar exacto onde ficava, ele tinha respondido que 'no mesmo sítio'. Isto foi num dia em que eu não fui. Ora, nesse dia, a salamandra estava praticamente no meio da sala pois tínhamo-la afastado para pintar a parede por trás. Portanto, o senhor, bem mandado, instalou-a ali mesmo. Quando lá cheguei fiquei passada. O meu marido, como sempre, disse que não achava que estivesse mal. Mesmo que estivesse pendurada no tecto de pernas para baixo ele diria a mesma coisa... Claro que liguei a pedir que fossem pô-la encostada à parede. Portanto, nesse dia, início de Fevereiro, o senhor voltou lá. Desinstalou-a. Mas, ao voltar a instalá-la, para a encostar à parede ou se achatava o tubo -- e não o recomendava -- ou tinha que se fazer outro buraco no tecto. Resultado: completamente desconsolada, pedi que a instalasse de novo onde estava, quase no meio da sala... Fazer o quê? Obras outra vez? Buracos no tecto...? Ná, nem pensar. Claro que o meu marido encarou isto como uma vitória... Mas, pronto, paciência.
Entretanto, nesse mesmo dia, chegou o técnico que ia instalar a nova central de alarme, com video-sensores, tendo que andar pela casa.
Como se isso não fosse pouco, tivemos um problema maior: a pequena fera, cão de guarda de corpo e alma, ladrava freneticamente, querendo atirar-se aos estranhos. E, por isso, se era eu que estava com os senhores, o meu marido tinha que estar com ele, pela trela, noutro sítio. Ou vice-versa. Um desatino.
Pior: o técnico não atinava com a programação da central. Era tarde, de noite, estávamos com fome, o cão não parava de ladrar e o homem não se despachava.
Portanto, acredito que, no meio daquilo, já de noite, nem reparámos que a janela da cozinha estava aberta...
Com tantos roubos que volta e meia há lá pelos campos, tivemos sorte.
A verdade é que dois meses com as janelas da cozinha abertas foram boas para o ambiente interno da casa: não estava fria nem húmida nem cheirava a casa fechada. Estava mesmo agradável.
Agradável mas a precisar de limpeza. Andei a aspirar, a sacudir, a limpar. Estava um solzinho bom e a casa agora, com as portas, janelas, rodapés e tudo branquinho e com a decoração também toda em clarinho, fica ainda mais acolhedora, luminosa. Gosto tanto.
E o campo... lindo, florzinhas, cores delicadas, tudo tão bonito, tão sereno, tão bom. A natureza renasce a cada dia, haja o que houver. Lá andei, como sempre, a fotografar, a respirar o ar limpo, a passear devagar, a ouvir os passarinhos.
De regresso, fizemos o desvio do costume para eu matar saudades dos melhores gelados à superfície da terra: um cone com duas bolonas, uma de rum com passas e outra de chocolate com laranja. Tão bom.
Ao regressar, depois do banho e do jantar, ainda estive a tratar de umas cenas. Depois pus a box para trás para ver o Tabu. Já disse que tenho gostado imenso de todos os episódios do programa? É uma aposta arriscada mas que o Bruno Nogueira está a superar com talento. Humor inteligente. Isso e a dignidade e carinho com que trata os convidados são a receita que garante o sucesso.
E agora estive a ver as notícias sobre as quais hoje não vou falar. Mas vou partilhar um vídeo muito interessante. Ele há coisas...
Putin's Russia and the ghost of the Romanovs | The Economist
Tsar Nicholas II of Russia and his family, the Romanovs, were murdered 100 years ago today by Marxist revolutionaries. What does this anniversary mean for Vladmir Putin?
Foi simples: passou a correr. Tanto que eu gostava de saber gerir o tempo de outra maneira.
Comecei o dia com arrumações. Ainda havia uns sacos de roupa interior, pijamas -- coisas de uso raro. Não que não use roupa interior mas o gosto tem mudado ou as circunstâncias também. Portanto, a de uso normal já estava arrumada. As peças especiais, pijamas e que tais ainda estavam à espera de inspiração no que à arrumação se refere. Uma coisa é a gente ter uma casa e, ao longo do tempo, as coisas irem tomando o seu rumo e outra, bem diferente, é a gente pegar nas coisas que estavam cada uma em seu buraco e agora vir com elas para uma casa nova e nem saber como arrumar. Às tantas só dá vontade deitar coisas fora. Mas uma pessoa vai deitar fora coisa boa, em bom estado, de que um dia pode precisar?
Depois chegou a minha filha e os meninos. Dia de empregada em casa. Os meninos instalaram-se a ver televisão, vinham ainda cansados da véspera. Meus meninos crescidos e lindos, meus amiguinhos. A minha filha deu um jeito na decoração do meu quarto, depois descobriu um passarinho gordo e em tons clarinhos que colocou na sala e varreu e provou o vestido cujas mangas a minha mãe tinha arranjado. Depois, para lhe mostrar, colocou-se em cima de uma cadeira da casa de jantar e fotografou-se no espelho que está na parede, sobre o aparador. E enviou a fotografia à avó com quem falou a seguir.
A seguir almoçámos na rua, debaixo do toldo que tem as buganvílias por perto. E sentimo-nos tão bem, num outro mundo. E eu senti aquilo que aqui sempre sinto: que tudo isto ainda me parece um sonho. Dantes, há mil anos, eu gostava disto aqui. Mas por isto, aquilo ou o outro foi sempre coisa que foi sendo deixada para lá. Até que agora. Quase por magia apareceu esta casa e agora aqui estamos.
Depois ela foi para a praia com os meninos e nós fomos para aquela missão que me dá conta da cabeça: buscar coisas à outra casa. Já vieram os meus casacos de inverno, impermeáveis, capas, casacões de malha. Ele não sei o que trouxe. Pelo menos um blazer eu vi, um dos muitos azuis escuros que tem, todos iguais. E trouxe as gravatas: dozens and dozens. Alturas houve em que não ia trabalhar sem gravata. Sempre teve muito bom gosto para gravatas. Todas hiper clássicas mas de boa qualidade, seda macia, ou lisas ou padrão discreto mas sempre com cores bonitas. Agora raramente usa. Não sei onde as guardou.
Lá viemos com o carro a deitar por fora, tipo a carrinha dos ciganos quando levantam a banca e vêm com a carrinha atravancada, a deitar por fora com grandes sacalhadas de roupas.
Eu, quando contrariada, calo-me. Foco-me no que tenho a fazer e pratico a contenção emocional. O meu marido é o meu oposto: pragueja, arrelia-se, ameaça que tão cedo não volta lá, que se deve é deitar fora tudo o que ainda lá está, que grande parte da tralha que lá está é minha. Furioso, furioso. Tento não responder para não inflamar ainda mais os ânimos.
Mas eu, muito sinceramente, estou cada vez mais na dúvida. Uma coisa é uma pessoa ir todos os dias para a empresa, ter reuniões várias vezes por dia, todos os dias da semana, ter aquilo de andar aperaltada e gostar disso, e outra, bem diferente. é ter estar em teletrabalho e desejavelmente assim continuar na maior parte do tempo, é ter a cabeça virada do avesso e ter ganho aversão ao consumo. Em que circunstâncias vou precisar de sair de casa dressed to impress? Talvez um ou outro dia. Agora todos os dias...? Não. Vários meses a andar descalça, quase sempre sem soutien, sem maquilhagem excepto para as reuniões (remotas) e, ainda assim, coisa ligeira, sempre na maior das descontracções, já não serei capaz de voltar à vidinha do costume. Tanta toilette, tanta coisa que, para falar a verdade, não sei quando voltarei a usar.
Mas a vida dá tantas voltas, tantas. Sei lá se um dia não volto a ter uma vida nova, cheia de cenas, a precisar de um blazer de linho branco com calças do mesmo? Ou um fato completo em tons de mel? Vou deitar tudo fora? Não sei mesmo que faça. Ou blusas branquinhas lindas mas que me estão justas demais, quase escandalosas... Deito fora? E se consigo refrear os ímpetos carnais que me levam a comer figos aos montes, kefir com frutos secos e mel, pêssegos, uvas e ameixas e volto a caber nelas à larguinha...?
Juro. Não sei mesmo o que fazer. Por um lado poupava-me horas de desgaste: tudo para sacos pretos e tudo para os contentores de roupa.
Mas, enfim. Quando chegámos e enchemos o corredor de sacos, chegou o meu filho. Veio deixar os miúdos enquanto foi correr com a mulher. Todos bronzeados, mais crescidos. Uma semana sem os ver e já os acho maiores. Mais lindos. Depois, contei-lhe duma coisa que se avariou e ele simpaticamente ofereceu-se para ver. Uma coisa do caneco, num sítio alto, difícil de atingir. Parece que até ficou mal do ombro, tanto se esticou. Mas ficou resolvido.
Quando se foram já não era cedo. Fui lá para fora e, pela primeira vez nestas duas semanas, abri uma cadeira espreguiçadeira e pus-me a ler um livro, neste caso o Narciso e Goldmund. Mas já havia pouca luz. Fui, então, buscar o ancinho que ele me ofereceu pelos anos e fui apanhar flores e folhas secas da relva. Descalça, a relva morna, uma sensação boa.
Depois fui tomar banho, fazer o jantar, peixinho cozido, maruca.
Quando vim para o sofá, deitei-me a ler. Por pouco não adormeci. Aliás, só não adormeci porque estava a ler de gosto o livro. Mas deu-me o cansaço, lá isso deu.
Quando liguei o computador, as notícias não me interessaram. Talvez porque a minha cabeça tem andado por outras pastagens, não há touradas que puxem pelo meu afã, nem avantes, nem tiro à dgs, nem marceladas, nem riozices. Não estou nem aí. Portanto, YouTube com ela. E, lá está, o sujeito percebeu que me farto de rir com os malucos e repetiu a dose. E eu, porque me divirto mesmo, com vossa licença, vou reincidir. Tão bom. Gente inteligente é um gosto de ver e ouvir.
Miguel Esteves Cardoso e Bruno Nogueira, uma dupla virtuosa:
O fulano começou por me propor Pedro Paixão, coisa que vejo sempre com agrado. Já assumi: malucagem é comigo. Gosto.
E, tendo constatado que vejo de gosto, começou a testar-me. Passou dele para derivadas dele, inclusivamente para uma entrevista da Lena d'Água em que ela fala do ano da graça de 1985 em que estava apaixonada por ele e ele a curtir o desgosto por ter sido abandonado por outra.
E, agora, derivou ainda para mais longe, agora já vai no amigo, no tal que ele adora de paixão (lá está, what's in a name) e que lhe ficou com a mulher, outro ganda maluco que, tal como o PP
(ao abreviar para PP refiro-me obviamente ao Peter e não ao Paul, que o Paulinho nem entra nesta história em concreto),
tem aquela graça que advém de terem neurónios em quantidade suficiente para falarem como se não estivessem a falar a direito, adornando a conversa com disfarces de todo o género -- de ironia, de erudição, de desdém, de humor, de desfaçatez, de gaiatice, de insolência, de graça.
Pois bem, desta vez o algoritmo propôs-me um excerto daquele programa com que eu delirava. Miguel Esteves Cardoso à conversa com Bruno Nogueira. Muito bom.
Deviam reatar e, quiçá até aumentar o naipe: umas vezes eles os dois, duetos sempre virtuosos, outras o Bruno e o Pedro Paixão, outras os três (a ver no que dava este ménage: se zaragata, se beijos na boca). Ou também o Manuel João ou o Alvim. Tertúlias em geometria variável mas só com malucos. Não perderia um programa. Juro. Em vez dos comentadores do costume, que já não consigo ver nem com molho de tomate, bem podiam pôr gente assim a encher os horários nobres da televisão. Isso é que era.
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E uma semana bem disposta, minha gente! Bora lá rir.
[E nem vale a pena irem indispor-se com o post abaixo. Estou a avisar]
Os dias em que vamos buscar coisas ao apartamento parece que são os piores. Cansamo-nos, vimos carregados, eu quero aproveitar para trazer mais coisas, ele, como é ele que carrega tudo o que é pesado, aborrece-se, diz que eu abuso, eu digo que ele traga só o que quiser, ele diz que, se não trouxer tudo, eu fico chateada, eu digo que ele faça o que quer e não invente que eu o pressiono. E, neste bate-papo absurdo vamo-nos aborrecendo ainda mais. Andar a buscar coisas cansa, perde-se tempo, já não há motivação. A casa praticamente vazia, com despojos, restos do que caíu ou ficou para trás na mudança, tudo meio triste. E a nós já nos falta paciência para andar a garimpar. Por um lado dá vontade de deitar tudo fora e, por outro, parece irresponsável tomar essa decisão sem cuidar de saber o que se deita fora ou aproveita. Às tantas já estamos com fome, cansados, o carro a deitar por fora. E eu, outra vez, aflita da minha perna. Sinto que tenho para aqui um músculo em tensão, talvez quase rasgado, provavelmente inflamado. Ele não quer que eu pegue em coisas que pesem, eu custa-me vê-lo tão carregado e eu só a olhar e, depois, vou ajudar e, a seguir, já mal consigo dar passo e, depois, para além da dor incapacitante, tenho-a a ele a mandar vir comigo. Portanto, é sempre uma cena.
Mas a questão é que a roupa fomos nós que a trouxémos, em sacos. Eu trouxe blusas, blusinhas, tops, túnicas, saias, vestidos. Não tudo mas o que me pareceu necessário. Mas, por exemplo, esqueci-me dos soutiens. Quando tomei banho, pus a roupa para lavar e, no dia seguinte, quando me levantei... zero soutiens. Portanto, tenho andado com soutien dia sim, dia não. Ou seja, indispensável trazê-los. E queria também descobrir duas colchas brancas. A que eu usava habitualmente, aquela que a minha mãe, pela fotografia, diz que é uma toalha de mesa, ficou na cama que era nossa e que agora está num dos dois quartos das 'visitas'. Para nós, comprámos uma outra cama. Eu queria uma cama mais larga, menos clássica. As do ikea estavam esgotadas mas, numa loja de bairro, encontrámos uma equivalente. Levanta-se o estrado e é toda arrumação por dentro. Tem um metro e meio de largura. Pusemos quadros por cima e fica uma 'cabeceira' bem bonita. São dos pesados, com vidro, madeira pesada à volta. Foi o meu marido que os colocou e pôs uma bucha forte mas, pelo sim, pelo não, não encostou a cama à parede. Disse que, por via das dúvidas, era melhor deixar espaço para cairem no chão, caso se desprendam. Mas claro que não caem. Ora nesta cama coloquei uma colcha de tipo patchwork, em quadrados de cores diferentes, em veludos espessos, bonitos, em cor de tijolo, fogo, cores afins, com alguns brilhos. É pesada, bonita, confortável. Mas a minha filha, que não é dada a cores fogo mas, sim, a cores claras, pastel, branco, diz que acha que ficaria melhor com uma colcha de renda branca por cima desta que ali está.
E lá as descobri, num gavetão de um dos roupeiros do closet. Já amareladas. Já foram ambas lavadas, uma já está estendida. A outra ainda está na máquina porque, em especial quando molhadas, ficam a pesar toneladas e a minha perna já está mal de mais.
E vieram mais livros, nomeadamente os de culinária que ficaram num móvel que ainda não veio, e alguns candeeiros, e dois bancos metálicos, cinzentos, de uma cozinha que tivemos quando nos mudámos para aquela casa tão feliz para onde fomos viver quando a minha filha era bebé e onde nasceu o meu filho e onde vivemos até eles serem jovens adolescentes e os livros terem feito com que já lá não coubéssemos. Os bancos pesam horrores e, junto ao estofo, em cinza mais clarinho, já têm alguns pontos de ferrugem. O meu marido ia tendo uma fúria quando me viu a carregá-los: por um lado por eu estar a esforçar-me, estando no estado em que estou e, por outro, porque não quer trazer coisas que não estejam em boas condições. Aliás, estava irredutível, não queria trazê-los. Mas, para colocarmos junto à mesa que os anteriores donos cá deixaram e que veio da cave para o telheiro e que, justamente, é também cinza clarinho, vão dar jeito. Tenho duas cadeiras que eram deles, tenho cinco bancos de plástico e tenho quadro cadeiras com assento em verde que habitualmente estão em volta da mesa branco de ferro. Ora não chegam. Como não temos tempo para andarmos às compras, lá vieram os old bancos. E vieram toalhas de casa de banho e detergentes que havia lá com fartura e que é absurdo transportá-los para os deitar fora e depois ir ao supermercado comprar outros. Mas tudo pesa. Às tantas, tanta a discórdia, estamos a ponto de nos divorciarmos ali mesmo. Eu, pelo menos, estou. Ele está mais para mandar vir e mostrar má cara -- acho que não é tão dramático e extremado como eu. Queixa-se ainda de outra coisa: mal conseguimos arrumar minimamente a casa nova, vamos buscar novo carrego e lá fica a casa, outra vez, cheia de sacos e sacos e sacos por arrumar. Pois é. Também me chateia, isso. Mas fazer o quê? Só se não tivéssemos mudado de casa.
O que sei é que dali fomos para o supermercado. Às tantas, roídos de fome, lembrámo-nos de trazer de lá uma pizza pré-cozinhada, daquelas que devem engordar até dizer chega. Almoçámos já passava das quatro da tarde. Eu quase sem conseguir dar passo. Pouco consegui fazer. Mas estávamos a convergir numa coisa: dar uma saltada à praia. Nem nos lembrámos da minha perna nem da barafunda a sair de lá. Mal consegui andar. Mas ainda fui sentir a temperatura da água e deu para ficarmos a respirar o ar fresco do mar, para ficarmos a olhar a sua bravura. Apesar de tudo, soube-nos bem. Chegámos a casa depois das nove da noite tamanha a fila e a sua lentidão. Fiz ovas de bacalhau cozidas com batata, cenoura, feijão verde e ovo. Jantámos às dez e tal mas soube-nos maravilhosamente. E já nem nos lembrávamos da raiva mútua que sentimos a trazer coisas da outra casa.
O espaço onde tomamos as refeições é contíguo à cozinha. É muito agradável. Tinha pouca luz. Pomos agora também um candeeiro de pé muito simples com uma grande lâmpada amarela. Dá uma luz aconchegante.
Quanto à casa: tem a vantagem de ser maioritariamente térrea. Tem um sótão e uma cave, agradáveis, mas podemos fazer a vida toda ao nível do rés-do-chão. Ainda não atino bem com a orientação geográfica. Nos primeiros dias não percebia para onde davam as janelas. Tinha que ir espreitar. Mas, quando à noite estou para adormecer, tento perceber a posição das divisões e das respectivas janelas localizando-as na planta da casa e não percebo bem. Tem uma disposição interessante mas volta e meia, quando ando à procura das coisas -- e estou sempre à procura das chaves, do telemóvel, do x-acto para abrir as caixas, da tesoura, disto e daquilo -- fico com a sensação que faço círculos, que ando desorientada. É uma casa especial, cheia de recantos e espaços especiais, e com uns certos mistérios.
E, Amofinado, in heaven plantei ciprestes. Gosto muito desses seres esguios, muito dignos, vivos para sempre. Era uma terra bravia, apenas com pedras e mato. Fiz dessa terra um pequeno bosque onde as árvores, felizes, crescem jubilosamente. Aqui, não apenas o espaço é bem mais pequeno como o jardim já existe e eu não sei se quero mexer-lhe pois é lindo, tem árvores mesmo muito bonitas. Ainda não tive tempo para usar a minha máquina fotográfica. Deveria ter fotografado a casa vazia, depois a ir ganhando forma. Mas a canseira tem sido tanta que nem para tal me tem dado.Estou a escrever e a pensar que os vasos precisam de ser regados e que as zonas onde a rega não chega também. Já para não falar que todo o jardim precisa de ser varrido e limpo. Quando fiz anos o meu filho deu-me uma coisa que é meio ancinho e meio vassourão. Mas festejámos in heaven e deixei lá ficar isso e, quando lá fomos, foi tudo tão a acorrer que me esquecemos. E bastante falta está a fazer.
Este domingo espera-nos um dia cheio. Por isso, já tomei brufen e estou com gelo. Se amanhã continuar com tantas dores, terei que tomar mais.
E agora a ver se consigo levantar-me e ir a andar até ao quarto. Com as dores com que estou, ainda me deito aqui no sofá...Volta e meia, saio da casa de banho e vou em frente, entrando na salinha dos de língua portuguesa. Tenho que me recentrar, reorganizar geograficamente e virar para o ouro lado, para entrar no quarto propriamente dito. É isso e acordar, de manhã cedinho, com o som da rega debaixo da janela do quarto. Como é novidade ainda me acorda. Depois haverei de me habituar. É um som bom.
Tirando isso, hoje o YouTube tinha para me recomendar o Pedro Paixão. Deve ter sido por eu ter confessado aqui que lhe acho uma certa piada. Pois bem: acertou e estive a ver de gosto, até ao fim, encantada com tanta maluquice. Da primeira, a entrevista concedida a Anabela Mota Ribeiro, coloco apenas a 1ª parte mas, para quem esteja interessado, estão disponíveis a 2ª e a 3ª partes. Como todos os seres doidos, bipolares e inteligentes, Pedro Paixão é, sem dúvida, polémico, insólito e interessante. Não deve ser fácil conviver com uma criatura assim. Nem para ele próprio deve ser fácil mas, para quem aprecie o género, é sempre um desafio.
Se os últimos tempos não me têm sido fáceis, este dia, hoje, foi uma coisa do além. E se isto não fosse um diário público, era certo e sabido que me poria para aqui, em privado, a carpir sobre o meu ombro. Como, por pouca sorte, isto dos blogues é uma coisa qualquer que de privado não tem nada, nada mais me resta que não engolir os queixumes e tentar distrair-me com o que gira por aí, pelos ares.
João Soares - a temível fera que ameaça tratar da saúde
de dois monumentos do Público
E, por onde ando, de facto qual girândola, o que vejo são bofetadas. Bofetadas para aqui, bofetadas para acolá, e obviamente demita-se, e é o próximo a sair ou não é caso para isso, ou é caso mas não é por isso, e os vapores etílicos -- e, de certeza, as redes sociais a bombar.
À falta de cãozinho abandonado ou de mochilas simbólicas ou de alguém por quem R.I.P. em barda, as bofetadas com certeza que servem muito bem.
Ora não, a malta precisa é de adrenalina para bombar na maior animação.
Augusto M. Seabra, a verrinosa figura que,
na maior das facilidades,
consegue tirar do sério John Macho Só Ares
Fui, pois, tentar perceber o que se passava -- e o que vejo é daquelas polémicas à antiga, um provoca, o outro reage, teimas e zangas antigas, quiçá do tempo dos duelos ou de amigos bem bebidos que se desafiam para uma cena de pancada à porta da taberna, contendedores que se desafiam com adjectivos, impropérios, interjeições e muito riso à mistura, sopapo e canelada, cartas ao director e direito de resposta, os amigos a tomarem partido, as mãos a salivarem para a próxima disputa, a caneta já a pingar de inspirada inquietação enquanto o dono se baba, venham eles, venham eles, quantos são, quantos são?
Vasco Pulido Valente, o tal meliante
que anda
há séculos a pedi-las
(so, John Só Ares say)
E, enquanto isso, nos passeios, as vizinhas, as comadres, as beatas a correrem, na maior afobação, a chamar o polícia e o vigário. Ai que horror, até palavrão já rola na calçada, benza-se prima, benza-se.
Aqui chegada, acrescento: se me perguntarem se João Soares é, para mim, um modelo de virtudes e se dele mandaria erigir uma estátua apolínea para deificar a cultura do meu país, pois vos diria que talvez não.
Mas se me perguntarem se exijo dos ministros que se portem como uma menina acabada de ser ungida pelos sagrados óleos da castidade dir-vos-ei também que não.
Posto isto, espero que, na Cultura, João Soares cumpra o que é esperado, que dignifique a actuação do governo nos domínios culturais e que o faça com competência e denodo. Tirando isso, se pisca o olho a alguém quando escreve no facebook, se envia beijinhos e abraços a alguns, beijocas fofas às admiradoras ou bofetadas virtuais ao Augusto M. Seabra ou ao Vasco Pulido Valente é coisa para cujo lado melhor durmo.
Só tenho uma sugestão a dar ao nosso ministro: que, quando voltar a desafiar os seus adversários na polémica, faça uso do seu estilo erótico (onde francamente tem mais graça). Insinue práticas dangereuses, proponha desaforos, junte personagens perigosas, e uma ou outra faca na liga -- apimente a prosa, vá. Mostre que é homem (de letras).
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E, entretanto, acabo de ter uma má notícia. É que acabo de ver António Costa a pedir desculpas aos dois ofendidos e informando a comunidade que já recomendou aos ministros que nem no facebook nem à mesa do café deverão soltar a franga ou a fera que têm dentro deles.
Podemos, pois, descansar. Já não teremos bengaladas, bofetadas, traulitadas, besteiradas. Afinal vivemos na era dos smiles e dos gatinhos fofos. As tiradas queiroseanas já não moram aqui.
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E, assim sendo, nada mais tendo eu a declarar e pouco mais havendo a dizer sobre tão exígua farrinha, coisa de funfuns, gaitinhas e nada mais, chamo o Bruno Nogueira e peço que traga o Sr. Henrique. Esses, sim, são uns verdadeiros pândegos.
Arraial Gay Pride
Lado B
...
Já agora, ponhamos os olhos na idades dos cultos senhores que tão saudável beligerância mostram:
João Soares - 66 anos
Vasco Pulido Valente - 74 anos
Augusto M. Seabra - 60 ou 61 anos bem aviados
....
Há papagaios bem ensinados, há os que aprendem coisas a metro, há os que gostam é de espanejar e dar nas vistas, há de todo o tipo.
O que os papagaios deveriam ter presente é que, embora falem imitando outros, não são outros: são apenas papagaios. E, assim sendo, aconselharia a mais elementar prudência que medissem bem com quem se metem.
É que podem imitar um gato, um porco, um galo, podem cantar os parabéns a você... mas não sei se conseguem sair por cima se se forem meter com um animal feroz.
Vejamos um papagaio de um tipo mais evoluído: Einstein the Parrot, com quem o The Pseudo-Writer poderia ter umas sessões de coaching caso, armado em fera, persista em atirar-se à jugular do comentador. É que, assim como assim, já que não vai conseguir fazer sangue, ao menos sempre pode entreter-nos fazendo umas habilidadezitas.
E mais: talvez o papagaio Einstein o ensine que não se diz ter a haver mas sim ter a ver.
Já em relação a Judite de Sousa, agora que anda mais cheiinha, toda bem maquilhada, toda gira e de bela perna ao léu, sugeria que fosse fazer uma cura de sono para acalmar os nervos que apanha à segunda feira, sempre que atura o chato do Medina. Hoje, então, antes do meu marido ter tido um ataque de fúria com o Vítor Bento que estava à desgarrada com o Medina, vi-a mesmo em palpos de aranha para pôr alguma ordem na mesa. Coitada. Deve sair dali com a cabeça feita em água. Ficava umas duas semanitas a banhos com o seu gato e deixava o terreno para uma certa experiência.
Eu punha o Bruno Nogueira a fazer a primeira parte do programa do Professor, tipo peão de brega. E isto na esperança de que entretanto tivesse adquirido maior perícia e desenvolvido alguma capacidade de réplica face ao que abaixo vos mostro.
E a seguir avançava então o papagaio orelhudo. Sempre queria ver se chegava carregado de folhas de arquivo e se desatava a fazer barulho e a arreganhar o dente armado em tigrão. 'Tenho aqui uns papéis a dizer que se encontrou com o outro num quarto de hotel'. 'Pois olhe que não é o que se lia na imprensa por altura da vichyssoise'. A ver se, de cada vez que o Marcelo abrisse a boca, o interrompia com uma treta tirada de um papel qualquer.
Ou então o Marcelo a entrevistar o Sócrates - também teria graça. Com o pequeno Marques Mendes a apanhar bolas.
Ou o papagaio Einstein a entrevistar o Láparo. De cada vez que o Láparo respondesse, o Einstein desatava a rir-se à porco.
Mas, enfim, isto já é o meu olho para o negócio a pensar em fazer subir as shares se fosse eu a mandar num canal televisivo.
A notícia de que um funcionário da Segurança Social gastou para cima de meio milhão de euros em chamadas de valor acrescentado a partir do seu telefone de serviço, nomeadamente em chamadas para aqueles concursos em que se ganha dinheiro (tendo chegado a ganhar algum), fez-me lembrar um facto que se passou na empresa onde eu trabalhava há uns anos atrás.
Tínhamos mudado de edifício e tínhamos uma central telefónica nova, daquelas em que cada extensão é um número completo de telefone. Antes disso estávamos num enorme edifício, multi-empresa, e um conjunto de despesas comuns não passava por mim. Mas ali, naquele, em que estava apenas uma empresa, algumas despesas eram geridas pelos meus serviços. Uma vez, um colaborador meu veio alertar-me para que as facturas de telefone estavam muito altas e que aparecia uma parcela estupidamente alta de chamadas de valor acrescentado.
Na altura isso ainda era relativamente novidade. Pedi para me saberem de que se tratava. No meio de risos, vieram, depois, dizer-me que eram chamadas para 'canais' (ou números - nem sei como dizer) pornográficos. Fiquei verdadeiramente estupefacta. Sendo que apenas administradores e directores tinham gabinetes individuais e que o resto das pessoas estava em salas de tipo open space, como seria possível que alguém se pusesse a fazer chamadas dessas no meio de toda a gente?
Dado que a verba era mesmo muito alta, avisei o presidente, gestor conceituadíssimo, muito conhecido, de quem, de resto, era muito próxima, com quem tive sempre relações de confiança e respeito mútuo. Por um lado, achou alguma graça à história mas, por outro, mostrou-se indignado com o abuso e achou muito bem que eu pedisse ao operador de comunicações a factura detalhada para perceber de que extensão e a que horas isso acontecia.
Foi feito o pedido (agora as facturas já são, por defeito, fornecidas com todo o detalhe mas, na altura, a menos que se pedisse, o que vinha eram as parcelas com os totais, não se percebendo a extensão de origem). Levou algum tempo. Entretanto, pedi ao meu colaborador que espalhasse a informação de que tinham acontecido uns abusos e que íamos averiguar para que, quem fosse, parasse com isso.
Quando veio a factura, pedi a esse meu tal colaborador que visse o que se passava mas para não dizer a ninguém senão a mim. Era óbvio que alguém ia ficar em maus lençóis e, antes de se agir, teria que se ver como abordar o assunto. Avisei o presidente disto mesmo e ele achou bem.
Qual não é o meu espanto quando esse meu colaborador me entra no gabinete com cara de caso, ar apardalado, como se estivesse um bocado inibido ou assustado, nem percebi bem mas, agora que estou a escrever, ainda parece que o estou a ver, papéis na mão, quase sem saber o que dizer.
Então?
Respondeu-me, Não vai acreditar.
Então?, e eu já estava a ficar nervosa. De repente pensei Querem ver que é o meu número? Que, quando eu saio, alguém vem para aqui?.
E ele, Acho que é melhor esquecer.
Então?, e eu já mesmo preocupada. Diga. Quero saber.
Então disse-me o número.
Fiquei branca. O quê???, sentei-me.
Pois. É muito estranho.
Era o número do presidente.
Fiquei quase sem articular palavra. Não pode ser.
Ele disse, Pois, também me parece que não pode ser.
E então mostrou-me. Eram chamadas e chamadas, à meia hora de cada vez, chamadas que começavam lá para as 9 ou 10 da noite.
Não pode ser ele, dizia eu. E a essa hora? Serão as empregadas da limpeza?
Ele estava passado como eu mas disse-me, Doutora, as empregadas? Vêm em grupo, querem é despachar-se para ir para casa, não estou a vê-las, coitadas, a sentarem-se à secretária dele e porem-se a fazer dessas chamadas. Mas já não digo nada.
Fiquei sem saber o que fazer. Tinha dito ao presidente que o informaria para vermos o que fazer mas como iria eu dizer-lhe aquilo, caraças...?
O meu colaborador aconselhou-me, Doutora, esqueça, diga que não recebeu a factura.
Fiquei ali um bocado sem saber o que fazer.
Mas depois respirei fundo e fui ter com ele.
Já chegou a factura detalhado, já sabemos de que telefone têm estado a ser feitas aquelas chamadas.
E ele, Sim? Então de onde é?
Imagine: Daqui.
Soltou uma gargalhada, Daqui?!?
Respondi, Daqui. De noite. Já viu o disparate?
Chegou-se para trás na cadeira: A sério? Daqui?
A sério, eu um bocado atrapalhada.
E ele, Mas quem é que para aqui vem de noite fazer chamadas dessas?
Eu também incrédula com tudo aquilo: Sei lá. A essa hora acho que só se forem empregadas da limpeza mas acho que a maior parte das chamadas são feitas já nem as empregadas cá estão.
E ele, Mas o que é que a gente pode fazer para perceber? Tente descobrir.
Pensei que poderia fazer várias coisas mas o que me ocorreu foi dizer que não ia fazer nada, ia esperar para ver se voltava a acontecer.
Não aconteceu.
E ficámos assim. E passam-se sempre tantas coisas que nunca mais me tinha lembrado disto até hoje.
Sinto repulsa por quem se manifesta contra a austeridade, sei lá, aborrecem-me os que não querem pagar a taxa moderadora, sei lá...
O que a mim me aborrece é que é gente destas que dá cabo da reputação das louras.
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Já agora, conforme me recomendam num comentário, não deixem de ouvir a justa resposta de Bruno Nogueira à tia tontinha Guidinha. Foi na TSF e é imperdível.
NB: Sobre a entrevista de António José Seguro à Judite de Sousa é descer, por favor, até ao post seguinte.
Cheguei a casa há pouco. Mais uma noite de laré. Enquanto os dias ainda estão granditos e as noites amenas há que aproveitar. Tirei umas fotografias e agora poderia falar no que andei a fazer e mostrar-vos em que param as modas - mas o facto é cheguei a casa tão cansada e tão perdida de sono (isto vai-se acumulando, sabem; a ver se este fim de semana consigo recarregar as baterias) que agora não tenho energia para as passar para o computador, escolhê-las, reformatar as que quiser colocar no blogue, etc, não tenho mesmo (e não faço outra coisa senão bocejar, credo). Fica para amanhã ou depois.
Além disso, já estou como ontem. Por um lado acho que deveria falar de coisas sérias mas, por outro, apetece-me é pairar com ligeireza sobre coisas que não interessam para nada.
E assuntos sérios é o que não falta. Um autêntico massacre:
O Governo, se facultou dados que espelhavam uma realidade incompleta e que percebia que, com isso, ia induzir o FMI em erro, dando-lhes a ideia de que ainda existe margem para mais cortes de ordenados, fez mal. Mas, se o fez (e é óbvio que o fez), não consigo ficar espantada. Acho que esta gente que nos governa é, no seu conjunto, um bando de feios, porcos e maus. Seja porque gostam de fazer sofrer a populaça, seja porque são desmazelados, seja porque a sua incompetência não dá para mais, o que se passa é que dali só espero mesmo que façam porcaria. Por isso já nem me apetece falar deles. É gente que lá não devia estar e ponto final. Por cada dia a mais que lá estão, de mais disparates se vai sabendo. Se o dono de um restaurante contratar um cão como empregado de mesa, alguém se pode espantar se o cão meter as patas dentro dos pratos? Estranho será o contrário. É como com estes: a gente espantar-se-á é no primeiro dia em que façam alguma obra asseada.
É como o iminente ataque à Síria. Sentimos que estamos em counting down e sabemos que muitas vidas se vão perder. Cirúrgica ou não, a intervenção vai sair cara em recursos de toda a espécie, incluindo os humanos. As consequências indirectas, neste caso, não serão inferiores às directas. Um perigo, esta brincadeira. E nem percebo quem é que vai financiar isto com os cofres americanos e europeus quase vazios. Tal como ontem referi, se houvesse alguma lógica nisto, dever-se-ia perceber em nome de quê e para quê se vai intervir militarmente num país - ainda por cima sabendo que isso vai perturbar o já de si instável equilíbrio de forças entre blocos de interesses económicos e geo-estratégicos antagónicos. Ninguém quer que se massacrem civis mas também ninguém quer que, sem provas (verídicas) e sem alternativas políticas conhecidas a priori, se avance à maluca. Mas parece que é isso que vai acontecer. Entretanto o governo sírio parece que entregou provas na ONU que demonstram que foram os rebeldes e não eles que usaram armas químicas. E, perante, divergências tão agudas e as inconsistências do costume por parte dos americanos, continua a assistir-se ao avanço, que quase parece irreversível, para uma guerra de consequências imprevisíveis. Não há dúvidas: o lobby do armamento e tudo o que tenha a ver com a indústria da guerra são vergonhosa e assustadoramente poderosos. É para isto que lhes dá jeito (a eles e ao sector financeiro) que nos governos dos países estejam zés-ninguéns sem miolos, joguetes fáceis, paus mandados sem moral.
Também podia falar de uma notícia que me chocou (e devo mesmo ser muito parva para ainda me chocar com coisas destas). Transcrevo uma parte:
O presidente da Federação da Indústria Alemã (BDI), Ulrich Grillo, propõe como alternativa na resolução da crise grega que Atenas transfira parte do seu vasto património nacional para o fundo de resgate europeu, que poderá vendê-lo para se financiar.
Acho isto asqueroso. Primeiro, para ter excedentes na balança de transacções, a Alemanha exporta ou força a que os outros países importem (por exemplo impondo regulamentos cujo cumprimento só é possível com recurso a equipamentos fabricados na Alemanha, como aconteceu, por exemplo, com os equipamentos de climatização obrigatórios para efeito de restauro escolar), depois, para que tenham dinheiro para o fazerem, emprestam dinheiro; a seguir, quando as contas dos outros começam a mostrar sérios desequilíbrios, fecham os olhos à maquilhagem das contas; a seguir fecham a torneira e exigem o pagamento da dívida; como não têm como pagar, impõem-lhes juros agiotas e, quando os pobres estão exauridos e na mais indigente míngua, pretendem sacar-lhes o património. É certo que isto é um déjà-vu mas o que é chocante é como décadas (ou séculos!) de história em cima de episódios vergonhosos como o que se volta a pretender levar a cabo não serviram para os povos se precaverem. É mesmo a lei do mais forte - porque, de facto, deixemo-nos de fantasias, isto é uma selva e o resto é conversa.
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Por isso, porque tudo isto me parece mau demais, previsível demais, inevitável demais, é compreensível que só me sinta bem com os pés na rebentação, naquele sítio em que não é água nem deixa de ser: uma espuma que vai e vem, não deixando rasto.
Ou seja, só me apetece falar de coisa nenhuma.
No outro dia, quando estava in heaven e meia a dormir, vi na RTP 2 a repetição do Lado B do Bruno Nogueira. Estava lá a Manuela Moura Guedes.
O meu marido também estava entre o sono e a difícil vigília. Tenho ideia que quando fez zapping e foi ali parar, disse qualquer coisa como ‘coitada, olha para ela…’. Tenho ideia que levantei os olhos do Expresso que estava a tentar ler a todo o custo e que também fiquei impressionada. Fico sempre quando a vejo mas desta vez fiquei mais. Deixo aqui a parte inicial da entrevista, que tenho ideia que nem é a mais significativa daquilo que estou a dizer mas agora não consigo estar a ver tudo para escolher a parte mais obnóxia.
Mas não foi apenas pelo rosto insuflado – lá está: maçãs do rosto enxertadas, subidas, redondas, boca a transbordar de botox, arrebitada, esbardalhada, a disformidade do costume que, vá lá saber-se porquê, atrai tantas mulheres -, foi sobretudo pelos trejeitos dengosos, pelas boquinhas, parece que se estava a armar em boa, volta e meia toda ela parecia esponjar-se no braço do sofá, toda ela revirava olhos, boca, língua. Um disparate. E dizia coisinhas, parecia uma adolescente palerma – olhem nem sei.
Por mais do que uma vez o meu marido tentou tirá-la do ar, dizia que não conseguia ver aquilo. Mas as alternativas deviam ser piores, ou então era o nosso sono que nos deixava sem acção, pelo que por ali foi ficando.
Cheia de requebros, meneios, sacudidelas de cabelo, olhares lânguidos, queixava-se que estava sem trabalho, em casa, que gostava de voltar à televisão (e tudo isto, claro, à mistura com mostrar que se acha uma fantástica jornalista, acutilante, incisiva, brava, do melhor que há – quando era, sobretudo, mal educada, exagerada, incomodativa; as entrevistas conduzidas por ela eram um stress que não acrescentava nada à qualidade do que as pessoas diziam, pelo contrário, tinha vezes de quase nem as deixar falar).
Se eu fosse responsável por um canal de televisão também não a contratava. É conflituosa, cria atritos com os próprios convidados. Não é isso que a gente quer ver. Eu, pelo menos, chego à noite e quero é calma. Quero ser informada, sim, ouvir opiniões, sim, mas com bons modos, nem gritos, nem vozes sobrepostas, nem gente com modos arrogantes ou intempestivos.
Pense-se, por exemplo, na diferença para uma impávida mas incisiva Ana Lourenço, para uma serena e atenta Carla Moita
... ou, continuando apenas nas mulheres:
para uma tranquila mas certeira Clara de Sousa, e ainda para uma suave mas intransigente Paula Costa Simões.
Mas eis que vejo agora que a RTP a repescou mas, ó vã glória de mandar, ó tristes rasteiras do destino, já não para nenhum cargo de chefia, já não sequer para jornalista mas, tão só, para entertainer. Em vez do Malato, a Bocas Moura Guedes a apresentar um concurso, o Quem quer ser milionário.
Fico sem saber bem o que dizer. Não posso esconder que sinto uma certa pena. A vida dá voltas…
Percebo que ela se aborreça de estar em casa, diz que jardinava, que fazia ginástica, que tinha um personal trainer que a ajudava a manter a forma, coisas assim: de facto muito pouca adrenalina para quem se alimentava dela. Acredito que a ânsia por sair de casa e voltar à pica de ter as câmaras à frente devia ser muita. Talvez isso justifique a decisão de ir apresentar um concurso na RTP.
Mas será que justifica mesmo? Não será isso uma forma triste demais de nos voltar a aparecer pela casa dentro? Não sei. Não sei mesmo.
Às tantas perdeu-se mas foi uma artista da rádio, TV, disco e da cassete pirata.
Foram cardos, foram prosas.
Ou foram rosas e agora são cardos? É isso, não é...? Agora é chegado o tempo dos campos de cardos.
***
A ver se amanhã escrevo sobre a nossa Avenue, nomeadamente sobre o que se pode ver por lá.
Hoje fico-me por aqui e a ver se consigo ir a pé até à cama.
Resta-me desejar-vos, meus Queridos Leitores, uma bela quinta-feira!!!!!