segunda-feira, junho 30, 2014

Morreu o filho de Judite de Sousa, o único homem que nunca a tinha desiludido. "A palavra aqui é uma: André.", pediu a mãe nas palavras que dirigiu aos colegas de profissão.


No sábado à noite, quando cheguei a casa, escrevi sobre a notícia do acidente de André Sousa Bessa de que tive conhecimento depois de ver, nas estatísticas do Um Jeito Manso, várias entradas a partir de expressões que o referiam. Mas não contei tudo.

Não contei que logo a primeira expressão que me aparecia era 'faleceu filho de Judite de Sousa'. 


Fiquei gelada ao ler aquilo. Apareciam também as expressões de que no post a seguir a este vos dei conta e que referiam acidente numa piscina, internado em estado crítico, ligado à máquina, etc, mas foi a primeira expressão que me deixou francamente abalada. Não quis falar disso quando aqui escrevi porque, não sendo verdade, não quis que isso pudesse soar como um mau presságio. Além disso, tantas notícias há de doentes que depois de semanas em coma voltam a si, que mesmo os mais reservados prognósticos devem ser encarados com alguma esperança. Apesar de cheia de medo, fiquei a esperar que o domingo nos trouxesse boas notícias sobre André Bessa.


Contudo, isso não aconteceu. No domingo de tarde, tinha lido que estava em morte cerebral e que teriam que ser os pais a autorizar que se desligassem as máquinas. Apesar de não ser nada comigo, senti o terror indescritível pelo qual ela deveria estar a passar: não há mãe que mereça passar por tão medonho suplício. Uma mãe quer saber de boas notícias dos filhos, que arranjaram trabalho, que estão felizes com o que andam a fazer, que têm uma vida afectiva feliz, que têm filhos ou planos para os ter, que gostam da casa onde vivem, que têm bons amigos. Coisas assim, boas, e boas novas, bons augúrios. 

Ao fim da tarde, a minha filha, com quem tinha estado a conversar pouco tempo antes e que tinha lido o que eu tinha escrito na véspera à noite, mandou-me um sms: se eu já sabia, o filho de Judite tinha morrido e acrescentava que era um horror. Eu não sabia, mas temia que isso não tardasse a acontecer. E é: é mesmo um horror. Uma notícia triste que a jornalista Judite de Sousa nunca quereria dar sobre o filho de uma outra mãe, uma notícia que nenhuma mãe suporta ouvir.


Judite de Sousa e André Sousa Bessa,
o filho (para) sempre presente


(Ficam as memórias,
os sorrisos, a mão carinhosa, o apoio)



Sinto muita pena, muita. Penso nela. Coitada da Judite. A vida não lhe tem corrido muito bem. Foi o divórcio, as notícias da infidelidade do Seara, rivalidades na TVI - e sempre tudo ampliado pelas capas das revistas. A tristeza dela, a magreza dela. E ela, triste e magra, a prosseguir a sua vida à frente das câmaras. Contava ela que lhe valia o apoio do filho, o carinho do filho, as boas notícias que o filho lhe trazia.

As fotografias mostram-nos aos dois sorrindo, o sorriso igual, cúmplice. 

Uma vida que se interrompe antes dos 30 anos é uma vida que fica por se cumprir. André foi poupado a muitas das agruras com que a vida vai marcando as pessoas e, por isso, da vida leva o lado esperançoso já que não teve tempo para visitar o futuro. Mas a mãe, que fica cá, fica a sofrer uma ausência que é impossível de assimilar, impossível de ultrapassar. O tempo atenuará a revolta, mas há dores que são de certeza absoluta terríveis, infinitas. Todas as outras dificuldades pelas quais Judite de Sousa passou são nada quando comparadas com a dor maior que agora estará a sentir.


No noticiário da noite, na TVI, um José Alberto de Carvalho emocionado deu a notícia, a notícia que nenhum jornalista quereria de dar, a da morte do filho de uma colega. Depois mostrou-se a si próprio, à frente do Hospital Garcia da Horta, a ler o comunicado de Judite de Sousa (que aqui transcrevo). 


Neste momento de dor, peço a todos os colegas jornalistas que se lembrem do valor das palavras.
A palavra aqui é uma: André.
o filho que sempre quis e que sempre me quis; um homem maravilhoso, irradiante de alegria; de vontade de viver; de exemplo de empenho; estudo; trabalho e força de vontade. E sempre atento, sempre disponível, sempre carinhoso.
Já não irá iniciar em Setembro a desafiante etapa profissional que tinha conquistado por direito próprio numa empresa multinacional. Mas deixa-nos o seu testemunho. E esse testemunho só pode ser traduzido por palavras. Por isso, como sabemos nesta profissão, as palavras são a nossa vida e, neste momento, aquilo que nos resta.
O André merece ser lembrado pela forma como tocou as pessoas com quem se cruzou; e sempre e para sempre a minha.

André faleceu prematuramente aos 29 anos
André Bessa (para sempre) com a mãe, Judite de Sousa


A dor de uma mãe jornalista. Como conseguiu ela, arrasada como devia estar, escrever as palavras doridas que escreveu? O meu marido disse, é jornalista. Sim, uma jornalista habituada a dar notícias em cenário de guerra. 

José Alberto Carvalho que, por causa do que se passou, substituíu Judite de Sousa no noticiário da TVI, deu outras notícias e disse que há dias em que parece que as estrelas desapareceram do céu. Morreu mais uma criança do acidente da moto 4 em Penela e uma outra criança, num incêndio da Damaia.

Notícias tristes, tragédias individuais, dores que não se curam.

Mas, talvez porque há tantos anos tenho a Judite de Sousa aqui comigo, na minha sala, é a morte do seu filho que me custa mais. Coitada, que pena sinto.

Tomara que ela consiga, uma vez mais, arranjar força para seguir em frente e voltar a aparecer-me aqui, em minha casa, dando notícias, fazendo entrevistas.

E que venha colorida, de saia curta, bota alta, tanto faz. Que venha é o que importa - e que volte a conseguir sorrir. Apesar de tudo, a vida continua.




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As folhas que o vento rejeitou
ora guardadas onde, nem donde vindas,
ninguém, nem tu nem eu, o sabe,
nem virá a saber: essas, as folhas
são porém emissárias do que um anjo disse
quando pisou o adro de outra vida.
E nas folhas revives
e assim me revives,
nessas folhas embarco para nenhum lugar.





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A música é de Clara Schumann - Nocturne in F major, op. 6 no. 2 (Erard-Piano,1837) numa interpretação do pianista holandês Bart van Oort.

O poema é de Pedro Tamen in Rua de Nenhures.


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E, sem vontade de escrever sobre outros temas, por aqui me fico por hoje.

Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma boa semana a começar já por esta segunda feira. 

A vida é tão curta e por vezes tão traiçoeira que cada vez mais penso que a devemos saber aproveitar em cada pequeno momento em que ela se mostre benevolente.



domingo, junho 29, 2014

O hibisco vermelho de Burkina Faso [para Judite de Sousa, a mulher que veste o sorriso de rouge, neste momento de aflição]


Este sábado foi daqueles dias em que tive que me levantar com despertador, em que a azáfama começou mal me levantei e em que apenas cheguei a casa perto da meia noite. Um pouco de tudo dentro do dia: a casa cheia, comes e bebes aqui e ali, festa de anos na casa dos bisas, sarau nocturno com uma das meninas mais crescidas a actuar, a turma inteira a vibrar. Uma alegria mas, agora que aqui cheguei, parece que se me gastaram as pilhas.

Quando liguei o computador reparei que tinha algumas entradas assustadoras no Um Jeito Manso

Pelas estatísticas vi que várias pessoas escreveram coisas relacionadas com "acidente filho Judite de Sousa numa piscina", "filho de Judite de Sousa em estado crítico", "filho de Judite de Sousa internado muito mal", "filho de Judite de Sousa ligado à máquina".


Arrepiei-me. Que coisa.

Pensei que alguma coisa devia haver para as pessoas estarem a escrever isto nos motores de busca (e, uma vez mais, fico intrigada com o algoritmo dos motores de busca que remete as pessoas para o Um Jeito Manso quando, claro está, nunca aqui tinha falado em nada disso. Falo, por vezes, das toilettes da Judite mas não no filho ou em acidentes do filho. Mas, enfim, nos Googles e Yahoos desta vida trabalham os melhores crânios deste mundo pelo que eles lá sabem porque o fazem). 

Não tendo ouvido notícias, lido o Expresso ou, sequer, ouvido rádio, um bocado assustada fui eu à procura; e, de facto, vi no DN que o jovem André Sousa Bessa está mesmo muito mal, internado, depois de ter sofrido um acidente grave numa moradia particular na zona de Azeitão - segundo leio, terá acontecido na madrugada de sexta para sábado, terá havido uma queda numa piscina, estando cerca de quinze minutos debaixo de água. Provavelmente, sendo de noite, quem mais estaria com ele não se terá apercebido. 


Fiquei ainda mais assustada.

Quando o filho de alguém sofre um acidente ou adoece, a gente sente um sobressalto não só pelo filho mas também pela mãe. Em momentos de susto e terror, as mães pensam nas outras mães. Digo-vos: fiquei com vontade de ir para o hospital, apoiar a Judite, ver se ela precisa de algum apoio. Claro que não o fiz pois, numa altura destas, o que ela deve querer é estar ao pé do filho, pedir por ele - e não aturar estranhos. Nenhuma mãe está preparada para um susto assim. Nenhuma mãe merece passar por uma aflição tão grande. Tomara, tomara, tomara que o jovem supere a gravidade da situação e se ponha bom.

Sempre tive pavor dos acidentes de piscina. Pavor. Quando a rapaziada da família se junta em volta de uma piscina, e agora tenho que me posicionar sobretudo há alguns anos atrás - em que todos, incluindo primos e cunhados, ainda tinham mobilidade atlética e os respectivos filhos já estavam naquela idade em que, adolescentes, tudo faziam - eu só desejava que ficassem cansados, que aquilo acabasse (e, sobretudo, que acabasse bem). Mergulhos e mergulhos, cambalhotas no ar, saltos em mortal para dentro de água. Um horror. Destemidos, brincalhões, ginasticados, aquilo era uma maluquice. Eu, que sou da beira de água e que tanto gosto de nadar e mergulhar, nunca fui de dar saltos de alturas ou acrobacias. Mas eles... O meu filho, claro, era um dos entusiastas e eu odiava, mas odiava tanto, que ele fizesse aquilo. Um medo dos acidentes nas piscinas... Felizmente os mais velhos já perderam alguma da elasticidade e já entram nas piscinas com comedimento, os adolescentes da altura já são pais e, embora ainda quase adolescentes e bem dispostos, já não se arriscam tanto pois já têm noção dos perigos.

Imagino a aflição de Judite de Sousa. Imagino eu e devem imaginar todas as mães que tudo fariam para que os seus filhos nunca sofressem, nunca passassem por maus momentos, nunca fossem vítimas de acidentes ou doenças, e que, pelo contrário, tivessem uma vida longa, tranquila, feliz.

filho de Judite de Sousa, agora internado em estado crítico

O filho de Judite de Sousa, 

André Bessa, 

ao lado da mãe

- que parecidos eles são, o sorriso igual

(Pudessem as mães andar sempre com os filhos por perto
para terem a certeza de que nada de mal lhes acontecia...)

.
Lembro-me de ver uma entrevista de Judite de Sousa em que ela aparecia ao lado do filho e dizia que ele era o único homem da sua vida, fonte de grande inspiração e o homem que nunca a tinha desiludido. Tomara que, apesar das notícias não prenunciarem nada de bom, o André continue a não desiludir a mãe, tomara que consiga recuperar.


Por isso, para a Judite de Sousa com quem eu tantas vezes me meto pelas suas indumentárias mais criativas ou para quem olho de lado quando me parece que deveria ser mais distante ou crítica, mas com quem simpatizo pela sua espontaneidade e profissionalismo, daqui lhe envio uma flor muito simples mas muito bela, o hibisco vermelho, e, com ela, os meus votos de que rapidamente tenha o seu filho consigo, livre de perigo, saudável, bem. Tomara que um milagre aconteça.


[Claro que, pelo cansaço que tenho em mim e porque fiquei mesmo abalada com esta notícia, não me apetece falar de mais nada. Poderia ir ver quais as novidades, ou poderia passar as fotografias para o computador e mostrar-vos a alegria dos meus pimentinhas no quintal da bisa - mas não tenho energia ou ânimo para isso. Receio que alguns de vós, meus Caros Leitores, me achem lamechas ou disparatada por reagir assim perante uma notícia que envolve alguém que não conheço, apenas por ser filho de alguém que aparece na televisão. Mas que querem? Sou assim. E para que haveria de fingir que sou outra coisa? Vocês nem me conhecem. Para que haveria eu de fingir que a notícia me tinha deixado indiferente e pôr-me para aqui a dissertar sobre coisas de que, neste momento, não me apetece falar? Se eu na minha vida corrente, de cara à vista, sou sincera e não tenho receio da opinião dos outros, porque haveria aqui de me pôr com disfarces? Não. Sou assim. Lamechas por vezes, sim. ]



Red Hibiscus nos Dior Gardens, em Koro, Burkina Faso . 
Dior One Essential




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E, para animar e pensando também em Judite de Sousa, uma verdadeira mulher en rouge, de quem é bem conhecido o seu sorriso, aqui vos deixo um vídeo bastante interessante sobre o rouge Dior.


Rouge Dior - 60 years of attitude

Há 60 anos a vestir o sorriso das mulheres


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E, portanto, por hoje é isto - e tomara que este domingo as notícias sobre o filho de Judite de Sousa sejam melhores.


Desejo-vos, meus Caros Leitores, um bom domingo e um abraço para todas as mães, em especial para as que, por algum motivo, têm um aperto do peito.


sábado, junho 28, 2014

E se a terra perdesse o seu magnetismo e não ficasse cá ninguém para ver este planeta, antes azul, envolto em poeiras incandescentes, terríveis ventos cósmicos? E se apenas pássaros loucos a habitassem?


No post abaixo mostro imagens de grande beleza: rostos que nascem de paredes abandonadas, olhares tristes que nascem da destruição de muros. 

Mais abaixo conto a anedota da mulher e do macaquinho.

Mas isso é a seguir. Aqui, agora, a conversa é outra.

As notícias falam da contestada escolha do futuro Comissário Jean-Claude Juncker (que, no entanto, por imperfeito que seja, será certamente melhor que o cherne que lá está); falam do Grupo Espírito Santo, antes tão sobranceiro de tradição e poderio, um colosso que todos os dias abre mais brechas, que nos aparece em ruínas, envolto em intrigas, falcatruas, ameaçando abrir nova crise num tecido económico e financeiro frágil como é o português; e falam ainda das lutas sem remissão em volta da liderança do PS. E ontem tinha lido que o patriótico merceeiro Alexandre Soares Santos do Pingo Doce, conhecido paladino da moral e dos bons costumes, ameaça tirar a sua sede de Portugal se não lhe derem aquilo que pretende. E vou lendo outras coisas. Guerras terríveis por esse mundo fora. E raptos. E vinganças. Não leio até ao fim, tento poupar-me. Sei que não conseguirei resolver nada: para quê atormentar-me? Mas a ira e o sangue vão abrindo pequenas fissuras dentro de mim.


Bird Gerhl, uma vez mais





Procuro, então, notícias ligadas à arte, à literatura, à ciência. Alienação, sim. Ou instinto de sobrevivência da minha parte, criatura egoísta.

Até que começo a ler sobre missões espaciais, satélites que gravitam em volta de planetas, cientistas que interpretam sinais ténues e remotos. Deixo-me deslizar, preguiçosa, sem querer perceber bem o que leio, deixo-me ir embalada pelo imenso azul do espaço que nos cerca. I'm a bird girl.

Depois leio que a terra está a perder o seu magnetismo. 


Sorrio. Se a Terra perder o magnetismo, as pessoas também o perderão?
(Se eu perder o meu magnetismo, perderei o sal que alimenta a minha vida.) 
Mas o que significa a terra perder o magnetismo? Cai no imenso espaço sideral? E com a terra, cairemos todos nós, soltos no infinito como se indefesos caíssemos num imenso precipício?

Começo por nem perceber se há razões para alarme, se é apenas algo que pode acontecer daqui por muitos mil anos.

Leio no site brasileiro Terra: Os primeiros resultados da missão Swarm, o grupo de três satélites lançados em novembro pela Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês), confirmam a tendência geral sobre o enfraquecimento do campo magnético terrestre.


Segundo asseguraram nesta quinta-feira os responsáveis do projeto em uma conferência organizada pela ESA em Copenhague, o enfraquecimento é maior no hemisfério ocidental, embora em outras áreas como o Índico sul aconteceu o fenómeno contrário


Numa notícia anterior leio: A única coisa que evita que a Terra tenha um ambiente sem vida como Marte é o campo magnético que nos protege da radiação solar letal e ajuda alguns animais a migrarem, e ele pode ser muito mais frágil do que se imagina. Cientistas afirmam que nosso campo magnético está ficando mais fraco e pode praticamente desaparecer em 500 anos, antes de fazer uma reversão completa.

(...) "Com o campo enfraquecido [em Marte], o vento solar foi então capaz de arrancar a atmosfera e também houve um aumento da radiação cósmica chegando até a superfície", disse ele. "Essas duas coisas seriam má notícia para qualquer vida que possa ter se formado na superfície - ou a extinguindo ou forçando a sua migração para o interior do planeta."

(...) Na natureza, os animais que utilizam o campo poderão ficar bastante confusos. Pássaros, abelhas e alguns peixes usam o campo para navegação, assim como as tartarugas marinhas, cujas longas vidas, que facilmente podem ultrapassar um século, indicam que uma geração poderia sentir os efeitos.

Os pássaros poderão superar o problema, porque estudos mostram que eles têm sistemas que se fiam nas estrelas e em marcos terrestres, incluindo estradas e linhas de energia, para encontrar o seu caminho.



Continuo as minhas pesquisas, quero saber se corro o risco de ficar sozinha num planeta desolado, na companhia de pássaros tão tristes e sozinhos como eu. Leio um outro site brasileiro que explica:

Se a Terra não tivesse campo magnético, nosso planeta ficaria totalmente exposto à radiação nociva do Sol e as temperaturas seriam muito mais frias. A atmosfera seria muito rarefeita e a água líquida deixaria de existir na superfície. Ela congelaria ou evaporaria devido à falta de pressão atmosférica para mantê-la líquida. A vida como a conhecemos também não existiria. 

Em outras palavras a Terra seria idêntica ao planeta Marte. Marte é o maior exemplo do que acontece com planetas que não têm campo magnético. Esfriam, a água líquida deixa de fluir na superfície, o solo fica estéril e começa a enferrujar ficando com uma coloração avermelhada. Se a Terra perdesse seu campo magnético, ao longo do tempo, o Sistema Solar poderia ter dois planetas vermelhos. 

O que gera o campo magnético é o núcleo. Se ele não gira o bastante para criar a corrente elétrica, então quase tudo o que mantém o planeta funcionando entra em colapso. Não há mais movimento de placas tectônicas ou vulcões ativos e assim a atmosfera vai ficando mais rarefeita. As plantas morrem com a radiação e assim o oxigénio desaparece e todo o resto morre.


Não sei o que pensar. Num longínquo futuro, trevas, o infinito nada, a desolação mais absoluta.

À luz destas palavras, a reacção do Tozé parece-me ainda mais imatura e ridícula, as inacreditáveis irregularidades e a estrondosa fuga para a frente (que é sinónimo de fuga em direcção ao precipício) da ex-poderosa família Espírito Santo parecem-me ainda mais absurdas, todas as guerras parecem ainda mais destituídas de sentido. Os senhores dos mercados e das baixas politicas esquecem-se de que a vida é efémera e sujeita a factores que nós, frágeis humanos, não controlamos. Talvez os pólos terrestres se desloquem, os pássaros percam o norte, os ponteiros das bússolas entrem em desvario. Talvez um dia, os ventos comecem a soprar tão fortemente que arranquem todas as árvores, derrubem todas as casas, nos levem pelos ares, talvez uma chuva cósmica comece a tombar sobre os despojos, talvez os rios sequem, as pedras se desintegrem. Talvez todos os livros escritos durante séculos sejam convertidos em pó, todas as obras de arte sejam varridas da superfície deste frágil planeta. Talvez sobre apenas uma solidão silenciosa. Não sei. Talvez isso aconteça daqui por tantos anos que nem consigamos sentir preocupação.




O que sei é que, por via das dúvidas, na esperança de que os pássaros se salvem, vou colocar as minhas asas e vou já sair por esta janela, voando. Vou procurar outros pássaros como eu. E vou esperar que, como pássaro, conserve ainda o meu poder de magnetismo pois não quero voar sozinha nem quero deixar-me cair em desolados abismos.

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O Daily Mail avisa: Forget global warming, worry about the MAGNETOSPHERE: Earth's magnetic field is collapsing and it could affect the climate and wipe out power grids


O artigo é bastante interessante e tem vídeos elucidativos que recomendo. Pôr as coisas em perspectiva é sempre um belo exercício de humildade.


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O vídeo lá em cima é Bird Girl numa fantástica interpretação (como são todas) de Antony and the Johnsons

As imagens das coloridas mulheres pássaros referem-se aos anjos da Victoria's Secret. 

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Convido-vos a descerem até aos dois post seguintes. 
  • O primeiro que se segue tem a ver com a arte de Vhils, uma arte diferente e muito tocante. 
  • O outro é uma anedota que me foi enviada.

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E cheia, cheia, de sono, por aqui me fico por agora incapaz de rever o que acabei de escrever. 
O fim de semana volta a ser de encontro e  festa. Os caranguejos começaram a atacar.

Desejo-vos, meus Caros Leitores, um bom fim de semana.


A beleza da destruição


Uma cidade são as suas casas, as suas ruas e recantos, o que daí se vê, as pessoas que percorrem os seus dias, a luz que ilumina os rostos e as paredes, as árvores que projectam sombra nos bancos nos jardins.

Uma grande cidade tem várias centros e cada uma das suas centralidades tem uma vida própria e há restos dessa vida que vão ficando e o tempo vai erodindo as memórias, e as janelas vão ficando fechadas, os papéis velhos como as pessoas dentro das casas, e o vento levanta as folhas, os papéis e as recordações.

Há também os vazios urbanos, as terras de ninguém, o que os homens deixaram esquecido ou que um dia e outro de ausência transformaram em abandono.

Muros velhos, casas tristes, ou gente que se vende ou que vende ilusões nos desvãos, nos escuros detrás de portões que mal fecham, carros abandonados, trapos, crianças andrajosas.

Ou paredes anónimas que ninguém sabe a que pertencem, por onde as pessoas passam sem ver. As pessoas nas cidades andam sempre apressadas, vão de um lado para outro e não se lembram de olhar para as paredes por onde passam.

E há um jovem muito jovem que vê rostos gastos e tristes onde mais ninguém os vê. De paredes velhas nascem rostos que vêm do passado, que vêm com olhos abertos de espanto e saudade para olharem quem os não vê. Ou rostos de jovens que carregam desesperanças num olhar muito antigo que desafia quem passa apressado.

explosive street art
Esse jovem, que vê rostos escondidos dentro das paredes, destrói ainda mais as paredes mas, dessa destruição, nasce a vida em toda a sua explosiva beleza. Olha-se e não se acredita. Se virmos uma lágrima escorrendo por um desses rostos ou ouvirmos um riso seco não nos espantaremos porque aquelas pessoas que surgiram de dentro de paredes velhas estão mais vivas do que muitas das que passam apressadas a caminho de coisa nenhuma. 

Alexandre Farto ainda nem 30 anos tem e, no entanto, das suas mãos nasce gente que carrega o peso de muitas e pesadas vidas, gente que, pelas suas mãos, renasce e ganha a imortalidade.







Dissecção é a primeira exposição individual de Alexandre Farto – de nome artístico Vhils – numa instituição artística portuguesa e a maior realizada pelo artista até à data. Patente no Museu da Eletricidade entre 5 de julho e 5 de outubro, a exposição irá apresentar um corpo de trabalho inteiramente novo concebido especificamente para o espaço, exterior e interior, do museu.









Transcrevo o texto que acompanha o vídeo da intervenção de Alexandro Farto (aka Vhils) na conferência TED x Aveiro.


O ALEXANDRE FARTO mais conhecido no seu meio - o da street art - como VHILS falou no TEDxAveiro sobre a sua grande paixão, arte urbana e tudo que está por trás dela: "Criatividade no meio urbano".


A ideia base da sua atividade e da sua arte é a de que uma cidade deve viver da oferta cultural e de criar uma relação com as pessoas para além de melhores condições de vida.

É isso que tem tentado demonstrar nas várias cidades do mundo por onde tem passado a intervir em ruas, casas, pavilhões, etc.

Para si a arte de rua é uma forma de intervenção, uma ferramenta de construção de liberdades, uma maneira de chamar a atenção para problemas e um ponto de partida para se encontrarem soluções.

Nasceu em Lisboa em 1987. Terminou os seus estudos em 2008 na University of the Arts em Londres.

Como artista urbano, mais recentemente, sendo as suas obras, o fruto do seu ideário e o mundo que o envolve. Este artista de Lisboa, a partir das suas raízes do graffiti/street art tem vindo a explorar novos caminhos dentro da ilustração, animação e design gráfico, misturando o estilo vectorial com o desenho à mão livre, aliado a formas contrastadas e sujas, que nos remetem para momentos épicos.

Em 2011, desenvolveu uma técnica usando explosivos, grafite, restos de cartazes e até retratos feitos com metal enferrujado para criar retratos e frases.

Existem trabalhos seus espalhados por vários locais do mundo como as cidades portuguesas de Lisboa e Porto, além de capitais como Londres, Moscovo, Bogotá, e cidades como Medellín, Cali (na Colômbia), Nova York, Los Angeles, Grottaglie (sul da Itália).


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Para conhecerem a história da confusão com o macaquinho desçam, por favor, até ao post já a seguir.


A mulher e o macaquinho


Um árabe passeia-se com um pequeno chimpanzé.

Querendo entrar numa pastelaria onde os animais são proibidos, pede a uma jovem que ia a passar se ela não se importaria de guardar o pequeno macaco durante uns minutos.


A jovem aceita de boa vontade e põe-se a brincar com o animal.

Passa uma idosa que lhe pergunta:
  
"Onde arranjou isso...?"

A jovem mulher responde :

"De um árabe!"

A idosa espanta-se : 

"E não deram por nada na ecografia?!"



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Agradeço ao Leitor que me enviou esta anedota. Chegou-me em francês pelo que espero, na tradução, não ter prejudicado a sua graça.


sexta-feira, junho 27, 2014

Todas as pessoas deviam ter por nome próprio Quase


No post abaixo já falei do Ronaldo, do jogo contra o Gana, da reacção do Bruno Alves e de mais não sei o quê. E com isso encerrei o capítulo Selecção Nacional, Copa do Mundo 2014. Ponto.

Mas isso é depois deste. Agora aqui a conversa é outra.


Três Romances, se faz favor






Portanto não foi ele, mas sim a minha profunda admiração, diria mesmo amor, uma espécie virulenta de amor, por ele, que me lixou a vida. 


Uma pessoa depois de viver intensamente, de viver excessivamente, de viver até aos limites da vida, fica perdida, acabada, vencida.  Viu o que não devia ter visto, apesar de o ter querido ver, mais do que tudo.

Talvez fosse isso. Pelo menos próximo disso. 

Eu não tenho desculpa alguma em ter falhado a minha vida. Eu queria ser escritor, sem saber o que queria. Aliás, tem uma certa piada, uma piada sombria, haver gente, antigos amigos íntimos, como se diz, que julga que vim para aqui para escrever o meu livro, uma ficção que eu nem alimento, nem contradigo. Podem estar mesmo à espera de que o livro saia, mais dia menos dia. À espera das passagens mais escabrosas. Mas não sai nada. Nem sequer tento. Seria demasiado doloroso. Tudo o que me faz lembrar o meu amigo é doloroso. 



Na minha nova casa, um andar da minha mãe herdado do meu avô da América, o único familiar do qual me sinto próximo sem nunca o ter visto vivo, era absolutamente proibido falar do meu amigo, o que nem sequer conseguia impedir. Vieram-me com histórias do tipo: que foi perseguido pelas finanças por causa dos tais impostos que nunca pagou, que recomeçou a escrever crónicas para outros jornais, que casou pela segunda vez, desta vez com uma judia, que continua a ser o génio que sempre foi, absolutamente monstruoso e insuportável. 


Dói saber que aquele que viveu em nós, continua a viver sem nós



Como escreveu Frederico Nietzsche: é fácil encontrar-me, o difícil é deixar-me. 

Penso que tem alguma coisa a ver com o que me aconteceu. 

É bem de ver que tive outras dores na minha vida, mas aquela dor de afastamento, uma dor tão aguda que alterou, irreversivelmente, o decorrer da minha vida, nunca a tive antes, nem depois. 

Se assim não fosse não pensava nele tantas vezes, umas com incerta alegria, outras cheia de melancolia, a maior parte das vezes numa confusão de sentimentos.







Conversa com Pedro Paixão no Bairro Melancólico




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A música é de Clara Schumann, compositora de eleição de Pedro Paixão - Trois Romances pour le pianoforte, Op. 11, n° 1. Andante (mi bémol mineur)



O texto a itálico é de Pedro Paixão in Espécie de Amor sobre Miguel Esteves Cardoso e sobre a amizade louca que os uniu e que quase o destruíu. 


O vídeo tem o nome de Bairro Melancólico e é uma entrevista a Pedro Paixão, uma entrevista muito fora do comum e de grande qualidade realizada por um jovem que desconheço. Desconheço igualmente se se trata de uma entrevista que tenha passado em algum canal de televisão.


As paisagens nocturnas quase etéreas são fotografias de Barry Underwood.


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Relembro: se descerem um pouco mais, poderão saber o porquê da chorosa reacção do meu Rinaldinho (como alguém que frequenta o Um Jeito Manso e cujos humores incertos são bem conhecidos, num outro dia designou o meu querido ex-bebé) bem como o que penso da participação portuguesa na copa 2014, ou melhor, do que penso de uma certa moda nova que parece andar a contagiar os novos craques da futebolite e da politiquice nacional.

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E por agora por aqui me fico, desejando a todos uma sexta feira com bons momentos. 
A vida é breve para que desperdicemos os pequenos instantes de paz, não é?

Saúde, sorte e alegria é o que vos desejo, meus Caros Leitores.


Portugal está fora do campeonato de 2014. Out. Desta vez a copa parece não ter passado de um devaneio pueril, digo eu que percebo pouco disto. Para se ganhar é preciso ter garra, ganas. E orgulho a sério.


Hoje de tarde, lá no trabalho, penso que à semelhança do que deve ter acontecido um pouco por todo o país, uma vez mais uma sala foi preparada para quem quisesse assistir ao jogo. Mais uma vez não me senti motivada. Contudo, às tantas, achei que tinha que me deixar de feelings e lá fui. Estive uns 4 ou 5 minutos. Não. Qualquer coisa naquela equipa me parece desfocada, parece que não têm aquela cola que leva um grupo a ser uma equipa que avança como que obedecendo a um só comando. Fracos, desencontrados, pouco engrenados uns nos outros.

Regressei ao gabinete, pus coisas em dia, tratei de uns agendamentos pendentes. Quando, passado um bom bocado, por lá passei, alguém me disse que estava 1 a 1, os dois golos do Gana. Ao princípio nem percebi se era piada. Mas não. Em resumo: estava naquela coisinha pouca da qual não saem vitórias que se vejam.


Saí mais cedo, pensando que deveria sair enquanto durava o jogo para evitar o trânsito. Quando saí das catacumbas do estacionamento, pensei, deixa-me mas é pôr no relato não vá haver algum golo e eu perder o momento. Qual não é o meu espanto quando, ao ligar, ouço o locutor da TSF em crescendo a relatar uma jogada - e golo do Ronaldo. Depois desatou a cantar, um exagero. Improvisava versos enquanto cantava. Não sei se costuma fazer isso ou se ficou tomado por uma estranha euforia. É que, de facto, face à anemia do resultado e face à não verificação da miraculosa conjugação de factores que conduziria ao apuramento, aquele golo era apenas um apimentar da tristeza da derrota que é a eliminação logo nesta primeira fase. Mas, enfim, se calhar tanto esperou este golo que, quando ele aconteceu, se passou e, em vez de gritar simplesmente Gooooolooooo!, desatou naquela cantoria.

Depois aproveitei para ligar à minha mãe. Quando regressei à rádio, estava o jogo a acabar. Mal acabou, liguei à minha filha. Som de choro. Diz-me a minha filha, Dá para acreditar nisto? É surreal... Está a chorar porque queria que o Ronaldo marcasse mais golos.

Explicou que o nosso rapazinho anda desde o início do campeonato a querer ver o Rinaldo (como ele diz, já aqui vos contei) a marcar golos. Debalde.

Quando a minha filha os foi buscar à escola, ouviu que o Ronaldo tinha acabado de marcar um golo e contou-lhe, tendo ele ficado decepcionado por não ter visto. Ela, para o consolar, disse que ainda chegariam a casa a tempo de se ver o resto do jogo e podia ser que ele marcasse mais algum. Azar. Nem mais um. A criança à espera e nada.

Como parece que deu em maluco da bola, teve um desgosto desgraçado por não ver o Ronaldo marcar golos. Além disso, o irmão deve ter-lhe explicado que Portugal foi eliminado e que, portanto, o dito cujo já não vai ter mais hipóteses de lá meter golos.

Pedi para falar com ele, para ver se o consolava, mas nem me deixou falar, apareceu-me ao telefone, num pranto, que não tinha visto o Rinaldo marcar golos, que queria ver 3 e que não tinha visto. E, tendo desabafado, foi carpir para outro lado. Sugeri à minha filha que, para o consolar, lhe mostrasse aquele vídeo do youtube que mostra os melhores momentos do CR7. Ela começou por achar bem mas depois hesitou, era o que mais faltava é que o puto, 3 anos acabados de fazer, se tornasse maluco da bola e com uma idolatria disparatada por um jogador.

Quando acabei este telefonema, outra vez a rádio. 

Estava o Bruno Alves a dizer ao repórter que o apuramento da equipa portuguesa dependia de outras selecções e que o futebol é assim mesmo e mais não sei o quê e rematou dizendo que tinha muito orgulho no que tinha feito e em ser português. 


Pensei que mais valia que estivesse calado. Se foram jogar a achar que dependiam de outros, então está tudo explicado. Quem vai à luta, deve ir a contar apenas consigo mesmo (estando atento aos outros, claro, mas contanto sobretudo com a sua própria força, inteligência, espírito de equipa). Bruno Alves, depois de Portugal ter sido humilhantemente eliminado, pode ter orgulho, é coisa lá dele e ainda bem que tem orgulho em ser português - mas orgulho na participação portuguesa?

Desliguei.

Não sei de futebol para poder opinar. Só me parece que não é normal tantos jogadores lesionados, comportamentos tão díspares, tanta falta de élan, e tanta gente a dizer que não se demite.

Deve ser moda nova: façam a porcaria que fizerem, ninguém se demite e ainda dizem que se sentem orgulhosos do que andam a fazer. É o Passos, é o Seguro, é o Paulo Bento, é o preparador da Selecção. Eu, que sou desapegada, parecer-me-ia mais lógico que dissessem, Não correu bem, as pessoas estão descontentes, vamos sair para dar a vez a quem possa tentar fazer melhor. Mas não. Façam a porcaria que fizerem, ficam agarrados aos lugares: de derrota em derrota até à derrota final e sempre todos contentinhos.


Não há pachorra. 

Entretanto cheguei a casa. Depois fiquei a pensar: afinal devo ter apanhado trânsito mas vinha tão ocupada que nem dei bem por isso.


Nota: Para que não fiquem a pensar que ando em infracção, informo que o carro tem bluetooth, pelo que posso telefonar à vontade.  


quinta-feira, junho 26, 2014

Chapéus há muitos! - [Ascot 2014... e, alô, alô, business angels, uma proposta de negócio cá para Portugal]


Só pergunto uma coisa: porque é que não há um Ascot dos pobrezinhos aqui em Portugal? 

Está certo que não temos o hábito de corridas de cavalos. Mas e daí? A criatividade não serve para dar a volta às situações insolúveis?

Ora bem. Neste caso nem sequer é insolúvel: não era de cavalos era de outra coisa qualquer.

Podiam ser corridas de palermas, de presidiários, de corruptos, de ex-espiões e de espiões no activo, de cagarras, de josé gomes ferreiras, de outros papagaios, de banqueiros que levam os bancos à falência, de segurinhos que fazem biquinho, de vice-irrevogáveis, de láparos, de outros palhaços, de lombinhas, de inconseguidas mentais, de cátias palhinhas mais conhecidas por cátias passarinhas, de gis, de fannys, de jotas, de presidentes da junta fiéis ao seguro ou ao cão com pulgas... o que fosse preciso. Arranjavam-se uma série de categorias. Havia uma para cada semana do ano. Corredores para cada uma é coisa que também há com fartura. E, se soubessem que ia haver reportagens de televisão de manhã à noite, buffet à descrição e fotografias na Caras, VIP e Flash, notas do Prof. Marcelo e posts pseudo-engraçados dos Henriques do Expresso (o Monteiro e o Raposo), então, não haveria cão nem gato que não quisesse participar na corrida. Tinha era que se pôr os bilhetes  a um preço exorbitante porque, senão, a malta que hoje vai aos programas de espectáculos que as televisões organizam aos fins de semana estava toda lá caída. Ora não queremos nada disso. Povo é coisa que não dá dinheiro. Só quereríamos gente com muito papel, em especial angolanas, chinesas, russas e brasileiras. E, claro, professoras. Ou outras funcionárias públicas. E, sobretudo, reformadas. Ou seja, gente dessa que nada em dinheiro (aliás, não têm feito outra coisa senão afundar o país com os ordenados milionários que auferem; a elas a gente deve o ter tido que se chamar a troika).


E música, se faz favor: Burn



Pensando bem, isto parece ter pernas para andar, ou seja, cá está outra ideia de negócio: organizar corridas temáticas. Claro, não nos podemos esquecer, o objectivo era ser um sítio onde poder usar chapéus espectaculares.

Ou seja, só seriam admitidos convidados (convidados pagantes, claro) que fossem de chapéu, mas chapéus originais, cada qual mais original que o outro. Por isso, gente banal, daquela com chapelinhos muito déjà-vu seria barrada à entrada.
Exemplificando: estaria vedada a entrada à Joana Vasconcelos porque o chapéu seria demasiado previsível, ou feito com pegas ou com tachos, à Leal ao Láparo porque iria enrolada em trapos, desde a cabeça ao pescoço, à Judite porque iria de mini-saia, botas de d'artacão e chapéu de cowboy, à Joana Amaral Dias porque iria com um garfo a sair-lhe das costas a fazer de chapéu, à Ana Gomes porque iria com um chapéu em forma de submarino, à D. Laurinha porque iria com uma farófia mal parida na cabeça, à D. Cavaca porque iria com um roteiro aberto no prefácio em cima do penteado, etc. Eu faria uma lista de personas non gratas. No portão de acesso ao recinto, colocaríamos dois calmeirões munidos da dita lista de indesejáveis. Assim de repente estou a lembrar-me do Marques Mendes e do Liberato que seriam revezados pelo Maçães e pela Poiazita. Com feras destas à entrada a ver se havia algum penetra que se arriscasse... é o arriscas.
Quanto mais me alongo, mais a ideia me entusiasma. Quando me reformar (daqui por 70 anos - já que acredito que, com a reforma do sistemas de pensões levada a cabo pelo magricelas da mota e sob os altos auspícios do grupo de burros que validará os resultados do estudo, a idade da reforma deve passar para lá dos 100 anos, e isto para se receber um trocadinho mal aviado), terei que me moderar senão desato a investir em negócios atrás de negócios e vai-se-me o pé de meia num ápice. Tenho tantas ideias e todas tão boas que a economia do País disparava num abrir e esfregar de olhos - só não adianto aqui mais algumas (para que vejam que são mesmo boas) porque o segredo é a alma do negócio.

Adiante e voltando à cold cow.

Adoro chapéus mas não tenho oportunidade de ousar. Uma ousadia em grupo é moda, mas uma ousadia a solo é maluquice. Imaginem se amanhã apareço no edifício asséptico onde trabalho - cheia de executivos bem cheirosos e todos parecidos uns com os outros e de executivas bronzeadas e bem torneadas - e vou com um chapéu artístico, de deixar qualquer um de cara à banda, vasos com passarinhos a sair-me da cabeça, penas de pavão, ovos estrelados, rabos de gato... Havia de ter graça. Aliás, algum dos que sobem comigo no elevador haveria de chamar o segurança para me pôr no olho da rua.

Não dá mesmo. Só mesmo com um Ascot à la portugaise.

Reparem: já viram, para além do negócio das corridas temáticas em si, a quantidade de negócios adjacentes que se desenvolveriam?

Quais...? O dos chapéus, justamente, e isto apenas como exemplo.

Entretanto, cá vai uma compilação de alguns chapéus de Ascot 2014 à laia de cardápio para as minhas Leitoras que precisem de um empurrãozinho para se aventurarem. Apenas os das duas primeiras fotografias não são tanto o meu género. Poderia ter escolhido dos extravagantes, cómicos ou disparatados, que por lá os há em todas as cambiantes, mas optei por escolher alguns chapelitos que eu não me importaria nada de usar.


Já sabem: ainda não atinei bem com o processo de publicar fotografias arrumadinhas aqui no blogue. Vai uma para cada lado e eu por aqui ando à bulha com elas - até que desisto e vai como for. No computador talvez nem saiam desarrumadas de todo mas no smartphone deve ser uma bagunça. Não sei, amanhã logo vejo.


As manas Beatriz e Eugénia, as princesas magalonas,
 filhas de Sarah Ferguson,
só não seriam barradas à porta
porque são podres de matrafonas,
dão sempre vontade de rir
Esta seria admitida.
A Ana Loureço, que gosta tanto de cavalos,
era moça para se apresentar assim.







Simples mas com muita pinta.
Amarelo e preto é uma mistura sempre garantida.
Um chapéu fácil de fazer em casa e, certamente, muito económico.

Muito bem os chapéus destas manas, uma em amarelo outra em red: dois clássicos
Fazem lembrar as mulheres colombianas,
daquelas todas quitadas, silicone nas bochechas, silicone nas poitrines, botox all over


O género de chapéus que me tenta: fáceis de fazer em casa, imprevistos, joviais, provocantes
(e ficam bem com cabelo despenteado, o que, para mim, é uma grande vantagem)


Uma bela borboleta azul que fica a matar com uns olhos azuis
A senhora ao lado, com uma rosa na cabeça, quase passa despercebida de tão discreta

Uma elegância, um modelo quase oriental:
quase me sentiria tentada
mas teria que ir com um vestido decotado à frente e completamente sem costas
para ninguém me confundir com uma dondoca bem comportada

Talvez o meu preferido
Quase oculta o rosto mas, quanto mais o oculta,
mais curiosidade desperta.
Quem é a mulher atrás do véu,
entre flores, rendas, plumas?
Quem será ela?
Uma elegância distinta, quase indecente.
Ficaria igualmente bem com cabelo caído,
esvoaçando

Um dos meus preferidos:
ficaria lindamente com o cabelo solto;
mas assim,
com o cabelo meio apanhado, despenteado,
também fica bem irreverente





























E eu e vós, minhas Caras Amigas Leitoras, requintadas, indecorosas, com belos e inusitados chapéus, a vermos o lombinha dos briefings e outros que tais a correrem na pista e nós a batermos discretas palminhas a incentivar aquele em quem teríamos apostado... Não seria uma delícia?

Depois, entre conversetas e intrigas gostosas, deslocar-nos-íamos até às mesas onde frescas bebidas e apetitosos amuse-bouches interromperiam, por breves instantes, as fofoquinhas inocentes.

Uma vez refrescadas e de novo completamente maliciosas, deslizaríamos até à beira da pista, onde outros lombinhas desta vida iniciariam nova corrida. Vai Pedrocas, gritaria uma, mostra o garanhão que és!, enquanto outras puxariam por um qualquer outro da mesma categoria.

[À falta de melhor, qualquer lombinha faria na perfeição o papel de cavalo de corrida. E, quem diz lombinhas, repito, diz salgados dos milhões esquecidos, isaltinos bem comportados, arrependidos e prontos a tornarem-se escritores, jotas já deputados apesar de não saberem ler nem escrever, avillezes abelharudas de balsemão ao peito, etc, etc, etc. Sky is the limit. Tudo serve de cavalo de corrida.]


(Cavalos de Corrida)



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Para o caso de se sentirem relutantes, receando não saberem como se apresentarem à altura, aqui deixo o vídeo com o dress code, que é como quem diz o Royal Ascot 2014 - Official Style Guide


Com esta lição, não terão desculpa, dizendo que sei lá se aquela saínha é adequada ou será que o chapéu com medinas nas abas condiz com o vestido com carreiras nos bolsos, ou os cavalheiros sem saberem se é suposto ir de gravata ou esgargalados, de pêlos do peito à vista, à Paulo Portas e, nesse último caso, se deverão ir de boné ou chapéu de aba larga.

Vejam, por favor, qual o modelo com que mais se identificam e depois adaptem-no ao vosso gosto - mas, please, não fujam muito do estilo porque, quando este meu projecto estiver no terreno, só quero lá gente estilosa.





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Bem. Isto hoje não saíu coisa para intelectuais. Galo. E agora o que pensarão os meus Caros Leitores que procuram aqui erudição da grossa...? 

Como tentar compensá-los, limpar a minha barra...?

Já sei. Um poema. Um poema dá sempre jeito. Ora, então, cá vai.

Outra maneira de ser: um homem
de facto, às riscas. Um vulto
com sintomas às costas,
no lodo da fala, uma pausa
turva, de homem
conforme o ódio. Moribundo
que escolha, o início a nada,
o cio a perdas e danos,
uma vida negada, repleta
de segundas intenções.


O Poeta Rui Baião que não me leve a mal por o colocar aqui no meio de cavalos de corrida, lombinhas e outras maluquices. Não é por mal. É mesmo só uma maneira de descansar a cabeça. Uns deitam-na na almofada, eu penso em chapéus e escrevo coisas assim.

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A música lá em cima é Burns -Vintage '60s Girl Group Ellie Goulding Cover with Flame-O-Phone  - Postmodern Jukebox

Os Cavalos de Corrida são interpretados pelos UHF

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E por hoje é isto. 
(E agradeço o vosso cuidado mas, a sério, não fiquem preocupados. Amanhã já devo estar normal.)

Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela quinta feira!



quarta-feira, junho 25, 2014

O que o meu país faz aos seus melhores. Camões, Fernando Pessoa, Ruy Belo, Ruy Cinatti. Por exemplo. A palavra a Pedro Paixão que fala também do seu amigo Miguel Esteves Cardoso. Ao som do homem que diz adeus, Bernardo Sassetti. O sol a reflectir-se num espelho quebrado.


O post que se segue a este é um post triste. Vi Isaltino Morais, velho e magro, a sair da prisão e isso fez-me impressão. De que valem tantas vitórias e tantos ganhos quando há o risco de se passar por isto?
A seguir falo da entrevista de António Costa na SIC com a beldade que veio do frio, Ana Lourenço.
E, mais abaixo ainda, falo de António Costa e de Tó-Zero inSeguro enquanto festejavam o S.João a norte, cada um em sua margem, um rio de diferenças a separá-los.

Mas isso é a seguir.

Aqui, agora, a conversa é outra. Muito outra.


O homem que diz adeus






Cada pessoa é um mundo feito de memória, a mais subtil de todas as matérias e, no entanto, a única que verdadeiramente existe.

O que é certo é que este meu país deu cabo do meu amigo. O génio do meu amigo foi esmagado, obliterado, esquecido por este país.

O meu país é um país que não reconhece o verdadeiro valor, não gratifica a excelência, e mal suspeita de alguma coisa original, logo, estranha, esmaga-a.

Camões morreu pobre e desolado. Provavelmente sem ter tido sequer a sorte de ter tido um único amigo, como eu tive.

O Pessoa, que viveu de quarto em quarto, foi morrer com o fígado trespassado a um hospital com nome francês que está no Bairro Alto e, ao que se diz, a última frase que se lhe ouviu foi em inglês que a disse I do not know what tomorrow will bring, para tirar as dúvidas a quem as tivesse.



O Ruy Belo, um magnífico poeta, foi um herói desprezado primeiro pela academia fascista e, depois, pela academia democrática.

O Ruy Cinatti, um poeta entre os maiores, enlouqueceu com a revolução dos medíocres e presumidos cravos, que entretanto desapareceram como espécie.

Eu só não me deixei esmagar porque não tenho valor algum em particular, nunca tendo chegado a ser o que queria, que é o que acontece a grande parte da gente, senão a toda a gente, que habita o meu país.

O meu país só reconhece os génios depois de estarem bem mortos e enterrados, de forma a já não poderem ofuscar nenhum dos irrisórios entes que tendem a demorar a morrer e gerem a chamada cultura nacional.


Aliás a maior manifestação cultural do meu país é o futebol, um jogo que se joga principalmente com os pés, uma manifestação que não só esmaga todos os desportos à sua volta como todas as outras manifestações presumivelmente culturais.

O Fernando só foi plenamente reconhecido quando começou a dar dinheiro, por assim dizer, e, passada uma eternidade de estar sepultado no cemitério dos Prazeres, as entidades culturais decidiram mudá-lo para o Mosteiro dos Jerónimos, do outro lado onde deviam estar os ossos de Camões, mas não há nada, a ele que explicitamente escreveu nada haver de mais estúpido do que a Igreja Católica.

Do último exíguo quarto onde foi morrendo devagar, fizeram, abusando do seu nome, uma casa de vários pisos onde decorrem as mais variadas manifestações culturais. Algo de intensamente agoniante, diria mesmo lúgubre, uma verdadeira falta de respeito pelo poeta, e pela essencial carência da poesia.


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A música é O homem que diz adeus pelo trio Bernardo Sassetti com ele no piano (música escolhida por Beatriz Batarda na Antena 2, ao ser-lhe pedido uma música especial do Bernardo)


As fotografias são do americano Bing Wright e representam o pôr do sol reflectido em espelhos partidos.

O texto abaixo do vídeo é da autoria de Pedro Paixão in 'Espécie de Amor' do qual foi mais ou menos extraído o título deste post.


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Relembro: por aí abaixo encontrarão mais três posts, todos relativos à actualidade 
(por esta ordem: o magro Isaltino, o seguro Costa, o inseguro Tó-Zero)


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E, por agora e sem ser capaz de rever tanta conversa, por aqui me despeço.
Tenham, meus Caros Leitores, uma boa quarta feira.