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quarta-feira, agosto 06, 2025

Papa João Paulo II, Fidel Castro, Woody Allen, Mick Jagger, etc., etc. -- todos em fotografias com Epstein na sua galeria de conhecidos e amigos

 

Ver mais imagens da casa de Epstein em NY aqui ou aqui

Se há personagens misteriosos e fascinantes, sem dúvida que Epstein é um deles. Já vi uma série na Netflix sobre ele, já li muitos artigos, já ouvi entrevistas com quem o conheceu bem, e, no ponto em que estou, o meu desconhecimento sobre a sua vida e sobre a sua motivação permanecem totais.

Vejo que ninguém conseguiu descortinar a proveniência da sua extraordinária fortuna. Identificam-se algumas parcelas, mas nada que atinja a totalidade, identificam-se algumas alavancas (pessoas a quem ele pode ter burlado ou manipulado) mas, identicamente, nada que justifique o brutal amontoado de bens. Em tudo o que vejo e leio a conclusão é a mesma: não se compreende de onde veio toda a sua extraordinária fortuna.

Há muita gente que pensa que parte da sua fortuna proveio de chantagem. Havia câmaras por todo o lado. Milhares de horas de gravações. Muitas fotografias, algumas guardadas no seu cofre. Para alguma coisa seriam. Mas pode a chantagem atingir valores desta natureza? E, de resto, nas fotografias, se algumas daquelas pessoas estavam a ser chantageadas, pareciam felizes por sê-lo.

Já ouvi diversas referências a ele ter sido apontado como um activo da Mossad e/ou da CIA, que interviria em situações de chantagem, e isso justificaria parte do secretismo de que as denúncias e os processos judiciais sempre parecem ter estado revestidos. Mas, sendo tudo secreto, como saber se isso é verdade ou se é mais uma das muitas teorias da conspiração em que a cultura americana é fértil?

E é tudo muito estranho. Vindo de uma família 'normal', sem riqueza, não acabou nenhuma licenciatura mas, não se percebe como, conseguiu enganar um prestigiado colégio onde deu aulas de matemática. Por ser lá professor, foi contratado como analista financeiro para uma empresa. Depois, por lá trabalhar e por desviado dinheiro, foi contratado por quem queria uma pessoa com o perfil dele, ambicioso, inteligente, fura-vidas, sem escrúpulos. Aí geria um esquema fraudulento em pirâmide e, claro, pessoa de 'confiança, cativante, insinuante, tornou-se próximo do big boss, a que se aliou e com quem burlou meio mundo. Quando a fraude foi descoberta, o big boss foi preso, mas ele, milagre, safou-se. E assim foi andando e, em pouco tempo, já tinha conseguido comprar casarões, mansões, um big rancho, uma ilha privada, um avião, um helicóptero, arte a gosto e a eito, pagar a não sei quantos funcionários, pagar 200 dólares a cada miúda que ia fazer um serviço e 200 a cada miúda que arranjava outra, e era normal haver desses serviços três vezes por dia, pois, segundo diziam, sexualmente, era insaciável -- e, sempre, em tudo, à grande e à francesa. 

Pelo meio, tudo o que era CEO das grandes empresas americanas, políticos e académicos e gente do cinema, cientistas, prémios Nobel, realeza, tudo estava caído nos encontros que ele organizava, uns meramente de tertúlia (embora sempre houvesse meninas a circularem pelas casas), outros de pedofilia pura e dura. Toda a gente lhe conhecia a fama. E mesmo depois de ter sido condenado e cumprido uma pena (ridiculamente baixa), ou seja, mesmo depois de ser público que era comprovadamente um pedófilo compulsivo, continuou a reunir em volta de si a habitual corte de amigos e admiradores. Como se ser pedófilo fosse coisa de somenos. Foram identificadas centenas de vítimas mas admite-se que possam ultrapassar as mil. Não só abusava delas como as traficava. Ele e o seu alter ego feminino, a sinistra Ghislaine Maxwell, presença constante na sua vida. 

Era também um conhecido filantropo. Oferecia dinheiro a rodos para partidos, para associações de beneficência, para pagar estudos e investigações, para bolsas. Dizem que parecia sempre bem informado e toda a gente gostava de falar com ele. Prestava atenção, parecia ter estudado os assuntos. Diziam-no uma pessoa interessante, interessada, afável, cativante. 

Apesar da sua reputação e do seu cadastro, parecia que as pessoas gostavam de ser vistas com ele. Ou, então, era ele que gostava de ser visto com elas. Nesta história não consigo perceber os contornos de nada.

Nas revelações que hoje vieram a público no The New York Times e já com reflexo noutros media, nas molduras de uma das suas incríveis casas, em Nova Iorque, há fotografias dele a visitar o Papa, dele com Fidel Castro, dele com Musk, dele com Mick Jagger, dele com Woody Allen. Muitas fotografias. Não se vê ninguém com ar de ter sido torturado para ali estar a sorrir. Todos parecem felizes, aparentemente descontraídos e orgulhosos por estarem em tão importante companhia. 

Leio que era visita do Palácio Real britânico e que, aparentemente, emprestou dinheiro a Sarah Ferguson, a ex do Príncipe Andrew. A teia de amizades vai sendo revelada, parece infinita. E inexplicável. Como chegou ele a tanta gente? E para quê?

E depois há o seu grande amigo, Best Friend Forever, Trump. Li que se zangaram não por Epstein ter 'roubado' uma menina de 16 anos que trabalhava em Mar-a-Lago mas porque Trump deu cabo de um negócio imobiliário milionário que Epstein queria fechar. Dizem que Trump seria testa de ferro de oligarcas russos. E aqui entram os russos, de mão dada com Trump? Outra teoria da conspiração? Ou outra vertente do mistério?

Questiona-se também qual o papel de Melania no meio deste filme. E as hipóteses que tenho ouvido são todas igualmente bizarras. E, também aqui, o mistério tem contornos imprecisos.

Os grandes jornais americanos não estão a largar o que a Justiça americana, pela mão de Trump, anda a querer esconder.

Não sei se alguma vez vamos perceber os contornos desta história mirabolante mas, pelo que se vê, entretanto vamos continuar a ser brindados com novos episódios que, em vez de revelarem, ainda adensam mais o mistério sobre esta estranha nebulosa.

Para quem não consegue ver o artigo que hoje está a bombar no NY Times, aqui fica um vídeo onde se fala disso.

A Disturbing New Look at Jeffrey Epstein's NYC Mansion

New photos reveal strange statues, cryptic and disturbing letters, and the presence of long-rumored hidden cameras inside the townhouse on Manhattan's Upper East Side. 


Desejo-vos dias felizes

sábado, abril 15, 2023

Ah... este admirável mundo novo.
Reverter o processo de envelhecimento, termos sistemas computorizados a lerem por nós e a sintetizarem a informação colhida em milhões de documentos, termos veículos sem condutor que nos transportam, etc, etc, etc...

 

Ao fim da manhã fui ao supermercado. 

Escolhi o meu pão, um baguette rústica, um pão de centeio com nozes. 

Quando estava a colocar as embalagens no carrinho um homem que ia dizer que era meio velho mas que talvez não fosse muito mais velho que eu. Contudo, se não era velho, parecia. O pão está em cacifos de vidro e há uma pinça para os retirar através de uma abertura. 

Pois o estupor do velho meteu a mão (sem luva) pela abertura e pôs-se a apalpar os pães, um a um, acabando por tirar o que lhe pareceu melhor. Várias pessoas assistiram incrédulas àquilo, fazendo esgares umas para as outras. Mas eu não me contive. 'O que é que o senhor está a fazer? A apalpar o pão?'. Pois o estúpido virou-se para mim: 'Que mal é que tem?' Perguntei-lhe se não sabia. Desafiadoramente disse-me que não. Expliquei-lhe que as outras pessoas não têm que levar pão já apalpado por ele.  E ele: 'E que mal tem isso?'. E eu: 'Não sabe? Acha higiénico?'. O velho furioso: 'Apalpei sim, senhor. E não vejo mal nenhum nisso'.

Pensei que todos os Boaventuras desta vida devem dizer o mesmo.

Olhei em volta a ver se via alguém da Segurança para me queixar mas não vi. E toda a gente que ali estava a assistir, visivelmente incomodada, ficou calada. É o costume. Nas redes sociais toda a gente manda bocas. Ao vivo, de frente para os parvos, a malta prefere ficar calada.

Resumindo: fiquei furiosa.

A seguir, na caixa, estava na ponta a enfiar no carrinho as coisas que o rapaz da caixa ia passando. Nem levantava a cabeça, ia jogando a mão e enfiando no saco que estava no carrinho. Às tantas pareceu-me que já tinha guardado o saco das maçãs mas pensei que estava equivocada. Depois laranjas. Pensei o mesmo mas, como era tanta coisa e tudo tão rápido, julguei que o meu cérebro estava a brincar comigo. A seguir veio um saco de salada mas como tinha comprado dois pensei que se calhar aquele era o segundo. Mas quando apareceu um saco de agriões, uma embalagem de legumes para a sopa, um detergente multiusos amarelo aí percebi que alguma coisa não estava certa. Dei o alerta: 'Estão a passar coisas que não são minhas' e já lá estavam mais umas poucas já passadas pela caixa. O rapaz parou. Apontou para o que estava antes da caixa. Disse-lhe que não, não eram coisas minhas. O rapaz disse que não havia separador, que as coisas do cliente seguinte tinham sido postas encostadas às minhas.. 

Aí o homem que estava atrás de mim acordou e ficou em transe, como se eu estivesse a arrumar coisas que não eram minhas. Furioso: 'O que é isso? Isso é meu!'. Respondi: 'Bem sei. O senhor não pôs o separador'. E ele, furioso por eu estar a pôr em causa a sua eficiência: 'Ora essa, não pus? Pus, sim senhora. Então não está ali?' E apontou o separador a seguir às suas coisas. Eu disse: 'Sim. Mas não pôs entre as minhas coisas e as suas'. E ele, verdadeiramente furioso: 'Então não está ali?' E voltou a apontar para o separador no fim das suas coisas. E ameaçador: 'E faz favor de não ficar com as minhas coisas'. O rapaz da caixa atrapalhado, tendo que chamar o supervisor, e explicando: 'Um cliente não colocou o separador, registei as coisas como se fossem da cliente da frente'. E o cliente: 'É mentira, pus, está à vista de toda a gente'.

Quando, no parque, estava a contar ao meu marido que um velho atrás de mim tinha armado uma confusão, vi-o a vir com o carrinho dele. E disse: 'Olha, lá vem ele'. E o meu marido disse: 'E achas que é velho? Se calhar não tem uma idade muito diferente da nossa'.

Fiquei a pensar. 

Fiquei também a pensar que o velho do pão deve ter chegado a casa a dizer que uma dondoca se tinha metido com ele por ele estar a apalpar o pão e que o velho da caixa deve ter contado à mulher que uma dondoca qualquer quis ficar com as compras dele e depois ainda se desculpou por ele não ter posto o separador quando toda a gente viu que tinha posto, sim senhor.

Tudo relativo. E tudo muito doido.

Tirando isso.

Esteve frio de tarde. Tive que voltar a usar uma capa de lã. 

Agora estou aqui a escrever isto, o cão dorme aqui, deitado ao lado da porta de vidro. Deve estar cansado, tanto que correu de um lado para o outro. Cão de guarda a sério.

A robínia aqui à porta está florida com os seus delicados cachos de florzinhas brancas. Se não fosse tão tarde, ia agora lá fora fotografá-las porque à noite ficam lindas.

Ao jantar, como sobremesa, comi nêsperas que colhi pouco antes. Tínhamos uma nespereira que já cá existia, pelo menos trinta anos. Agora já existem mais quatro e estão todas carregadas. A natureza é mãe.

Depois de jantar estivemos a ver mais um episódio de Sommerdahl, uma série fantástica que passa às 10 na RTP2, uma das poucas coisas que se conseguem ver na televisão e, cá em casa, quase a única que agrada simultaneamente aos dois.

Posso ainda contar que, de tarde, estive a escrever. O meu marido perguntou o que é que eu estava a escrever. Disse-lhe que um conto, para um livro de contos. O meu marido perguntou: 'Vê lá se não é nada que vá envergonhar o teu filho'. Estava a gozar porque lhe contei que, quando contei ao nosso filho que tinha escrito um livro e que ia concorrer a um prémio, ele me perguntou se era alguma coisa da qual ele se envergonhasse. Nesse caso, disse-lhe que não, era inócuo. Mas neste caso, dos contos, tive que responder ao meu marido que temo bem que ele vá envergonhar-se, sim (isto admitindo que o livro um dia será publicado, claro). O meu marido encolheu os ombros. 

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Vivo uma vida simples e os avanços tecnológicos incomodam-se não pelos seus inquestionáveis benefícios mas pelos riscos que comportam, em especial quando não há regulação, não há consciência colectiva dos reais perigos, não há tempo para pensar e avaliar bem no que estamos a meter-nos. 

A tecnologia é cada vez mais acessível, mais ubíqua, mais aberta. E a tecnologia anda por uma estrada e a ética anda por outra, paralela. E, para os distraídos, relembro que as paralelas nunca se encontram.

Os dois vídeos abaixo mostram temas distintos. Mas são faces de um futuro, nuns casos um futuro mais próximo, noutros um futuro um pouco incerto. 

Já nem falo no ChatGPT, uma coisa fabulosa e diabólica (já proibida em algumas instâncias, mas que, mesmo proibida, há-de reencarnar noutros produtos). Mas falo em veículos sem condutores ou, ainda mais preocupante, em mecanismos para reverter o processo de envelhecimento. 

Os vídeos não estão ainda traduzidos mas aqui os deixo. A quem possa interessar.

Putting an autonomous vehicle to the test in downtown London

I recently had the opportunity to ride in a car made by the British company Wayve, which has a fairly novel approach to self-driving vehicles. While a lot of AVs can only navigate on streets that have been loaded into their system, the Wayve vehicle operates more like a person


Exclusive Conversation With Geneticist & Harvard Professor David Sinclair

David Sinclair is a man who claims his ‘biological age’ is 10 years less than his actual age of 53. The Harvard Geneticist is a leader in longevity science. Watch him in a riveting conversation with Kalli Purie, Vice Chairperson, India Today Group at the #IndiaTodayConclave. The two discuss the formula to look younger, how healthy sugar is for you, whether fruits are a good substitute for sugar, the newly-researched stress-busting food, the benefits of red wine and the magic of metformin.

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As imagens, uma vez mais, não têm nada de nadica a ver com nada. Mostram a arte de Marianne Evennou, uma decoradora que faz maravilhas com pouco, inclusivamente decorando com arte e engenho pequenos espaços. Apeteceu-me partilhar convosco, só isso.

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Um bom sábado
Saúde. Pés na terra. Paz.

terça-feira, maio 04, 2021

Ontem é história, amanhã é um mistério e hoje é uma dádiva. Por isso lhe chamam presente.

 



Uma segunda-feira que começa cedo e que vai de enfiada até ao fim do dia é uma segunda-feira para esquecer. Tanto saco, tanto pepino, tanto sapo. A meio de uma reunião que estava a deixar-me com os nervos em franja, já incapaz de disfarçar a minha impaciência, recebi uma mensagem: 'Temos quatro monos na sala'. Deu-me vontade de rir. Tal e qual. Logo de seguida, um outra: 'Pelo menos...'. A partir daí, atalhou. Percebemos ambos que dali, por mais que espremêssemos, não sairia sumo. Quando a reunião acabou, ligou-me: 'Qualquer dia estamos os dois sozinhos'. E eu, apreensiva que também ando: 'Pois. Mas não pode ser. A verdade é que o tempo passa e a conversa não evolui. Não desenvolvem. O que é que a gente faz?'. E sugeri que apostássemos na mais improvável. Concordou. Tenho cada vez mais a convicção de que quando a mudança é profunda, quando os desafios são dos valentes, quando é preciso pragmatismo e capacidade para cortar a direito, as mulheres são mais capazes. É para fazer? Então, faz-se. Não há cá converseta da treta, mas-mas, não há cá medo de ouvir um não: é pão, pão, queijo, queijo. 

Mas é uma canseira. 

A minha filha diz-me frequentemente que tenho que gerir as coisas no sentido do phasing out. Conhece alguns dos intervenientes e antevê que não me 'deixarão' sair tão cedo. Diz que eu é que tenho que pôr os pés à parede, gerir as coisas nesse sentido. E é o que quero. Mas, por outro lado, são largas, muitas, centenas de famílias que dependem da empresa. Sinto a responsabilidade de fazer o melhor possível. 

Da empresa de que saí o ano passado saí com a noção de que tinha cumprido a minha missão e que lá ficaria uma equipa, a 'minha equipa', gente competente e dedicada, que asseguraria a continuidade. Saí com a convicção de que tinha preparado bem a minha saída. 

Aqui é tudo muito diferente. Tudo diferente. 

O meu marido diz que me esgoto nesta luta. E é um bocado verdade. 

Estou in heaven mas mal consigo usufruir. À hora de almoço, saí para andar e para falar com a minha mãe. Ao fim da tarde também. A meio do dia, sempre que falei ao telefone, estive a andar à porta da sala, para a frente e para trás. Nestes telefonemas de trabalho não gosto de me afastar pois a toda a hora me pedem que veja o mail ou que veja a disponibilidade e dá-me mais jeito sentar-me ao computador enquanto telefono para este tipo de validações.

Mas, ao fim do dia, a app informou-me que tinha feito 12.929 passos, o que corresponde a 8 km. E, imagine-se, queimei 502 kcal. Menos mal. 

E isto é a maçadora síntese do dia. 

À noite, aqui, vi que Bill e Melinda Gates, o dream couple, vai separar-se. Fiquei deveras surpreendida, Dir-se-ia que já teriam ultrapassado todos os cabos das tormentas, que, casados há 27 anos, certamente já enfrentaram. Ele com 65, ela com 56, diria eu que já achariam que o divórcio é coisa para dar mais trabalho do que continuarem a resolver as diferenças. Afinal, o quarto homem mais rico do mundo e a sua mulher que, em conjunto, gerem uma das fundações mais poderosas do mundo, chegaram ao ponto de não retorno. É obra. Já em 2019, MacKenzie Scott, a ex de Jeff Bezos, ao divorciar-se conseguiu a proeza de se tornar a terceira mulher mais rica do mundo e, acto contínuo, fazer filantropia à sua maneira, sem cuidar de acautelar previamente os benefícios fiscais. 

Mas é isso: quem tem a ilusão que dinheiro é felicidade e que resolve todos os dramas, bem pode tirar o cavalinho da chuva. É ver quase todos os mais ricos desta vida: Gates, Bezos, Musk. Falta o alienado Zuckerberg. Ou o outro dream couple, a Angelina Jolie e o príncipe encantado de todos os sonhos, Brad Pitt. Dinheiro não lhes falta, sucesso também não. E, no entanto, na intimidade da casa, são como todos os outros casais, têm diferenças. E, por vezes, seja qual for a dimensão da fortuna, as diferenças são insanáveis.

Moral da história? Não há e ainda bem que não há. Detesto quando as histórias pingam moral. 

Até porque se é para falar de coisas sérias vou antes falar de outra coisa. Já aqui contei muitas vezes: nada me descansa mais e repousa, tranquiliza, refresca as ideias e me prepara para tudo do que um belo banho. Não sou de água fria. Pode ser tépida no verão mas, no inverno, convém que se lhe sinta o calorzinho. Em especial, fico outra, retemperada, poderosa, se lavo o cabelo. Uma bela shampoozada, água a correr-me em cima até que se vá toda a espuma, e eu ali, com vagar, a deixar que todos os cansaços, aborrecimentos e desconfortos se vão pelo ralo abaixo. Coisa boa. Por sorte não precisei ainda de psicoterapia ou medicação para ansiedades ou angústias. A minha terapia é o banho, em especial com lavagem de cabelo incluída. 

Pois bem. Acabo de ler no The Guardian que It’s like therapy’: how washing your hair can lift your mood – and change your life. Hairwashing can be a catharsis and a reset, the purifying sluice of water rinsing a bad day down the plughole (...) Li e pensei: olha, afinal, se calhar, não sou maluca de todo. Comentei com o meu marido. Confirmou, disse que com ele acontece o mesmo. Desatei-me a rir: 'Essa é boa. És careca!'. Não concordou. Disse que eu não devia fazer uma leitura tão literal, que o ponto está em como lavar a cabeça levanta o astral -- a cabeça, não o cabelo. Está bem, abelha. Na volta acontece-lhe é como às pessoas que perdem uma mão e que parece que continuam a senti-la: ainda sente como se tivesse cabelo. A vontade de rir que isso me dá. E calma, que não se pense que estou a depreciar. Nada disso. Sou como as demais que é dos carecas que mais gostam. 

Já contei, não contei? Uma vez, estando a ouvir a conversa de dois colegas sobre a queda de cabelo, um a dizer que não tinha problema nenhum e outro a dizer que estava a fazer um tratamento e que estava a resultar muito bem, saiu-me, sem querer: uma amiga que é médica, disse-me que a principal causa de calvície é a testosterona. Quanto mais, mais o cabelo cai. Ficaram os dois em silêncio. E eu com vontade de rebobinar e retirar o que tinha dito. A coisa propagou-se. Durante anos, ouvi toda a espécie de piadas. Quando aparecia algum cabeludo, havia sempre alguém que me piscava o olho ou que me dizia: 'Aquele... coitado...'. Uma vez estava numa situação social, com gente que não conhecia muito bem, e às tantas, alguém falou do cabelo farto de um qualquer. E, às tantas, para meu sufoco, um dos meus colegas disse: 'Aqui a nossa amiga tem uma teoria sobre isso...'. E todos, virados para mim: 'Ai é...? Conte...'. E eu, furiosa com ele: 'Desculpem mas não posso. É uma private joke... Não levem a mal'.

Mas, também calma aí, há cabeludos que eu também não rejeitaria. Por exemplo, o dito príncipe dos príncipes, Pitt, Brad Pitt. E outros. Ou seja, quem vê cabelos não vê corações. Nem corações nem o resto, bem entendido.

E é isto. Termino com uma citação que acho o máximo e que vem mesmo aqui a calhar: «Yesterday is history, tomorrow is a mystery and today is a gift, that is why it is called the present.» (Eleanor Roosevelt)


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Do melhor


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Uma boa terça-feira.
E, se não estiver a correr bem, façam o favor de tomar uma banhoca.

quarta-feira, fevereiro 17, 2021

Onde investir? O que investigar? Em que trabalhar? O que estudar?

 

O mundo está num momento charneira. A consciência colectiva de que temos andado a estragar o planeta e a pôr em perigo a natureza, incluindo a nossa espécie, está aí. Podem ainda alguns negacionistas considerar que isso do 'ambiente' é uma fantasia ou um excentricidade ou que ser 'verde' é coisa a que uma minoria radical gosta de se dedicar, pode grande parte dos políticos ainda andar entretida com intrigas ou minudências partidárias mas uma coisa é certa: por um lado as evidências do mal causado são já inúmeras e muito evidentes e, por outro, uns quantos ilustres e muito influentes giga-tera-peta-milionários estão a investir em força naquilo que acreditam ser a galinha dos ovos de ouro das próximas décadas.

Fecham algumas refinarias, reconvertem-se indústrias, vários sectores definham e muitos sofrerão consequências que sobreviverão à pandemia -- mas muito, muito trabalho está para chegar em segmentos novos e para os quais ainda muito há que estudar.

Melhor farão os sindicatos e os partidos que se colam aos receios dos trabalhadores que vêem o seu emprego a perigar se souberem propor e preparar programas de reconversão para trabalhos para os quais muita gente vai ser precisa.

Claro que para haver investimento tem, ao mesmo tempo que haver tecnologia e, antes, muita investigação e, antes, aprendizagem. 

Não quero simplificar o que é complexo nem menorizar o que é dramático para os que sofrem o desemprego na pele. Sei que é cliché mas, com vossa licença. vou mesmo dizer: os momentos de mudança devem ser encarados como oportunidades; cabe é aos políticos ver ao longe e tentar que haja mais ganhos do que perdas, sobretudo a médio e longo prazo, não descurando os que precisam de ser ajudados no curto prazo. Se escrevo isto é apenas porque é um tema emergente, no qual a sociedade deveria estar focada. E não vejo que isso esteja a acontecer.

Se a UE já está a dirigir os apoios para a descarbonização, para o digital, para a a transição, a verdade é que é toda a economia, toda a cultura, toda a sociedade que progressivamente vai orientar-se nesse sentido.

Os vídeos que partilho são interessantes e abrem uma janela para o que está para vir. Uma vez mais Bill Gates. Com o seu espírito empreendedor e visionário, agora condimentado pelas suas preocupações ambientais, de desenvolvimento e de inclusão, ele sabe onde pôr as fichas. Tem a vantagem de o anunciar e explicar bem explicado.

Espero que no nosso País os políticos, a academia, os empresários e a comunicação social dirijam a sua atenção para estes temas pois há muito, muito  a fazer. Já para não falar na necessária mudança de mindset: inovação, colaboração, primazia à ciência e ao conhecimento, visão de longo prazo.

This tool will help us get to zero emissions

No fundo, mostra onde há investigação e investimento a fazer e, claro, onde vão ser criados mais postos de trabalho


Bill Gates: The 2021 60 Minutes interview

"Without innovation, we will not solve climate change. We won't even come close," 

Gates says. Anderson Cooper reports for 60 Minutes


terça-feira, fevereiro 02, 2021

A próxima pandemia e outras coisas -- o que diz Bill Gates

 

O que era o mundo antes da Microsoft é qualquer coisa de inimaginável. Outra era. Salas cheias de pessoas a escrever à máquina, as chamadas salas de dactilografia. E salas de telex, rolinhos cor de rosa. Salas com contabilistas que davam à manivela em grandes máquinas. Grandes centros de cálculo, máquinas gigantes, discos gigantes. Salas com operadores de computadores, salas com operadores de recolha. Todo um conjunto de profissões que desapareceu. Chama-se a isso pré-história. 

Depois, a coisa foi chegando. No meu caso, foi numa luxuosa moradia cercada por um relvado com lindas árvores que alguém disse que tinha uma coisa muito especial para me mostrar. Depois de termos passeado junto a um lago, um motorista levou-nos lá. Passou-se isto na chamada capital do mundo financeiro. Na tarde anterior tínhamos subido de teleférico, por sobre a copa de altíssimos cedros, até um lugar fora do tempo e, à noite, na cidade, tínhamos estado num pub em que toda a gente bebia cerveja e petiscava e cantava e, por fim, já subiam para cima das mesas, para dançarem abraçados enquanto cantavam. Uma festa. Mas nessa manhã, alguém atravessou a sala alcatifada, uma alcatifa macia em cinzento-escuro, as paredes todas em vidro, parecendo que estávamos no relvado, junto às árvores, e trazia uma coisa para me mostrar. Chamava-se grid, era pequeno, creio que antracite. E eu fiquei fascinada. 

Quando cheguei, contei o que se tinha passado e convenci-os que era aquilo e não outra coisa pela qual tínhamos esperado, sem sabermos que estávamos à espera. E isto ou qualquer coisa como isto deve ter acontecido um pouco por todo o mundo. A coisa foi-se entranhando e o mundo foi-se reformatando. Numa primeira fase era ainda um mundo que era um mix de mundo pre-histórico e de novo mundo. Mas foi andando. Ainda não havia, nessa altura, o hábito de pagar pelo que se usava até porque ainda havia a ideia de que era uma coisa que dava jeito mas da qual se poderia prescindir caso tal nos apetecesse. Usava-se mas copiava-se de umas máquinas para outras. Até que a coisa começou a fiar mais fino. A coisa começou a fazer parte da maneira de existir. Falava-se na Microsoft, no Windows, no Word, no Excel. E tudo o que se usava antes ia passando rapidamente à história. E, com  habituação total, veio junto um modelo de negócios que era tudo menos comum. E a seguir vieram as auditorias. Havia quem ainda tentasse fugir e havia quem não arriscasse danos reputacionais. Até que a coisa endureceu e a seguir às auditorias começaram a aparecer as facturas milionárias para regularizar a situação senão, sim ou sim, a coisa descambaria para os tribunais e para a opinião pública.

E aí toda a gente interiorizou: se usa tem que pagar, e ponto. A despesa das organizações (empresas, administração pública, demais instituições) disparou. Verbas impensáveis para os licenciamentos informáticos. As administrações furiosas da vida com a Microsoft. Gatunos, imperialistas. Monopolistas. Gananciosos. 

A Microsoft inflexível, preponderante. Ou pagas ou pagas. 

E toda a gente paga. Pudera, a dependência é total. Claro que há os open sources ou os googles desta vida. Mas não é a mesma coisa. Mover uma grande organização num outro sentido sai caro, perde-se tempo. Ninguém quer isso. Portanto, paga-se. 

E, então, com a Microsoft galacticamente hipergigamultimilionária, Bill Gates, o crânio que cultiva um permanente low profile, sai da gestão da empresa e muda-se para a Fundação Bill and Melinda Gates, uma fundação cujo porfolio de actividades é longo e pode ser visto no seu site. 

Em tempos, uma pessoa que tinha chegado dos Estados Unidos onde tinha vivido um par de anos com o marido e com os filhos, disse-me que a sua vida era dedicada ao voluntariado e que o tinha aprendido nos States em que havia muito a lógica de give back, devolver à sociedade o que a sociedade nos dá. 

E, segundo Bill Gates e a mulher dizem, é isso que fazem: devolvem à sociedade o muito que a sociedade lhes tem dado a ganhar. Defendem o direito à igualdade de oportunidades, o direito à saúde, ao desenvolvimento, à igualdade de género, o apoio à investigação e ao desenvolvimento, à divulgação do conhecimento. E muito mais.

Claro que se pessoas mais evoluídas como Obama, Biden ou o Papa Francisco o ouvem atentamente e agradecem e contam com e  o apoio da Fundação, Trump ignorou-o e os trumpistas inventaram as mais absurdas teorias da conspiração em cujo centro frequentemente o colocaram. Mas Bill Gates continua a ser o rapaz moderado e contido que sempre foi e, em vez de ficar irritado, fica é preocupado com o fenómeno negacionista e com o forte apelo que tanta gente sente pelo obscurantismo e pelas notícias falsas.

A entrevista que abaixo partilho é interessante. Não se pode dizer que seja curtinha. E é em inglês. Contudo, para quem tenha tempo e perceba a língua, é tempo que se dá por bem usado.

Bill Gates Warns The "Next Pandemic" Is Coming After Covid-19 - And How To Stop It 

| MSNBC

Bill Gates famously warned about the risk of a pandemic in 2015, and in 2021 he offers ideas on vaccines and preparing for the next pandemic. Gates stresses that spending in advance is actually quite a “bargain” compared to the cost of reacting to a pandemic once it ravages the world and cripples the economy. Gates also discusses tech regulations, attacks on him and Dr. Fauci, systemic racism, tax policy and his reaction to being cited in so many rap songs, in this debut of The Summit Series, a collection of in-depth interviews with leaders at the summit of their fields by MSNBC’s Ari Melber. Aired on 01/28/2021.