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segunda-feira, julho 15, 2024

Dias felizes

 

Devo dizer que tenho vivido dias felizes. Com os que me são mais queridos juntos, todos bem dispostos, a conversa a fluir de gosto, todos em volta da mesa, com a casa cheia, com a maluqueira nocturna que me fez rir de gosto, com o madrugar bem mais cedo do que me é habitual, com a alegria de todos... sinceramente, a nível pessoal, não posso querer mais. 

De vez em quando lembro-me do que disseram e dou por mim a rir sozinha. 

Todos têm a sua vida pessoal e profissional (ou escolar), certamente todos terão, de quando em vez, os seus contratempos e preocupações. Mas, como por magia, quando nos encontramos todos, parece que os problemas perdem relevância e a ninguém lembra falar de maçadas.

Estou boa do meu pé. Quase boa. A nível visual está praticamente normal. Claro que, quando olham, ficam um bocado enjoados pois acham-no esquisito. O dedão (e arredores) está a perder a pele. Mas a mim isso não me incomoda nada. Também ainda tem umas manchinhas escuras mas nada de mais. Também já mexo razoavelmente o dedo. Dói-me ainda um pouco mas já não me tira o sono e, na maior parte do tempo, nem me lembro de tal coisa. E da tendinite do ombro que me causou rigidez também já estou quase a cem por cento. Vou eu fazendo uns exercícios e a coisa está a ir ao sítio. Só aqui é que me ponho a falar nisso. Quando estou com a minha turma nem me lembro das chatices que tive nem do que ainda sobra delas. 

Claro que, no meu íntimo, sinto saudades da minha mãe e faz-me muita impressão que tenha sido uma presença tão constante na minha vida e que, como que por artes mágicas, em pouco tempo, se tenha despido de matéria. Era alguém tão presente e agora é apenas memória. E já passaram quase seis meses. Por vezes, parece-me impossível. E no outro dia o meu pai faria anos e, no entanto, ao mesmo tempo, parece que já não existe há imenso tempo, quase como se já não pertencesse à minha vida actual. E não pertence. Mas a verdade é que pertenceu até 2020. 

O tempo tem o seu lado cruel, a vida tem o seu lado de traiçoeira. 

Mas forço-me a manter estes pensamentos no lado adormecido da minha mente. E consigo que isso coexista com a minha alegria em estar viva e rodeada por aqueles que tanto amo.

E depois há as pequenas coisas. Infra-mínimas. Mas que me dão prazer, me motivam, me animam.

Por exemplo: estava com o cabelo comprido que geralmente apanhava em rabo-de-cavalo, muitas vezes dando-lhe uma reviravolta ao alto, para cima. Mas andava com vontade de o transformar. Então hoje, há bocado, fiz assim: estando apanhado num rabo de cavalo alto, como é costume, meti-lhe a tesoura e lá vai disto. Ou seja, agora, depois de cortado, dá para o apanhar na mesma, à tangente mas dá, e, curiosamente, ficou com um escadeado bem curioso. Saiu um monte de cabelo, ficou muito mais leve, e acho que não ficou mau de todo. Ainda lhe dei mais umas duas ou três tesouradas à frente para fazer um degradé mais harmonioso. Já não vou à cabeleireira há anos e fico com pena pois gostava dela e espero que as restantes clientes sejam mais fiéis do que eu. Mas isto de ter a liberdade de fazer coisas assim, na base do 'lá vai disto', faz-me sentir muito bem.

A outra coisa pertence à mesma categoria, a das frioleiras: andava com vontade de usar vestidos compridos mas nada me agradava pois não sou bem o género de intelectual de esquerda daquelas que usam saias compridas, largas e desengraçadas, nem sou exactamente o estilo hippie. Não estava a ver-me como uma maria-pendona. Mas também não queria usar vestidos que parecessem de noite, muito menos de baile de finalistas. Portanto, mantinha-me no classicismo das calças, dos vestidos pelo joelho, e, numa versão mais estival, calções brancos com blusinhas coloridas. Mas finalmente dei o salto. Encontrei o género de que gosto. A minha filha ofereceu-me um, que me assenta de uma forma superconfortável e com o qual gosto mesmo de me ver. E eu comprei os outros. E sinto-me tão bem... Há um que ainda não estreei mas sobre o qual estou com uma boa expectativa: cai como seda, suave, muito leve, é justo em cima mas alarga um pouco para baixo, é super decotado à frente e atrás, de alcinhas finas, e é em cor de coral com pavões gigantes de alto a baixo naqueles tons verdes e azulões. E, para conjugar, tenho um brinco, um único, com uma pena nos mesmos tons. Penso que vai ser exótico e isso agrada-me.

E toda a vida usei brincos discretos. Poderiam ser coloridos e adaptados às toilettes mas nada de exuberâncias. Contudo, andava com vontade de ter brincos ousados, coloridos, incomuns. E descobri-os. Estou mesmo feliz com eles. A ver se amanhã os fotografo para vos mostrar pois acho-os especiais e, sobretudo, os pais da criadora comoveram-me e apetece-me transmitir-lhes o meu carinho.

E ainda mais uma: chapéus. Adoro chapéus. Mas sempre me fiquei por modelos que me parecessem elegantes mas discretos. Provavelmente as pessoas discretas já os achariam algo destacados mas, para mim, estavam aquém do meu gosto intrínseco. Pois vi um que imediatamente chamou a minha atenção. A minha filha, ao vê-lo na loja, disse que todo ele é, em si, um statement. De facto. E não fujo a isso. Mas, ainda assim, receei que fosse demasiado aparatoso. Contudo, acabei por não resistir. Acho-o um espectáculo e sinto-me mesmo feliz quando o ponho. (Não é este. Este aqui ao lado é um que encontrei via google)

Quando era adolescente gostava de modelos originais e de me maquilhar e os meus pais zangavam-se, não queriam que eu desse nas vistas, diziam que não tinha idade para isso. Depois, pela minha profissão, tinha a noção de que não deveria mostrar-me a tender para o radical ou para a desalinhada (até porque era acusada disso). Agora já não tenho que provar nada a ninguém nem tenho que recear as opiniões alheias. Não que me preocupasse com isso mas, enfim, vivia o meu dia a dia integrada numa realidade em que as fugas à regra tendiam a ser mais ou menos vistas como perigosas excentricidades.

Claro que para coroar o bolo só mesmo uma cerejinha a enfeitá-lo: durante a semana fomos, por duas vezes, almoçar a um restaurante veggie. Não me tornei e acho que não me tornarei veggie mas a verdade é que gostámos imenso. Comemos agora muito menos carne, preocupamo-nos cada vez mais com uma alimentação equilibrada e saudável. E o meu filho ofereceu-me um conjunto de alimentos biológicos, saudáveis, e isso agrada-me e atrai-me bastante.

Portanto, apesar de não estar a ir para nova, a verdade é que me sinto cada vez mais disponível para procurar e acolher novidades e para me libertar das poucas peias que já tinha.

E viva a vida.

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Mercedes Sosa, Chico Buarque, Caetano Veloso, Milton Nascimento e Gal Costa - Volver a los 17


Uma semana feliz

sábado, outubro 30, 2021

E ao terceiro dia apareceu o sinal pelo qual eu tanto esperava.
Para festejar, recebam com um aplauso: Caetano Veloso na preparação para o seu vídeo para o TikTok

 


E ao fim do terceiro dia abre-se uma clareira na qual a crise e os malucos que a causaram não têm cabimento. Pode ser que amanhã ou depois ou depois volte à carga. É muito provável que sim. Motivos para me divertir ou arreliar não vão faltar. Mas hoje, sexta-feira virada e o sábado já caminhando, não estou nem aí. 

A minha praia esta noite é outra. Lá fora deve estar uma noite feia e toldada mas, aqui dentro de casa, reina a acalmia. 

Durante o dia, o pequeno urso aprendeu o que é o vento e a chuva. Sentado, empertigado, à porta da cozinha que estava entreaberta para o pátio, olhava com espanto para estes elementos da natureza. Nem queria ir ao jardim. Agora à noite, levei-o lá fora para ver se fazia alguma necessidade. Veio uma rabanada de vento e eis que o pobrezinho largou a fugir para o pé de mim, de novo sentado, intrigado, olhando para mim. Expliquei: 'É o vento. Não faz mal'. Não sei como interpreta o que lhe digo. Nasceu no verão, desconhecia até hoje outra coisa que não o bom tempo.

Haverá de se habituar. Ele tal como todos nós acabamos sempre por nos habituar a tudo. Que remédio.

Como referi na devida altura, nesta quarta-feira entrámos em blackout: nem internet nem televisão nem telefones. 

Veio o técnico, ligou, desligou, fez bypass, auscultou, fez boca a boca... e nada, nem pio para dentro nem pio para fora. Saiu a dizer que o mal devia ser no exterior. Coisa para outra equipa. Ao segundo dia nada aconteceu. Em cada uma das três chamadas, deu para perceber que nada estava a acontecer. Diziam que o assunto estava a ser acompanhado. O terceiro telefonema fui eu que o fiz: quando é para partir a louça, avanço desencabrestadamente. Avisei o jovem que o telefonema só acabava quando ele contactasse a equipa técnica e me transmitisse o que estava programado. Interrompeu e regressou com uma informação: que na sexta de manhã, antes das 10:30, haveríamos de receber uma chamada para confirmarmos que o serviço estava restabelecido. Mas que eu descansasse que o assunto estava a ser acompanhado. Deve ser o que lá têm escrito para dizer. Zanguei-me: não quero que o problema esteja a ser acompanhado, quero é que seja resolvido. 

Mesmo assim, tive esperança. Sou confiante. Ao primeiro dia acontece isto, ao segundo aquilo, ao terceiro aqueloutro. Sou crente. Fazer o quê? 

Só que, à hora da prometida revelação, nem telefonema nem serviço. O milagre não se tinha dado. Voltei a ligar e pedi para me passarem ao supervisor. O supervisor disse que me compreendia, que me pedia desculpa, depois ofereceu-me três canais de borla durante um mês, coisa que eu disse que não queria, queria era o problema resolvido. Disse-me, e pediu que eu acreditasse, que ia fazer o seu melhor. E insistiu na oferta dos canais, fazia mesmo questão. 

De tarde, por milagre, apareceu um técnico. Depois de verificar o que o outro tinha verificado, informou que o colega anterior não percebia nada do assunto. Não sei o que foi. Estava ainda em reunião, foi o meu marido que o aturou. Mas, quando acabei a reunião e lhe perguntei se já estava tudo a funcionar, estava mal disposto, chatices lá no trabalho dele. Por isso, quanto tentei perceber qual o problema da falta de internet, telefone e televisão, disse-me que se estava nas tintas, que estava farto destes gajos todos, queria era que o deixassem em paz. Não sei bem de quem estava ele a falar pois o telefone não parava de lhe tocar.

Resumindo: no que interessa, problema resolvido. Voltei a estar ligada ao mundo.

E, assim sendo, relembrando como funcionam as notícias e os comentários, a televisão voltou à vida. Vi um bocado do noticiário e um bocado do Expresso da Meia-Noite. Um bocado não. Um bocadinho. Talvez menos de cinco minutos. Desistimos. Mais do mesmo. Um bocado antes, quando lhe tinha aparecido o Louçã, o meu marido bufou: 'Eh pah, este gajo é que não'. Pedi para deixar ouvir, estava curiosa, sempre queria ver. Contrariado, cedeu. Ao fim de poucos minutos, resolvemos ao mesmo tempo: 'Já chega. Porra.'. É que ninguém merece.

Agora decorre uma novela da globo e está bom assim. Bobeira de alto a baixo, coisa de não torrar miolo nem dar arrelia. E com um plus que é dos bons. O Fagundão, tentador que só ele. Envelhece com qualidade, melhor que em barrica de carvalho. Todo ele, a cara, o físico, a voz, a graça com que fala: tudo um apetite. Olha-se e o que se pensa é que só de ver, mesmo que de longe, já se sente o perfume daquele pedaço de homem.

Olha. Acabou. Coisa mesmo só para dar água na boca. Eu à espera de cena bonita com o sempre e eterno amadaço Fagundão e afinal já era, a coisa já passou para outra. Uma novela em que parece que todos ciciam. Não tem graça. Não se percebe isto. 

Portanto, agora passei para o Governo Sombra. Só o RAP é que está bem encarado. Bronzeado. Os outros parecem-me macilentos. O Vaz Marques, desde que emagreceu, ficou com ar pendurado. O Mexia parece-me mais gordo e com más cores. Ou foi a maquilhagem que se distraiu nas cores ou devia fazer análises para ver se ataca a tempo. O João Miguel Tavares continua como sempre foi: baderneiro, confusionista, maledicente e mal jeitoso. Terei que voltar a fazer zapping.

E o mais aborrecido é que não sei quais os canais que o outro fez questão de oferecer. Nem sei como descobrir. Pobre e mal agradecida, vê se pode.

Portanto, sem canálios extra, a penúria do costume. Vou mas é desligá-la que fico melhor sem ela. 

Com licença que vou ver se há alguma coisa que se aproveite na Netflix. 

Parece-me que não. Não sei se sou eu que não sei pesquisar ou se é mesmo tudo mais para  fraquinho. Já vi o Estorninho, já vi O Escavador. Desses gostei mas agora não descubro nada que me desperte atenção. Ando biquenta, é o que é. Tudo me parece a tender para o rasteirinho, envolto em plástico. Ou é tudo excessivamente colorido ou excessivamente escuro. 

Pronto. Já descobri. Uma comédia com a Meryl Streep. Luminosa como sempre é, há-de ser uma boa companhia. Estou é na dúvida se já não a vi.  Se já vi, terei que ir dormir. Vou averiguar.

Bem. Fico-me por aqui. O dia foi puxado. Aliás, estes dias, puxa vida, têm sido puxados, coisa mesmo do bêleleu. Vou mas é descansarecos. Mas, antes, permitam que vos deixe em boa companhia.   

Caetano no TikTok 

Segue em primeira mão a nova coreografia e versão de Leãozinho: Gosto muito de te ver, Caetaninho (mão por cima da cabeca 3x). Caminhando com o Porta (andada em câmera lenta). Gosto muito de você, Caetano (movimento de coração com as mãos). Para desentristecer, Caetano (mão fechada em baixo dos olhos, simulando choro). A minha Porta tão só (sai de costas e olha pra câmera dramaticamente)


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As imagens são photoshop a pedido, trabalhos de James Fridman
Lá em cima Mercedes Sosa, Chico Buarque, Caetano Veloso, Milton Nascimento e Gal Costa interpretam Volver a los 17
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Desejo-vos um bom fim-de-semana

domingo, setembro 27, 2020

Assim fala Pepe Mujica. Assim fala Nietzsche. Assim fala Garcia Márquez.

 


Gosto de ver as entrevistas de Pepe Mujica ou os apontamentos de reportagens com ele. Se eu tivesse duas vidas, por um lado via aquilo de que gosto e, por outro, ia informar-me sobre aquilo ou aqueles de que gosto. Por exemplo, iria informar-me sobre o seu desempenho como Presidente do Uruguai para além do lado mais pitoresco ou simbólico ligado ao seu despojamento e vida humilde. Mas o facto de não ter um conhecimento bem informado sobre o papel que a história do Uruguai lhe reservará não me impede de simpatizar com a pessoa. E nem é só a vida simples que leva ou as posições políticas que manteve enquanto desempenhou cargos públicos: é também, e não sei se sobretudo, a forma como fala. Há qualquer coisa de poético nas suas palavras, qualquer coisa que não tem que ver com a linguagem usada na comunicação social, qualquer coisa que não tem a ver com as tricas da actualidade mas com algo de mais profundo.

A vida apressada que levamos, a pressão que algumas exigências sociais (nomeadamente as que se prendem com um consumismo exacerbado) têm vindo a impor, a dedicação exagerada que algumas profissões requerem, tudo isso talvez tenha sofrido uma quebra com a pandemia. Talvez muita gente tenha percebido que isso, às tantas, pode não ser a melhor opção. Ao vermo-nos forçados ao recato, talvez muitos dos que antes eram dependentes de estímulos externos, tenham percebido que a vida é possível mesmo quando vivida com maior vagar, com algum resguardo, entre amigos e, sobretudo, no calor afectuoso da família. 

O que eram as ditaduras dos mercados que, de forma geral e com maior ou menor beneplácito de quase toda a sociedade, têm vindo a sofrer alguns abalos -- e com a dura consequência de muito desemprego em alguns sectores -- talvez percam alguma da sacrossanta protecção de que universalmente usufruíam.

Mas, muito antes da fractura que está a ser imposta pela pandemia, já Pepe Mujica se atinha ao essencial, mostrando estar muito longe das temáticas a que se agarra grande parte da população, no Uruguai e em todo o mundo.

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É neste contexto em que agora vivemos -- hoje sossegada em casa, entretendo-me a tratar da sua arrumação, a pôr a lavar, a estender, apanhar e engomar roupa, a cozinhar, a regar, a dispor estacas de alfazema em vasos e canteiros, neste tranquilo remanso de que, privilegiadamente, posso usufruir -- que me ponho a ler, a ver vídeos. Uma rica vidinha, a minha -- reconheço.

Acabei o Narciso e Goldmund, belo livro, e, de seguida, hesitei entre O Ouriço e a Raposa e o Exercícios de Admiração de Cioran. Mas tudo tem sempre a ver com a nossa disposição e disponibilidade. E hoje não me apeteceu delongar-me nem num nem noutro. Diria que chatos, não condicentes com os tons dourados deste sweet september. Ou talvez a requererem um recolhimento que as cores chamativas das buganvílias não me permitem. Lembrei-me então de ir à procura do Zaratrusta. Não encontrei. Não sei se está noutro sítio ou se se perdeu de mim. Do Nietzche encontrei o 'Para além do bem e do mal' e, para meu espanto, encontrei várias partes assinaladas. Já não me lembrava de as ter assinalado. Reparo que sobretudo é onde a ironia, o gozo e a diversão são mais evidentes que assinalei. Rio-me, sinto-me muito bem disposta ao ler aquilo. Algumas partes são mais extensas e tenho preguiça de aqui as colocar, levar-me-ia muito tempo, requereria de mim muita atenção. 

Transcrevo algumas partes mais breves.

67) O amor por um só é uma barbaridade: porque se exerce à custa de todos os outros. O mesmo quanto ao amor por Deus

74) Um homem de génio é insuportável se, além disso, não possuir pelo menos duas outras qualidades: gratidão e asseio.

84) A mulher aprende a odiar na medida em que desaprende de encantar.

97) Como? Um grande homem? Eu apenas vejo o actor, representando a seu próprio ideal.

153) O que se faz por amor, faz-se sempre para além do bem e do mal

154) A loucura é rara nos indívíduos -- mas é a regra nos grupos, nos partidos, nos povos, nas épocas.

237) [...] Vestida de negro e calada, toda a mulher tem aspecto de -- inteligente


E agora, enquanto estava a ler o Nietzsche, pus-me a ouvir Garcia Márquez. Algumas entrevistas longas, com muita piada. Mas, para aqui, escolho um vídeo pequeno, com mesmo muito que se lhe diga.  Acresce que o Gabo é daqueles contadores de histórias de quem a gente quer sempre saber mais. (Virtudes dos vídeos, da net, de tudo -- falo como se ele estivesse vivo e, na verdade, é como se estivesse). Difíceis começos têm, por vezes, os grandes escritores. 

Como nasceu o Cem anos de solidão


Voltei a dar um banho às minhas fotografias, desta vez um banho de verde.

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A todos desejo um belo dia de domingo

segunda-feira, julho 08, 2019

Gracias a la vida:
os segredos dos que se esquecem de morrer, nas 'zonas azuis' do planeta




Acho bonito que chamem às zonas do mundo onde as pessoas vivem até mais tarde 'zonas azuis'. O azul é uma cor saudável, tranquila, a origem e o fim de tudo -- isto, claro, depois e antes do branco original e final, depois e antes do grande infinito. O azul, o vasto horizonte que se funde com o grande líquido azul que transporta e preserva a vida, dentro e fora de nós.

Não me lembro se já algma vez aqui falei disto: os locais da Terra onde há idosos a quem a idade não pesa, vivendo muitas vezes até para lá dos cem anos, mas vivendo com qualidade, felizes da vida.

A nova obra do Bordalo II - um big gato na Expo


É um fenómeno que tem atraído a atenção de jornalistas e de cientistas. E eu, que sempre convivi de perto com gente de avançada idade, interesso-me pelo assunto.

Ainda conheci uma bisavó. Eu era muito pequena e lembro-me de uma velhinha deitada num quarto da casa da minha avó. Dos outros bisas não faço ideia. Tenho uma fotografias de um casal de bisavós e julgo que eram os pais da minha avó paterna mas não garanto. Nada sei deles, não me lembro de alguma vez ter ouvido falar deles. Daquele que fugiu às dívidas de jogo e mulheres ninguém sabia nada. Durante muito tempo, se se falava nele, alguém dizia: 'Se calhar ainda está vivo' mas, que eu saiba, nunca ninguém mexeu uma palha para saber do seu paradeiro. Sabia-se que tinha ido lá para as américas do sul e pouco ou nada mais. E creio que o recíproco também foi verdadeiro. Digo creio porque é isso: mão juro que assim tenha sido.


Quanto aos meus avós, tirando um que morreu novo num acidente horrível, os outros viveram até bem tarde. E o tempo vai passando e agora já são os meus netos que vèem um velhinho na cama e o velhinho agora é o meu pai. E ainda me custa chamar velhinho ao meu pai porque o meu pai sempre foi um homem tão desportista, tão autónomo, tão 'bem conservado' e parece que ainda acho que aquele AVC foi, de facto, uma coisa acidental, que não devia mesmo ter acontecido, daquelas rasteiras que veio mudar o rumo normal das coisas, interromper o que tinha tudo para ser uma vida tranquila para ele e para a minha mãe. Tentamos todos que viva o melhor possível mas o grau de consciência dele já é uma coisa que, para nós, é cada vez mais enigmática.

Mas a minha mãe, essa, sim, poderia muito bem figurar numa destas reportagens das blue zones. Tem uma vitalidade, uma jovialidade e um aspecto que parece de mulher muito mais nova. O que ela faz, o que ele pensa, o que ela ri, transforma-a num exemplo para quem lida de perto com ela. Os netos e bisnetos adoram estar lá em casa. E não é só pelo banquete que ela sempre prepara, é mesmo pela boa onda, pela compreensão e leveza com que encara a vida (apesar da tristeza -- e prisão -- que é partilhar a vida com alguém que se vê a definhar progressivamente, sem esperança que um dia melhore).


Mas, voltando às zonas azuis, o que parece ser comum entre os muito idosos que vivem até tarde conservando a qualidade de vida é:
  • a convivência -- porque a solidão é um mal terrível, uma coisa que corrói a alma e esgota a seiva que alimenta a vida, 
  • a alimentação natural -- muitos legumes e frutos, de preferência de época, locais, e ervas aromáticas, nomeadamente o alecrim, e carne não muitas vezes por semana, para aí umas duas ou três vezes; não são vegans, são apenas minimalistas no consumo de carne. 
  • o exercício, actividade física -- porque a inactividade faz perder massa muscular, faz perter o tónus, faz amolecer a alma e a vontade de festejar a vida; vários idosos têm a sua horta que cuidam e da qual provêm alguns dos seus alimentos

Fiquei contente por saber. Agrada-me a forma simples de viver e sempre que ouço que isso faz bem ao corpo e à mente fico descansada. Saber aquilo do alecrim, então, para mim foi uma alegria. Gosto imenso de usá-lo e os meus filhos estão sempre a aborrecer-se comigo, dizem que uso e abuso, e o meu marido faz coro, arma-se em vítima como se fosse obrigado a ingerir comida envolta em arbustos do campo. Nada disso. Uso de forma moderada e quando me parece que vem a propósito.

Por exemplo, hoje para o jantar (e a contar que sobrasse para a semana) fiz um guisadinho e, ao temperar, hesitei mas resolvi não usar alecrim. Conto como fiz e parece que ficou bom e digo que 'parece' porque  apenas o meu marido o provou.
(Eu hoje, ao jantar, fiquei-me pela sopa de legumes que tinha feito pouco antes, queijo e fruta, acompanhados por dois ou três goles de Trinca-Bolotas, e que rematei, à laia de sobremesa, com um quadrado de chocolate negro comido ao mesmo tempo que dois cubos de gengibre cristalizado). 

Mas, então, a receita do meu guisadinho. Tinha comprado vitela, em bocadinhos para fazer a kind of jardineira. Num tacho coloquei azeite, uma cebolona gigante cortada aos bocados, um tomate também bigalhão igualmente aos bocados, salsa, duas folhas de louro, uma meia dúzia de dentes de alho. Pus a frigir ligeiramente para que os sabores se misturassem. A seguir, juntei os bocados de carne, um pouco de sal, pouco, e, quando hesitei a propósito do alecrim, acabei por optar por um pouco de orégãos. Estava o calor no máximo e, quando levantou fervura, baixei. Gosto de cozinhar a baixas temperaturas. pelo que os meus cozinhados nunca ficam 'repuxados'. Coloquei uma pinguinha de água, apenas para poder estar a cozinhar durante mais de uma hora sem risco de acidentes. Quando voltei à cena já a carne estava macia. Nessa altura preparei cenouras, batatas doces, mais cebola, mais tomate, mais salsa, coentros e uma novidade dos meus cozinhados: quiabos. Juntei tudo e envolvi com uma colher, levantando a temperatura até que voltasse a ferver. Depois baixei, temperatura 3 numa escala de 1 a 9. Ficou ali a cozinhar por mais uns quinze minutos. Quando desliguei, continuou sobre a placa para que apurasse um pouco mais. Estava um cheirinho mesmo bom. 

Não sei onde iam estes seres irreais
que avistei hoje quando estava a caminhar à beira rio, desta vez do lado de cá

E, por ora, é isto. Deixo-vos com um vídeo de apresentação de uma série que vai passar em França e onde Angèle Ferreux-Maeght, chef de cuisine e naturopata e Vincent Valinducq, médico e investigador, investigam o que se passa nas zonas azuis junto de gente que anda por volta dos cem no Jaão, Sardenha, Grécia e Costa Rica.

Mais informação pode ser vista em À la découverte des "zones bleues", ces villages reculés où les centenaires vivent heureux, no site de Madame le Figaro.




Já agora, a quem possa interessar, mais alguma informação sobre os Segredos de uma vida longa, agora falado ou legendado em português.


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Todas as fotografias foram feitas este domingo.

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E a todos vós desejo uma bela semana a começar já por esta segunda-feira.

Paz, saúde e amor.

terça-feira, abril 29, 2014

Ainda o 25 de Abril, as suas virtudes e algum rasto de perplexidade deixado sobretudo em quem não o viveu - a palavra, uma vez mais, aos Leitores. E, como forma de agradecimento, o Grupo Corpo dança um espectacular 'Yo te quiero siempre'. E, na despedida, um poema desse grande sedutor, Vasco Graça Moura: 'vai-se a lasciva mão', que acompanha a nudez de Kate Moss


Gracias a la vida



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Palavra puxa palavra e assim se nutre uma boa polémica.

Um dia que me saia o euromilhões hei-de ter uma casa grande sobre o rio, um big loft, só vidros e cortinas e recantos, sofás confortáveis, cadeirões ao relento, candeeiros, lareiras, pinturas e esculturas, boa comida e boa bebida, e quem quiser que se chegue e diga poesia ou cante ou dance e que todos os dias se junte um grupo de amigos ou inimigos e se desencadeie uma boa e saudável polémica.

Nada estimula mais a mente do que uma bela discussão, papo saboroso, animado, diz tu, digo eu, diz ele, e não é nada disso, ora ouçam o que eu acho, e vá, calma. Seja sobre política, seja sobre arte, seja sobre o que quisessem. Uns a defenderem o Valtinho, eu a atirar achas para a fogueira, e outros o José Luís Peixoto e o que eu gostava de ter a Ana Cristina Leonardo, polemista residente a desancar neles e, sobretudo, no Pitta, que ela vira fera quando lhe dá o cheiro a ele. Ou uns a defenderem que, para a próxima, quem devia entrevistar o Láparo era o Ó-Dr.Medina e outros dizerem que a culpa disto tudo é da falta que os lombinha-briefings estão a fazer.

E todos bem vindos. Só não haveria de querer era violência física, agressões, isso nem pensar, ou insultos rasteiros como cala-te aí ó careca badocha, ou sabes lá tu, ó sapatona, vai mas é deixar crescer a franja ou palerma de aviário arraçado de maçães, não estejas para aí armado em alemão, ó piu-piu. Isso, não. Só decência, elevação e argumentos inteligentes. Claro que havia de ter à porta uns calmeirões, tipo Marques Mendes ou Liberato, para expulsar os primeiros que pisem o risco.

Esta terça feira vou jogar, que parece que há joker e eu tinha tão bons destinos para ele.

Bem, mas vem isto a propósito de um comentário que a Leitora JV aqui deixou sobre um texto que já era uma resposta minha a um outro comentário de um Leitor anónimo, e a um mail que o P. Rufino me enviou porque gostaria de escrever um comentário ao que a JV escreveu e a prosa não lhe cabia na quadrícula castradora mente pequena dos comentários.

E, portanto, cá está. Refresquem as gargantas, apurem os sentidos, que a conversa vai começar e quem quiser que diga de sua justiça.

A palavra ao Leitor P. Rufino:


Minha cara JV,

Permita-me um comentário ao seu, que não é crítico, mas de outro tipo. Há duas formas de saber descrever acontecimentos históricos: um é conhecer a História, estudando-a (como, por exemplo, se queremos falar sobre as Guerras Napoleónicas, ou a Antiguidade Clássica, ou a guerra travada entre os Absolutistas de D.Miguel e os Constitucionalistas/Liberais de D.Pedro, etc) e a outra é tê-la vivido, ou seja, ter vivido nessa época, por ocasião desses acontecimentos históricos, como foi o caso do 25 de Abril. Que eu vivi, assim como, ao que presumo, a autora deste Blogue. Mas, que não foi o seu, por ser mais jovem. Acontece. Meus filhos também não a viveram. No seu relato, simples e sem complexos, notam-se, todavia, algumas imprecisões sobre a verdade dos factos. Devo dizer-lhe que você está muitos furos acima dos meus jovens familiares, sobrinhos, filhos e primos, que seriam incapaz de semelhante relato, visto pouco ou nada se interessarem e quererem saber do 25 de Abril, como outro dia aqui referi. Quanto às imprecisões, convém não confundir a nuvem por Juno, como fazem alguns, por exemplo, quando dão excessiva relevância a situações que não constituiram a razão de fundo para o desencadear do 25 de Abril pelos militares, como seja a supostas rivalidade entre oficiais do Quadro e milicianos (que não eram requisitados, mas chamados a cumprir o serviço militar, obrigatório). O 25 de Abril não se deve a motivos profissionais de militares do Quadro (ou de carreira, como diz). Assentou noutras razões muito mais profundas, como, entre outras, a vontade dos militares, que faziam eco de uma boa parte da sociedade civil, em querer, de facto, acabar com a Ditadura, em querer um regime Democrático (com tudo o que isso implicaria), em querer o fim da Guerra Colonial, que eles sabiam que não seria ganha, nem política, nem militarmente, dadas as circunstâncias de isolamento político internacional em que Portugal então se encontrava, etc. E não foi um Golpe de Estado em sentido típico, ou seja, como nos ensinam os livros de Ciência Política. Na medida em que, desde o início, os militares de Abril tenham estado em contacto directo com as populações, contando com o seu espontâneo apoio e tendo posteriormente entregue o poder ao povo através de uma Assembleia Constituinte, não pode, jamais, ser considerado um Golpe de Estado (pasmo como pessoas que deveriam ter consciência disto, como Maria Filomena Mónica, fazem estas confusões!). Golpe de Estado foi o que Pinochet fez no Chile, em Setembro de 1993, ao derrubar um governo eleito democraticamente e instituir uma Ditadura (sangrenta). Os militares de Abril, pelo contrário, derrubaram uma Ditadura de 40 anos para devolver ao povo uma Democracia. Sejamos claros. Quanto aos presos políticos, foram muitos, inúmeros, ao longo do período da Ditadura. Todo o que contestava abertamente a Ditadura sofria a prisão, ou o degredo. Ou perdia o emprego (no Estado, etc). Intelectuais, trabalhadores, democratas, socialistas, comunistas, etc, encheram as prisões políticas da Ditadura. Eram presos políticos porque punham em causa, de uma forma ou outra, essa Ditadura. Que nunca se desvalorize isto. Por mim, conheci um ou outro caso, infelizmente. Houve excessos? Concerteza. Como em todo este tipo de situações. Aqui há tempos referi isso mesmo num episódio que nos sucedeu na família e ninguém ficou por isso traumatizado. Para terminar, os militares de Abril, ao derrubarem a Ditadura, permitiram que o País desse um salto qualitativamente enorme no Ensino, na Saúde, no Desenvolvimento, na Cultura, na distribuição de recursos e riqueza, do ponto de vista Social, no fim do isolamento do Interior, na Alfabetização, até mesmo na diferença que havia entre a Cidade e a Província (ainda me lembro-me bem como eram as aldeias do interior e o atraso das suas gentes antes do 25 de Abril). Isto tudo estava, de algum modo, inscrito no Programa do MFA, como um dos seus objectivos. Foi o programa possível. Daí para a frente foi o que sabemos. Elegeu-se uma Assembleia Constituinte, tivemos uma nova Constituição, democrática, seguindo-se, até aos dias de hoje, governos, parlamentos e Presidentes eleitos democraticamente. Só por tudo isto e é já imenso (!) estarei, para sempre, grato aos militares de Abril. Recordo-me ainda de um dia, em viagem de férias na Holanda (jovem estudante), pouco antes de 1974, ao mostrar o meu passaporte num pequeno hotel onde me instalei e ali ouvir: “Portugal, país fascista, hem?”. Serve isto para exemplificar que, para além daquilo que atrás mencionei, os militares de Abril deixaram-nos outra coisa – excepcional: a Dignidade de um povo. Devolveram a um povo cuja Ditadura desprezava (ou não fosse uma Ditadura, retirando-nos Direitos que só uma Democracia assegura), essa mesma Dignidade, que a Ditadura manchava há 40 anos!

Minha cara JV, não considere este arrazoado uma qualquer lição. De forma nenhuma, apenas um pequeno aditamento ao que referiu. Deixo-lhe um sincero abraço cordial!



E este foi o comentário da Leitora JV:


Olá, UJM,


Também me faz confusão ouvir pessoas dizer que antes do 25 de abril estávamos melhor do que agora e que com o Salazar é que isto funcionava bem. O 25 de abril pôs termo a um regime ditatorial que mantinha o país numa bolha isolada do resto do mundo, um país subdesenvolvido, com gente triste e feia. É claro que em 1970, o país era mais desenvolvido do que em 1926: os meus avós têm 80 anos e posso garantir-lhe que a qualidade de vida deles foi sempre em crescendo. A minha mãe foi a 3ª e última filha e a única não só a ir para a faculdade, mas a estudar para lá do 4º ano. Só que isso é pouco. Muito pouco.

O 25 de abril foi uma coisa boa, disso não se pode ter dúvidas. E parece-me normal o PREC, as nacionalizações, o que se passou antes do 25 de novembro: vivíamos um período transitório, com diferentes fações a querer tomar o poder, é normal que um período desses traga dissabores a algumas pessoas. O meu pai, que se lembra bem do medo que a família dele teve de se calhar não conseguir passar a fronteira para Espanha em 75 e chegou a pertencer às juventudes nacionalistas do regime franquista (embora cedo se tenha libertado de vários condicionamentos educacionais, desde os extremismos de direita à religião), dizia no outro dia que em casa dele parecia que a Revolução Francesa ainda era algo que tinha acontecido há pouco tempo, como se tivesse sido há 20 anos e não há 150, e que se gostava era dos ingleses por serem contra ela. De facto, antes do 25 de abril vivíamos ainda no Antigo Regime.

Agora outra coisa é dizer que o 25 de abril foi uma revolução popular, do povo. Não foi. Foi a tomada do poder por maia dúzia de capitães que estavam zangados porque, como havia falta de militares para enviar para a guerra, se promoviam a oficiais pessoas requisitadas civilmente, com uma formação de um ano, e não de 3 anos como os militares de carreira, aos quais eram, desta forma, equiparados. Não sou eu que sou cética; diz isto o Mário Tomé e dizia um militar no outro dia no programa "A 5ª essência" da antena 2. O 25 de abril deve-se a motivos profissionais dos militares de carreira.
É claro que, no meio dos militares, havia algumas ideologias, uns tipos radicais, comunistas, e antes do 25 de abril já se tinha pensado no golpe como forma de mudar de regime: basta ler o programa do MFA. Mas a razão principal é a que disse antes.
Se tivessem sido os estudantes, dos quais falou, a despoletar uma revolução, ou os comunistas, ou os liberais... mas não foram.
E digo-lhe mais: os exilados, os que pertenciam a células comunistas, os poetas... eram "meia dúzia de líricos", já dizia Zé Mário Branco - homem insuspeito (quem nunca ouviu o FMI, deve mesmo ir ouvir!). Esses milhares de presos políticos de que falou, na sua grande maioria, não eram "verdadeiros" presos políticos: eram pessoas comuns, sem qualquer tipo de relação com movimentos anti-regime, que eram presas por "motivos políticos", tal como se caçavam "bruxas" durante a Inquisição.

Boa semana,
JV
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Dá gosto ouvir gente interessante, com ideias, com garra. Aprende-se, fica-se a pensar, apetece responder, acrescentar uma observação. Dá vontade de agora servir uns scones quentinhos, um doce de frutos vermelhos, um chá, ou uma bebida fresca e uns pastelinhos de qualquer coisa, ou, vá lá, até umas amêndoas salgadas torradas, qualquer petite chose. Tudo isto para reter a clientela, para que se deixem estar por aqui a discutir e a manter viva a chama da polémica.

Não podendo fazer isso e como forma de agradecimento, vou chamar os bailarinos. Espero que se sintam bem aqui nesta vossa casa e, se quiserem, saltem para a pista de dança e juntem-se a nós.


Yo te quiero siempre - Ernesto Lecuona, numa espectacular interpretação do Grupo Corpo






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vai-se a lasciva mão devagarinho
no biquinho do peito modelando
como nuns versos conhecidos quando
uma mulher a meio do caminho
 
era de vento e nuvens, sombras, vinho,
e sonoras risadas como um bando.
os dedos lestos vão desenredando
roupa,cabelos, fitas, desalinho.

a noite desce e a nudez define-a
por contrastes de luz e de negrume
ponto por ponto, alínea por alínea.

memória e amor e música e ciúme
transformados nos cachos da glicínia,
macerando no verão sombra e perfume.   





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A música no começo era Gracias a la vida interpretado por Joan Baez & Mercedes Sosa Gracias

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A mulher quase desnuda da fotografia é Kate Moss em homenagem a Vasco Graça Moura, esse sedutor, que tão bem cantou a nudez feminina.


O poema é 'vai-se a lasciva mão' da série Sonetos Familiares in Poesia Reunida de Vasco Graça Moura.


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E, por agora, por aqui me fico. Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela terça feira. 

E é viver a vida enquanto se pode, é o que vos digo.