Mostrar mensagens com a etiqueta viagens. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta viagens. Mostrar todas as mensagens

sábado, setembro 13, 2025

‘Uma escapadela secreta onde o verão perdura’: as viagens favoritas dos leitores do Guardian, em setembro, na Europa

 

Ao ver o título da notícia do Guardian (acima, no título), patriota como sou, fui logo ver se aparecia algum destino português. E sim, aparece. Fiquei contente. Mas fiquei admirada. Évora é uma cidade linda (e onde se come bem) mas, ainda assim, estava à espera de um lugar mais pitoresco ou mais desconhecido ou com uma oferta mais diversificada. No entanto, reconheço, é disparate meu, na volta até demonstro algum provincianismo ou alguma miopia.

O Alentejo banha-se em luz dourada até finais de Setembro e Outubro. A região estende-se desde florestas de sobreiros a praias selvagens do Atlântico, com temperaturas diurnas ainda a rondar os 20°C. Na cidade caiada de Évora, ruínas romanas e praças tranquilas convidam a um passeio tranquilo. Mais a oeste, a costa perto de Vila Nova de Milfontes oferece ondas quentes e areias quase desertas. O Alentejo é lânguido e soalheiro, um refúgio secreto onde o verão se prolonga e o tempo parece parar.
Autor do texto: Matthew Healy.
Autor da fotografia:  Praça do Giraldo, Évora. Fotógrafo: Philip Scalia/Alamy

Numa altura em que alguns dos meus amigos andam no laré por locais longínquos e enviam fotografias maravilhosas, eu sinto-me cada vez melhor no nosso país, e, em particular, em casa, seja na da cidade, por acaso perto do mar, seja na do campo, no meio do nada, rodeada de serras e de silêncio. 

No outro dia o meu marido estava a sugerir uma viagem e eu, que antes estava sempre numa de ir e que adorava planear, escolher hotéis, ir à aventura, agora penso sobretudo na maçada de fazer malas, na falta de conforto que representa a ausência dos nossos sítios tão bons, ou penso no déjà vu que já tudo me parece, quase como se já nada é verdadeiramente novidade. E quando, no meio deste comodismo, abro uma excepção e penso em ir visitar algum lugar, o que me ocorre é sair de manhã, irmos de carro, levarmos o nosso querido cãobeludo mais fofo, e regressarmos ao fim do dia. Quem me viu e quem me vê.

Mas depois, quando tento situar, no tempo, o momento em que comecei a desinteressar-me por ir viajar, localizo facilmente. Primeiro foi o meu sogro com uma doença grave que nos enchia de preocupação, que ia fazer tratamentos, que era preciso acompanhar, visitar, que nos fazia ter receio de nos ausentarmos. Depois, durante esse mesmo período, foi a minha sogra, também muito mal, internada durante bastante tempo, depois em casa, acamada, a precisar de cuidados permanentes. O que esse período nos trouxe a nível emocional e logístico não tem explicação. A seguir, durante esse mesmo período, foi o tremendo avc do meu pai. Aí a nossa vida complicou-se severamente. Eu e o meu marido cheios de trabalho, com responsabilidades que não podiam ser compatibilizadas com a ocupação que nos era requerida, e as preocupações a sucederem-se, umas atrás de outras. As férias passaram a ser apenas no país e fora de casa não mais que uma semana de seguida. E, ainda assim, íamos sempre com o credo na boca. Entretanto, morreu o meu sogro, algum tempo depois a minha sogra. Depois veio a covid, o confinamento, a morte do meu pai, e, quando já apenas sobrevivia a minha mãe, vieram os horríveis problemas com ela, que me iam levando a uma tremenda depressão tal a situação complexa que ela atravessou. Impossível afastar-me. Já lá vai um ano e picos que se foi, já poderia ter recuperado os meus velhos hábitos de nos pormos na alheta, de irmos passear e descobrir outras terras. Talvez um dia. Mas não sei.

Em retrospectiva, lembro-me de quando trabalhava, saindo de manhã e regressando ao fim do dia, os fins de semana sempre tão cheios de visitas e de mil compromissos, sempre sem tempo para usufruir tranquilamente da nossa casa. Agora consigo fazê-lo. Olho para as árvores, sento-me a ouvir os pássaros, rego, ocupo-me da casa, o meu marido ocupa-se com o jardim, lemos, cozinhamos, caminhamos. Tempos muito tranquilos. 


_______________________________________________________

Desejo-vos um bom sábado

terça-feira, abril 09, 2024

Basco à francesa

 

Maison Adam


Não fui visitar o Chillida Leku. Também não visitei nem conheço o Parque Garaio ao lado de Argomaniz.

O passeio obedeceu ao requisito de não transbordar das férias escolares e de conter motivos de interesse que fossem apelativos para os miúdos, na verdade já adolescentes ou a caminho disso. 

Por essa razão, por exemplo, incluiu uma visita guiada a um estádio de futebol... E fomos ao Parque de Atracciones Monte Igueldo... Até eu andei no barquinho que se desloca (... naturalmente sobre a água) numa espécie de ribeirinho que dá a volta, com uma vista extraordinária a toda a volta.

Mas, ao ir agora pesquisar para tentar perceber de que tipo de museu se trata e como é o parque, imediatamente fiquei com vontade de lá voltar para ver o que ainda não vi. 

Quanto a La Concha, estivemos na praia, sim, claro, e em fato de banho e a apanhar banhos de sol pois estava mesmo bastante calor. E molhei os pés, claro. E não passou dos pés pois a água estava fria.

E, tal como ontem referi, fomos também à parte francesa do País Basco. Saint Jean de Luz, Biarritz, Bayonne. Já conhecíamos e identicamente tínhamos ficado com vontade de voltar.

Saint-Jean-de-Luz é uma pequena vila, bonita e tranquila, mimosa, em que a qualidade de vida deve ser inquestionável.

Se Biarritz tem aquela patine que exala burguesia e uma beleza natural que apetece ver e fotografar, já Bayonne tem a vibração alegre de um povo que vive a rua, que se junta, que conversa alto e que canta nos cafés e nas ruas. Apetece estar.

Se fosse mais perto, para o mês que vem estava outra vez lá caída. 

Mostro algumas fotografias que não sei se fazem justiça à alegria destas terras. Tomara que sim.




















_________________________________________________

Desejo-vos uma boa terça-feira

Saúde. Boa disposição. Paz.

segunda-feira, abril 08, 2024

Donostia

 


De todas as vezes que estive no País Basco sinto-me encantada e com vontade de regressar com mais tempo. Tenho ideia que este enamoramento vem do tempo em que lia os livros da Menina Aguaceiro da Berthe Bernage e em que pelo menos uma da história se passa lá. Não sei se os avós dela eram bascos e ela ia lá visitá-los pelas férias ou se sonhei. Já tentei pesquisar na net para ver se confirmo a minha ideia mas não encontro. Acho que esses livros estão in heaven. Tenho que ver se os descubro e se encontro alguns passados entre os bascos. 

Para mim é como se fosse uma terra de magias, de segredos. É um lugar de grande beleza natural, em que as pessoas mostram ser muito felizes, em que o convívio parece permanente, onde todos se mostram sorridentes e conversadores. E onde se vêem mais crianças na rua. É impressionante como há parques infantis nos locais de passeio e como estão sempre cheios de chilreios felizes e ruidosos. A demografia em Donostia deve ser motivo de tranquilidade para quem gere os sistemas de segurança social e, para as restantes zonas em que a população envelhecida prevalece, deveria ser inspiradora.

Portugal deveria tomar Donostia como um case study e analisar o que leva a população a reproduzir-se tão abundantemente.

Ao fim do dia, as ruas enchem-se ainda mais e há miudagem e adolescentes como não vejo em qualquer outra cidade.

[Abro um parêntesis para um aspecto que, aqui no texto, vai parecer a despropósito mas que é um tema que trago latente em mim. 

Durante muitos anos sentia receio em afastar-me de casa pois parecia antever que, mal chegasse ao meu destino, iria ter que regressar para acudir a alguma crise do meu pai e, depois, da minha mãe. Aliás, mal eu estava a pensar afastar-me um pouco, eu sentia que a minha mãe ficava ansiosa, com receio que houvesse alguma e que ela não me tivesse por perto para encaminhar ou resolver o que aparecesse.

Por isso, aos poucos fui-me adaptando a, no máximo, ir fazer uma semana ao Algarve ou uma semana ou dias avulsos a locais próximos, em que, se necessário fosse, ao fim de duas ou três horas estaria cá.

Agora já não existe essa condicionante. Contudo, quando o nosso cérebro se enleia em preocupações e cuidados, é difícil, num curto prazo, vermo-nos livres deles. Por isso, cá no fundo de mim há sempre uma pequena ansiedade latente como se, a qualquer hora, alguma coisa fosse surgir que me atalhe as férias. 

Mas isto já vem de antes. Ainda antes dos meus pais eram os meus sogros. Ainda me lembro de estar em Lagos e o meu sogro estar a ligar para o meu marido a querer que ele fosse com ele ao médico e ele a fazer uma ginástica, a dizer que ia na segunda-feira seguinte e o meu sogro a querer que ele fosse no dia seguinte. Eu ouvia aqueles telefonemas sempre no receio de ter que fazer as malas e regressar. 

Claro que a nossa mente fica formatada... 

Mas sei que, aos poucos, isto me há-de ir passando.

Mas ocorre-me também, frequentemente, que está na hora de ligar à minha mãe ou que não posso atrasar-me senão faz-se tarde para ligar. Claro que logo penso que é pensamento desfasado mas, nessa altura, parece que sinto a falta de ter a quem contar os meus passeios, o que os meninos fizeram, as notas que tiveram, como são as lojas ou os preços. Não digo nada. Falar nestas coisas causa apreensão nos outros, acham que alguma coisa não está bem connosco. Também, falar para quê? Mais vale encarar com naturalidade e seguir adiante.

Há cerca de um mês, quando fui a uma consulta de rotina, queixei-me ao médico que parece que ando com o sono alterado. Ele disse que isso era normal nos processos de luto. Nessa altura, contrariei-o: 'Acho que não deve ser isso, já passou um mês...' Ele riu-se e disse: 'Um mês nestes processos de luto não é nada. É normal durar meses.' Agora já passaram dois meses e meio. De facto, foi há pouco tempo. E estou bem melhor.]

Andar em locais de grande beleza, com a família, em ambiente boa onda, faz-me bem. Nenhum lugar poderia ser mais adequado a esta lavagem de alma do que o País Basco.

Por muitas vezes que esteja em Donostia, por mil vezes me sentirei encantada. Tudo tão bonito, tudo tão feliz.

Depois há o lado francês, Saint-Jean-de-Luz, Biarritz, Bayonne. Mas amanhã as mostrarei.

___________________________________________________

Desejo-vos uma boa semana a começar já nesta segunda-feira

Saúde. Alegria. Paz.

quarta-feira, abril 03, 2024

E que tal se portou o Rangel na tomada de posse, agora que o puseram em ministro?
(A bem dizer é a única coisa sore a qual tenho verdadeira curiosidade)

 


Sei que o Montenegro tomou posse mas não acompanhei. Também não tive curiosidade de repescar. A única coisa que tenho pena de não ter visto é a carinha do Rangel. Ainda assim não é pena que me leve a ir pesquisar.

Quanto ao Marcelo também já desaderi. Depois de tudo o que ele fez, comecei por descurtir e acabei nisto: desaderida. Já não consigo levar a sério ou sequer dar o benefício da dúvida e, note-se, culpa dele que se deu ao luxo de queimar, um a um, todos os cartuxos que eu -- e creio que a maioria dos portugueses -- esperavam que ele cuidasse para usar criteriosa e responsavelmente quando necessário. Afinal, pelo mero gosto de se ver sempre na crista da onda do foguetório, dinamitou tudo. E reincidentemente.

Comigo já não conta. Já sei demais para o seu (seu, dele) peditório. Não é que isso lhe interesse mas aqui fica dito. 

Portanto, o que ele disse ou deixou de dizer ao menino que levou ao colo até torná-lo primeiro-ministro a mim não me interessa.

Gostava que o Governo fizesse coisas boas e capazes, com propósito, inteligentes, com visão e a bem de Portugal (e, tenho que repetir, a bem também dos Portugueses). Tenho algumas dúvidas dados os little craniozinhos de alguns dos artistas de que se rodeou. Mas, para já, como antes aqui o disse, a bem da Nação, umas vezes sim, outras vezes não, cá estarei para me pronunciar.

De resto, embora o tempo não tenha estado famoso, a beleza do lugar que aqui vos trago faz com que tudo o resto sejam irrelevantes alcagoitas.

Agora estou um pouco fatigada pelo que não me alongo. Até porque estou out das novidades. 

Quando, no telemóvel, acciono o google aparecem-me notícias que me levam a crer que o algoritmo acha que sou débil mental. E não digo que, de alguma forma, não seja. Em vez de vir para aqui falar de cenas, ponho-me para a desfiar contracenas ou lá o que é. Se calhar por isso, o dito algoritmo acha que deve informar-me que alguém prevê, à base de astros, que a Cristina Ferreira ainda pode casar-se e voltar a ser mãe. Vá lá que é isto e não que vai voltar a fazer a primeira-comunhão ou que se vai armar em princesinha da Disney com o Goucha a levá-la ao colo, todo cheio de epifanias e outras alegorias. Já não digo nada. Ou isso, ou que a Inês Aires Pereira já mora numa casa nova e tem um amigo especial. Claro que o tipo (o tipo, leia-se 'o algoritmo') deveria perceber que isso não é exactamente a minha praia mas, na volta, fui eu que num dia de alucinação carreguei numa qualquer cruz escondida ou que, em vez de desaderir, como fiz com o Marcelo, ainda ali mantenho tal literatura.

Agora, para ver se me informava sobre temas que me parecem interessantes, estive a ler um artigo. Mas não é tema para aqui, iam logo dizer que estou mas é depré - sem quererem perceber que gosto de me inteirar dos avanços da ciência. Paciência, curto os meus estudos à socapa. Portanto, segue o baile. 

E se, entretanto, o Sarmento -- que deveria ser o mauzão da fita e o fiel da balança --, mostrar que eu tive razão ao notar que falta ali aquele je ne sais quoi sem o qual o menino vai patinar à força toda ou que o artista das privatizações mal feitas está outra vez armado em bom a fazer porcaria, só vos peço que me avisem, ok?

E agora mostro alguns postalitos ilustrados que fiz hoje para, sobre eles, vos escrever esta simples cartinha.


_________________________________________________

Uma boa quarta-feira

Saúde. Boa disposição. Paz.

segunda-feira, outubro 09, 2023

Viajar. Ler. Estar.

 


Tenho uma amiga a passear em Itália, outro anda pela Grécia, outra está na Turquia. Outras duas, separadamente, vieram há pouco dos Açores e uma pessoa da minha família próxima chegou hoje de uns dias de férias em Paris. Outro anda em Trás-os-Montes e outra, que vive fora e cá veio de férias, sei que anda por aí, por 'este nosso belo país', mas neste momento não sei por onde. 

E eu, que tanto gostava de passear e que tanto passeei, parece que me fui desabituando disso ao longo dos anos em que, por o meu pai estar mal e sempre naquele limbo em que qualquer coisa de pior poderia acontecer a cada momento, ganhei receio a afastar-me não fosse dar-se o caso de não estar por perto em caso de emergência.

Além disso, agora não há o permanente estado de quase alarme em que vivia na altura do progressivo declínio do meu pai, mas há a minha mãe que, com os seus noventa anos e a sua tendência para a ansiedade quando algum sintoma se anuncia (mesmo que ao de leve), faz com que também não me sinta confiante em afastar-me.

Como entretanto mudei de casa e adoro aqui estar, nesta minha tranquila casa que tem um jardim tão romântico e sereno, já para não falar naquele lugar tão especial a que aqui chamo heaven, e porque, por ter deixado de trabalhar, tenho agora tempo para os desfrutar, parece que deixei de sentir o apelo por me pôr a caminho.

Com tudo o que já visitei, com todas as viagens cá e lá fora que já fiz, com as fotografias que toda a gente envia de todo o lado, com os sites, com os documentários, os vídeos e tudo o mais que por aí há, parece que tenho a sensação de que já não me surpreenderei muito com o que tenho por ver, se lá estiver, ou seja, in loco

Sobretudo, sabe-me muito bem estar. Permanecer. Desfrutar. Não ter que fazer malas, estar a ir e vir. E o meu marido está na mesma. Adora o sossego. Adora poder ler ou ver televisão ou passear com o cão ou o que lhe apetecer, sem a preocupação de ter que se despachar para ir fazer outra coisa qualquer.

Talvez daqui por algum tempo, me dê uma daquelas travadinhas que me leva a querer mudar de vida e não descanse enquanto não me puser a caminho. Mas, por enquanto, sinto uma grande felicidade em estar sossegada, poder acordar tarde, caminhar por aqui perto ou ir até à praia, jardinar, regar, lavar, varrer, cozinhar, etc., ler, escrever até às tantas, ter a família reunida ao fim de semana (ou nos dias feriados), comunicar-me com amigos, por vezes estar com eles. 

Sobre livros, a minha filha queixa-se que parece que não encontra agora livros que a encantem. Frequentemente deixa-os a meio, sem paciência para esforços que sabe de antemão que não vão compensar. Eu, desde há algum tempo, também estou assim. Mesmo muitos daqueles livros altamente propagandeados ou ditos clássicos agora me parecem básicos, sem substância ou arte. Disse-me ela que, do que tinha lido ultimamente, só um lhe tinha parecido digno de realce, 'As primas' de Aurora Venturini. Por isso, comecei hoje a lê-lo. E é verdade, ela tem razão: só não foi de penalti porque se meteram outras coisas. Mas amanhã com certeza que vai. Depois digo porquê.

Ela estava a ler e acabou-o cá, hoje à tarde, 'O quarto do bebé'. Eu já o espreitei e também me pareceu demasiado plain mas ela diz que se lê bem, que não é nenhuma obra literária, que, por ser de quem é, também estava à espera de outra coisa, que é um diário e que se percebe que é autobiográfico e que, por isso, à parte os bocados em que Anabela Mota Ribeiro descreve sonhos e outras partes mais nhec-nhec, se deixa ler sem sacrifício.

Não sei se é como nas viagens. A gente já leu tanto de tudo que, às tantas, já tudo parece simplório ou dispensável.

Por acaso o meu filho no outro dia disse que estava a ler um livro e que era talvez dos melhores livros que já tinha lido. Sabendo-o também exigente, fiquei curiosa. Mas era um nome algo estranho, não fixei. Não posso esquecer-me de lhe perguntar. Só que receio que seja um daqueles livros gigantes que ele lê com facilidade mas que a mim já me custam. Parece que agora também já tendo a sentir um certo sentimento de rejeição em relação a livros muito grandes, com mais de trezentas ou quatrocentas páginas.

Enfim, cenas.

Tirando isso, é pena que o mundo não se amanse, que as pessoas não ganhem tino. O próprio planeta devia arranjar maneira de espalhar pelos ares uns pozinhos de perlimpimpim que deixassem as pessoas todas numa de peace and love.

______________________________________________________________

A fotografia é da autoria de Matt Coughlin e Eva Cassidy interpreta Autumn Leaves

____________________________________________________

Desejo-vos uma boa semana a começar já nesta segunda-feira

Saúde. Amor. Paz.

sexta-feira, março 10, 2023

Depois de um ínfimo e muito cansativo passeio, entretenho-me a ver lugares extraordinários sem ter que sair da gruta em que estou a hibernar

 


Tenho, pois, estado nesta fase de hibernação. Eu sei que há uns abençoados a quem o corona deu de mansinho. A mim, pancada forte, com febre, dores e congestionamento foi coisa de curta duração. Mas o cansaço e o sono têm sido dose. E o que prova que isto tem a ver com a raça do corona e não com a vítima é que, apesar de o meu marido ser muito diferente de mim a todos os níveis, eu e ele temos os mesmos sintomas, sem tirar nem pôr. O cansaço e a falta de olfacto e de sabor são iguais.

Hoje calhou ele ter um assunto a tratar no Boulevard de Alvalade. Como também havia um assunto a tratar num banco e porque já estou que nem posso só de pensar que estou hibernada há dias, resolvi ir com ele. 

Pensei que, se ele se demorasse e eu não aguentasse, iria para o carro, ficaria lá à espera.

Quando me vi ao espelho no carro achei-me estranhamente branca. O meu marido também me estranhou, tão branca e olheirenta. Como ele é muito moreno, nunca está branco e olheirento. Eu estou com aspecto de desenterrada.

Bom. Ele lá foi à sua vida.

Ao ver-me sozinha na rua, senti-me meio zonza, o ar muito branco, parado. E eu a levitar. A pairar. 

Vi um supermercado e resolvi ir comprar bananas. Consumimos duas por dia (uma cada um) pelo que dava jeito reaprovisionar. Quando me vi na rua com um saco de plástico transparente com quilo e pouco de bananas não apenas achei que era pouco estético andar a laurear com um saco de bananas na mão como senti que me cansavam.

Voltei atrás, ao carro, para as depositar. Cheguei lá já cansada. Avaliei se teria energia para voltar ao passeio. Resolvi que sim. Devagar, devagarinho.

Entretanto, comecei a sentir-me com sede. À medida que andava  mais cansada e mais sedenta me sentia. Comecei a ver como resolver. Pensei que se fosse comprar uma garrafa de água se calhar depois ficava cansada por transportá-la.

Resolvi entrar antes numa livraria e comprar dois livros de poesia que tinha em atraso.

Em situações normais, deslizaria pelas estantes, tentada por dúzias de livros. Hoje não. Peguei nos dois pequenos livros, paguei-os e saí, cansada e desidratada. 

Depois vi uma loja de roupa e, na montra, uma blusinha clara em tons róseos e rebuçados. Resolvi entrar. Mas estava com calor, sem energia, abúlica. Pensei que nem pensar em prová-la. Queria era sentar-me e beber um litro de água.

Felizmente ligou-me o meu marido e senti-me como se estivesse a ser salva. Lá regressei ao carro.

Viemos para casa, cansados, cheios de sono. Os dois.

Quando chegámos, nem me mexi. O meu marido entrou em casa para buscar o urso felpudo.

E lá me convenci a fazer um esforço adicional. Fomos os dois dar um pequeno passeio higiénico com o fofo dog de guarda. Coisa pouca, em câmara lenta.

Claro que, antes, tínhamos parado na Frutalmeidas para trazer os incontornáveis pastéis de massa tenra.

Em casa fizemos uma salada e comemo-la com pastéis. Mas estávamos de tal maneira que apenas comemos um, cada um.

E já mal abríamos os olhos. Cansados, perdidos de sono. Uma coisa inexplicável. Não é falta de fôlego, não é falta de ar. É apenas falta de energia. Total falta de energia. 

Há bocado estava aqui a querer ler uma coisa. E outra vez só a deixar-me dormir. É de loucos. 

Resolvi, então, virar-me para o YouTube. O mesmo castigo. Dou por mim de olhos fechados. 

Pareço eu que fiz uma maratona e, portanto, que tenho razão para estar nisto. Mas qual quê...? Qual maratona? Isto deve é ser alguma variante do corona que nos come as pilhas todas. Só pode.

Não conseguindo, pois, fazer passeios por mim, passeio antes por aqui. Lugares fantásticos. A arte e a técnica humanas podem ser quase mágicas. No meio, um lugar português, a incrível Casa do Penedo. A boa arquitectura, mesmo quando popular, mesmo quando ancestral, e, em especial quando é ousada e desafiadora, é do melhor que há. 

Bom passeio!


__________________________________________________________________

Fotografias macro de flores, daqui
Khatia Buniatishvili interpreta, de Rachmaninov, Variation 18 de "Rhapsody on a Theme of Paganini"
_____________________________________________

Uma boa sexta-feira
Saúde. Energia. Paz.

terça-feira, janeiro 31, 2023

Com as minhas limitações... claro que tenho que estar numa mais contemplativa

 

Continuo presa à minha maleita e, escrevendo isto, constato que uma desconcertante e escusada transformação está a operar-se em mim. Antes sofria em silêncio, disfarçava, escrevia sobre o que calhasse mas nunca sobre o que me apoquentasse, fosse doença minha ou alheia, preocupação profissional ou outra e, mesmo, perda. Só falava, e era se falasse, quando tinha passado e o desfecho estava bem assimilado.

E agora estou nisto, a relatar dores e maleitas em tempo real. Talvez seja uma fase e espero bem que seja passageira pois falar das minhas agruras não faz o meu género.

E isto para dizer que dormi pessimamente, sem posição, com dores. Por isso, passei o dia reclinada e a perna elevada, sobre almofadas. E certifiquei-me que tomava mesmo o anti-inflamatório. E, de quando em quando, gelo. 

[E agora, ao ler o comentário do Corvo, já fiquei na dúvida. Acho que o gelo não está a fazer-me bem. Aliás, quando o ponho, ficou com dores bem insuportáveis. Se calhar, amanhã vou reconsiderar].

Mas não sinto que esteja a ficar famosa. Não consigo assentar o pé no chão, não consigo dobrar a perna, tenho dores e o joelho está deveras inchado.  Estive prestes a chamar o meu marido para me calçar a meia daquele lado. Não chamei mas fiz uma ginástica que só vista e que me encheu de dores. Mas foi ele que fez o jantar (e ficou óptimo). Detesto dar trabalho mas a verdade é que estou incapacitada. Tenho esperança que amanhã comece a melhorar.

Aproveitei para ler. Do sofá, deslizei até ao parapeito e peguei no livro em que a Sharon Stone fala da sua vida, incluindo do AVC que a ia matando e da reviravolta que a sua vida sofreu depois disso. Papei-o todo.

Quem anda deveras intrigado com o meu estado, em especial com a minha quase inexistente locomoção, de canadianas e a arrastar uma perna que não consegue endireitar-se, é o ursinho felpudo. Olha de alto a baixo e, quando vê que estou  observá-lo ou quando lhe digo: 'não percebes o que se passa com a dona, não é?', desvia o olhar, põe-se a olhar para outro lado. 

Há bocado queria levantar-me do sofá e não conseguia. Fiz diversas tentativas mas não conseguia. Frustrada, chamei o meu marido mas estava lá para dentro, não ouviu. Então disse ao meu cão de guarda, que me olhava com ar preocupado a tentar equilibrar-me e sem força para o fazer com esta perna inchada e dolorosa, 'vai chamar o dono, está bem?'. E ele, acto contínuo, foi e chegou à porta da divisão em que ele estava e deu um sonoro latido. Não foi ladrar, foi mesmo chamar. Fiquei espantada e comovida. Meu amiguinho.

Tirando isso, vi a entrevista do Costa mas, confesso, um bocado desatenta. Como quase não consegui dormir de noite, passei o dia a querer dormitar. Detesto estar assim, caraças.

Há bocado, dei uma circulada pelas notícias e nada me interessou a ponto de aqui querer comentar. A única coisa que me interessou foi ver esta casa maravilhosa aqui abaixo no meio da mais maravilhosa natureza. Mais do que a(s) casa(s) de uma família, é também uma bela pousada. O vídeo é muito bonito.

Qualidade de vida: A decisão de se mudar da cidade para o sítio da família 

| Lar: Vida Interior

Vanda Ferraz teve a decisão que muitas pessoas sonham a vida inteira: sair do centro urbano e viver mais perto da natureza. O sítio de Petrópolis, no Rio de Janeiro, foi o refugio para que esse sonho se realizasse! Para poder viver de forma mais tranquila e ainda conseguir obter uma renda, o sítio também virou pousada! 


E para quem como eu anda mais por casa e não viajando, um vídeo que mostra lugares extraordinários. Começa logo com a nossa Madeira. E que imagens fabulosas ele nos mostra.

Top 10 lugares para visitar em 2023 

_______________________________________________________________________

Fotografei as florzinhas com o telemóvel por dentro das janelas. Na primeira até dá para ver a cortina do quarto reflectida no vidro.

__________________________________________

Um dia bom
Saúde. Rápidas melhoras a quem delas precisa. Paz.

domingo, julho 31, 2022

O que é que as pessoas insanamente ricas compram e de que as pessoas pobres não têm nem ideia?

 



O título promete mas quando percorri o conteúdo do artigo What Do Insanely Rich People Buy That Poor People Have No Idea About? fiquei um bocado decepcionada. Estava à espera de coisas mais bombásticas. Ali ou vejo quase banalidades ou vejo estereótipos.

Conheço algumas pessoas muito ricas e algumas das coisas que elas compram ou o estilo de vida que seguem não estão ali plasmadas.

Um, por exemplo, tem como residência habitual uma moradia numa das zonas com mais cachet da Grande Lisboa mas, para férias e alguns fins de semana, tem uma casa quase normal numa aldeia na zona da Costa Vicentina. Quem o veja de calções, tshirt puída, chinelos nos pés, a vir do pequeno mercado local de saco na mão, preparado para ir assar peixe no jardim, nem sonha que o seu nome consta da lista dos mais ricos do país. 

Um outro, e já aqui falei dele, tem um grande herdade com coutada no Alentejo profundo. Esse usa parte do dinheiro para proporcionar vida de rico a uns quantos amigos. Falei nele a propósito do Sócrates quando as pessoas se espantavam com o amigo do Sócrates que lhe proporcionava uma rica vida. Este de que falo é isso mas ainda em maior escala. Há um casal em especial mas também um outro, embora em menor escala, que conhecem o mundo e o que de melhor o mundo tem a oferecer porque o amigo rico e a mulher fazem questão que eles os acompanhem. Não vou entrar em pormenores mas a amizade que liga aquelas pessoas faria ficar de olhos arregalados muito boa gente. Há quem veja oportunismo nos beneficiários. Do que conheço, o que há é já uma habituação mútua. Os que dão gostam de dar e os que recebem já o acham natural. Muita gente que os conhece de longa data e sabe como, ao mesmo tempo que passam férias e fins de semana juntos, por vezes parecem cão e gato, frequentemente a discutirem, a contrariarem-se, a discordarem acesamente, dizem: relação de irmãos.

Outros o que compram é a possibilidade de, na sua vida pessoal, estarem quase isolados do mundo. Quase só convivem com a família e com um ou outro leal e raro amigo. O que precisam é-lhes levado. Jamais vão a supermercados ou lojas. As compras vão até eles. Cabeleireiros, modistas, massagistas, galeristas ou médicos vão a casa. Detestam confusão, vivem quase isolados. 

Sei de um, que já não está entre nós, que, sendo senhor de vasta e diversificada fortuna e de casas imensas (conheço duas delas e são extraordinárias, sem luxos absurdos mas de uma tal dimensão e bom gosto que são quase de cortar a respiração), tinha une petite amie, por sinal pessoa invulgar e simpatiquíssima, a quem comprou um pequeno apartamento onde passou a fazer parte da sua vida e onde ficava a cozinhar enquanto ela não chegava do trabalho.

Claro que há ricos e ricos. Haverá outro tipo de pessoas muito ricas que não estas de que falo. Por exemplo, o Cristiano Ronaldo. Compra carros, compra aviõezinhos, compra apartamentos, compra relógios caríssimos, compra roupa de griffe. Pu aquele dos barcos do Douro e da TVI que comprou uma viagem ao espaço. Não sei se foi ele que comprou se foi uma empresa dele mas isso também agora não vem ao caso, o que vem é a opção. Ir ao espaço. Queimar uma pipa de massa pela experiência de se montar num foguetão e pelo prazer em dar entrevistas, certamente pelo prazer de se achar o maior.

Aqueles de que acima falei são poupadinhos, jamais gastariam fortunas a ir ao espaço. 

Podem fazer uns passeios aqui ou ali, talvez até um ou outro cruzeiro pelo Mediterrâneo, umas férias na neve, mas nada de verdadeiramente extravagante. 

Nunca se ouve falar muito disso mas dá a ideia que o que gostam mesmo é de estar em casa com família e amigos. 

Mais depressa doam dinheiro anonimamente a associações que precisem de ajuda do que qualquer outra coisa que faça notícia. Também raramente dão entrevistas. Só as dão quando o rei faz anos e é tão a contragosto que a coisa nem corre lá muito bem. Não usam roupa com marcas à vista e, sempre que podem, andam com roupas velhas, pendonas. Um, no inverno, quando em registo informal, costuma usar um camisolão de malha, já todo assimétrico e com vários pegões. Aquilo já devia ter ido para o lixo há muito tempo mas acho que ele não repara nisso, deve achar que é confortável e que deve estar ainda muito bem. Têm relógios banais, usam canetas bic, nunca os ouvi gabarem-se de alguma coisa que tenham comprado. Mas se lhes falarem num azeite muito bom ou num vinho que não seja muito caro mas seja bom, aí já ficam interessados.

Há, em algumas pessoas, a ideia de que ser muito rico é coisa má, coisa que só pode resultar de exploração alheia ou de manigâncias pouco transparentes. Ou que uma pessoa muito rica é uma pessoa estúpida, ignorante, fútil. Ora, como em todas as generalizações, isso é um erro. Haverá alguns que sim, alguns que não. Talvez os newcomers sejam predominantemente assim. Aqueles de que falei não são newcomers e não são seguramente assim. São pessoas normais. O facto de serem muito ricos não lhes corroeu a normalidade.

Não quero com isto estabelecer nenhuma doutrina nem pregar contra ou a favor. Digo apenas que as generalizações conduzem muitas vezes a conclusões erradas.

Tirando isso, o que penso é que o país está a ir na direcção correcta. Portugal começa a atrair investimento em mão de obra qualificada, em centros de investigação e desenvolvimento, e, com isso, o nível geral de vida tenderá a aumentar. E isso é bom. Os resultados não serão imediatos mas estou em crer que no prazo de uma meia dúzia de anos haverá menos assimetrias e menos pobreza no país. Não é saudável haver algumas pessoas muito ricas e muitas muito pobres e é contra isso que, de forma racional, construtiva e desapaixonada, temos que lutar.


_________________________________________

E, para terminar com um touch of bela vida, um vídeo que decorre em Portofino, num sítio muito bonito do qual guardo uma curiosa memória:

One-day Diary of Cara Delevingne at Dior Spa Portofino

Cara Delevingne relaxes in Dior at the luxury Dior pop-up wellness space in Paraggi complete with a Toile de Jouy spa treatment cabin right on the beach. Discovering the wonders of Portofino and live la dolce vita in the exclusive wellness spaces!


---------------------------------------

Desejo-vos um rico dia de domingo.
Saúde. Sorrisos. Paz.

sábado, fevereiro 27, 2021

Viajar

 


Nunca fui de turismo de massas. Em excursões só participei até ao liceu. A última deve ter sido a de finalistas. Nunca me imaginei a passear em excursão. O meu marido muito menos. Passeios em grupo fazíamos mas era coisa para no máximo uns quatro ou cinco casais e respectivos filhos. Mas, mesmo isso, era algo cansativo pois coordenarmo-nos todos em horários e preferências requeria uma certa ginástica.

Também nunca fui àqueles destinos turísticos a que toda a gente ia. Era como ler um livro ou ver um filme de que toda a gente falava: perdia logo a vontade. Punta Cana. Porto de Galinhas. Esses lugares de que tanto ouvia falar. Zero interesse.

Viajar para mim, para ser bom, era irmos só nós, em total liberdade. Quando digo 'nós' refiro-me a nós dois e os miúdos ou apenas os dois.

Mas mudei. 

Agora, se penso em passear, já não tenho aqueles sonhos de viagens para mais longe. Agora o que desejaria poder fazer era ir de carro por aí. Gosto muito, cada vez mais, do meu país. 

Não sei como pode haver quem não o ame de paixão. Penso que só gente cuja alma se deformou ou vendeu poderá não sentir profundo e reconhecido amor por este país tão lindo. 

Um país é a terra e as paisagens, é a língua, são os hábitos, são as pessoas. E, neste nosso país, eu gosto de tudo. Andar a calcorrear serras e vilas e aldeias, percorrer a beira dos rios ou degustar a beira do mar, provar os belos petiscos, observar as gentes, prestar atenção ao modo como falam -- para mim é tudo um prazer.

Talvez pudesse ir também até mais longe, andando por outros países adentro. Mas, sinceramente, parece que deixei de sentir a mesma atracção do que quando julgava que ia encontrar noutros lugares algumas pitadas de fascínio não existentes por cá. Não sei explicar. Parece que me vou modificando sem que perceba até quando continuarei a modificar-me. 

Ponho-me a pensar: o que quero fazer quando houver total liberdade de movimentos?

Não vou falar do óbvio: estar com os meus, com aqueles que o meu coração amo. Esses são a minha primeira e segunda e terceira e quarta e quinta prioridade. E parei na quinta para não maçar quem me lê. Mas, satisfeitas essas primeiras necessidades, de os abraçar e beijar e dar de comer e estar com eles, tendo eu tempo para ir em liberdade, talvez gostasse de fazer passeios temáticos. 

Conhecer bibliotecas. Conhecer edifícios de arquitectura espectacular. Conhecer jardins. Conhecer parques. Conhecer cidades na foz dos rios. Conhecer restaurantes principescamente decorados (e com boa comida). Conhecer esplanadas com uma grande vista de mar. Conhecer lagoas secretas. Conhecer as tocas dos lobos.

Penso nisso mas penso de forma indefinida, como se fossem hipóteses longínquas, viagens imaginárias. 

Passeios que me obrigassem a pesquisar, a planear. O oposto do que sempre fiz. Nunca planeámos quaisquer passeios. Íamos. E lá, todos os dias, pensávamos no que íamos ver ou a fazer a seguir. Agora não. Agora pensaria assim: vamos conhecer jardins extraordinários. Mas pensaria antes de ir. Teria que tentar descobri-los, pesquisar. Fazer um roteiro, escolher percursos, as estradas mais bonitas. Escolher hotéis bonitos. 

[Já sei que hotéis seria o meu marido a descobrir os melhores. Não sei como faz mas é sempre ele que desencanta hotéis incomuns e muito bons. Hotéis de charme. Hotéis invulgares e muito acolhedores, em locais onde sabe bem estar. Sempre ele, não percebo como porque aparentemente não tem paciência para grandes pesquisas.]

Mas quando poderei passear assim?

Dantes tinha também a ideia de comprar coisas nos sítios por onde passava. Agora penso que já não. Fotografar, isso sim. Mas comprar acho que não. 

Não sei como vai ficar o mundo. Tantas terras que viviam do turismo. Como viverão sem as gentes que vinham de fora e que deixavam o seu dinheiro no comércio e alojamento locais? 

Tantas incertezas.

Também não sei como vou ficar eu. Pode acontecer que seja tudo passageiro, pancada psicológica que se varrerá mal tenha ordem de soltura. Mas não creio. 

Tenho para mim que estou cada vez mais eremita.

Talvez acabe por me desinteressar de ir conhecer outros lugares, cada vez mais circunscrita ao meu pequeno espaço, ao meu jardim, às minhas árvores, aos pássaros desconhecidos que se escondem nas árvores ou cantam no beiral para que o meu despertar tenha a companhia da sua música, talvez acabe por me circunscrever às minhas casas. 

Às vezes penso que gostaria de ainda vir a ter também uma casa pequena, de pedra, numa aldeia na montanha. Não sei bem como poderia ajeitar a minha vida para ter tempo para poder ir, às vezes, para essa casinha, para esse refúgio que teria uma estreita escada interior que iria dar a um quarto com uma janela com vista para as serranias em volta. Por vezes penso nisso. Dantes pensava numa casa em cima da praia. Agora penso numa casinha de pedra na aldeia, talvez nas Beiras. Um quintalinho nas traseiras, uma pequena horta. Penso que aí seria inevitável ter um gato. Não sei que ideia é esta minha. Penso que sou uma pessoa de casas. Mas, na verdade, sei lá de que é que sou. 

Ao certo o que sei é que estou aqui na sala, a ouvir música e a escrever estas coisas. A viajar. É isso: a viajar até vocês. Vocês são o destino das minhas viagens.

--------------------------------------------------------------

Quanto às fotografias o que posso dizer é que, respectivamente, são de: © Alexandrina Chirila© gabrielegiussani.com, não sei quem fotografou, não sei quem fotografou a moda de Susan Fang

E tudo isto ao som de River na interpretação de Julie Stone

------------------------------------------------------------

Num outro registo, permitam-me a sugestão: sobre viagens, é interessante o que The Economist tem a dizer sobre tudo isto:

How will covid-19 change travel? 

______________________________

Desejo-vos um belo sábado

Sol. Alegria. Tudo de bom.

sábado, julho 11, 2020

As viagens de antes. Os segredos dos outros. A noite abençoada.


Estive a trabalhar presencialmente. Já tinha passado antes pelo escritório mas sempre de raspão, para ir buscar ou fazer qualquer coisa pontual. Mas esta sexta-feira foi mesmo um regresso ao passado, ao trabalho na minha secretária, no meu gabinete.

Não me apetece falar disso pois foi uma experiência que me perturbou e que me deixou atolada em mixed feelings. Tempos complexos. Um destes dias logo falo disso, quando tiver as ideias mais estabilizadas.

Há temas que devem ser pensados de forma aberta e transversal pois o mundo está a mudar. Pode a Terra não estar a ficar cúbica, pode o movimento de rotação não ter desatado a fazer-se aos tropeços e arrecuas, pode a blogger sentenciosa e descrente que por aí anda a desfiar azedumes e arremedos não estar a virar uma simpatia, pode o comentador atravessado e maldisposto que por aí paira não estar a tornar-se um fofo, pode o João Miguel Tavares não estar a ficar inteligente ou o super-judge Alex não estar a deixar de ser invejoso... mas que muita outra coisa está a acontecer, a mudar, lá isso está. Queiram ou não os céticos, os eternamente ressabiados, queiram ou não as madamas que andam o dia todo com um tremoço entalado no rabo ou os cavalheiros demasiado intelectuais que andam o dia todo com uma vírgula cabeluda presa entre os dentes, a verdade é que, não obstante, muita coisa vai mudar.

E mudará mais do que agora se antevê -- e isto vos diz esta aqui que, apesar de míope, gosta de fechar os olhos e imaginar o que veria ao longe se, no mínimo, usasse óculos. Dizem os entendidos que a fractura vai ser funda: uma recessão braba, um desemprego de fazer ganir de medo as pedras da calçada. A menos que os milhões chovam do céu, que o investimento público permita aguentar o embate. Tudo o que se faça será pouco. Mas será ainda mais poucochinho se for despejado em cima do mundo velho e não como ajuda a alicerçar um mundo novo.

Temos que nos unir e querer o melhor para todos -- essa é que é essa.

Não é tempo de linguarudas, de imberbes, de maledicentes, de totós, de comentadeiras e prostitutas, de avençados e cornudos, de rabejadores, de troca-tintas, de académicos frustrados, de ladies atrás de likes: é tempo, isso sim, de gente de bem, de homens feitos (homens e mulheres, bem entendido), de gente de trabalho, de gente com cabeça, de gente com os pés na terra, de gente com coração e que saiba manter as mãos estendidas para ajudar quem de ajuda precisa.

Essencial é conseguir-se enfrentar a fractura que está a acontecer sob os nossos pés sem sermos sugados por ela. E, a seguir, avançar na direcção de um mundo melhor. E, se haverá muita carneirada a ir atrás da má língua ou do saudosismo, então que haja bons líderes para os levar por bons caminhos. 

Mas, enfim, estamos a virar a página da sexta-feira, já estamos a entrar no sábado, e eu estou com vontade de me ir entregar aos prazeres do rival do blog. Por isso, calo-me já e partilho convosco um vídeo do The Economist em que se fala de uma das mudanças mais profundas e fracturantes, com consequências extensas nos tempos que aí vêm. Viajar. Ir de um lado para o outro. Conhecer o outro lado do mundo. Ir tomar banho a uma praia a milhas de casa. Ir ter uma reunião de duas horas a outro país e, com isso, perder o dia todo e gastar milhares de euros (já para não falar na pegada de carbono). Coisas assim.
Conheço uma pessoa que ia jantar a Paris quando fazia anos. Outra que ia aos saldos a Londres. Eu própria ia comprar lingerie a Madrid. Não sei se eram luxos ou hábitos de quem se podia dar ao luxo de tê-los. E todos, uns mais que outros, poderíamos tê-los. É que, por exemplo, conheço um outro que, não tendo um ordenado por aí além, tinha o filho no colégio mais caro de Lisboa, punha-o num explicador que lhe custava os olhos da cara, comprava os óculos na melhor fábrica de lentes, perseguia o que achava que era 'o melhor' e que, depois, com ar revoltado, se queixava que, para ir passar duas semanas a Istambul, tinha que recorrer ao crédito e, portanto, perseguia o chefe com a 'necessidade' de ser aumentado. 
Outros tempos.


---------------------------------------------------

Ao fim do dia tive uma reunião, mas uma daquelas remotas, uma team meeting já a partir de casa.

Por razões que por vezes não se explicam, às tantas, um disse-me que queria contar-me uma coisa e que eu não o interpretasse mal. E depois outro avançou pelo mesmo registo. Cada um em sua casa, mantivemos uma daquelas conversas francas de que antes se pensava serem apenas possíveis se olhos nos olhos, cara a cara, em pessoa. E, no entanto, apesar dos quilómetros que nos separavam, estivemos a conversar olhos nos olhos, cara a cara.
Sou muito franca, não fujo a questões directas ou difíceis. Nem tenho qualquer problema em expor abertamente as minhas dúvidas ou dificuldades. Penso que o facto de ser assim deixa as pessoas à vontade. A conversa flui com naturalidade, num registo de empatia e confiança. 
Saí da conversa com aquela sensação de que todas as pessoas, se motivadas, querem fazer coisas, querem dar mais do que normalmente são chamadas a dar. E senti aquela ponta de frustração que, volta e meia, sinto por não ter a margem de manobra suficiente para dar asas a todas as pessoas a quem sinto a vontade de voar.

E, porque estou muito habituada a ouvir segredos, gostei de ver o vídeo que o algoritmo do youtube me propôs (tenho que arranjar um nick name para o meu amigo algoritmo; quiçá gô-gô).

_______________________________________________



Volto a informar: pode acontecer que fotografias nada tenham a ver com o texto e que, em cima disso, não pretendam nada a não ser aqui aparecer. Se distrairem os meninos que se distraem com facilidade não tenho nada a ver com isso pelo que agradeço que não venham chatear-me com isso. A primeira e terceira são da autoria de Ellen von Unwerth. A segunda é de © o_nozdracheva

___________________________________________________________

Quero ainda dizer outra coisa. Como muito bem sabe quem por aqui me acompanha, gosto da noite. É de noite que sou mais eu, que estou mais acordada, os sentidos mais disponíveis, as emoções mais intensas, maior a vontade de mergulhar no negrume e na frescura sublime que se eleva da terra para abençoar os corpos despertos. E tenho muita pena que seja tão curta e que o dia se faça anunciar tão cedo. Como tenho que tentar aparentar alguma normalidade e viver em sincronia com os que vivem de dia, falta-me o tempo para usufruir em tranquilidade a beleza da noite. Por isso, deixem que partilhe convosco, em especial com os noctívagos que por aí estejam: Laissez durer la nuit

Laissez durer la nuit, impatiente Aurore.
Elle m’aide à cacher mes secrètes douleurs, 
Et je n’ai pas encore assez versé de pleurs; 

Pour ma douleur, hélas! est-il des nuits trop sombres?
Depuis que mon Berger quitta ce beau séjour, 
Ah! je ne puis souffrir le vif éclat du jour;

Laissez-moi donc pleurer à la faveur des ombres
Autant que voudra mon amour.


E a todos desejo um bom sábado.