PS - Com uma AD que deu origem ao actual governo -- um governo desgraçado, que tem revelado uma atitude videirinha, pacóvia, ignorante e chico-esperta --, seria expectável e razoável que o PS conseguisse uma distância mínima de 5% em relação à AD. Mas não conseguiu.
E não venham dizer-me que o PS ainda está a arrumar a casa, a juntar os cacos (como ontem ouvi, na televisão, um débil mental a dizer). Qual desarrumação? Quais cacos? Acaso o PS estava desarrumado? Acaso alguém tinha partido a louça toda? Estão malucos ou quê? O PS estava a governar e bem, tinha a casa arrumada. Poderia estar ainda muito agarrado a velharias, gente ainda muito saudosa dos maravilhosos tempos que se seguiram à queda da ditadura, gente que continua a sonhar sobretudo nos amanhãs que cantam. Mas, tirando o aspecto da renovação que já era (e ainda é) indispensável, era um partido bem dirigido. António Costa era um líder inquestionável.
A razão residirá, isso sim, muito na forma como este PS de Pedro Nuno Santos se posiciona. Continua a querer ressuscitar a geringonça, continua a querer agradar ao eleitorado mais à esquerda, mesmo quando está mais do que claro que esse eleitorado já praticamente não existe.
Além disso, Pedro Nuno Santos funciona na base do eucalipto: à sua volta, nada. E isso foi bem patente na forma como se apresentou agora a cantar vitória. Em vez de aparecer rodeado pela equipa dos deputados eleitos, não senhor, apareceu ele, ele e ele. E num lado a Marta Temido e no outro o Carlos César. Muito mau. Depois de ter corrido com uma mão cheia de deputados notabilíssimos, nem para com os agora eleitos teve o gesto de os levar para o palco.
Da mesma forma como na política nacional não se sabe rodear de figuras de enorme qualidade como Mariana Vieira da Silva ou Fernando Medina ou Duarte Cordeiro (e outros a quem António Costa soube valorizar). Parece apenas dar ouvidos aos geringônticos Alexandra Leitão (e, de certa fora, Mendonça Mendes).
Ao parecer querer livrar-se de todos os que eram figuras de destaque na governação de António Costa e ao parecer não saber compreender a nova realidade, o PS não sabe ir buscar um eleitorado novo nem sabe recuperar a classe média que se deslocou para a sua direita por não se rever neste PS que, com Pedro Nuno Santos, aparece aos olhos do eleitorado como anquilosado e encostado a uma esquerda moribunda.
Ouvi Pedro Nuno Santos anunciar que vão lançar uns novos Estados Gerais. Espero que daí nasçam novas ideias. Espero que percebam que não é com Carlos César e outras peças de museu ou com Alexandra Leitão e outros saudosos da Geringonça que vão conseguir contrariar a tendência descendente que se vem desenhando. De resto, também não sei se a noite eleitoral era o momento ideal para falar nisto. Sendo estas eleições europeias tão relevantes, Pedro Nuno Santos esqueceu-se disso e só falou de política nacional. Muito curto em termos de visão estratégica. O que ali vi foi sobretudo o PS a olhar para o seu umbigo, parece que incapaz de olhar para o que o rodeia e para o contexto europeu.
Espero que consigam mudar (para melhor) pois o País precisa de um bom partido social-democrata.
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AD - Beneficiam da inércia e da deficiente informação dos eleitores tal como beneficiam do colo que a comunicação social lhes dá. Com Portas e Marques Mendes a fazerem campanha activa em horário nobre, ao domingo, em canal aberto (com a conivência da Comissão das Eleições) e com uma profusão de comentadores a manipularem a opinião política, conseguiram aguentar-se. Com o que têm demonstrado desde que formaram Governo, com um eleitorado bem informado e com um PS mais assertivo e inteligente, a AD teria levado uma banhada. Não levou. Mas é o que temos. De qualquer forma, penso que é uma questão de tempo.
Montenegro, na noite eleitoral, também não se lembrou de que se estava a tratar de eleições europeias. Não deve sequer saber quais os problemas europeus. Tudo o que disse me soa a conversa videirinha, saloia, a falar muito e sem acrescentar nada.
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Chega - Felizmente sofreram um trambolhão. Gostava que lhes acontecesse qualquer coisa como a que aconteceu ao PRD, ou seja, que um dia destes o Chega acabasse. Mas não sei, não. André Ventura não acabará, arranjará maneira de andar por aí pois nitidamente tomou-lhe o gosto, é um populista que não vai ser capaz de parar. André Ventura é inteligente, é ubíquo, é uma máquina, e, como sabe lançar sound bites em permanência, a comunicação social não o larga e isso chama os eleitores. Mas, enfim, assim como assim, os eleitores souberam dar-lhe um chega para lá e isso talvez faça André Ventura refrear a sua energia destrutiva.
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Iniciativa Liberal - Subiram e subiram bem. A democracia liberal é um caminho aberto e o eleitorado jovem e com sangue na guelra bem como uma classe média informada e exigente que se vê abandonada pelos partidos do dito centrão dar-lhe-ão ímpeto para subir ainda mais. A nível europeu, o espaço da democracia liberal será, creio que cada vez mais, o oxigénio de que a democracia precisa para impor, com alguma modernidade e juventude, os seus valores, fazendo uma barreira contra o populismo e contra a direita reaccionária que tanto nos ameaça.
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Bloco de Esquerda - Caiu e caiu bem. O Bloco é um partido que por vezes está bem mas, na maioria das vezes, está mal, sendo frequentemente populista, agarrando-se a causas marginais, assumindo atitudes justicialistas e arvorando-se em dono da verdade.
Na intervenção que tiveram a propósito dos resultados eleitorais, considero patética a sua alucinação a cantar vitória, a rirem, às palmas, todas contentes como se não tivessem percebido que a sua representação se viu reduzida a metade. De loucos.
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CDU -- Caiu e caiu bem. Continuam agarrados a ortodoxias de antanho, defendem já não se sabe bem o quê, não percebem que já não representam quase ninguém, ignoram tudo o que de novo e relevante se passa à sua volta. A intervenção de João Oliveira e do Raimundo é alienação em estado puro. Marimbaram-se para a política europeia (realidade que, a bem da verdade se diga, lhes passa ao lado), marimbaram-se para os temas mais relevantes da actualidade e sorrindo de gosto, eufóricos, cantaram vitória e reincidiram na única e estafada lenga-lenga que conhecem. Já vão em 4% dos votos, só conseguiram um deputado, e ali estiveram, contentes como se tivessem ganho as eleições. Não sei se isto deve ser visto como uma perturbação do foro psicológico ou cognitivo mas alguma é.
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Livre -- Tenho pena que não Francisco Paupério não tenha sido eleito. O Livre é uma esquerda moderna, ambientalista, humanista, informada. Como tenho vindo a dizer, acho importante que haja uma esquerda inteligente, informada, aberta aos novos temas. Gostava que, em Portugal, o Livre crescesse pois a democracia precisa de partidos assim. E a Europa precisa também de vozes jovens, civilizadas, democráticas, abertas ao futuro.
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Abaixo, as Primeiras impressões