sábado, dezembro 31, 2022

Desbalanço de 2022 e votos para 2023

 

Não sou de fazer listas ou resenhas. Nunca fui de ter apontamentos. Vou para as reuniões sem papéis e saio de lá também de mãozinhas. Ao contrário de colegas que guardam memorandos sobre os temas mais relevantes ou que conservam cadernos ou agendas com registo de tudo ou quase tudo o que se passa, eu não tenho o que quer que seja disso. E, apesar de escrever aqui que me desunho, nada tenho de sistematizado que me permita, assim de repente, fazer um balanço deste ano que agora termina. 

Seja como for, verdade seja dita, o que passa desinteressa-me. Ano passado, ano esquecido. Bye bye.

Quero pensar no que me marcou e só me lembro desta guerra maldita. Maldita, maldita, maldita, mil vezes maldita guerra. 

Tirando isso, coisa avassaladora, de pouco mais me lembro. Puxo pela cabeça e, a bem dizer, a sensação que tenho é que mal dei pelo passar do tempo. Puxo pela cabeça e mal me lembro de qualquer coisa que aqui, agora, deva respigar a propósito do que me aconteceu a mim.

Profissionalmente, todo o ano o passei numa luta que devorou os dias. Uma luta esgotante. Digo por vezes que um embate destes devê-lo-ia ter eu tido no início da minha vida profissional. Melhor recruta não poderia haver. Quem passa por isto fica preparado para tudo. Agora apanhar um coisa destas pela frente quando, nos momentos mais complexos, me ocorre: 'Não tenho pachorra nenhuma para aturar isto' e já não tenho grandes travões para me impedir de o demonstrar, é uma experiência que já não me será grandemente útil para nada.

Pessoalmente, estou cada vez mais eremita. Gosto de viver aqui, longe do bulício citadino. No intervalo, estou no campo-campo, ainda mais eremita. Depois de anos e anos no meio da confusão, vivendo no meio de uma cidade e trabalhando em grandes edifícios em zonas de grandes edifícios, sempre com multidões em volta, consumindo parte do tempo no trânsito, em restaurantes, frequentando o comércio e estando ao corrente da última moda, agora estou parte do tempo em teletrabalho e não me custa nada estar tão longe da barafunda.

As minhas compras agora restringem-se praticamente às do supermercado ou de take away em restaurantes. Raramente compro roupa, compro muito menos livros, há mais de dois anos que não compro nem perfumes, nem sapatos nem bijuteria. As compras que faço nestes capítulos são sobretudo para oferecer. O tempo de vida que me resta, nem que seja meio século, não me chega para ler todos os livros ou gastar toda a roupa ou perfumes que tenho, até porque agora pouco perfume uso.

Tenho por felicidade maior os meus filhos que estão bem e vão progredindo na construção da sua vida, os meus netos que crescem sendo alegres, cheios de entusiasmo, a família que se une para desfrutar a alegria de estarmos juntos.

A minha cabeça, desde há algum tempo, está sobretudo nos tempos que vêm. Parece que nunca mais lá chego e até temo que, quando lá chegar, já me tenham passado todas as vontades que agora tenho a fervilhar em mim.

Sei que, nessa altura, terei que ensinar o meu biorritmo a uma outra dinâmica pois estou formatada para ter pouco tempo para fazer muita coisa. Quando tenho muito tempo parece que não sei o que fazer com ele. E estou também habituada a trabalhar de dia e guardar os hobbies para a noite. Quando deixar de trabalhar, acho que tenho que arranjar um rotina que me absorva de forma disciplinada senão fico como quando fiz a artroscopia aos joelhos. Não tinha nada que fazer e... não conseguia mesmo fazer nada, completamente tomada pelo tédio. 

Mas, pensando bem, há um coisa que é fundamental para que estejamos bem: a saúde. Sem saúde, fraquejamos, ficamos uma sombra de nós. 

E, assim sendo, concluo. 

2022 já está numa de ir -- e que vá que não deixa grandes saudades. 

E que venha o 2023. E que venha com tudo desde que seja bom. E que nos traga a paz e o castigo dos assassinos. 

E nos traga a consciência de como é frágil a liberdade e a democracia e de que temos que as preservar a todo o custo.

E que nos traga saúde. E alegria. E motivação. E energia. E boa sorte. A sorte, sem que muitas vezes nos apercebamos, molda, e muito, a nossa vida. E nos traga compreensão, tolerância. Generosidade. E afecto, o afecto que nos une. E nos traga boas ideias e vontade e capacidade para as pôr em prática.

Poderia ainda falar do que gostava que acontecesse a nível político mas, lá está, não estou com pachorra e nada me impede de o demonstrar.

Claro que também poderia falar de livros que li no ano que agora acaba e dos que espero ler no que está a começar. Mas isso seria todo um outro filme. 

E etc. -- que é sempre uma forma airosa (e preguiçosa) de acabar uma conversa.

Neste último dia vou ter visitas a fazer, comida para confeccionar e depois vamos fazer a passagem fora. 

O dia de Ano Novo é cá em casa e espero que o mau tempo não impeça que a casa se encha para que as mesas estejam outra vez cheias para o primeiro almoço do ano.

Por tudo isto, não sei se cá consigo voltar em 2022 a tempo de vos deixar os meu votos para 2023. Por isso, aqui ficam já eles: tudo de bom para vocês. Tudo, tudo de bom. Felicidades com tudo o que as felicidades levam dentro. Um abraço para todos. É virtual mas é dos bons, dos sentidos.


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Um dia bom. 
Boas saídas e melhores entradas.
Saúde. Amor. Ânimo. Razões para sorrir. Paz.

sexta-feira, dezembro 30, 2022

Alexandra Reis, Pedro Nuno Santos, Hugo Santos Mendes -- o que é que nos CVs deles os qualifica para os cargos que ocuparam*?
[E são meros exemplos. A dúvida é: os demais serão todos deste mesmo calibre...? É que, se são, vou ali e já venho]

 

Os dias andam férteis em notícias. E já sabemos que boa notícia é a má notícia. Saltou a Secretária Alex dos Louboutins, saltou o Pedro Nuno dos aeroportos e vamos ver se fica por aqui. Em cima disso, com os comentadores políticos ao rubro, excitados com o cheiro a sangue, todos convocados para todas as horas em todos os canais, eis que morre o Pelé. E, pimbas, lá têm que saltar também todos os comentadores futebolísticos para todos os canais, a todas as horas. A malta nas redações certamente à nora para ver como encavalitar os alinhamentos.

A seguir morre a Vivienne Westwood e a sorte é que não há assim muitos comentadores de moda ou, pelo menos, não estão devidamente cadastrados para poderem ser requisitados de supetão.

Um dia destes vai ser o Emérito Ratzinger e aí será também o bom e o bonito. A esta hora tudo o que é beato, acólito, sacristão, bispo, teólogo ou simplesmente santinho já deve estar a ser posto de prevenção para saltar à cena mal Sua ex-Santidade descanse a sua alma.

Mas isto para dizer que tanto o falatório que não aguento, salto fora, não ouço nada. O que me agrada é o MasterChef Australia ou pequenas pérolas que apanho por acaso como a que estou a ver agora, Isabel Meirelles: o dragão que fuma. Maravilha. Desconhecia. 93 anos. Mulher fantástica. O conhecimento da minha ignorância avoluma-se de dia para dia.

Contudo a pièce de resistence do post não são estes já-vistos. É outra coisa, é a que se segue.

Ao jantar, o meu marido disse que achava que o Governo fica melhor sem o Pedro Nuno Santos. E eu disse-lhe que penso o mesmo. O meu marido disse que acha que ele joga ao lado e eu acho o mesmo. Pode ter feito uma boa ponte com o PCP e o BE e pode saber 'ser do contra'. Não sei. Dizem que sim. Mas já o vimos ser desleal, tonitruantemente desleal para com colegas, já o vimos dar passos em falso, delirantemente em falso. Por vezes, agiu de forma que, fosse eu a decidir, lhe teria sido fatal. E agora ficamos sem saber se, ocupado como andava com a sua agenda, tudo o que era de ordem 'prática' lhe passava o lado. Ele não sabia, o outro não sabia e agora parece que o único que sabia e não esteve nem aí foi o fofo do Hugo Mendes, futuro ex Secretário de Estado. Ou a mulher do Medina, ex-responsável jurídica da TAP. Ao que parece, o Pedro Nunes sacode para todo o lado. Ele ou outros por ele. Pelos vistos, não sabe cair com elegância.

E nisto tudo o que me dá que pensar é o critério seguido por quem escolhe esta gente. Nas empresas, em que vocação e competência é determinante, os CVs são passados a pente fino, as pessoas são sujeitas a entrevistas, muitas vezes a entrevistas cruzadas, muitas vezes submetidas a situações que simulam a realidade que terão que enfrentar. Pelo contrário, no Governo ou nas empresas tuteladas -- onde a exigência deveria ser redobrada -- dá ideia que tudo o que é bicho-careta entra de carrinho para onde calha.

Fui ver o currículo da dita Alexandra Reis, mais conhecida pela Alex Louboutin da boca aberta ou, alternativamente, Vai-te pentear, oh Alex

Uma engenheira electrotécnica e de telecomunicações com experiência em Compras. Nem mais.

Foi como responsável pelas Compras que entrou para a TAP em 2017. Caiu no goto não sei de quem e daí rapidamente passou para a Comissão Executiva. Contudo, não deu certo: pelos vistos o santo dela não ia à bola com o da presidente. Foi de asa. De asa mas com o bolso a deitar por fora, o dito meio milhão. E eis que, não se percebe bem a que propósito, a garganeira criatura salta, a seguir, para Secretária de Estado do Tesouro. Pasme-se: para o Tesouro. Te-sou-ro.

O que é que na formação académica ou na experiência profissional a capacitava para ser Secretária de Estado do Tesouro? Não faço a mais pálida ideia. Mas não faço eu e, se calhar, não faz ninguém. 

Face a isto, deu-me também  curiosidade em ver o currículo do incensado outsider Pedro Nuno Santos, ex Ministro das Infraestruturas e da Habitação. 

Terá trabalhado na área? Terá conhecimentos que lhe permitam meter no bolso quem queira pôr pé em ramo verde? Infraestruturas? Habitação? Tudo a ver com a sua experiência anterior? 

Qual quê. Nada. Nem pouco mais ou menos. 

Basicamente exerceu funções políticas desde a Jota até aos tempos correntes. Não que ser político seja mau. Imagino que seja sobretudo negociar compromissos, ver como tramar a oposição, ver como encobrir ou desvalorizar os desaires do partido, ouvir as forças vivas e ver como fazer a vontade a uns ou arranjar desculpas para os outros. Tudo bem. 

Mas onde a sensibilidade e o know how para perceber os meandros dos processos que fazem girar as organizações? Onde a mão para enquadrar quem, abaixo, faz mover as engrenagens? Onde o rabo pelado para detectar as chico espertices de quem é batido e rebatido nas manhas e nos meandros destas coisas?

E o Hugo Santos Mendes, aquele para cima de quem agora todas as galinhas atiram as culpas? 

Parece que soube da bolada da Alex da boca aberta mas não somou dois com dois, não percebeu nem a dimensão nem as implicações da coisa. Verdinho, portanto. 

Mas a culpa será mesmo dele? Ou a culpa é de quem o escolheu e de quem aceitou a escolha?

Qual a experiência do verde e fofo Huguinho? Pois, claro, basicamente tem sido político. Isto depois de se formar em Sociologia. Foi assessor ou adjunto deste e daquele. E daí saltou para onde está agora, Secretário de Estado das Infraestruturas. Imagine-se o fofo do Huguinho a enquadrar as grandes empresas do sector... Deve ser uma festa. Gente batida e experiente que apanha huguinhos à mão... Toda a espécie de investimentos para aprovar, toda a espécie de despesas a correr-lhe debaixo do nariz e ele sem ver o rabo do gato escondido, por mais de fora que o rabo esteja. Mas, coitado, onde é que o pobre adquiriu competências para deslindar coisas dessas, em especial as pouco óbvias, onde é que ele se treinou para exigir estudos de rentabilidade feitos com a cabeça e não com os pés, para devolver à procedência dossiers que carecem de blindagem jurídica...? Não estou a ver onde.

Por isso, episódios destes como os da Alex Louboutin devem acontecer todos os dias. Podem ter outro formato ou outros valores mas, de uma maneira ou de outra, com gente aparentemente tão desqualificada para as funções que exerce, tudo pode acontecer.

A chatice é que nestes momentos é bom dar-se um passo atrás, reflectir, parar para pensar. Mas tempo é política é coisa que nunca há. Entre os Rangeis e os Venturas desta vida e os omnipressentes comentadores, todos cacarejam alto e bom som, impedindo uma atitude responsável e ponderada.

E depois, pensando bem, quem em seu pleno juízo se predispõe a largar o seu trabalho para se ir sujeitar a trabalhos forçados no Governo e a ser bisbilhotado até à quinta geração. Claro que só gente dependente da política ou deslumbrados newcomers acham que ir para o Governo é um boa coisa. 

E é em tudo isto que é preciso pensar. Como atrair gente qualificada? Essa é a questão. 

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O asterisco (*) lá em cima tem a ver com o facto de me parecer previsível que mais consequências venham a existir

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Desejo-vos uma boa sexta-feira

Saúde. Cabeça no lugar. Paz.

quinta-feira, dezembro 29, 2022

Pedro Nuno Santos foi borda fora e não foi pela big barracada da localização do aeroporto mas pelos 500.000 da Alexandra dos Louboutins

[E, para que isto não fique sisudo de mais, o Lobianco conta como teve que ir desovar na mansão da Narcisa, tirando até a vez a uma certa condessa]

 

Pois é. Tinha aqui em carteira falar de uns quantos conselhos de segurança, quer segurança pessoal quer segurança das casas, ou, em alternativa, partilhar uma entrevista que o Mel Brooks, um dos que sempre me fará rir, concedeu à neta. 

Mas eis que acabo de saber que se demitiu o Pedro Nuno Santos e que o Costa, certamente pensando 'já vais é tarde', aceitou. 

Não foi ao ar quando se deu a suprema barracada do aeroporto e vai agora por causa da descabelada senhora que parece que gosta de Louboutins e que, depois de ter trabalhado uns quatro ou cinco anos na TAP já de lá queria sair com milhão e meio de euros. Boca aberta, a dela. Caneco. Não faz por pouco, a madama.

Não saiu com essa mega bolada mas saiu com quinhentos mil, coisa que pode ter muita aritmética e muita prosa legalite por detrás mas que, atendendo a tratar-se de empresa intervencionada e mantida com balões de oxigénio provindo directamente dos bolsos dos contribuintes, é bomba que forçosamente ia estourar nas mãos de quem lhe pegou e de quem a deixou andar por aí. 

Muito haveria a dizer pois esta TAP é história mal contada desde há muito, um sorvedouro para os contribuintes e um palco para egos que gostam de se pavonear. 

Mas isto não é só a TAP. Como ontem referi, é toda a gestão de empresas públicas ou de gestão pública que deveria ser passada a pente fino. 

Duas das pessoas mais burras, mais inaptas, mais parvas, mais pavoas, mais convencidas e simultaneamente mais ocas, mais fúteis, mais incultas e ignorantes com quem até hoje já trabalhei foram dois ex-administradores, um de um instituto público e outro de uma empresa pública, cada um de sua linha política. A única coisa que os habilitou a esses cargos era a de serem amigos de alguém conceituado no respectivo partido. A partir daí foram circulando por empresas e institutos e sei lá por mais onde até que os apanhei, teoricamente como tendo grandes currículos. Qual quê? Zero. Zero. Ora com administradores destes não é só o dinheiro mal gasto que custam, é também a ausência de gestão que praticam, as burrices que cometem ou deixam cometer todos os dias.

Isto já foi há alguns anos. Não sei se ainda é assim pois, felizmente, por onde ultimamente tenho andado não têm aparecido dessas aves. Mas penso que é pública a ainda existência de assessores e outras funções principescamente remuneradas, quer nos Gabinetes governamentais quer nas Autarquias, que de conhecimentos, experiência ou aptidão para esses cargos têm bola. Isso choca-me. Maioritariamente pouco fazem para além de mandarem bocas, de alimentarem a fofoca partidarítica, de garantirem a boa disposição aparelhística que, na altura das eleições, dá jeito ter à mão.

Uma seita deveras parasitária.

Ainda me lembro do filho de um colega, um jovem pouco mais que recém-licenciado, se orgulhar de ter rejeitado um emprego num banco a ganhar cerca de 2.000/mês, dizendo que mais do que isso ganhava como assessor numa certa Secretaria de Estado em que não tinha horários nem obrigações.

Parece não ser o caso da Alex da boca aberta que creio nem ser boy. Mas o que quero dizer é que há por aí muito dinheiro público mal gasto. Neste caso, uma empresa tutelada pelo que se sabe aceitou fazer um contrato milionário e leonino com uma senhora que, por muito competente que seja, dificilmente justificaria uma 'indemnização' daquele montante. Mas como são os contratos dos outros? E que mais regalias terão? Como é que o dinheiro dos contribuintes anda a ser gasto?

Uma grande monitorização deveria ser feita a esse nível pois o dinheiro público deve ser gerido com pinças e luvas de pelica, com mil cuidados, com muita exigência e rigor. Não deveria ser gasto um cêntimo com quem o não merece.

Nem se pode admitir que uma empresa pública ou de gestão pública, muito menos se estiver intervencionada, seja gerida à tripa forra como se fosse um clube de futebol especulativo ou muito rico onde se pagam passes ultra milionários quando um ás da bola muda de clube ou onde se pagam prémios chorudos quando se ganham campeonatos.

E é preciso perceber uma coisa: de cada vez que se fecha os olhos ou se encobre ou relativiza uma coisa destas, está a deixar-se a porta aberta para que todos os populistas desta vida venham pastar.

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Mas, enfim, isto não tem que ser um pincel. Nada. Rir é bom e eu gosto. Por isso, façamos a agulha e bora lá. Não me apetece acabar o dia com as solas dos sapatos da Alex ou com os desaires que se sucedem ao pobre do Costa. 

Assim, estando a aproximar-se a mudança de ano, que entre o Luis Lobianco que conta que num certo réveillon entornou umas e outras e depois, numa de grande aflição e já com alguns dedos de dilatação, teve que ir dar à luz na casa da Narcisa.

Luis Lobianco misturou tudo na ceia de Ano Novo 🚨! | Que História É Essa, Porchat?

Luis Lobianco aproveitou a culinária na ceia de Ano Novo e fez questão de comer alimentos para abrir os caminhos do próximo ano. O problema é que algumas vias indesejadas foram abertas antes da hora 🤢! Sobrou até para Narcisa!


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Desejo-vos uma boa quinta-feira
Saúde. Boa disposição. Paz.

quarta-feira, dezembro 28, 2022

O escândalo Alexandra Reis, carros liofilizados, nanobaterias e uma casa fantastique

 


Não sei o que me deu mas diria que continuo de ressaca. Mas, como nunca me embebedei ou droguei, em boa verdade não conheço pessoalmente os sintomas das ressacas pelo que não sei se estou a usar devidamente o conceito.

Creio que tempos de crises agudas simultâneas, incluindo um internamento hospitalar da minha mãe por mais de uma semana, abrangendo dois fins de semana, mais o stress de ver o tempo a passar sem tempo para fazer compras e com o Natal a aproximar-se, depois a maratona que foi, isto, ainda por cima, com vários dias a ter que acordar muito cedo (e, logo, a dormir muito pouco), tudo junto deve ter-me esgotado de tal maneira que agora, em que não tenho nenhuma dessas pressões em cima de mim e numa semana em que o trabalho está aligeirado, estou como estou, sem energia e com muito sono.

Há vários temas sobre os quais sei que poderia escrever mas sinto-me sem ânimo para tal. 

Há bocado vim para o sofá e tentei ver televisão. Não tive paciência. Virei para a Emily in Paris (na Netflix) apesar de achar que é daqueles néctares sem história, coloridos e açucarados. 

Passado um bocado, acordei e já o episódio ia no fim. Pensei que deveria pôr para trás mas também não o fiz. Quero cá saber.

Vou antes contar um sonho que sonhei no dia que passei às compras. Mas, antes, faço um enquadramento. Tenho um hábito (de que aqui já falei) que é, quando estaciono, mando uma mensagem a dizer o piso, a cor, a letra e o número. Isto porque tenho medo de me esquecer e, no meio de milhares de carros, nunca mais descobrir o meu. Depois vou com atenção para fixar a zona por onde subo, no parque, e o sítio onde saio, já dentro do centro comercial. Mas naquele dia, na parte da tarde, já cansada pela manhã e por ter ido a casa a correr para ir passear o cão, quando acabei as compras e quase não conseguia dar passo, tamanho o carrego, deu-me uma branca: não me lembrava onde tinha entrado no centro comercial. Pensei que se me enganasse, com tantos e tão pesados sacos, não teria força para andar no parque à procura da cor, da letra e do número. Mas depois lembrei-me que, ao entrar, tinha pensado que era melhor deixar os livros para o fim e isso deveria querer dizer que tinha entrado na zona da livraria. E foi. Felizmente.

Mas, talvez por isso, nessa noite sonhei que andava na rua, num lugar com ruas empedradas e íngremes, carregada de sacos pesadíssimos, quase incapaz de andar. E não encontrava o carro. De rua em rua, pousando os sacos, aflita, e sem descobrir o carro. Lembrava-me que o meu marido me tinha deixado à porta do centro comercial, dizendo-me que fosse andando, que ele estacionaria no sítio do costume. Mas ali andava eu, sem forças, dorida, espreitando todos os carros e... nada de carro.

Então tinha-lhe ligado, desesperada: 'Olha lá, ando aqui às voltas, que é que fizeste à porcaria do carro?'. E ele: 'Liofilizei-o'.  E eu, estupefacta: 'Tu o quê?'. E ele, confirmando: 'Liofilizei-o'. Eu, sem acção, exangue, exausta: 'Liofilizaste-o? Mas que estupidez é essa, caraças?'. E ele: 'É o futuro. Quando acaba de ser usado, recolhe-se todo, ficando um pequeno volume que se guarda num cacifo.' Eu perplexa: 'Mas e o depósito do combustível...? Não se pode recolher, dobrar...' Mas ele, seguro: 'Qual depósito de combustível? Agora usam-se cápsulas iguais às no café, nanotecnologia. Uma cápsula dá para um ano'.

Nos meus sonhos, quando chego a momentos críticos, acordo. E são sonhos tão vívidos que acordo com a sensação que a situação é real. Custou-me a adormecer, pensando que não seria mau que assim fosse, como ele tinha descrito. Tentava perceber como funcionava, tentava perceber a tecnologia da bateria ou do combustível numa cápsula. Nesse dia contei ao meu marido. Riu-se e depois concluiu o de sempre: 'És maluca'. 

Mas tenho andado a pensar nisso. Como é que o carro se dobra assim? E os bancos? E sendo tudo desdobrável, será que é confortável? 

E aquilo dos carros se moverem a partir de uma pequena cápsula? Fusão nuclear? Lítio? Hidrogénio? A partir do ar? 

E a estupidez é que volta e meia o sonho me vem à cabeça. Ele há coisas.

E, bem sei, não fará sentido eu estar a contar um sonho maluco mas, talvez porque é o que requer menos energia, é o que o meu cérebro hoje seleccionou para eu aqui escrever. Sorry. Isto há-de passar-me.

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Entretanto, para que alguma coisa se aproveite, partilho um vídeo em que se mostra uma casa fantástica, alegremente apresentada. Vejam pois tem espaços e objectos fantásticos.

Inside Karl Lagerfeld’s French Home Filled With Wonderful Objects | Vogue

In this episode of Objects of Affection, Lady Amanda Harlech takes Vogue on a tour through Karl Lagerfeld’s treasures ahead of a landmark Sotheby's auction. Watch as Amanda shows everything from Karl's beautiful royal blue upholstered Bruno Paul couch to his replica Adolph Menzel paintings.


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Entretanto, a tal Alexandra Reis da TAP foi demitida (ou forçada a demitir-se) e já não é Secretária de Estado. Não sei pormenores de todo este caso mas, desde o início, pareceu-me que, neste caso, não interessavam pois, sejam o que forem, são, aqui, isso mesmo: meros detalhes. Tudo parece escandaloso neste caso e as justificações, cá para mim, só apimentarão ainda mais o escândalo. 

O governo socialista não apenas não pode ter governantes que alinhem por bitolas deste calibre como deve esforçar-se por introduzir alguma moralidade na gestão e na política. As empresas públicas ou de gestão pública, e, muito mais, empresas intervencionadas, não podem ser geridas à mão larga como se fossem lucrativas empresas privadas. 

Seria interessante que a Assembleia da República tivesse um grupo pluripartidário que validasse alguns critérios e algumas práticas nas empresas públicas ou de gestão pública. E seria bom que António Costa exigisse um escrutínio mais apertado na fase de selecção dos membros do seu Governo e respectivos gabinetes.

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Uma boa quarta-feira
Saúde. Descanso e boa disposição. Paz.

terça-feira, dezembro 27, 2022

Sobre um dia de ressaca, na companhia de Alfredo Luz e de Yiruma

 



Este meu dia foi a modos que de ressaca. Parte do dia foi passado a garimpar a casa. Depois de dias assim, tudo se encontra: peças de lego, bocadinhos de papel, etiquetas, uma tesoura, num lugar remoto um prato, um guardanapo e uma garrafa de água das pedras, papelinhos de after-eights, restos das hastes de rena, e, certamente porque não é verão, não apareceram meias ou outras peças de vestuário. 

Também passei a pente fino os sacos de papéis e envelopes sobrantes para assegurar que, se houvesse alguma coisa relevante para aparecer, aparecesse antes de ir tudo para a reciclagem.

Fiz uma máquina de roupa com as toalhas de mesa e as das casas de banho e panos de cozinha e das mãos. Não choveu mas não esteve bom para secar. A partir das quatro e tal começou a cair a humidade e, por isso, nessa altura a roupa veio para dentro, para o estendal desmontável que transportámos cá dentro. Talvez amanhã de manhã esteja quase sequinha. 

Aproveitei ser um dia desimpedido para tentar convencer o meu marido que, tal como eu, também esteve de tolerância, a fazer uma coisa a que até aqui se tinha recusado: ajustar a altura de dois quadros. Com o pretexto de não gostar de fazer buracos nas paredes, temos este tema entre nós: se um quadro fica bem à primeira é uma maravilha, se não fica posso levar um ano ou mais a conseguir que se disponha a mudá-lo. Claro que poderia mudá-lo eu mas há duas razões para não o fazer: um dos quadros é muito pesado, tem vidro, moldura pesada, não tenho força para pegar nele, e, para além disso, nunca aprendi a trabalhar com o berbequim, tenho medo que a broca se solte em plena acção e voe, rodopiando, perfurando tudo em pleno voo.

Claro que não tive que cozinhar: apesar das marmitas que levaram, ainda sobrou o qb para ambas as refeições.

A seguir ao almoço, instalei-me num cadeirão junto à janela lá de cima. 

Quando cheguei à escada, já o dog estava a meia altura, a olhar para baixo à minha espera. Não sei como é que este animal adivinha as minhas intenções mas a verdade é que adivinha. Levei o computador e fui ver a Emily in Paris, uma coisa boa para pré-adolescentes mas que me distraio a ver sobretudo pelas vestimentas das mulheres da série e por Paris. Só que passado um bocado, ficou sem bateria. 

Não quis saber, adormeci. 

Depois estive a ler um pouco dos Aforismos da Agustina. Tinha comprado para oferecer a uma pessoa que me pareceu que iria gostar. Contudo, dias depois, fiquei com mixed feelings. Por um lado, não tinha a certeza de que gostaria (o meu marido achava uma oferta algo arriscada) e, por outro, estava com vontade de lhe mexer. Portanto, ficou pra mim e para ele foi um outro que acho que é uma aposta mais segura. 

Também tenho a dizer, embora sem atirar foguetes, que a noite passada tomei um paracetamol e dormi lindamente, tendo acordado praticamente sem torcicolo.

Mas estou molengona, sem acção, e, ao mesmo tempo, cheia de ideias, com vontades de mudanças, mesmo que pequenas mudanças. Só que não tenho vontade de pensar em como chegar lá. Por exemplo, está um catavento, um moinho de vento e um sino do lado de lá da horta e gostava de trazê-los para o lado de cá. Mas não sei para pôr onde nem sei se será fácil desmontar de onde está e montar do lado de cá. Já deitei uma alusão, assim como quem quer a coisa, mas o meu marido limitou-se a dizer: 'Não comeces'. Tenho que estudar melhor a situação.

E tenho algumas coisas mais a sério para tratar mas é tanta a preguiça que até para procrastinar sinto moleza. 

E continuo sem responder a comentários ou a mails. Sinto-me em falta mas, depois das trabalheiras, a lazeirice parece ter tomado conta de mim.

Tirando isso, sei que vai por aí alta baderna sobre uma Secretária de Estado que se demitiu da TAP, saindo com a carteira bem recheada. Não percebo bem o que se passou mas não me cheira lá muito bem. Palpita-me que a coisa não vai acabar bem. 

Também é curioso que mais um oligarca descontente com o psicopata assassino tenha caído da varanda. Caem das varandas que nem tordos, os ex-amigos do diabo em forma de gente que o mundo não consegue travar. 

O frio do caraças em algumas zonas dos States também é um tema. 

O planeta anda instável e alguns humanos parece que se estão a ressentir de forma muito profunda.

Mas ando desinformada, desinteressada, necessitada de uma cura de sono, de um livre trânsito para um spa, de coisa em forma de assim. Por isso, por hoje nada mais.

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As pinturas são da autoria de Alfredo Luz, pintor cuja obra só conheci há dias e que foi verdadeiro coup de foudre. Amo, amo, amo. Como foi possível nunca antes ter ouvido falar dele eu não sei, não encontro explicação. 

 Yiruma acompanha a obra de Alfredo Luz, interpretando Kiss the Rain

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Desejo-vos um dia bom
Saúde. Tranquilidade, Paz.

segunda-feira, dezembro 26, 2022

Ementa do almoço de Natal -- um post culinário com reportagem fotográfica

 



Estou aqui a ganhar coragem para desencostar a cabeça do sofá para escrever. Acordei bem, provavelmente ainda sob efeito do paracetamol da noite mas, para a tarde, o torcicolo começou a mostrar os dentes e agora está aqui a morder de uma maneira... Tenho que tomar outro mas, como também estou com sono, prefiro escrever agora e, só depois, quando for para a cama, o tomar.

Não levem a mal que não agradeça os comentários ou não responda aos mails. Vai a caminho da uma da manhã e estou um bocado incapacitada. 

O dia foi muito bom, talvez dos melhores dias de Natal. Todos bem dispostos, todos com tempo, todos a mostrando gostar de estar na conversa. A lareira estava óptima, a deitar um quentinho bom e, aos poucos, fomo-nos juntando ao redor a contar histórias e recordações, a rir, os miúdos contentes por ouvirem histórias da família.

Claro que isto foi já à noite, quando a maltinha miúda já tinha gasto parte das pilhas. Alguns dos meninos receberam jogos de cartas e jogos de palavras e, por isso, houve uma animação doida com o pessoal em volta da mesa. Depois de almoço e durante um bom bocado, os decibéis estavam delirantes, tamanho o entusiasmo. A minha filha também trouxe hastes de rena que punham na cabeça e argolas para os outros acertarem, atirando-as de longe. Uma festa.

E houve filmes, houve montagem de legos, um dos bisnetos a resolver fenómenos "inexplicáveis" do telemóvel da bisavó, a tia a fazer penteados à sobrinha e houve tudo o que de bom acontece quando todos estão disponíveis para conviver em harmonia.

E naturalmente houve troca de presentes (e até e pequena fera os recebeu e na foto está já a usufruir de um) e houve contentamento e alegria pela troca e pelo prazer não apenas em receber mas, sobretudo, em dar. 

Desta vez, durante um parte do dia, pusemos o ursinho na rua, senão seria o fim da picada com as mesas cheias de comida à pata de semear, com papéis e sacos all over. 

Claro que não está habituado e ficou infelicíssimo. Subiu para um parapeito e pôs-se ali e encher-nos de remorsos. 

A minha filha fotografou-o e aqui está, em baixo, coitadinho.

Quanto ao repasto, penso que gostaram da comida e isso é uma coisa que me enche de alegria. Abriu-se a mesa grande e teve que se trazer mais uma mesa grande lá de fora. E ter assim uma mesa enorme cheia de gente é daquelas coisas que me enche o coração. A mesa redonda ficou a servir de mesa de apoio, onde nos íamos servir. 

Vou contar o que foi o almoço. Uma vez, ao descrever o repasto alguém disse que era comida a mais. Por acaso sobrou alguma coisa que, quando saíram, à noite, levaram. Mas é preciso não esquecer que é muita gente e, felizmente, todos uns bons garfos.

De entrada, tínhamos polvo no forno, tostas e embrulhinhos folhados. De prato principal, açorda de galinha do campo. De sobremesa, uma menina fez arroz-doce, outra doce de chocolate, outra bolo de cenoura e vieram também filhoses, sonhos e bolo-rei, broas. E havia uvas, bombons e etc.

Quando estou a cozinhar é sempre num registo contra-relógio pelo que nunca me dá para fotografar. E quando a comida é disposta, logo várias vivalmas se acercam de prato na mão para se abastecerem. Por isso, de comida nada tenho para mostrar. 

Tentei fotografar algumas luzinhas para vos mostrar mas não ficaram grande coisa pois há sempre alguém a passar. Ficam aqui as possíveis.

Mas vou contar como fiz o que eu fiz:


Tostas

Usei pão, salvo erro de massa mãe que fatiei, finamente, no supermercado. Foi ao forno até as fatias secarem. Cá fora, cobrimo-las de queijo mozzarela ralado. Voltaram ao forno para o queijo derreter. Quando saíram, reguei ao de leve com um fio de azeite e polvilhei com orégãos. A seguir, cobriram-se umas com presunto serrano de cura longa e outras com salmão fumado. Por muitas que se façam voam num ápice.


Polvo no forno

De véspera (de véspera apenas porque tive que ir adiantando serviço) cozi o polvo, depois de descongelado. Segui o ensinamento do meu filho. Põe-se a água a ferver. Mergulham-se os polvos e retiram-se. Deixa-se que a água volte a ferver. Novo mergulho e cá para fora. Depois de ferver, vai de novo mas desta vez fica por cerca de 45 minutos, até que fiquem macios. No fim, juntei um pouco de sal. E ali ficou até que hoje escorri e coloquei num tabuleiro de ir ao forno. Coloquei dentes de alho (com a sua pele), folhas de louro, um pouco de alecrim e azeite. Envolvi bem. Deixei ficar um niquinho do caldo. Ficou um bocado (20 a 30 minutos, talvez) no forno. Quando estava com ar tostadinho e cheiroso, retirei, cortei aos bocadinhos, retirei o louro e os alhos e coloquei numa taça.


Embrulhinhos folhados

De véspera coloquei num tacho três cebolas grandes, dois alhos franceses fatiados, bastante salsa fresca, folhas de louro, um bocado de vinho branco. Sobrepus uma belo naco de cachaço de porco no qual dei uns golpes fundos para melhor cozinhar. Cobri com outra grande cebola, sal, azeite, um pouco de alecrim. Depois de levantar fervura, baixei e ficou a cozinhar lentamente até a cebola e o alho francês estarem desfeitos, a carne muito macia e o caldo bastante reduzido. Depois de desligado, com um garfo andei à volta para a carne ficar desfiada. Ficou no frigorífico. Fiz de véspera também para adiantar e para que não estivesse quente quando usasse como recheio.

De manhã, usei massa folhada fresca que comprei no supermercado. Cortei cada uma em bocados e, em cada bocado, com uma colher colocava o estufado que estava quase com uma papa. Fechei bem para cada embrulhinho ficar selado. Alguns ficaram como bolinhas, outros mais irregulares. Entretanto, numa taça juntei umas colheradas de mel, azeite e gemas de ovos. Bati para ficar um espécie de polme caldoso. Num prato coloquei sementes de sésamo. Então, envolvi cada embrulhinho naquele 'polme' dourado e depois passei pelas sementes. Na grelha do forno, que estava quente, coloquei papel vegetal e acomodei o melhor que consegui uns quarenta e tal embrulhinhos. Ficaram até estrem bem dourados. Por acaso, uns quantos ficaram um pouco tostados de mais. Tem que se estar de olho e foi na fase dos presentes, distraí-me por uns minutos.

Aprovados. Numa tigela tinha polme de maçã que penso que fazia uma boa combinação com os folhadinhos.


Açorda de galinha

Encomendei duas galinhas do campo. Não sabia bem o tamanho. Acontece que, no conjunto, tinham sete quilos e tal e, por isso, acabei por não as usar na íntegra. Mas quase.

Mal me levantei, o meu marido tirou da última prateleira da despensa, o maior tacho que temos. Coisa tipo quartel. Uma vez mais, cebolas grandes, umas quatro. Um alho francês. Umas três ou quatro cenouras grandes às rodelas. Um belo bocado de salsa. Galinhas, aos bocados, lavadas e lá para dentro com água que deitei já a ferver, água abundante, quase até acima. Um pouco de sal. Depois de levantar fervura (mais de meia hora para isso, imagine-se), baixei. Ficou ali cerca de duas horas. Ao fim desse tempo, quando a carne já mostrava despegar-se do osso, juntei um bocado de chouriço aos bocadinhos, uma farinheira (poucos enchidos pois eram mais para temperar do que para serem ingrediente principal), ovos, um por pessoa mais dois de bónus, para escalfar no caldo. Já perto do fim, juntei uns cotovelinhos (massa) e deixei que cozessem. No fim, escorri um frasco de grão de bico cozido e juntei. Juntei um molho de hortelã fresca e mexi bem para perfumar o caldo.

Entretanto, num tigela juntei azeite e coentros finamente picados. Numa outra, o mesmo mas com um bom dente de alho picado (isto porque alguns não gostam de alho). Mexi bem cada uma. Cobri o fundo de dois tabuleiros grandes e fundos com fatias de pão alentejano. Cobri-as com o azeite com coentros (um tabuleiro sem alho e o outro com). Por cima do pão, colocámos (o plural é porque esta fase já foi a duas mãos, com o meu filho) os pedaços de carne, os ovos, as massinhas, o grão, a cenoura, os bocadinhos de chouriço, rodelinhas de farinheira e, por fim, regámos com o caldo.

Devo dizer que ficou boa e creio que o grande mérito tem a ver com a qualidade da carne de galinha do campo. Nada a ver, nada, nada, nada com as galinhas de aviário. De tal forma que a minha filha, estava a comer e até achava que seria outra carne. Uma carne escura, compacta, muito saborosa.

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E foi isto. Comeu-se, conviveu-se, curtiu-se e, bem vistas as coisas, aviou-se mais um Natal. Daqui a nada estaremos no próximo, ouçam o que vos digo.

E eu agora vou tomar o desejado paracetamol a ver se tenho posição na cama pois preciso meeesmo de dormir.

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Desejo-vos uma boa segunda-feira

Saúde. Boa disposição. Paz.

domingo, dezembro 25, 2022

Natal ecuménico

 

Já em casa não fossem os do IPMA e da Protecção Civil acertar e ainda termos que vir para casa a nado, eis que aqui estou para vos desejar um bom Natal. 

Já festejámos a consoada -- numa casa belamente decorada, com uma refeição cuidada -- já recebi presentes muito bonitos, já oferecemos presentes, já pregámos uma partida, já nos divertimos.

Por acaso estou com um torcicolo daqueles, creio que por no outro dia, nas compras, ter carregado toneladas. Tenho espírito de estivador mas, como se vê, estrutura de donzela. Vou tomar um ben u ron a ver se acordo boa porque o dia é cá em casa e não dará muito jeito andar assim e, ainda por cima, com dores. 

Como quem é bom de dizer coisas aqui, ali e acolá e, pelo meio, cumprir a tradição da ginjinha do Barreiro é o nosso ubíquo presidente, eu não me vou alongar. Quero apenas deixar claro que tenho bem presente que Natal é o que é para quem lhe dá valor e o quer festejar. Para muitas religiões o Natal não é nada de mais (nem de menos) e mesmo para muitos dos que foram criados nos preceitos da religião católica, o Natal é sobretudo um altura de reunião e troca de presentes. Portanto, fico-me por aqui (até porque o pescoço não me deixa ter pensamentos iluminados), partilhando convosco um Natal com todos à moda da rapaziada da Porta dos Fundos. Salvé.

O Jesus certo

Dependendo do momento, ore para um Jesus que lhe convém. No bar, o que transforma água em vinho. Na hora da larica, o que multiplica pão e peixe. Quando te sacaneiam, o que fala "quem nunca errou, que atire a primeira pedra". Quando você quer sacanear, o que chega expulsando geral no chicote. E se reclamarem que você só tem amiga piranha, não temas, Jesus também teve.

Um bom dia de Natal ou, simplesmente, um bom dia de domingo.

Saúde. Afecto. Paz.

sábado, dezembro 24, 2022

Votos a modos que natalícios

 





Sei que isto vai parecer uma vergonha mas o meu estado físico e psicológico, lamento, hoje não dá para mais.

A manhã foi de loucos. Telefonemas, mails, assuntos de última hora, campainha da porta a tocar e mais telefonemas, ora de bom natal ora de 'temos aqui um problema'. 

Eu sozinha em casa com o dog de guarda. Fomos para o passeio higiénico já dava para tarde. Quando estávamos no spot que elegemos como a melhor casa de banho canina e ele já tinha farejado todas as ervas, alçado cem vezes a pata para deixar a sua mijatória marca em tudo o que é coisa e quando começou a cheirar baixinho e a andar à volta de rabo em posição descendente, nitidamente a preparar-se para defecar, eis que passou um carro devagarinho, parou e seguiu devagarinho. Presumo que andassem a ver casas. Ora este género de comportamento é o tipo de coisa que tira o caobeludo do sério. Suspendeu o acto, desatou a ladrar, começou a puxar-me para irmos atrás do carro, saltava de irritação. Enquanto o carro não desapareceu, não descansou, desconfiado, irritado. E, com isto, não se despachava. Portanto, tive que ir dar uma volta maior. Eu a querer despachar-me e ele nem aí. Finalmente lá fez cocó e lá viemos para casa. Só eu.

Tinha pensado mexer um ovo com tomate para o almoço mas como ontem, no supermercado, o lugar dos ovos estava sem um único e como o meu marido, à hora de almoço, foi tentar comprá-los num outro supermercado, numa outra zona, também se deparou com o mesmo cenário, resolvi não gastar nenhum dos poucos que tinha no frigorífico. Comi um iogurte de proteínas que felizmente lá encontrei. E comi uma laranja e uns frutos secos. Se isto não é dieta já não sei o que é uma dieta.

A seguir, e já deviam ser umas duas e tal ou três, fui então para o chamado quarto das meninas para ir espalhando as coisas em cima da cama e para acasalar peças com talões de oferta, para agrupar por recebedor, para pôr em sacos. Uma seca das antigas. 

Longe vão os tempos em que me sentia em falta quando não fazia embrulhos para cada coisa. Agora não há cá embrulhos nenhuns, vai tudo para sacos e, mesmo assim, tudo o que é par uma pessoa vai para o mesmo saco.

Sempre me incomodou a gastação e confusão de papelada e laçarada que ali se gerava. Toda a gente arrancava aquilo sem pestanejar e de repente ficava o chão cheio de coisas para o lixo. Agora não há cá nada disso. E o pouco que possa haver obviamente será separado para reciclar.

Pelo meio, ainda alguns telefonemas. Ao fim da tarde chegou o meu marido e trouxe mais coisas que tiveram que ser arrumadas. E fomos fazer uma caminhada e combinei as coisas com a minha mãe. E falei com os meus filhos. E jantei e arrumei e sei lá que mais.

E com tudo isto, e porque tive que acordar cedo, não tenho é espírito natalício nenhum em mim. Espírito natalício requer sossego, espaço mental para crenças e frescuras, disposição para emoções pré programadas. Ora acontece que, este ano, estou fora. Não por ideologia. Mesmo por conjuntura, circunstância, falta de tempo.

Este sábado vou ter muito que fazer e vou sair cedo de casa pois a véspera não vai ser cá. Por isso, não sei se vou conseguir cá vir antes da meia-noite. Gostava de estar de cabecinha fresca, toda prosa, votozinhos fofos e lindos. Mas não estou.

E depois, com a guerra às nossas portas, com um assassino tresloucado à solta e a que ninguém no mundo parece ser capaz de colocar um travão, com tanta desgraça por todo o lado, com meio mundo a fugir à sua triste sorte e arriscando a vida para ir atrás de um sonho, com crises de toda a espécie que rebentam que nem pipocas, o que é que se pode dizer que não soe a futilidade?

Não sei. Acho que nada.

Por isso, limito-me a desejar-vos dias felizes. Em especial aos que se sentem sozinhos, aos que estão doentes, aos que se sentem inseguros quanto ao futuro, desejo que acreditem que melhores dias hão-de vir.

Daqui vos envio um abraço solidário e amigo. 

E que nos vamos encontrando por aqui. Mesmo que em silêncio --vocês aí, eu aqui --, que nos vamos acompanhando, mesmo que de longe. A vossa presença aí é um presente que não tenho como agradecer. E aceitem estas minhas palavras como o meu agradecimento

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E pode ser que estes vídeos aqui abaixo sejam aqui descabidos, mas vi e gostei. Nada disto aqui abaixo é coisa pouca, ao alcance do vulgar dos mortais. Mas há um beleza e um glamour que são bons para nos ajudarem a sonhar com a beleza das coisas.



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As fotografias que usei pertencem à série Loch dipping and Abuja lights: Friday’s best photos do Guardian
A música é de Gabriel Fauré: Pavane, Op. 50 - sobre pinturas de Claude Monet, simpático presente do Ccastnho

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Festas felizes a quem festejar. Dias felizes a todos.
Saúde. Boas companhias. Paz.

sexta-feira, dezembro 23, 2022

Ah... que bom que é andar às compras nas vésperas de Natal...

 



Hoje sinto-me verdadeiramente esgotada. Os dias não têm sido fáceis. Por vezes, parece que há quem espere pelo fim do ano para levantar problemas que estiveram dormentes durante séculos, a outros parece que se lhes dá a pica toda e que ou é agora ou é agora e os outros que corram para não ficarem para trás. Ou seja, estamos quase no natal e, de repente, parece que se concentram assuntos que há muito já podiam ter vindo para cima da mesa e outros que bem podiam ficar para o ano que vem.

Mas eu tinha resolvido que desta quinta-feira não podia passar sob pena de poder chegar à véspera e ao dia e não ter presentes nem comida para pôr na mesa. Decretei dia de férias. Proleta que é proleta tem direito a férias, ora essa.

Mas férias, férias-férias, não foram bem. Com telefonemas, mails e assuntos para tratar não consegui sair cedo. Já passava das onze quando pus rodas a caminho.

Fui a um sítio, depois a outro, depois a outro, depois a outro. Vacinada contra os calores do outro dia, fui vestida de levezinho mas não sei se é por andar carregada ou se aquilo está tudo quente demais, o que sei é que voltei a andar cheia de calor. Uma pessoa com pressa, com calor, carregada como o diabo a quatro e, mais tarde, esfomeada é alguém em sofrimento. Sofrimento. Fico desidratada, impaciente, saturada, a sentir-me incapaz e infeliz, desejando chegar a casa, descalçar-me, beber água, comer, estender-me. 

Ainda por cima, assim como assim, a ter que passar por isto, prefiro fazer estas compras com o meu marido para ir ouvindo a opinião dele e, confesso..., para me ajudar a carregar as coisas. Mas ele não ia meter um dia de férias para fazer o que não gosta. E não gostar é uma forma de dizer. Na verdade, odeia. Entra numa loja e em dez segundos quer sair dizendo que não tem nada que interesse. Outras vezes, aponta para a primeira coisa, mesmo que feia e inadequada, e diz que compre eu aquilo. Acabamos sempre mal dispostos um com o outro. Portanto, hoje não me acompanhou.

Ou seja, foi barra pesada. 

E que não fique a ideia de que não gosto de oferecer presentes. Gosto. Não gosto é de ter que ir comprá-los. Como não me agradam as compras online pois a ver é que a gente percebe a qualidade das coisas, tenho mesmo que ir para o terreno. E isso é que é para a desgraça, ainda por cima em época de enchentes.

Agora está tudo num granel à espera que eu acasale presentes com talões de oferta, que faça conjuntos por quem os vi receber, que coloque em envelopes ou sacos. Ou seja, um saco. 

Ao fim da tarde foi supermercado e, aí, já fomos juntos. Depois arrumar as coisas.

Foi um dia de calor, de estafa, de fome. 

Sei que mandam as boas práticas que se comece com antecedência para, paulatinamente, ir escolhendo, organizando. Não consigo. Não sou de fazer listas. Não sou de sentir espírito natalício quando ainda está calor ou enquanto puder evitá-lo. Fazer compras é para mim, cada vez mais, um castigo. Meter-me em barafundas, um suplício. 

Já aqui contei que, nos meus primeiros anos de casada, fazia peças bordadas ou em crochet para oferecer. Tanto quanto me recordo, era presentes para o casal, para a casa. Gostava de fazer e de oferecer. Era uma coisa muito pessoal. Mas sentia sempre que isso era recebido com estranheza: 'Ui... que prendada que a menina é...'. Deixei-me disso. Rendi-me ao consumismo. Mas não sei se, com o tempo, não vou voltar a esse trilho. Fazer compotas. Fazer bombons. Frasquinhos com sal perfumado com ervas aromáticas. Coisinhas assim, preparadas por mim.

Claro que para os miúdos não poderia ser isso mas alguma me haveria de ocorrer.

Enfim. 

A ver se amanhã vou lá ao fundo, à horta, a ver se apanho umas pontinhas de azevinho para uns arranjos natalinhos. Se tivesse spray dourado, alindava umas pinhas. Mas não tenho. Se calhar enfeito é com aquela grinalda de pontinhos de luz.

E, pronto, nada mais. Acho que vou dormir porque esta sexta também vou ter que acordar cedo. Caneco.


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Não consigo responder e agradecer os comentários porque, acreditem, estou KO. As minhas desculpas. E sei que tenho mails em atraso. Tentarei arranjar tempo e energia durante esta sexta ou, senão, tentativamente no sábado. Está complicado, isto.

As árvores criativas são algumas da selecção 50 People Who Won Christmas With Their Creative Christmas Trees. Acho um piadão às de crochet.

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Desejo-vos uma happy friday

Saúde. Calma e alegria. Paz.

quinta-feira, dezembro 22, 2022

Jéssica

 

Ao ver as notícias, algumas ferem-me de forma devastadora. Ao querer comentar uma delas, o meu marido quase me gritou. Não quer ouvir, não quer falar. Eu queria falar apenas para ele me ajudar a tentar a perceber. Mas creio que também não consigo verbalizar os horrores que se vão conhecendo. Nem pensar eu consigo. E, no entanto, não me sai da cabeça.

Há casos, como os de Putin, em que a gente até percebe uma motivação. Quer restaurar o sonho imperial e, narcisista e psicopata como é, habituado a dispor da vida alheia, lutando pela própria sobrevivência, não se importa de matar, estropiar, destruir, arrasar, chacinar. Invade um país porque acha que é um país sem direito a existir, quer anexá-lo, e, de caminho, não olha a meios. Mata os seus, a quem manda para a guerra, mata os outros a quem inflige uma guerra em que não se consegue acreditar de tão absurda, tão cruel, tão ridícula. 

E há outros. Vulgares criminosos, gente que tem um passado de desamor e abandono. Ou outros, sem escola que não a do crime. Tantos casos, cada um com a sua história.

Mas depois há aqueles em que a humanidade parece não existir, em que não se percebe propósito, em que parece não haver nem coração nem cabeça nem olhos nem ouvidos nem nada. Quando leio ou ouço sobre o que aconteceu à menina de Setúbal, Jéssica, fico petrificada. 

O que a mãe lhe fez, aquilo a que aquela criança foi submetida, o que a outra mulher lhe fez, tudo, tudo, tudo, me deixa aterrada. Não lhes custou ouvir o choro da menina, ver as sus lágrimas, assistir ao seu sofrimento? Como é possível? Como? E porquê? Quando vi as imagens, vi um mulher de meia idade com ar de quem não é abastada; quando vi a mãe da menina vi um mulher que também não é abastada. Faziam o que faziam a troco de quê? De quanto? A vida de um menina a troco de quatrocentos euros. Se qualquer delas trabalhasse facilmente ganharia quatrocentos ou mais euros. Porque optaram pela vida desgraçada que viviam? Há aqueles casos de tráfico de droga em que fazem o que fazem para viver em grandes casas, ter grandes carros. Mas estes pobres desgraçados faziam o que faziam para quê? Para viverem pobremente como parece que viviam? E o que aconteceu para terminar nisto, para se terem desumanizado a este ponto? E como foi possível que nenhum conhecido ou vizinho tivesse percebido o que se passava com a menina?

O que li e ouvi se calhar é apenas uma pequena parte da miséria moral daquelas pessoas, da desgraça que era a vida daquela gente, do sofrimento pelo qual a criança passou. Mas é tudo tão estranho, tão infeliz. Preocupamo-nos, e temos razão para isso e tudo o que se faça é pouco, com o sofrimento das mulheres vítimas de violência doméstica. E com o sofrimento das crianças vítimas de abusos, violações e maus tratos às mãos dos pais, padrastos, avós incapazes de lhes assegurar uma vida segura e feliz, temos a certeza de que há uma rede de vigilância e apoio? 

E como agir perante tamanha desestruturação? Vendo o que é a desumanidade, a ausência de valores e de alma destas pessoas, como devemos nós reagir? O que podemos nós, a sociedade, fazer para prevenir situações destas? Haverá mais casos assim? Haverá, claro. Mas como se chega a isto, a este ponto? Terá retorno?

Sei que haverá por aí, entre quem me lê, quem cinicamente me ache uma idiota, uma ingénua, quem ache que no fim da pior noite casos destes há é muitos. Seja. Mas fechamos os olhos? Banalizamos? Relevamos? Não podemos ajudar?

Não consigo deixar de pensar nisto. Na menina. Na mãe e na avó da menina. Na pseudo ama. O que aconteceu na vida destas pessoas para que a vida de uma criança tenha perdido o significado, o valor? Para que a compaixão ou o amor tenham desaparecido tão por completo?

Acho isto tão triste...

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Um dia bom

Saúde. Compreensão. Paz.

quarta-feira, dezembro 21, 2022

Pedro Barroso, um pedaço de mau caminho, poderoso, bem sucedido... e viciado em cocaína.
[Mais um testemunho poderoso da série Labirinto - Converss sobre saúde mental]

 

Como não costumo frequentar as telenovelas portuguesas não conheço o trabalho de Pedro Barroso.  Tinha vagamente ideia de se tratar de um actor com um físico invejável. 

No outro dia, numa de zapping, parámos num daqueles programas em que as pessoas conhecidas da televisão são exibidas, são usadas como entretenimento. Provavelmente elas acharão que são elas próprias que decidem exibir-se e, se calhar, acreditam que se divertem. Mas facilmente percebemos que estão apenas a ser um veículo de promoção para os programas de televisão em que participam ou para marcas cujos produtos usam como se não passassem de uma montra.

Esses programas são o cúmulo da futilidade. Todos se riem muito e todos ostentam felicidade, momentos de amor com a 'nova' relação ou de entusiasmo com o 'novo' projecto. Os entrevistadores geralmente colocam questões infantilóides, desprovidas de sentido, e os entrevistados, sempre sorrindo muito, dão respostas muito parvas. 

Se calhar durante uns tempos gostam, se calhar sabe-lhes bem o dinheiro que ganham. Mas é mais do que natural que, ao fim de algum tempo, se sintam vazios, esvaziados até às entranhas, sugados, incapazes de se aguentarem mais naquele registo.

Vemo-los elegantes, fisicamente muito bem tratados, muito bem arranjados. E, depois, de vez em quando somos surpreendidos com a notícia de que atravessaram períodos de vício, períodos de depressão. 

Já aqui falei de um conhecido próximo, dantes dir-se-ia 'prente' ou 'aparentado'. Jovem, bem sucedido, bem disposto, sempre com amigos, com uma vida amorosa preenchida, uma família amiga. E, no entanto, aos poucos foram-se percebendo alguns aspectos que pareciam não bater muito certo. Muitas vezes, em reuniões familiares, afastava-se e, quando regressava, vinha eufórico, eléctrico, esfusiante. Não se percebia de onde tinha surgido tamanha energia. Depois, começou a pedir dinheiro emprestado. Nunca se percebia bem para quê. Pertencendo a uma família abastada, tendo uma boa profissão, não tendo despesas elevadas, não se percebia. Mas pedia dinheiro ora a um, ora a outro e, como era tema sensível, os que emprestavam guardavam reserva. Logo, não sabiam uns dos outros. Ou seja, ninguém sabia a dimensão que as dívidas estavam a assumir.

Continuava a trabalhar mas percebia-se que aquela não seria bem a sua praia. Esforçava-se por encaixar num destino que a herança familiar parecia querer traçar-lhe e pensava-se que noitadas eram uma forma de espairecer do espartilho profissional. 

Mas, tirando um ou outro insignificante pormenor, no dia a dia, tudo parecia normal. 

Uma vez, numa dessas ocasiões em que a meio do convívio familiar se afastava, alguém ouviu um barulho suspeito na casa de banho, como se alguém estivesse a inalar qualquer coisa. Quando de lá saiu vinha brincalhão como sempre mas imparável, tudo a uma velocidade vertiginosa, metia-se com um, metia-se com outro, ria, dizia piadas, uma coisa for de normal. A namorada, inocente e enfeitiçada como sempre, sorria embevecida, contente com o seu namorado hiperactivo. Toda a família inocente, muito longe do que estava a passar-se. 

Até que a bomba rebentou. Estava cheio de dívidas, estava viciado. O núcleo mais próximo abafou. Pouca gente sabe. Largou a profissão, afastou-se, mudou integralmente de vida. Casou, tem um monte de filhos. Ninguém toca no assunto. Como é que ele conseguiu esconder de toda a gente, onde se abastecia, como conseguiu gastar tanto dinheiro, como conseguiu arranjar tanto dinheiro, isso acho que ninguém sabe. Talvez só ele. 

A entrevista de Pedro Barroso é outro testemunho poderoso. Divulgo-o pois, como em todas as questões de foro mental, o primeiro passo é reconhecer que se tem um problema, o segundo será pedir ajuda, o terceiro aceitar ajuda. Um vez que quem sofre destes problemas, começa geralmente por ter vergonha em assumir, muitas vezes achando-se culpado pela situação, geralmente não querendo preocupar aqueles que se amam, penso que é importante que quem passou por isso dê a cara, partilhe a sua experiência. Claro que há estigmas associados à doença mental -- maluco, lelé da cuca, fraco, drogado, incapaz, etc. -- mas, se se souber que há muita gente a passar por estes problemas, talvez quem atravessa um labirinto que parece não ter saída ganhe coragem para pedir ajuda.

A entrevista, um vez mais, é muito boa, sensível, directa, interessante. E o Pedro Barroso não é apenas um pedaço de mau caminho, é também um homem corajoso.

Pedro Barroso e a adição. “A cocaína era como se fosse o meu medicamento”

Aceitou ajuda quando os consumos já eram diários e percebeu o descontrolo em que vivia. O tratamento foi o primeiro passo, mas não deixou o ator imune a duras recaídas. Uma parceria Observador/FLAD.

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Desejo-vos um dia bom

Saúde. Compreensão. Coragem. Paz.