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terça-feira, outubro 01, 2024

Como sou bem mandada, cá estão eles...

 

Enquanto as televisões dão conta de foguetório aceso lá pelos médios orientes, com algumas botas a marcharem a caminho de terreno proibido, refugio-me no meu mundinho suave, banhado a outono e a ouro, onde ninguém maltrata ninguém, onde se fala de escritas e de leituras, em que se cultiva a afabilidade e não a animosidade.

Portanto, é por aí que hoje vou.

Ando geralmente pelas margens. Tento descobrir a escrita genuína, aquela em que não se encontram bolas de efeito, em que as palavras estão junto à respiração, em que não há banalidades enfatuadas mas em que se escreve sobre verdades desabitadas, em que se visitam ruínas ocupadas pelo silêncio.

É verdade que muitos dos blogs em que a escrita escorreita fluía vão rareando. Desmotivaram-se os seus autores, desertaram talvez para redes mais socialites; ou simplesmente cansaram-se. Muito gostaria eu que o Pedro Mexia, a Ana de Amesterdão, o Vítor das Âncoras e Nefelibatas e todos os outros que na minha lista de Frescos e Bons (à direita) aparecem bem cá para baixo já que não publicam há séculos voltassem a aparecer e a aquecer a blogosfera. 

De qualquer forma, vou continuando a acompanhar os fiéis e devotos que ainda se mantêm no activo. E ainda os há dos bons. 

E, também eu, não perco o que dizem. São apontamentos, são registos no livro de horas dos seus autores, são desabafos, são conselhos. São boas companhias.


No outro dia foi a Susana que falou na Maria Judite de Carvalho e nas suas saborosas crónicas. Agora, mais recentemente, foi o Mr. Xilre que falou na Alba de Céspedes com o seu Caderno Perdido (também aqui). Também a Maria do Rosário Pedreira referiu o Escrever de Stephen King e o Hoje Caviar, amanhã Sardinhas da Carmen Posadas e do irmão Gervasio.

Portanto, fui em busca desses frutos que se anunciaram gostosos, maduros.

Juntei-lhe um livro da Martha Medeiros pois tenho lido que os seus livros de crónicas se vendem como pãezinhos quentes e eu, que gosto tanto de ler crónicas (apesar de me dizerem que em Portugal o género Crónica é mal amado e pouco procurado), quero perceber quais as razões de tal sucesso.

E o Nexus do Harari porque claro que sim, é muito cá de casa, e porque o meu marido tem lido de fio a pavio todos os livros dele e estava à espera que este cá chegasse, e um outro também para ele, A História do Mundo do Peter Frankopan de quem já leu As Rotas da Seda.

Nos idos de outras eras, antes de nos termos desiludido de vez com o Expresso, gostava de ler as suas críticas literárias. Mas também havia críticas muito balofas, muito tontas. 

Por isso, agora, sem Expresso e sem gurus a opinarem sobre isto e aquilo, bebo com avidez sugestões que vou colhendo aqui e ali, nomeadamente na nossa querida blogosfera. 

Vamos é agora ver como me oriento para me deitar a eles (refiro-me aos livros, claro), tanto mais que as pilhas dos não lidos vão crescendo nos lugares estratégicos, ameaçando desabar quando lá pousar o próximo.

Mas é tão bom ver chegar bichinhos novos, cheios de mundinhos por descobrir, cheios de palavrinhas boas...

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E, agradecendo aos bloggers que se mantêm no activo, despeço-me por hoje desejando a todos, bloggers e não bloggers, uma bela terça-feira. 

segunda-feira, junho 03, 2013

Reportagem fotográfica na Feira do Livro em Lisboa: jacarandás com escritores, em dias de muito calor


Desde o início da minha adolescência que frequento a feira do Livro. Comecei por ir com os meus pais. Andava de pavilhão em pavilhão, eles maçados e eu deliciada. assim me recordo: o meu pai impaciente, carregado com os livros que eu ia escolhendo, a minha mãe compreensiva e eu perdida, empolgada no meu mundo. Depois já ia sozinha, e nada se comparava a isso, horas para baixo e para cima, braços carregados de sacos. No primeiro dia, ia de barraquinha em barraquinha, pedindo os catálogos que depois estudava em casa e, quando voltava, para além dos livros do dia e de coisas inesperadas, ia aviando a lista que tinha feito em casa.

Depois passei a ir com um namorado que também amava as palavras. Mas ele, ao visitar a feira, tinha a sua própria agenda e isso atrapalhava-me os movimentos pois eu queria parar nuns e ele demorava muito noutros que não me diziam nada, coisas ligadas a estudos linguísticos, semiótica, e outras coisas do género. Eu queria seguir e ele de roda dos livros onde se explicava como se fazia a autópsia à língua portuguesa. Ou cirurgia, mais do que autópsia. Livros de anatomia e cirurgia da língua, e eu acho que isso destrói o amor na língua. Alguém, para gostar de uma outra pessoa, se põe a ver as suas análises médicas, radiografias, ecografias, alguém precisa de dissecar o outro para o compreender e amar melhor? Eu acho que não. Em contrapartida, se eu parava nos compêndios de Berkeley ou na Teoria da Relatividade ou na Mecânica Quântica ou na Origem das Espécies, matérias que, nessa altura (e ainda hoje) me mobilizavam grandemente, ele queria seguir. Um stress. Não era fácil de compatibilizar.

Tempos depois, a companhia passou a ser outra: a mesma de agora, a mesma de todos estes anos. Mais perspicaz que eu para ver coisas em que não reparo mas com vontade de despachar a feira em três tempos. De longe deita o olho, vê se interessa ou não, e segue, sem paciência para se debruçar à procura de um tesouro escondido. Fica de longe, de olho em mim, a ver se não me perco dele.

Pelo meio, fui também com os nossos filhos. Cheios de calor a quererem água e gelados, interessados em alguns  pavilhões mas o resto do tempo impacientes, queixando-se das secas. Ainda hoje referem os traumas que apanharam nessas alturas. Mas hoje são leitores assíduos, exigentes, e talvez devam um pouco disso ao amor aos livros com que sempre conviveram, desde que nasceram.

Desde que há a Fnac com 10% de desconto e promoções e desde que à hora de almoço vou quase todos os dias ver o que há de novo, a Feira perdeu um pouco daquela novidade. Mas, ainda assim, parece que todos os anos tenho que me manter fiel a este ritual.

No sábado fui de raspão ao fim da tarde. Vinha da Gulbenkian, das brincadeiras do Dia da Criança, já estava cansada. Dei uma volta, espreitei uns livros, vi alguns escritores mas de longe. 

Este domingo resolvi ir lá de tarde para ver se comprava alguns livros.

Almoçámos um brunch (passe a redundância) num restaurante muito agradável, boa comida, variada, à discrição. Não gosto muito de fazer publicidade a restaurantes mas de vez em quando abro uma excepção. Este merece destaque: a Rota das Sedas, na Rua da Escola Politécnica, em frente da Procuradoria-Geral. Ficámos no terraço.



Restaurante Rota das Sedas


Tirei a fotografia numa altura em que as pessoas de uma mesa se tinham levantado para ir buscar comida e apenas mais duas pessoas ao fundo e mais duas junto a nós lá estavam. A seguir, quando estávamos já de saída, a caminho das três horas, chegaram mais pessoas. Se calhar essa é a hora de maior afluência para os brunches. Lá dentro há umas salinhas pequenas, também simpáticas, mas o terraço é melhor. Não é barato mas o sítio é tão bonito e a comida tão agradável que, enfim, fecha-se os olhos, um dia não são dias, bla,bla, bla (21 euros por pessoa, mais as bebidas que são à parte).

Para quem possa, aqui deixo a recomendação.

Depois fomos para a Feira. Um calor abrasador. Embora goste de calor, custa-me andar na rua, ao sol, com temperaturas tão elevadas. Fico impaciente, a minha disponibilidade esvai-se.

Confesso que a configuração actual da Feira me é um pouco estranha. Há muitas esplanadas - o que até pode ser bom para que a mim, talvez por conservadorismo, me parece um pouco demais - e tudo aquilo me parece mais stands comerciais do que barraquinhas de livros. Muitos cartazes, muita cor, muito altifalante.

E depois há os autores. Sempre houve sessões de autógrafos e eu sempre as evitei. Não sei porquê. 

Tenho para mim que o que me importa é o que escrevem, não quem são, não a forma como assinam o nome. No entanto, uma ou outra vez, em todos estes anos, cedi à normalidade e fui pedir um autógrafo. Pedi um à Alice Vieira antes da minha filha nascer e pedi que a dedicatória lhe fosse dirigida. E talvez mais um ou outro. De resto, tenho um pudor, não sei explicar, acho que os escritores não deviam ser obrigados a sujeitarem-se àquela provação. Acho que deve ser horrível estarem ali sentados à espera que alguém os vá procurar. De vez em quando vejo uma mesa com um escritor sozinho e sem que ninguém lá pare. Acho que deve ser horrível, horrível. Passo e nem olho, finjo que nem reparo para que não se sinta que estou a testemunhar o abandono a que está a ser votado.

De alguns escritores gosto muito e gostaria de lhes dizer isso, que gosto deles, mas não quero fazer figuras ridículas, chegar ali e dizer banalidades, ah e tal, aprecio imenso a sua obra, imagino a complacência do escritor, ah muito obrigado, como se chama para eu escrever na dedicatória? Não. Não faz o meu género. 

Mas, enfim, gosto de os ver, de saber como são, e àqueles de que gosto e que não têm muita gente de roda, gostaria de lhes agradecer, de perguntar se querem companhia, de ficar ali sentada a conversar para que não se sintam mal amados, de perguntar se querem que lhes vá buscar uma água ou um gelado. Mas receio que me olhassem como se eu fosse maluca, e, até assustados, me dissessem que não, que me despachassem - não corro o risco de fazer essas figuras ridículas (nem o meu marido me deixaria...). Por isso, limito-me a fotografá-los discretamente.

Naturalmente comprei alguns livros mas não muitos, não tantos como há anos atrás. Tinha curiosidade de ver a Patrícia Reis, li o que ela escreveu ontem (já retirou o post) e estava curiosa de ver como é que ela lá estaria e talvez vencesse a minha resistência e fosse pedir-lhe um autógrafo. Mas ela só chegava às 5 e eu já não aguentava mais o calor. 

De resto, e desejando que os visados não levem a mal a inclusão de fotografias suas aqui, deixo a fotografia de alguns escritores que fotografei. Caso não o permitam, bastará que mo digam que eu as retirarei de imediato.

Começo com os jacarandás em flor que circundam a zona.



Jacarandás em flor no início da à Av. Joaquim Augusto Aguiar, ao Marquês


A seguir mostro a vista geral de Lisboa, do Tejo e da Margem Sul avistados da Feira, para os que não tem possibilidade de a visitar (e não posso esquecer que parte dos meus Leitores não é de Lisboa e, inclusivamente, um número significativo é do Brasil)



A Feira no Parque Eduardo VII, a estátua do Marquês de Pombal de frente para o Tejo, e Lisboa descendo até à beira do rio, a Serra de Palmela ou da Arrábida (ou as duas - não sei) do lado de lá


A relva é aproveitada para banhos de sol e que sol, que calor...



Relvado central do Parque


Estava muita gente quer no sábado quer no domingo. Não me pareceu que as compras fossem extraordinárias, mas talvez fosse impressão minha. Para o meu gosto a feira tem um pouco de animação a mais e isso e o calor desestabilizaram-me um pouco, pelo que talvez tenha ficado com uma impressão imprecisa. Pareceu-me que as pessoas andavam a passear mais do que a comprar.



As zonas de sombra são um alívio nestes dias de calor mas, como se vê, há muita gente na Feira


Não quero deixar de referir que, para além das Editoras mais conhecidas, há outras que desconheço e há outros pavilhões que não têm muito a ver com editoras ou então fui eu que não percebi. Por exemplo, neste aqui abaixo não consegui perceber bem o que se passava. Não sei se são góticos, se era algum escritor que atraía pessoas com esta forma de viver, não sei. Associei ao que J. Rentes de Carvalho escreveu sobre um par de góticos que passaram por ele.



Tenda onde se passava qualquer coisa - mas não percebi o quê,
só sei que estavam quase todos vestidos de uma forma especial


E, por falar em J. Rentes de Carvalho, lá estava ele. Hesitei. Ainda peguei no último livro, que ainda não tenho. Mas pareceu-me que ele estava cansado ou com calor ou saturado, não fui capaz de ir importuná-lo.



J. Rentes de Carvalho


Vi também um filósofo de quem recentemente li um livro bastante interessante, 'Portugal, hoje - o medo de existir'. Devia ter sido capaz de sintetizar em duas ou três frases alguma coisa de inteligente para ele perceber que eu tinha percebido alguma coisa do que li. Mas não me ocorreu nada e também não quis fazer uma figurinha triste como se fosse uma admiradora ocasional. Os escritores merecem-me um respeito que não me parece compatível com chegar ali ao pé deles a pedir um autógrafo como as miúdas que querem um autógrafo de um vip da televisão ou de um futebolista.



José Gil


Junto a ele estava uma das escritoras de quem muito gosto, uma mulher que sai das grutas para brincar com bonecas nos sótãos, ou que brinca à porta de casa com gatos ou que desce ao interior dos bosques para buscar palavras, ou que voa.

Falava com alguém e voava nos gestos, no olhar. Como chegar-me ali, interrompê-la, dizer uma banalidade qualquer? Impossível.



Hélia Correia.
Tirei mais duas fotografias em que toda ela está focada
mas prefiro esta pois aqui ela sorri como uma menina e as mãos voam como pássaros


E, por falar em poesia, na zona da Leya que é uma feira dentro da feira, eis que vejo, discreta, Maria do Rosário Pedreira. Estava ao lado de outras pessoas, talvez escritores, não os conheci. Não quis maçá-la. Mas uma pessoa abeirou-se dela, com carinho, e vi como ela sorriu, um sorriso muito bonito.



Maria do Rosário Pedreira, editora, poetisa


E, por falar em pessoas simpáticas, no sábado vi alguém a quem tinha vontade de me apresentar, de me explicar. Mas no sábado estava cansada, com vontade de ir para casa, sem disponibilidade para conversas. Fotografei-a e este domingo estava com esperança de a ver lá de novo, para, então, me aproximar. Mas já não a vi.



Helena Sacadura Cabral, a Bárbara Helena,
 a quem os jacarandás ofereceram as suas flores para que ficasse assim,
florida de lilás. E jovial e sorridente, como sempre


E já aqui falei desta outra, uma Senhora que escreveu muito para os meus filhos, em especial para a minha filha que a adorava e que eu admiro muito como Poetisa.



Alice Vieira.
A fotografia ficou desfocada pois estavam pessoas a passar à minha frente
 mas quero tê-la aqui pela ternura da sua imagem comendo um gelado, simpática, disponível


Não quero deixar de aqui mostrar um escritor que admiro e com quem me 'encontro' algumas vezes a comentar o Chapéu e Bengala.



Onésimo Teotónio Almeida


Depois havia as vedetas, as que faziam com que os leitores formassem filas. Neste caso aqui abaixo, de uma disponibilidade enorme, sempre pronto para estas sessões, não me teria custado muito... se eu fosse de me pôr em fila, numa tarde de calor abrasador. Não sou.



Luis Sepúlveda


E a vedeta maior, uma fila enorme: o escritor tatuado, da moda, dos clichés. Li os primeiros livros e gostei, li um livro de poesia e gostei mas, a partir daí, acho que se banalizou, que escreve por escrever, que escreve sem que as palavras lhe venham das entranhas, que escreve a metro, não sei bem dizer, parece que as palavras perderam a alma. Ou então sou eu que cada vez sou menos condescendente. Não sei. Talvez seja do excesso de mediatização. Tenho ideia que as luzes da ribalta desvendam as zonas de sombra necessárias aos escritores e, ao desvendá-las, secam-nas. Mas isto sou eu a dizer - e que sei eu disto?



José Luís Peixoto, o escritor que encanta sobretudo 'plateias' femininas


No sábado, já tinha visto uma outra vedeta mas não exactamente da literatura. De qualquer forma, como vedeta, tem virtudes inquestionáveis: é inteligente, é divertido, tem uma presença forte na televisão. Costumo ler às vezes as suas crónicas e ouvi-lo no Governo Sombra. Escreve bem e é acutilante, aquele humor inteligente que dá gosto. 



Ricardo Araújo Pereira, não sei que livros publicou, talvez os livros das crónicas da Visão - mas não sei.
O que sei é que, para além do mais, é um homem bonito


Junto a ele, na Tinta da China, Carlos Vaz Marques, editor e Primeiro-Ministro do Governo Sombra, observava o desempenho do seu irreverente ministro.



Carlos Vaz Marques - o talentoso, trabalhador, grande amante das palavras


E fico-me por aqui que a reportagem vai longa e a noite avançada.

Mas depois de ler o que a Patrícia Reis escreveu sobre aquilo por que um escritor passa nestes dias de Feira, fiquei na dúvida se esta minha atitude de passar, de não querer maçá-los, o meu receio de fazer figurinhas deprimentes, será a melhor atitude. Acho que vou reconsiderar. 

***

Caso sejam uns resistentes e ainda não estejam fartinhos de ler o que escrevo, muito gostaria ainda de vos ter lá pelo meu Ginjal e Lisboa. Hoje as minhas palavras vão até a um jardim muito especial e vão guiadas pela poesia de Armando Silva Carvalho, num livro que comprei, justamente, na Feira. A música é especial. Foi um desafio que um Leitor, a quem muito agradeço, me lançou. Levei algum tempo a ganhar coragem: trata-se da música do compositor Luciano Berio. Não é a minha praia como se costuma dizer mas, ainda assim, abre portas pelas quais não costumo passar.

***

E, por hoje, já é até demais, não é...? Por isso, calo-me já mas não sem antes vos desejar uma bela semana a começar já por esta segunda feira.

terça-feira, dezembro 04, 2012

(Vou já avisando: este post é altamente inconveniente. Quem, em vez disto, quiser ler sobre o OE 2013 e sobre os conselhos de Marcelo Rebelo de Sousa e Henrique Monteiro relativos à incapacidade do Gaspar acertar no que quer que seja, e à do Passos Coelho em perceber o que quer que seja, deve saltar imediatamente para o post abaixo). Aqui, neste, tenta responder-se à seguinte pergunta de um leitor: como fazer sexo fora de casa? (Mas cuidado com algum Flagrante)






Já por mais do que uma vez aqui vos informei das palavras usadas nos motores de busca e que, incrivelmente, trazem os pesquisadores até mim.

Uma das últimas foi: "como fazer sexo fora de casa?"

Tal e qual.

Como acho que nunca me debrucei sobre o tema, fiquei, de novo, a pensar porque é que o Google me enviou esta pessoa. Não sei, às tantas acha que isto pode funcionar como um correio sentimental, ou um site de aconselhamento, uma coisa assim. Seja. Como tenho uma costela mista, ou melhor, uma costela que é um misto de boa samaritana e de agente comercial, para que, de uma próxima vez, a pessoa que aqui venha parar não sinta que veio ao engano, vou tentar responder.

Claro que aqui deverei colocar um desambiguador, ou lá como é que isso se chama. Ou seja, o que quereria a pessoa dizer com ‘fora de casa’? Ao ar livre ou noutro sítio que não a própria casa?

Vamos ver se tenho sabedoria para tão complexa questão.



Se não estiver uma aragem,
podem, por favor, passar o rato ao de leve sobre a senhora?



Se for na rua

Bom, se for na rua, em primeiro lugar há que recomendar prudência não vá o acto ser descoberto e os praticantes ainda irem presos por ofensas à moral e aos bons costumes. Portanto, partindo do princípio que tal será acautelado, poderei recomendar os clássicos: o carro (que não é bem ao ar livre mas, enfim, para lá caminha) mas talvez num local mais ermo (a menos que goste de desafiar o destino), ou a praia num sítio mais resguardado, ou o campo, coisas assim. Mas agora é capaz de estar um bocado de frio para isso, não? 


Se for a bom recato mas fora da casa propriamente dita

Bom, aí as possibilidades são também muitas desde o hotel de beira de estrada, a casa de amigos. Claro que mesmo estas opções não dispensam alguns cuidados.

Conto-vos o caso da mulher que se encontrava com alguém em casa de um casal amigo que lhes emprestava a chave, num sítio bem distante e fora de mão. Lá chegados, saíam do elevador e, se eram vistos a entrar no apartamento dos amigos, já sentiam que os vizinhos adivinhariam o que ali se iria passar, isto se não pensassem que era uma dupla de assaltantes. 

Depois, logo numa das primeiras vezes, uma vez em que foram à hora de almoço, tendo, inclusivamente, levado farnel, ao saírem de lá foram tomar um café lá ao lado. Quando, na parte da tarde, chegou ao emprego, a mulher já tinha uma colega a avisar que tinham ligado para lá de um café no tal sítio no cu de judas a informar que tinham encontrado uma pasta com documentos a partir dos quais tinham identificado o local onde trabalhava. Bonito serviço. 

Ou seja, em qualquer situação, cuidadinho e cabecinha fria é o que se recomenda.

*

Não fui muito gráfica, pois não? Fui bem comportadinha - mas tinha que ser, meus Amigos, não se esqueçam que isto é um blogue de família. 

Mas, pelo menos, quem aqui entre agora à procura de pistas para tão magna questão, já não poderá dizer que veio de balde. Aquela senhora lá em cima, como se vê, já veio de carteira.

Obrigada e o que eu estimo é o que eu desejo, como dizia o outro.

As despedidas a sério estão no post abaixo, aquele onde se fala de coisas maçadoras, está bem? 

*

A canção é Flagrante, é cantada por António Zambujo e tem letra de Maria do Rosário Pedreira)

sábado, setembro 29, 2012

Grupo Corpo, Lady Chatterly, Maria Teresa Horta, António Ramos Rosa, Daniel Faria, Maria do Rosário Pedreira - 'les beaux esprits se rencontrent'. E, depois da alma lavada, as opiniões críticas de Paul Krugman e de António Lobo Xavier em relação às suicidárias políticas de austeridade (irracionais e aterradoramente impreparados, dizem eles dos nossos actuais governantes). Hoje é dia grande: Acordai!


A árvore foi a forma de te ver
e desci para abrir a casa.
De me teres visitado e avistado
entre os ramos
fizeste-me passagem
da folha ao voo do pássaro
do sol à doçura do fruto.
Para me encontrares me deste
a pequenez.






                                     Primeiro roço-te                                                             Morrer de amor
                                     as asas                                                                             ao pé da tua boca
                                     suspensas dos teus ombros                        
                                                                                                                              Desfalecer
                                     imaginando apenas                                                          à pele
                                                                                                                             do sorriso
                                     aquilo que depois
                                     mergulho                                                                         Sufocar
                                                                                                                              de prazer
                                     e faço                                                                              com o teu corpo

                                                                                                                              Trocar tudo por ti
                                                                                                                               se for preciso






Que palavra sobe desta brancura cega, deste olhar branco,
que palavra respira em teu olhar perdido sobre este centro deserto?
Que palavra aquece e esfria, da sombra à
luz, do teu corpo ao sol,
da tua sombra ao sol,
que palavra caminha, vive ou morre
no esplendor calcinado?





Onde quer que o encontres -
escrito, rasgado ou desenhado:
na areia, no papel, na casca de
uma árvore, na pele de um muro,
no ar que atravessar de repente
a tua voz, na terra apodrecida
sobre o meu corpo - é teu,

para sempre, o meu nome.


**

O primeiro poema é de Daniel Faria, o segundo e o terceiro são de Maria Teresa Horta (um pouco desformatados, como viram - mas o adiantado da hora, já passa das 2 da manhã, não me permite discernimento para os arrumar melhor), o quarto é de António Ramos Rosa e o último é de Maria do Rosário Pedreira.

O filme foi realizado por Pascale Ferran e é baseado na obra de D. H. Lawrence.

Este bailado do Grupo Corpo, grupo que, como sabem, pelo virtuosismo, sensualidade, graça, energia, tem, desde há muito, um lugar cativo no Um Jeito Manso, é coreografado por Rodrigo Pederneiras.

E, se ainda vos apetecer, gostaria de vos convidar a espreitar o meu Ginjal onde hoje me despeço da música de Boccherini e onde as minhas palavras se enleiam em torno do corpo do meu amor, levada pela onda de Maria Teresa Horta)

**



(Obrigada, Ana, por me ter enviado este filme!)


*

E, agora, se me permitem, transcrevo do Jornal de Negócios:

Na habitual coluna de opinião no "New York Times", intitulada esta semana de "A loucura da austeridade na Europa", Paul Krugman defende que as medidas de austeridade levadas a cabo por países como a Grécia, Espanha ou Portugal "foram demasiado longe". 

"(...)  a verdade é que estes cidadãos estão certos. Mais austeridade não serve nenhum propósito. Os verdadeiros intervenientes irracionais são os políticos, alegadamente sérios, que exigem cada vez mais sacrifícios", escreve o economista no jornal norte-americano. 

"O que a opinião pública destes países está, de facto, a dizer é que chegaram ao limite: com a taxa de desemprego em níveis idênticos ao da Grande Depressão, a austeridade já foi longe demais." 

<>

“Aparentemente”, diz António Lobo Xavier (CDS) , “o primeiro-ministro ficou surpreendido com a reacção dos portugueses” à proposta de aumento da TSU suportada pelos trabalhadores e diminuição da que é paga pelos empregadores. Daí que, diz, “o mais preocupante nesta crise é que” o primeiro-ministro parece que “não conhece o país, não conhece o que é que pensam as pessoas em geral”. 

As manifestações de 15 de Setembro não foram, na visão de Lobo Xavier, apenas posições de “desagrado” para com a austeridade mas foram também “contra um discurso que não bate certo com nada”.

O facto de, dias antes do anúncio das alterações na TSU, o governo ter dito que estava tudo bem “mostra uma impreparação que aterroriza”, afirma ainda António Lobo Xavier. "Como é possível dizer que estava tudo bem, há um mês, e depois virem à televisão anunciar medidas destas", questionou.




*
E, por hoje, é isto. Desejo-vos um belo sábado. O destino somos nós que o fazemos.

segunda-feira, setembro 24, 2012

Carlos Nogueira, Paula Rego e Lourdes Castro no CAM, as prisioneiras de Camila de Sousa nos Jardins, Tarefas Infinitas no Museu: é a Gulbenkian neste doce início de Outono. E Passos Coelho sai do Conselho de Estado de rabo (e de TSU) entre as pernas. E as novas medidas de austeridade que se adivinham para tapar os buracos do Gaspar-não-Acerta-Uma. E o Miguel Macedo que parece que disse que ele e os colegas do Governo são umas cigarras e que os Portugueses são as formigas que andam a trabalhar para tapar os buracos que eles fazem. E as propostas interessantes da CGTP e das Confederações Patronais. E Marcelo Rebelo de Sousa na TVI que já me cansa com tanta manipulação. E, para não acabar mal, um poema de Maria do Rosário Pedreira da sua Poesia ReunidaCasas


Chegou o Outono. Anunciou-se com algum fragor mas logo se adoçou. Ontem cheguei tarde a casa, por volta da uma da manhã. Li e publiquei os comentários mas estava com muito sono, não consegui responder nem escrever nenhum texto. Durante a noite ouvi que chovia e gostei, assim é que é, um Outono que, logo às primeiras, mostra ao que vem. Mas ao longo do dia o sol foi-se descobrindo e esteve um dia suave, uma dia bom para passear em jardins, para visitar museus. Foi o que fiz.

Quando pousei as mãos no teclado hesitei entre escrever sobre Lídia; mas o tema é-me tão doloroso que hoje vou fazer uma pausa, tenho que ganhar algum distanciamento para que consiga, de novo, meter as mãos nas minhas emoções mais profundas e transformá-las em palavras. Além disso, quero dizer uma ou outra coisa sobre o Conselho de Estado e sobre o recuo do Governo naquela tontice da TSU.

Por isso, hoje isto vai ser uma salada.


1. De novo a Gulbenkian.

1.1. Almoço no Centro de Arte Moderna. Exposições temporárias. Carlos Nogueira, o lugar das coisas. 



Todo o mundo é composto de mudança, segundo Carlos Nogueira


Devo confessar que é daquelas obras que me deixa indiferente: é um misto de instalação e talvez escultura, não sei bem definir. O meu menino mais crescido olhou para esta que aqui acima se vê e é como se não visse nada, olha à volta à procura de qualquer coisa e pergunta, onde é que está aquilo que sobe com ar ou onde é que está o avião?, referindo-se a peças que já viu neste local. 



Flor branca, quase um bouquet de noiva - parte da obra 'Todo o mundo é composto de mudança'


Explico-lhe que agora já não está cá isso, que agora é isto, estes papelinhos e estas flores de papel. Puxa-me pela mão, como se nem me ouvisse, aquilo não lhe desperta atenção e a mim também não.


1.2. Mas a Colecção Permanente tem obras maravilhosas e, agora, um espaço inteirinho com a Paula Rego e eu, aí, fico encantada. É um espaço habitado por mulheres reais, mulheres que se encostam cansadas, que se vestem como se fossem anjos ou fossem para uma festa mas deixando revelar através das feições do povo, pelo cabelo pouco cuidado, que o corpo encerra um cansaço e uma vivência que não são os das mulheres de sociedade.



Excerto de pintura de Paula Rêgo, exposta no CAM


1.3. Seguimos depois para os Jardins, os belos jardins da Gulbenkian cujos recantos conheço desde sempre. Neles namorei, neles tentei estudar, neles brincaram os meus filhos desde bebés, aí brincaram e passearam até que agora já levam os seus próprios filhos. A beleza, a frescura, a intimidade dos recantos, a largueza, os lagos, o som da água que corre, são ainda e sempre os mesmos. Na nossa vida, as coisas importantes são intemporais e os momentos que aqui tenho vivido são sempre muito bons, independentes do tempo que passa.


1.4. Agora nos Jardins há grandes fotografias. Passeamos e ao lado dos caminhos, em recantos arborizados, vemos mulheres olhando para nós, sobre camas. É a exposição 3x4, São mulheres que estão em estabelecimentos prisionais de Maputo, fotografadas por Camila de Sousa.



Fotografia de Camila de Sousa - Uma das mulheres fotografadas em estabelecimentos prisionais feminhinos


Imagens de grande beleza. Não são prisioneiras, ex-delinquentes, perigosas criminosas. Não, são mulheres sensuais, doces, alegres umas, desencantadas outras, mas todas cheias de vida. E estão ali, naquelas camas, perfeitamente integradas nas zonas de sombra dos jardins.


1.5. A seguir fomos ver uma exposição que tem um nome lindo: Tarefas Infinitas, quando a arte e o livro se ilimitam. Toda a exposição é muito cuidada, muito bela. Quem ame livros e os ame também enquanto objectos, gostará de deslizar como um gato silencioso neste espaço escuro no qual os livros brilham como santos em altares.



Tudo existe para chegar a um livro 

1.6. E depois, claro, há as brincadeiras, os lanches à beira do lago, as corridas, e a visão dos peixes de grandes bocas rosadas que vêm à superfície para comer, e há os patos às vezes agressivos e que roubam o pão da boca dos peixes e há uma tartaruga que nunca consegue comer sem que um pato quase a levante no ar, e há os pombos, e outra vez os patos calmos, deitados ao sol. E há os meus meninos que adoram tudo isto.



Ainda não há muito tempo era a mãe e o tio deles que aqui andavam a brincar


2. Sigo, então, agora para o tema político. Quase oito horas de duração de Conselho de Estado. Ainda durava o dito e já no Expresso da Meia-Noite se mostrava a primeira página do Expresso na qual se dizia que a TSU tinha caído. Ou seja, muito antes de ter acabado, já se sabia quais seriam as conclusões. Normal, dizem. Normal...? Que o Conselho de Estado seja pouco mais do que uma coisa de faz de conta é normal...? Está bem, estamos entendidos.



Para ver se alguém conseguia perceber o aborto da TSU,
foi Vítor Gaspar, o subordinado de Passos Coelho, chamado ao Conselho de Estado.
Felizmente foi debalde ou melhor, foi de baldinho na mão e veio de lá com ele enfiado na cabeça


E que tenho eu a dizer a todas estas movimentações? Pouca coisa.


2.1. Em primeiro lugar, acho que bem fez Mário Soares que, sabendo que estava, ab initio, tudo cozinhado, disse o que tinha a dizer e foi para casa jantar sossegado.


2.2. Em segundo lugar, acho que foi a mais absoluta desacreditação feita a um Governo. Ficou logo a saber-se que gente do Cavaco e do Banco de Portugal e mais gente do Conselho Económico e Social andaram a estudar as contas e algumas alternativas à TSU ou seja, ficámos a saber que, face à mais absoluta incompetência do Governo de Passos Coelho, Cavaco pegou nas rédeas. 


2.3. Não só a imprensa nacional como a internacional anunciam, alto e bom som, que Passos Coelho meteu o rabo entre as pernas e saíu a ganir baixinho. 

No entanto, Luis Filipe Menezes, com a presciência e o sentido de estado que se lhe conhece, saíu de lá a dar com a língua nos dentes, concluindo que aquilo a que Passos Coelho foi sujeito foi, afinal, para que o Governo saísse fortalecido. Gentinha assim que brinca com as palavras, dizendo com a maior cara de pau o contrário do que é mais do que óbvio já não devia ter lugar no cenário político actual. 

Porque o que é absolutamente óbvio é que Passos Coelho é agora uma múmia política (o que é a versão passista da múmia paralítica), alguém que foi humilhado na rua por quase todos os cidadãos deste País, que foi humilhado na televisão pelo seu leal parceiro de coligação e de Governo, que foi humilhado pelo Conselho de Estado e, em particular, pelo Presidente da República, que é humilhado todos os dias nos meios de comunicação social e internacional.

Ainda este fim de semana The Economist fazia notícia com a situação portuguesa perguntando “O ponto de viragem: Quanta austeridade é demasiada austeridade?”, afirmando que o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, “parece ter levado as reformas além do limite (...)"


2.4. E, no entanto, apesar do recuo relativamente à medida mais estúpida que alguém poderia inventar, o que aí vem não é menos gravoso. Roubo de uma parte de um subsídio, mais IRS e o mais que se verá.

Mas se o roubo dos 7% aos trabalhadores era quase todo para dar aos patrões e não ao Estado, alguém me explica porque carga de água é que, o não ir este esbulho adiante, implica que seja substituído por um qualquer outro?

Portanto, se nos vão agora ao bolso de uma outra forma qualquer, já não é para dar uma esmolinha para os patrões (esmolinha que os próprios patrões, como é claro, não quiseram aceitar). Então é para quê?



Miguel Macedo, uma das várias cigarras do Governo de Passos Coelho

Só se for para tapar mais buracos daqueles que o Gaspar-não-Acerta-Uma mais o bando de cigarras que faz parte deste Governo, como o Miguel Macedo e outros inteligentes, cavam, cavam, cavam. E nós, pobres formigas, que andemos aqui a trabalhar para o boneco, ou melhor, para que o escasso fruto do nosso trabalho nos seja roubado. E os pobres reformados, que pensavam que tinham a sua pensão de reforma assegurada, que a vejam agora cortada. Porque os grandes especuladores financeiros continuam a bom recato, imunes à crise.



De cabeça perdida, de mãos na cabeça, sem cabeça para nada - escolham vocês, Caros Leitores, a legenda para o triste espectáculo a que assistimos
por parte do Governo de passos Coelho e Paulo Portas


2. 5. Sem quaisquer condições para continuarem a governar, apupados por onde andem, com os resultados a comprovarem que estas políticas são erradas, perigosas e irreversivelmente empobrecedoras, que são políticas que estão a destruir o País, Coelho, o Gaspar, o Relvas, o Borges, o Portas e demais ministros, vivem dias de desnorte, agarrados ao poder, pensando já numa estratégia de sobrevivência nas autárquicas; mostram-se sem estratégia, sem uma ideia válida para o País. Vão viver sitiados até que este malfadado Governo caia, sem deixar saudades.



Arménio Carlos, um homem que se vem afirmando pela energia e determinação
e que me surpreendeu com as medidas que agora propôs


2.6. Medidas que me pareceram sensatas para cobrir o buraco que o Gaspar e o Passos andam de cabeça perdida a ver se conseguem tapar, são as da CGTP. Que o Governo, os partidos  e a opinião pública as ouçam com atenção e sem preconceitos, é o que se espera.

Entretanto, as confederações patronais também não querem que se taxe mais o trabalho, estando contra o corte dos subsídios, e vão propor medidas alternativas, como impostos acrescidos sobre o tabaco ou a energia. Muito bem.


2.7. Há uma certa tendência para se dizer que o mal deste Governo é a má comunicação: que não explica as medidas, que não sabe divulgá-las. Acho que dizer isso é atirar poeira para os olhos. O Governo comunica mal porque faz tudo mal feito.



Passos Coelho boceja, Gaspar está sempre noutra e Paulo Portas assobia para o lado:
- estas são 3 das cigarras responsáveis pelo desnorte com que Portugal está a ser (des)governado 


E esse é o pior dos males, ou seja, justamente, o mal é que as políticas são todas erradas. Podem ser boas para quem pretenda comprar o País a preço de uva mijona. Podem ser boas também para quem esteja a exercer funções de vendedor do País.

De resto, as políticas seguidas são estúpidas, erradas, malvadas. E não há boa comunicação que resista a uma política tão desgraçadamente má.


2.7. Quanto às sondagens que dão o PSD+CDS pelas ruas da amargura e o PS mal descolando, também não admira. Ou melhor, ainda me admira que haja alguém à superfície da terra que apoie o PSD e o CDS com as actuais lideranças e com as políticas que vêm pondo em prática mas, tirando isso, o que lamento é que o PS tenha uma liderança titubeante. É certo que António José Seguro agora parece vir arrebitando mas ainda assim é aquele estilo muito 'situação' numa altura em que os eleitores estão saturados das velhas politicas e pretendem ver algo de novo, uma nova atitude, um murro na mesa, palavras não estudadas, discursos menos redondos, discursos que pouco dizem, que não empolgam; as pessoas estão sedentas de uma política que avance de peito feito em defesa das pessoas, em defesa do progresso, do desenvolvimento, da felicidade.


3. Apenas uma nota final para Marcelo Rebelo de Sousa: pode estar de saia justa pois pertence e é ex-dirigente do PSD e, noblesse oblige, pode não lhe dar grande jeito desancar forte e feio em Passos Coelho. Talvez seja isso. Ou então viciou-se em manipular, em distorcer, em camuflar, em influenciar, em dizer meias-verdades. A verdade é que já me cansa. Com ar doutoral, vai fingindo que é isento e vai enganando os telespectadores. É nefasto o exercício de manipulação que leva a cabo aos domingos à noite na TVI tentando fazer crer que não há alternativa.

E há alternativa, há sempre alternativa, claro que há sempre alternativa.



Marcelo Rebelo de Sousa frente a Judite de Sousa:
Um domingo destes hei-de dar-me ao trabalho de enumerar as incorrecções,
meias-verdades e manipulações que leva a cabo na TVI


Marcelo Rebelo de Sousa, apesar da sua inteligência e vivacidade, é a imagem do mundo da velha política, da política dos ardis, das palavras viciadas, dos jogos de poder. Devia ter menos palco, menos tempo, porque, também aqui, há alternativas.


4. E, apesar disto já ir mais do que longo, não quero acabar mal. Permitam-me, pois, que acabe com arte, com poesia.



Casas feitas de letras ou casas construídas sobre letras - é o mundo de Lourdes Castro no CAM



Por isso, para acabar, escolho as letras, escolho as palavras, escolho um poema de Maria do Rosário Pedreira do seu último livro, Poesia Reunida:


Esgotamos os desacordos
em livros pequenos: lermos
juntos substitui a cama e as
conversas. talvez esse amor

estivesse escrito e, por isso,
ao virar a página, haja
sempre uma mão do outro lado,
quente, apertada na nossa.


**

Hoje actualizei o meu Ginjal e Lisboa, a love affair. Caso ainda tenham paciência para continuar na minha companhia, muito gostaria de vos ver também por lá. Ao som de castanholas e de Boccherini, as minhas palavras voam reconhecidas e amantíssimas em volta de um outro poema de amor de Maria do Rosário Pedreira.

**

E só me resta desejar-vos, meus Caros leitores, uma boa semana, a começar já nesta segunda feira. Felicidades!


sábado, outubro 09, 2010

Palavras de Maria do Rosário Pedreira numa noite de frio, de chuva

Here in Heaven

Deita-te aqui - esta noite, dentro de mim,
está tanto frio. Se fores capaz, cobre-me de
beijos: talvez assim eu possa esquecer para
sempre quem me matou de amor, ou morrer
de uma vez sem me lembrar. Isso, abraça-me

também: onde os teus dedos tocarem há uma
ferida que o tempo não consegue transportar.
Mas fecho os olhos, se tu não te importares, e
finjo que essa dor é uma mentira. Claro, o que

quiseres está bem - tudo, ou qualquer coisa,
ou mesmo nada serve, desde que o frio fique
no laço das tuas mãos e não regresse ao corpo
que te deixo agora sepultar. Não sentes frio, tu,

dentro de mim? Nunca nevou de madrugada no
teu quarto? Que país é o teu? Que idade tens?
Não, prefiro não saber como te chamas.


(Maria do Rosário Pedreira, Nenhum Nome Depois)


PS: E abaixo o Miguel Frasquilho e o Miguel Relvas, o Bettencourt Picanço e a Ana Avoila, o Luís Filipe Menezes e o Armando Vara, a Heloísa Apolónia e a Ana Drago, o António José Seguro e o Mário Nogueira, o Vitalino Canas e Alberto João Jardim! Abaixo! Abaixo! Pim!