quinta-feira, abril 10, 2025

A medicina está longe de ser uma ciência exacta. Eu que o diga...

 

Tenho o maior respeito por médicos. Neles depositamos a nossa vida. Tenho alguns na família e admiro a sua capacidade de processar informação, a sua memória, a sua resistência. É uma profissão nobre e, quando não é exercida por mercadores, é digna do nosso respeito.

Mas o tempo tem-me revelado que são falíveis e, quando falham, nós podemos passar de doentes a vítimas. 

Já aqui contei que, há uns anos, depois de muitos anos a carregar pedras gigantes, a fazer muros e murinhos, e de vários outros esforços do género, os meus joelhos ressentiram-se. O médico a que fui, conhecido por ser um especialista em joelhos, achou que a coisa só lá ia com artroscopia. Lembro-me bem que o meu pai na altura, já com o AVC, quando soube, ficou bem preocupado e recomendou fortemente que isso não acontecesse: 'Nos joelhos só se mexe em último caso', dizia ele. E um dos médicos da família torceu o nariz, não viu razões para isso, mostrou desconforto com essa opção. Nestas coisas levo tudo com tal leveza que chego a ser leviana. Por isso, pensei: 'não é ortopedista, muito menos especialista em joelho, pelo que, não deve saber tanto do assunto como o que diz que tem que ser.' E, maria descontraída como sou, lá fui para o Bloco, convencida que ia verificar-se o que o ortopedista me tinha dito, que ao fim de um ou dois dias, saía do hospital pelo meu pé.

De facto, foi uma estupidez: tendo intervencionado em simultâneo os dois joelhos, para andar tinha que sobrecarregar forçosamente ora um, ora outro. A recuperação foi péssima: longa, dolorosa, incapacitante.

Mas o pior veio depois. Intranquila com as conclusões do ortopedista-cirurgião (dizia que eu tinha ácido úrico, pois tinha encontrado muitos cristais) que eram desmentidas pelo médico de medicina interna (que dizia que aquilo não tinha literalmente nada a ver com ácido úrico) e tendo-me este segundo recomendado que procurasse uma terceira opinião, fui a um reumatologista de renome que, observando os exames anteriores às artroscopias, me perguntou porque as tinha feito. Concluiu peremptoriamente que não só não precisava como não devia, que tinham estragado mais do que tinham beneficiado. A mesma opinião foi mais tarde corroborada por um ortopedista muito conhecido na área desportiva e também especialista em joelho: categoricamente afirmou que o médico que me operou me deu cabo de coisas que antes não tinham problema nenhum. Disse, tal como anterior, que as indicações médicas para artroscopia eram zero.

Fiquei chocada. E escaldada. Mas o mal estava feito.

Mais recentemente aconteceu-me com o coração. Num episódio meio assustador, numa clínica privada, ao verem o ECG e ao repetirem-no e ao fazerem outros exames, concluíram que eu estava a ter um enfarte agudo de miocárdio, activaram o protocolo do INEM, fui levada de ambulância para um grande hospital público e lá passei a noite e a manhã, sendo depois encaminhada para cardiologia. Aparentemente não tinha sido um enfarte mas havia lesões e, para além de repouso, era preciso perceber urgentemente o que se passava.

Por facilidade e rapidez, fui a um cardiologista de renome num hospital privado. Receitou-me logo uma medicação que seria para o resto da vida. E foram desencadeados exames e mais exames, uma longa bateria que fui fazendo e repetindo regularmente. 

Já lá vão quase 4 anos. 

Quando, ao reformar-me, resolvi tornar-me utente do SNS, o médico de família quis saber o meu historial. Levei os últimos exames, descrevi o melhor que pude os meus antecedentes clínicos. Começou logo por ficar muito intrigado com a medicação que eu estava a tomar. Como admitiu que houvesse razões que eu não estava a saber transmitir, pediu para eu, quando fosse ao cardiologista, lhe pedir um relatório sobre a minha condição para ele poder compreender e poder acompanhar-me devidamente a nível de medicina geral.

Quando pedi o relatório ao cardiologista, ficou ofendido, não percebia o que é que um médico de família tinha que questionar o que ele, meu cardiologista há anos, me prescrevia. E, escamado de todo, disse que não ia passar relatório nenhum. E que se o médico de família tinha dúvidas, que lhe escrevesse a dizer o que pretendia.

Como seria de esperar, meses depois, quando voltei ao médico de família, este perguntou pelo relatório. Com diplomacia e sem referir o agastamento do cardiologista, disse apenas que este preferia que eu levasse um pedido dele por escrito. 

Naturalmente, mostrou algum incómodo mas lá escreveu o dito pedido.

Quando há cerca de um mês fui de novo ao cardiologista, entreguei-lhe o envelope. Ao ler, pelo semblante, vi que ficou furioso. Então pôs-se ao computador, viu e reviu exames, escreveu, voltou a ver exames e a escrever. Esteve ali bem mais de meia hora. Eu, calada, em frente. Depois imprimiu, meteu num envelope e, sem qualquer comentário, deu-me.

Eu tinha levado umas análises e um exame que ele tinha pedido e em cujos relatórios eu tinha visto que estava tudo bem. Mas, aliás, ao longo deste tempo, do que eu lia, parecia-me sempre que estava tudo bem com a excepção da dita condição que, se bem percebo, é coisa com a qual se pode viver sem problemas, desde que haja apenas alguns cuidados elementares e algum acompanhamento regular.

Nessa consulta, no fim, perguntei-lhe se continuava com a medicação. Disse-me que sim. Referi aquilo de que já antes me tinha queixado, que, com qualquer pancadinha, fico com nódoas negras. Por exemplo, o cão, para brincar, põe-se de pé, com as patas na minha barriga, para eu lhe fazer festas. Ando sempre com a barriga cheia de nódoas negras. E disse-lhe que receio que, se caio, tenha alguma hemorragia mais séria, em especial se for na cabeça. Respondeu-me que riscos há sempre, que esse risco existe, sim, mas que não vale a pena estarmos a pensar no que pode acontecer, pode acontecer tanta coisa, mas que intervalasse a medicação, por exemplo, dia sim, dia não. Depois rematou: até se quiser pode deixar de tomar, já que o exame mostra que está bem. Estava já de pé, a apertar-me a mão, a despachar-me. E eu, de tão perplexa, nem fui capaz de bater o pé: então mas isso é assim? eu é que decido se tomo ou não tomo o raio dos comprimidos?

Hoje fui ao médico de família e levei o relatório elaborado pelo cardiologista e os ditos últimos exames. À medida que ia lendo, vi logo, pela sua expressão, o que se passava. Parecia-lhe óbvio que não havia qualquer necessidade de eu tomar aqueles medicamentos, em especial o que envolve riscos de hemorragias. Mas, ainda assim, pela responsabilidade da situação, quis ir conferenciar com uma colega. Estiveram não sei quanto tempo. Depois falaram os dois comigo. Disseram-me que os médicos, às vezes, quando têm alguma dúvida, pelo sim, pelo não, agem por excesso. Que lhes parece ter sido o caso. Que na opinião deles, não há razão, ou seja, não há indicação médica, para eu tomar aqueles medicamentos. Que, em última análise, a decisão deve ser minha pois um médico, especialista, que me acompanha há cerca de 4 anos, os prescreve. Mas que, na opinião deles, não há justificação para tal. Concordei. Vou deixar de tomar.

De qualquer forma, prescreveram análises e um exame cardiológico para, lá mais para o fim do ano, se avaliar se continua tudo bem.

Mas vim de lá um bocado desconfortável. Ando há anos a tomar dois medicamentos, ambos com contraindicações e um deles que envolve riscos que podem ser severos... e, afinal, não são necessários?

Em quem é que a gente pode confiar? 

Caraças.

Escusado será dizer que descrevi tudo, o relatório do cardiologista, relatórios de exames e análises e questionei o ChatGPT. Foi categórico: não vê razão para tomar os medicamentos. De qualquer forma, politicamente correcto como é, aconselhou que eu fale com os médicos antes de suspender a medicação.

Hoje, quando os dois médicos falavam comigo, expondo-me o que o cardiologista pode ter temido, as eventuais razões que o levaram a medicar-me assim, e, ao mesmo tempo, a explicarem-me os exames que demonstram que essas razões, a terem sido essas, eram infundadas, e os riscos de um dos medicamentos, ocorreu-me dizer-lhes aquilo que tantas vezes digo: ao contrário do que gostamos de pensar, a medicina não é uma ciência exacta. Concordaram ambos. "Nada, nada mesmo, há tantas variáveis, há tantas interpretações, suposições, receios, cautelas. Perante a mesma situação, médicos diferentes podem tomar decisões diferentes. De facto, não é matemática.", disse o meu médico de família.

Tal e qual.

Mas, para nós, seres indefesos, não é muito tranquilizador...

quarta-feira, abril 09, 2025

Aplicações de engate

 

Nunca entrei no Tinder nem em qualquer outra aplicação de encontros (ou melhor, de dates). Nem sei dizer o nome das demais apps pois desconheço. Como não ando à procura de parceiro é coisa que nem entra no meu radar. Mas, mesmo se andasse, tenho sérias dúvidas de que me arriscasse. 

Imagina que encontrava alguém conhecido? Seria a modos que uma barraquinha das antigas, imagino. No meio da atrapalhação nem sei se teria cabeça para engendrar uma desculpa que não parecesse esfarrapada. "Ai, tu também por aqui? Na fotografia não deu para perceber que eras tu... E usaste outro nome... Mas eu estou aqui só porque estou a recolher informação para uma tese de mestrado. Não é para o que estás a pensar..." E ala moço que se faz tarde. 

Mas, pior que isso, uma pessoa vai encontrar-se com alguém que não sabe se é maluco, se é malcheiroso, se é um chato dos antigos? É que nem imagino o horror que deve ser uma pessoa expor-se, apresentar-se num encontro e depois dar de caras com alguém de quem tem vontade de fugir no instante seguinte. Como é que descalça a bota? Assume que não suporta e raspa-se imediatamente? Ou finge que está a gostar e aguenta o mais que pode até que consegue inventar uma desculpa? Ou, pior, muito pior, o risco que é se o fulano aparenta normalidade e, quando uma pessoa já está com as defesas em baixo, dá uma abébia e o fulano acaba por se mostrar um tarado da pior espécie...

Não. Nem pensar.

Para mim, para escolher alguém ou seria na base do amor à primeira vista -- mas aí teria que ter a sorte de o encontrar... e onde é que andam os homens desirmanados...? Não faço ideia... -- ou teria que ser uma coisa em que pudesse seleccionar, eles em exposição. E por exposição estou a referir-me a uma coisa como um programa de televisão que há -- há ou havia, pois há muito tempo que não me aparece -- em que põem uns quantos homens nus, um em cada cabine, e a mulher vai eliminando sucessivamente os candidatos deixando para o fim o mais convincente. 

Vendo o vídeo da Beatriz Gosta, percebo-a perfeitamente. Sou como ela: niquenta até à quinta casa. Não suporto maçadores, saloios armados em bons, azeiteiros, mal vestidos, demasiado bem vestidos, empedernidos, armados em engraçados, cheios de paranoias, armados em parvos, feios, aparadinhos demais, demasiado sonhadores, demasiado musculados, chonés de todo, mirradinhos e encarquilhados, cheios de teorias de cão de caça, parvalhões sem uma ideia na cabeça, narcisistas, mimados, frustrados, gordos que nem baleias e todos transpirados, a cheirarem a tabaco que tresandam, encharcados em perfumes rascas, etc. Etc. Etc. Mas ponham esmo muitos etcs nisso. 

Agora onde param os que se aproveitam e que estão disponíveis, isso eu estou como ela, também não faço ideia onde andam.

E, assim sendo, porque ainda não estou numa de comentar debates ou de cansar a minha beleza com as trapalhadas de alguns dos biltres desta praça, aqui está a Beatriz Gosta com quem sempre me divirto. Quando houver um debate que me inspire, aqui estarei para dizer de minha justiça.

Apps de engate - Beatriz Gosta

Desejo-vos uma bela quarta-feira

terça-feira, abril 08, 2025

A casa da Anitta

 

Como sabe quem por aqui me acompanha, gosto bastante de apreciar belas obras de arquitectura. Tenho tido a sorte de ter visto de perto o que a arte e o engenho dos (bons) arquitectos conseguem fazer. Não apenas sabem apreender o espírito do lugar como o sentir de quem para lá vai. De espaços pequenos, por vezes com 'morfologia' antiquada, conseguem criar espaços amplos, modernos. De espaços 'apáticos' e banais conseguem fazer nascer espaços únicos, marcantes. De espaços que pareciam sem vida e sem nada que os salvasse conseguem fazer lugares maravilhosos de lazer e convívio. E conseguem trazer a luz para dentro de casa em espaços acanhados e sombrios.

Temos a sorte de ter em Portugal grandes arquitectos e temos a possibilidade de poder admirar grandes obras de arquitectura quer a nível residencial ou empresarial quer a nível urbano.

A casa que aqui mostro não tem o tipo de decoração que mais aprecio pois, embora tenha a grande virtude de parecer de fácil manutenção, parece-me um pouco monocromática, um pouco monótona. Mas a arquitectura é qualquer coisa... E a implantação no terreno parece-me uma maravilha. Aliás, o exterior da casa parece extraordinário.

É da cantora Anitta, que não conheço de ver actuar mas apenas de nome. Parece-me humilde e simpática e gosto do painel de azulejos que está na entrada para  ilustrar a vida na favela, as crianças, os anjos que as protegem. E gostei de ver como ela descreve a interacção que teve com os arquitectos. Acomodar as suas pretensões e sugestões dela deve ter sido um desafio e tanto para eles.

A casa de Anitta na encosta da montanha do Rio de Janeiro

 | Open Door | Architectural Digest

segunda-feira, abril 07, 2025

No reino da beleza

 

Desde que frequento as agitadas paragens do Instagram deparo-me com milhares (quais milhares... certamente milhões, biliões, zetaliões) de coisas. Cada um mostra ali o melhor que sabe e pode, ou o que lhe apetece, ou sabe-se lá o quê. Mil obras de arte, mil arranjos florais, mil restauros de móveis, mil maneiras de parecer mais nova, mil maneiras de parecer bronzeada, mil maneiras de cortar o cabelo, mil exercícios e mil dietas para perder barriga, mil maneiras de fazer bolos sem ir ao forno, mil maneiras de fazer panquecas, mil livros, mil citações, mil gracinhas do cão, do gato, dos filhos, mil arco-íris, mil decorações de nails, mil, mil, mil de tudo e tudo elevado a um expoente que transforma os mil em muitos, muitos mil.

Apercebo-me, como se me pusessem uns óculos de realidade aumentada, excessivamente nítidos, quase insuportavelmente saturados, que há gostos para tudo, conceitos díspares a propósito de tudo, teorias para tudo. Não que não o intuísse, não que não o soubesse da minha vida real. Mas a amostra era curta: era apenas a realidade que eu conhecia. Agora a amostra é o mundo. Aparecem-me imagens e vídeos e palavras de todo o mundo.

E, no entanto, se, ao fim do dia, eu quiser dizer o que é que me ficou de tudo o que vi, vou ter a maior dificuldade. Talvez fiquem umas palavras límpidas ou uma pintura singela de alguém que já conhecia de outras paragens e que fui ali encontrar, talvez as imagens genuínas e as palavras espantosamente sinceras e simples da Gina, talvez uma forma engraçada de dobrar camisolas com capuz.

Mas aquilo é o mundo. Uma tremenda cacafonia em que parece que o que é mesmo relevante se esbate no meio de tanta exposição.

Fica-me, isso sim, a vontade de silêncio, de alguma reclusão, de regresso às origens, às flores, à terra molhada, ao canto dos pássaros, a vontade da amabilidade sincera, simples, autêntica, a saudade de palavras transparentes.

Debruço-me, então, e vou em busca de uma pedra, de um cogumelo, de um líquen, de uma gota de água a escorrer de uma folha, do reflexo de uma nuvem na água que fica sobre a terra.

E depois é isso. Só isso. O reino da beleza das coisas simples. E chega-me.



O rapaz-pássaro

 

Samuel Hendersen tem 11 anos e imita, na perfeição, o canto de 50 pássaros. É autista e tem síndrome de Tourette e, no recreio, isolava-se dos colegas para ensaiar o canto dos pássaros. Por isso, os outros meninos não conheciam as suas habilidades.

Quando se colocou a hipótese de o levar a um palco onde pudesse mostrar o seu talento, a mãe morreu de medo com medo que as outras crianças troçassem e o fizessem sofrer.

Mas o que aconteceu foi que, depois da estranheza, os colegas ficaram surpreendidos e rendidos. 

Samuel, o menino um pouco peculiar, é agora o mais conhecido da escola.

E eu comovo-me quando vejo crianças que, por serem um pouco diferentes, são olhados com estranheza fazendo com que os pais se sintam ainda mais angustiados.

Não sabia que um rapazinho desta idade poderia ter Síndrome de Tourette mas, pelos vistos, pode. Contudo, neste caso, os sons que emite são o canto de pássaros.

11-year-old boy who can imitate 50 birds wows at school talent show

domingo, abril 06, 2025

A tristeza de ver vidas interrompidas. E a beleza das flores, tão efémeras

 

Uma árvore gigante levantou-se do chão. Anos e anos e anos para ficar daquele tamanho e, num instante, o vento destruiu-a. Um desgosto muito grande.

Custa ver uma coisa assim. Na aparência ainda está viva. Aliás deve mesmo estar viva. Mas, infelizmente, não há possibilidade de a salvar. 

A terra está tão molhada, tão ensopada, que o vento não encontrou resistência.

Mais à frente uma outra, enorme, tombada, o canteiro todo partido. Não foi o único mas um bem pior e mais periclitante que o outro.

É a segunda vez que o vento faz grandes estragos por aqui, in heaven. E é sempre com o coração apertado que os vejo. Gostava que as minhas queridas árvores durassem para sempre. Sei que a vida leva algumas mais cedo e isso eu compreendo. De vez em quando, algum pinheiro seca. Fica de pé mas está sem vida. Isso não me custa tanto. O que me custa é ver árvores fortes, saudáveis, e, por um cruel golpe de vento, serem derrubadas.

Mas, pronto, é o que é. Agora é ver como resolvemos tudo isto. E bola para a frente.

A terra está coberta de musgos, de líquenes, de ervinhas, tudo verde. O ambiente húmido, frio, oxigénio puro, limpo, fresco, cheio do canto dos pássaros.

As videiras estão a rebentar, muitas folhinhas, tudo molhado e viçoso. Muita beleza. A natureza mostra-se pujante, fértil.

Até os troncos das árvores estão cobertos de líquenes. E há florzinhas de toda a espécie, cor e feitio. Maravilho-me. A simplicidade e a espontaneidade maravilham-me.


E depois há nuvens quase etéreas em verde. Creio que será funcho. Não sei se será comestível mas receio arriscar. Se calhar, numa salada com alface e coentros, ficaria muito bem. E estar a incluir na minha corrente sanguínea algumas destas plantas seria pura magia. Mas sou medricas. E se esta variedade é venenosa? Ou se me provoca alguma alergia?

Devia trazer cá algum ou alguma botânica... Mas não conheço nenhum/a.

Portanto, não os comendo, em contrapartida, fotografo -- de longe, de perto, de cima, de baixo. Parece-me tule, parece-me um vapor, parece-me quase irreal.


E depois os lírios. Uma beleza rara, exótica. Uma perfeição muito além do que é normal. Umas cores, uma delicadeza. Podia ficar horas a filmar (aliás filmei para o Instagram). Mas tem choviscado, nunca dá para estar muito tempo pois logo vem um aguaceirozito.

E, neste mês de águas mil, parece que este domingo também promete. As rochas escorrem, tudo escorre. Até a casa, quando chegámos, estava húmida, fria, incómoda. O que vale é que a salamandra e o ar condicionado já resolveram o assunto.

Mas já viram bem a incrível perfeição desta flor? O raiado, as subtis nuances, a intimidade resguardada, a fragilidade... 

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Desejo-vos um belo dia de domingo

sábado, abril 05, 2025

Lamento mas não são passarinhos a comer os meus flocos de aveia. Isso tem que ficar para outro dia...

 

Ultimamente tenho feito flocos de aveia. Num tachinho com água deito uma pitada de sal, raspa de uma laranja ou de um limão, a casca inteira de uma tangerina, a tangerina ela própria, em gomos, um pouco de canela e os flocos (suaves ou pequenos ou lá o que é) de aveia. Deixo ferver mexendo sempre, senão pega-se ao fundo, e, depois de começar a fazer bolhinhas, mexo mais um pouco, um minuto talvez, e desligo. Está feito. 

Ao pequeno almoço, como sou lambona, misturo uma colher de sopa daquela papa no kefir, misturo também umas sementes (como quero ver se perco mais algum peso, controlo-me e não misturo também uma mão cheia de nozes e amêndoas e arandos e tudo o que calhar), misturo uns pós de latte dourado... e fica uma maravilha. 

O meu marido come as papas de aveia, mas apenas isso, e nem consegue conceber como é que alguém consegue gostar das mistelas que eu faço. Por isso, mantém-se dentro do peso ideal sem qualquer esforço enquanto eu é o que é.

Mas durante muitos anos ninguém se lembrou de comer papas de aveia. Por isso, há algum tempo descobrimos um pacote de flocos esquecido, já completamente fora de prazo. Em vez de deitar para o lixo, tive uma ideia: iria espalhar os flocos no pátio para atrair os passarinhos. 

Só que, com a chuva, fui retardando. 

Há uns dois ou três dias, estando sol, pensei que era a altura. Espalhei, então, os flocos no dito pátio e sobre a relva. Pensei que os passarinhos desceriam de imediato dos céus para se banquetearem. Fui a casa buscar o telemóvel pois pensei que iria fazer uma reportagem extraordinária. Só que, do nada, começou a chover. Claro que fui a correr apanhar a roupa que estava alegremente ao sol. Entretanto, o cão recolheu-se também e fui limpá-lo. Conclusão: nem mais me lembrei dos flocos de aveia. 

Quando me lembrei, os flocos tinham desparecido. Ia até a pensar que poderiam estar feitos em papa. Mas nada. Desaparecidos da superfície do planeta. Se a chuva os lavou e arrastou e se diluíram na terra ou se a passarada se atirou e os devorou em três tempos, não sei. O que sei é que as belas imagens que eu desejava ter feito com espécies raras, aves de belíssima plumagem, quiçá até avestruzes, não aconteceram.

Mas, em contrapartida, tenho aqui um vídeo adorável. Lindo, lindo. 

Relax with the Cornell Lab's 21 Favorite Bird Videos from 2024

The Cornell Lab of Ornithology's Macaulay Library collects and archives videos, photos, and sound recordings of wild species from around the world.  This year, we combed through all 33,000+ recordings that users uploaded to the archive in 2024, looking for our favorites. We searched all seven continents to bring you this compilation highlighting fascinating species, intriguing behavior, stunning beauty, and skillful cinematography. 


Desejo-vos um belo sábado!

Be happy.

sexta-feira, abril 04, 2025

E ele aí está.
Com 83 anos, uma lucidez assertiva, uma esperança indestrutível, uma energia contagiante, uma fantástica capacidade de comunicação.
Bernie Sanders contra o trumpismo (autoritarismo, oligarquia, estupidez)

 

Interrogo-me, com alguma frequência, quantos mais anos terei de vida útil, isto é capacidade de me manter autónoma, independente, lúcida, com a maneira de ser que hoje tenho. Faço contas, comparo com o percurso dos meus pais. Temo que surja algum acidente (como o AVC que quebrou o meu pai, que levou a mãe dele e vários outros dessa linha familiar) que intercepte o que, já de si, não é um período folgado. 

Mas, mesmo que nada de grave ou degenerativo me aconteça, imagino que daqui por uns quantos anos comecem a falhar algumas das minhas actuais faculdades. É a lei da vida: somos assim, efémeros, seres que resultaram dum acaso e que se vão aguentando, sabe-se lá como, no meio de condições muitas vezes completamente precárias.

Mas depois vejo um homem como o Bernie Sanders e penso que há pessoas que transcendem as expectativas. Tem 83 anos. Poderia pensar que já não será na vida dele que vai ter de volta uns Estados Unidos livres, democráticos, justos, inclusivos. Mas, em vez disso, aí está ele. Determinado, pujante. Dá entrevistas, grava vídeos, está nas redes sociais, participa em comícios. Está a querer que o povo se levante, se organize, lute. 

Acredita, do fundo seu seu coração, que não há lutas impossíveis.

Um exemplo que me comove.

Where Do We Go From Here?

Yes, the oligarchs are enormously powerful. They have endless amounts of money. They control our economy. They own much of the media.

But, from the bottom of my heart, I am convinced that if we are well-organized, they can be defeated.

My thoughts on the current moment:


Como destruir a democracia

 

Começou num sítio, surtiu efeito, começou a ser imitado, resultou, e já estava a fazer escola, e, em todo o lado, resulta, e, às tantas, já são as pessoas a querer disto. Votam no impensável. De sua livre vontade escolhem a pior opção possível, a mais nefasta.

Assim acontece um pouco por todo o lado. Talvez tenha sido a Rússia a espalhar a semente mas agora já está aquém e além mar.

O vídeo abaixo aborda a actual realidade americana mas vê-se e percebe-se que é isto.

HOW TO DESTROY A DEMOCRACY (1952)
Trump's five step plan for destroying a Democracy. 

quinta-feira, abril 03, 2025

O PSD já é mais populista que o Chega?
Já não há gente decente no PSD? O Montenegro e o Hugo Soares dissolveram a decência em todo o PSD?

 

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Estou incomodada com o que está a passar-se. Isto do Conselho de Ministro em pleno Bolhão e todo o desfile pela Rua de Santa Catarina excede os limites. A convocatória de militantes para fazerem uma arruada é mau demais, parece coisa impensável entre gente decente.

Espanta-me que Marcelo não faça nada. O que o PSD está a fazer atenta contra a inteligência e a tolerância dos eleitores.

E liguei a televisão na RTP 1 antes das 20h e tive a pouca sorte de aterrar dentro de um tempo de antena do PSD e assisti a um exercício de propaganda eivado de alto a baixo de falsidades, de manipulações, de provocações. Quando acabou estava agoniada. Um ultraje, tudo aquilo.

A Comissão de Eleições ou o Presidente da República vão assistir a isto sem fazer nada?

Nem o Chega actua assim, com tanto desplante. E, quando fazem perguntas a Montenegro, nem o Ventura responde com tamanha desfaçatez.

Montenegro está pois, a toda a força, a ultrapassar o Ventura em demagogia, em populismo, em indecência. 

quarta-feira, abril 02, 2025

Clara Ferreira Alves e a 'manosfera' - a 'percepção' em vez da estatística
-- Isto para não dizer: a ficção em vez da realidade --

 

Li com algum espanto e até alguma pena o artigo da Clara Ferreira Alves no Expresso, "Manosfera, manual de combate". 

Parece que existe uma manosfera. Sempre existiu, sem ter meios de comunicação tecnoinclusivos ou nomenclatura e sociologia a gosto. Welcome to my world.

No mundo em que nasci, o da expansão económica do pós-guerra, e do nascimento das marchas e lutas dos direitos civis, a violência masculina era um dado adquirido. Nascer mulher era não só nascer imiscuída nessa violência e prisioneira dela como nascer forçada a aceitar essa violência. E considerá-la parte do estádio civilizacional da época. Ou seja, normal.

Começava em casa. O pai, ou pater familias, era o único detentor do poder paternal, do poder financeiro e do poder disciplinador, que exercia com maior ou menor benevolência. A mãe era o polícia bom, o pai o polícia mau, chamado a depor no tribunal do casal sempre que havia a ameaça de desobediência ou rebelião. (...)

Na minha família não havia sevícias físicas, mas a violência verbal do pater familias era assustadora. Era uma violência exercida sobre toda e qualquer liberdade residual que uma rapariga ousasse ter. O mundo estava medido e escolhido para ela. O que podia e não podia fazer era designado desde o nascimento, mesmo quando se aceitava que a rapariga estudasse. E “estudar” num curso dito superior não era assim tão comum. Mais comum era fazer o liceu, o secundário, e a seguir arranjar um emprego, talvez de secretariado, uma posição subserviente, ou de qualquer modo um emprego que implicasse saber datilografia. Escrever à máquina. Na pequena burguesia da época, a capacidade era considerada um trunfo. A seguir, a rapariga casava e o marido teria de ser alguém aceite pelas duas famílias. Depois de casar-se, a rapariga seria mãe e colocar-se-ia numa situação financeira de pura dependência em que era norma aceitar as infidelidades conjugais. (...)

Na escola de repetentes, fui confrontada pela primeira vez com abortos, alunas lésbicas, e as “galdérias”, as raparigas que tinham dormido com rapazes. Pairava uma insurreição na escola, e a violência no recreio era bestial. De besta. Dos rapazes sobre as raparigas. Era uma coisa nova, e foi uma educação. Descobri que fora do estreito círculo feminino, oprimido, a relação entre os sexos era eminentemente violenta.(...)

Ao longo da vida, as situações de violência e discriminação que tive de enfrentar ou sofrer, e foram muitas, não cabem aqui. Assisti a muitas mais. Mesmo depois do 25 de Abril, que mudou tudo e não mudou logo tudo, a violência continuava, exercida muitas vezes na clandestinidade. Como os abortos. Como as violações, nunca reportadas. A posição subalterna da mulher era um dado adquirido e sofrida em silêncio. A trabalho igual nunca salário igual. E continua. 

(...)

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Como escrevi acima, tudo o que aqui leio me espanta. Sou contemporânea de Clara Ferreira Alves. E, no entanto, se eu fizer uma resenha do que têm sido os 'meus tempos' e qual a minha experiência, quer como interveniente directa quer como espectadora, seria totalmente diferente.

O ambiente em que vivi nunca foi violento. Nunca testemunhei violências. Não digo que não houvesse violência. Haveria. Mas da mesma forma que não consigo dizer que eram tempos absolutamente tranquilos, todos eles peace and love, também me parece abusivo retratá-los como um farwest.

Em minha casa trabalhava o meu pai e trabalhava a minha mãe. Opinavam e decidiam de igual para igual. Talvez uma parte significativa das mães dos meus amigos não trabalhasse, até porque era um meio relativamente burguês, mas muitas trabalhavam.

Além disso, todas as minhas amigas desde a infantil, à primária prosseguiram para o secundário. E a grande maioria das minhas colegas de liceu seguiram para a universidade. E há várias engenheiras, gestoras (e médicas e professoras e psicólogas, incluindo de germânicas, e uma escultora e sei lá que mais). Todas escolheram o que quiseram. Se há alguma Secretária, desconheço. Não que isso fosse mau - simplesmente não era regra nem imposição nem coisa nenhuma.

A regra também não era casar, ter filhos e ficar na dependência do marido. Não conheço uma única que tivesse ficado na dependência do marido. E a minha melhor amiga engravidou antes de casar e eu e todas as minhas outras amigas não engravidámos porque tivemos mais cuidado.

O liceu em que andei era misto mas as aulas e os recreios não eram mistas. Contudo, no meu 3º ano, actual 7º, tal como aconteceu com Clara Ferreira Alves, criaram turmas piloto. Mas o piloto traduzia-se em serem mistas. Os melhores alunos, femininos e masculinos, na mesma turma, a turma A. A partir daí o liceu passou a ter um encanto suplementar. Nunca, nunca, nunca, houve qualquer episódio de violência masculina sobre as raparigas. Pelo contrário, eram os tempos da pré-adolescência e depois da adolescência, em que nos encantávamos uns com os outros. Havia sempre alguém que fazia anos e fazia festas em que se dançava, íamos ao cinema, só miúdos, no verão íamos à praia, um grande grupo supostamente vigiados pela mãe e pela tida de uma das minhas amigas.

Depois do 25 de Abril, na faculdade, nunca, nunca, nunca assisti a nenhum episódio de violência de rapazes sobre raparigas. Zero. Eram tempos de maravilhosa liberdade, de afecto, de descoberta.

Comecei a trabalhar aos 20 anos, dando aulas. Quer a nível de alunos e alunas quer a nível do corpo docente, nunca assisti a qualquer violência masculina. Nunca.

Tinha ainda 22 quando me mudei para o ambiente empresarial, indo trabalhar para uma das maiores empresas do País, uma empresa em que a larga, muito larga, a larguíssima maioria dos funcionários, incluindo os dirigentes, eram homens. No transporte para lá, eu era a única mulher. Durante anos só lidava com homens. Nunca fui alvo de violência, desconsideração, desrespeito. Nunca. Sempre ganhei o mesmo que os meus colegas homens. Progredi profissionalmente e em pouco tempo integrei o corpo de dirigentes. Durante muitos anos era a única mulher nas reuniões de gestão. Nunca me senti inferior, inibida ou prejudicada. 

Com o tempo começaram a aparecer mais mulheres em todas as funções, sempre a par e par com os homens. 

Nunca soube de violações mas assisti a vários momentos de assédio e todos eles foram de mulheres sobre homens. E, identicamente, nunca assisti a casos de assédio de homens mais 'poderosos' sobre mulheres em situação de 'inferioridade hierárquica' mas, pelo contrário, a mulheres que faziam de tudo para terem um caso com o doutor, o engenheiro, o director. 

Por isso, se não posso dizer que o artigo de Clara Ferreira Alves é pura ficção ou um disparate sem pés nem cabeça, o que posso dizer é que tendo eu trabalhado sempre em empresas muito grandes, frequentado meios muito diversos e sendo uma pessoa razoavelmente informada, o testemunho que posso partilhar é o oposto.

Sei que há casos, certamente mais do que deviam, até porque deviam ser zero, de violência de homens sobre mulheres -- mas estatisticamente são marginais. E claro que ainda há muitos grunhos, machistas, marialvas, abusadores. Mas são uma minoria. Os que há não chegam para tornar a sociedade, no seu todo, um antro de homens violentos, estúpidos, assediadores, prepotentes.

Uma das coisas que sempre achei nocivas para a sociedade no seu todo é a atitude das mulheres que se colocam no patamar em que Clara Ferreira Alves se põe: a de vítima, de ser inferior ou inferiorizado perante os homens. Em toda a minha vida pessoal e profissional nunca, nunca, nunca me apresentei assim ou me coloquei nessa posição. Nem tal me passou pela cabeça. E tendo chefiado durante quase toda a minha profissional grandes equipas, inicialmente predominantemente masculinas mas progressivamente cada vez mais totalmente mistas, nunca nenhuma pessoa das minhas equipas me acusou de privilegiar uns ou outros em função do sexo. 

O artigo da Clara Ferreira Alves deixou-me, pois, algo incomodada. E a única explicação que tenho para o que ela escreveu é que ela está a deixar-se tomar pela grave e, pelos vistos, contagiosa doença das percepções.

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Desejo-vos uma boa quarta-feira

terça-feira, abril 01, 2025

Jardinar. Pintar com flores.

 

O dia teria sido todo muito bom (festejando o aniversário de um carneiro muito querido) se não tivéssemos depois, no regresso a casa, apanhado um trânsito que, tal a demora, acabou por se misturar com o normal congestionamento de fim de tarde. Anos e anos metidos em filas de trânsito tornaram-nos alérgicos a isso. 

Eu ainda tentei adoptar a estratégia que seguia naquelas alturas: se não posso fazer mais nada senão deixar-me estar e seguir ao ritmo a que vai o resto do rebanho, já o meu marido vinha numa impaciência crescente...

E, depois de termos estado a almoçar numa esplanada (coberta) num belo dia de verão, quando chegámos a casa o céu estava quase coberto e pingava.

Parece que a chuva vai estar de volta e, se não for uma chuvada pegada e se não arrefecer estupidamente, posso até não me importar muito. 

Afinal. está tudo viçoso que dá gosto. Há florzinhas por todo o lado, ervinhas e mais ervinhas, tudo rebenta numa grande alegria, uma primavera pujante.

Por exemplo, as florzinhas amarelas (Euryops pectinatus?) estão floridas e rebentam por todo o lado. O alecrim floresce em força, as glicínias pendem em lindos cachos lilases. E por entre a relva há florzinhas do campo que eu teimo em que aí fiquem.

Jardinar é pintar? Ou é apenas cuidar? Amar? 

O vídeo abaixo enternece-me. 

Art Of Gardening: A Painter's Garden With Anne Ngan

segunda-feira, março 31, 2025

A importância dos trabalhos manuais

 

Gostei de ver o vídeo que aqui partilho. Aliás, gosto sempre de ver os vídeos deste médico. Neste caso ele aborda um tema que, para mim, sempre foi caro: a importância dos trabalhos manuais. 

Aliás, não por acaso, o algoritmo do Instagram já me topou e passa a vida a mostrar-me cabeleireiros a fazer cortes de cabelo que me dão vontade de sair por aí a arranjar gente que me deixe cortar-lhe o cabelo, gente a fazer bolos ou cozinhados, gente a fazer pinturas, arranjos florais, dobragens, arranjos de móveis, até a dobrar roupa de forma a optimizar o espaço dentro de malas de viagem. Se antes me apareciam influencers a fazerem unboxing de livros (tenho aprendido algumas terminologias...) , coisa que me deixava possuída e cheia de vontade de os imitar fazendo vídeos malucos, ou a maquilharem-se ou a mostrarem outfits (e, justamente, este domingo fiz uma reel * -- ah, termozinhos mais fofos... -- a parodiar essa de me mostrar a realizar a minha rotina não de skincare mas de maquilhagem) agora já fez a agulha para actividades mais concretas. 

No vídeo abaixo, o médico não inclui a escrita como um hobby de trabalhos manuais mas eu acho que é. Posso até garantir que, por vezes, os meus dedos tomam as rédeas do processo e escrevem sem que a cabeça saiba o que eles estão para ali a sapatear no teclado. Escrever também me activa, também me concentra, também me desliga das maçadas de que o mundo está a deitar por fora.

De qualquer forma, de tudo o resto que ele fala, eu sinto um apelo grande para fazer. Por exemplo, ultimamente ando com vontade de fazer um poncho de crochet todo às cores, incluindo com fios com brilhantes coloridos. Danadinha. Danadinha para fazer uma piece of art.

Por vezes penso que um dia destes ainda vou ter que me render e voltar a organizar-me através de agenda, como quando trabalhava e tinha a agenda sempre enervantemente cheia, só que para fazer assim: das 15 às 16, crochet, das 16 às 17, tapete de arraiolos, das 17 às 18, pintar, das 18 às 19 caminhada, das 19 às 20 fazer o jantar, ver os mails, o blog, fazer os telefonemas à família, etc. A escrita, provavelmente, ficaria para o slot (ah... a falta de saudades que eu tenho de quando me andavam a perguntar qual o slot que eu tinha disponível) das 23 às 2 do dia seguinte. A manhã ficaria para a caminhada da manhã e para o ginásio três vezes por semana e, no intervalo, para algumas compras, lavagens de roupa, arrumações e afins.

É que, se não for assim, ou seja, se não começo a organizar-me, vou deixando mil coisas para trás. 

Mas, enfim, isto para dizer que mil vezes mais andar entretida com coisas concretas do que perder tempo a 'conhecer-me melhor', a reflectir sobre as coisas da vida, a olhar para ontem ou a pensar na morte da bezerra. Não quero com isto dizer que quem o faça seja mais infeliz que eu. Quero é dizer que esta forma de usar o tempo que a vida tem concedido a graça de colocar à minha disposição me traz bem estar, motivação, alegria. 

E, pelo que o Dr. Drauzio Varella diz, faz bem ao corpo e à alma. Portanto, assim seja. Valeu.

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* Se soubesse colocaria o link para a story acima referida, o vídeo que coloquei no instagram a mostrar como me maquilho. Mas não sei. Ainda não sei bem manusear aquilo. Para os posts ou feeds ou lá como se chama aquilo, sei como partilhar o link. Para a story não sei. Para se ver, carrega-se na fotografia do perfil. Mas creio que quando coloco uma story nova, a anterior vai à vida. Mas, pronto, se tiverem curiosidade vão até lá e experimentem. Quando enviei o vídeo para a minha filha ver protestou... Aliás, começou por me enviar uma mensagem a dizer medooooooo.... Os meus netos, a quem ela mostrou, também ficaram chocados. Ao telefone fartaram-se de protestar. Não compreendo a reacção. Eu gostei de fazer. E estou a fazer e já com ideias para fazer outros ainda mais sui generis. E o meu marido, quando lhe mostrei, riu-se. E, no fim, concluiu o que sempre conclui: 'Só te dá para coisas dessas, maluquices...'. Mas vi que estava divertido. 

Enfim. Cada um faz o que pode. Um dia faria obras mais apuradas.

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Adiante. 

A importância de ter hobbies e fazer trabalhos manuais

Hoje, a tecnologia resolve tanta coisa para a gente que esquecemos de usar a mente. Com isso, o cérebro deixa de ser estimulado, o que pode levar ao declínio cognitivo.

As atividades manuais são ótimas não só para exercitar a mente, mas também para reduzir o estresse, aumentar a sensação de bem-estar e ajudar na prevenção de doenças neurodegenerativas.

Neste vídeo, Drauzio fala sobre a importância dessas atividades.


Um cão cantor que acompanha na perfeição Naomi Watts e Jimmy Fallon

 

A ver se consigo ver este filme. Acho que o cão é um espanto e já tinha ouvido o Bill Murray a dizer maravilhas dele. De vez em quando há filmes que têm como grande protagonista um cão e geralmente ficam mais para a história do que os humanos que com ele contracenam.

E, de qualquer forma, é bom que se dê destaque a animais que são inteligentes, sensíveis e amigos. Pode ser que assim vá caindo em desuso a estupidez de considerá-los seres inferiores.

Naomi Watts Invites Jimmy to Perform a Song with Her 150lb Great Dane Co-star Bing

domingo, março 30, 2025

Montenegro & Hugo Soares, Unlimited
Farinha do mesmo saco...? Os outros que paguem impostos...?
-- A palavra ao meu marido --


Agora veio a saber-se que há uma investigação do MP (curiosamente, provavelmente, a única investigação que até agora se manteve em segredo de justiça) sobre as atividades da sociedade de advogados do Montenegro, incluindo um parecer assinado pelo Luís sobre a maior obra pública da CM de Espinho quando presidida pelo um militante do PSD agora a ser julgado por várias acusações. O Montenegro terá assinado pelo menos um parecer que contraria a opinião dos técnicos da Câmara e favorece a empresa que fez a obra para a Câmara de Espinho e que, por sinal, forneceu o betão para a sua luxuosa casa de 6 andares em Espinho. Há coincidências do caraças. 

Pelo que a Comunicação Social tem vindo a desvendar, no percurso do Montenegro existem demasiadas "coincidências do caraças". Aparentemente, são tantas que ele não consegue explicá-las. Não consegue ou não pode... 

Os que ainda não perceberam como atua o Montenegro e ainda o apoiam deveriam reflectir nisso..

Entretanto, soube-se ontem que o Hugo Soares, que é um verdadeiro grunho que chama nomes a tudo e a todos na AR revelando uma enorme falta de educação, também tem uma empresa imobiliária e de consultoria na qual é o único empregado, que faz negócios assaz interessantes/proveitosos com a venda de imóveis, um deles curiosamente envolvendo a família do gasolineiro que faz adjudicações "curiosas" ao Montenegro e cuja nora trabalha para a Spinunviva. Também aqui seria relevante que fosse feita uma auditoria à contabilidade desta 'empresa' para verificar se não será mais uma empresa que serve para pagar muito menos impostos e onde estão contabilizados despesas pessoais do Hugo e família. 

Soube-se também que o homem recebe uma avença mensal de 14.000 Euros (o Montenegro parece que no total recebia 15.000). Como é possível? Das duas uma: ou não faz nada como líder parlamentar do PSD e só trabalha "por fora" para conseguir ganhar os 14.000 ou não faz nada na "empresa pessoal" e recebe este dinheiro vá lá imaginar-se porquê e para quê.

Não esqueçamos que o Hugo Soares teve a lata de se dirigir aos deputados do Chega exortando-os, com uma veemência bastante vocal, a dizerem quantos detinham empresas imobiliárias.

Montenegro e Hugo, a hipocrisia e a mentira têm limites. Não vale tudo e ser político implica um comportamento que não têm. São trumpistas em toda a linha: negam verdades evidentes, acham que  a melhor defesa é o ataque e marimbam-se para os outros.

Evidentemente, devem ser corridos. Espero que os eleitores tenham a perspicácia necessária para não se deixarem levar e verem como é de facto a conduta destes tipos.

sábado, março 29, 2025

Outra confissão: ando a consumir canábis

 

Com o sol, o caracol põe os pauzinhos ao sol. E eu, que não tenho pauzinhos (pelo menos que saiba), faço outra coisa: tiro a roupa. Fui buscar o fato de banho, o chapéu de palha e dois livros. E acomodei-me na espreguiçadeira. E pensei: a felicidade pode ser isto.

Os livros são 'Os níveis da vida' de Julian Barnes, um escritor muito do meu agrado e 'Conversas com escritores' de Isabel Lucas. Interessantes. Fotografei-os e alimentei o feed do Instagram (entre outros feeds e outras stories que produzi... Ah o maravilhoso mundo do Insta, tudo tão instantâneo, tão easy...)

Não obstante o interesse dos livros, por momentos deixei descair o chapéu para cobrir parte da cara e deixei que o sono me tomasse nos braços. Estou em crer que coisa na base da rapidinha. Mas soube-me lindamente. Depois retomei a leitura, e com mais gosto.

Ao meu lado, o cão, também feliz. Depois de chuva e frio e vento, eis que a benfazeja primavera nos visita e nos puxa para fora de casa.

Devo ainda acrescentar uma outra informação. Agora que tenho Instagram, informo-me e desinformo-me a uma velocidade estonteante, quase como se ingerisse bebidas alcoólicas sob a forma de shots, naturalmente bebidos de penalti. E uma das coisas que me aparece recorrentemente é como é bom o óleo de rosa mosqueta. Já antes tinha sabido disso em vídeos brasileiros. Como no outro dia fui ao supermercado, fui à procura. E encontrei. Ao lado, vi outros óleos, entre os quais o de canábis. Apesar de desconhecer as respectivas virtudes, resolvi trazer também. Pensei: deve acalmar a pele. Não que andasse com a pele enervada... mas aumentar a calma é bom, até para a pele -- pensei.

E, claro está, mal chegou a altura de aplicar um creme no rosto, misturei-lhe umas quantas gotas de óleo de canábis e lá vai disto. Não gostei especialmente do cheiro. Mas, misturado com o creme, deixou de se sentir.

E no dia seguinte voltei a pôr. E gostei. Mas, às tantas, pensei: 'Mas será que aquilo se pode misturar com um creme qualquer? E será que não se destina a outro fim que não o que lhe estou a dar? E será que a dose é à balda?'. Ocorreu-me: imagine-se que é para pôr diluído em qualquer coisa num ambientador... Então resolvi ir investigar no ChatGPT.

Começou por me dizer que não contém THC (a substância psicoativa da maconha). Fiquei um bocado espantada. É que não me tinha ocorrido que pudesse ter. Havia de ter graça pôr aquilo na cara e ficar in the sky with diamonds. Mas não. Tranquilo. E afinal é coisa mesmo com virtudes.

✅ Hidratação intensa, sem deixar a pele oleosa.

✅ Rico em antioxidantes (vitamina E, ômega 3 e 6), ajudando a combater rugas e flacidez.

✅ Estimula a produção de colágeno, melhorando a firmeza da pele.

✅ Ação anti-inflamatória, ideal para peles sensíveis ou com rosácea.

✅ Equilibra a oleosidade da pele, ótimo para quem tem tendência a acne mesmo na maturidade.

Claro que recomenda que se aplique antes no pulso para testar eventuais alergias. Nunca o faço pelo que desta vez ainda menos pois já andava a aplicá-lo, sem quaisquer complicações. E estava a aplicar correctamente. Ainda não vi efeitos nenhuns mas, na volta, é como em tudo o que se refere à beleza: o que interessa é o interior.

Mas, portanto, agora já não posso dizer que nunca tive qualquer contacto com o canábis. Nesse particular, perdi a virgindade.

Isto já para não falar do que inalo -- e não é pouco -- quando passeio na Costa, em especial ao fim do dia, em especial ao fim de semana, em especial em frente de algumas esplanadas. Não há maresia que lhe faça frente, tanta a concentração...

Mas, pronto, é isto. Viva a primavera. E vai mudar a hora que é outra mais-valia. Portanto, vendo bem, viva mas é a vida.

Estou escandalizada com mais esta: Hugo Soares também tem uma empresa 'familiar' e o que a reportagem da TVI revelou deixa-me muito incomodada

 

Como é possível que alguém consiga confiar na dupla Montenegro & Hugo Soares? Fico chocada com o que parecem esquemas, com os números, com as relações. Isto é o PSD no seu pior. Uma coisa que fede.

É bom que se investigue mais a fundo pois isto é o que corrói a democracia e a confiança dos cidadãos nos políticos.

Existir

 

sexta-feira, março 28, 2025

Sobre lavagens, limpezas, podas. É isto uma etrusca...?

 

Nesta sala em que estou, chamada sala da televisão -- pois é aqui que está a televisão maior e em que geralmente nos juntamos para a ver --, tenho uma sofá muito grande (por acaso, sofá cama), que é de pele azul escura, e tenho um outro, também grande, em cor de pérola. Ora, nem eu queria aqui ver um sofá escuro, como o outro, que é de um tecido sensível e muito claro, ficaria rapidamente sujo se fosse usado tout court todos os dias. E já nem falo no que acontece quando se juntam a ver futeboladas, os rapazes com o entusiasmo põem-lhe os pés em cima ou, à revelia, levam comida e vão petiscando durante os jogos. Portanto, resolvi cobri-los com cobertas de algodão branco. Fica a sala clarinha e facilmente se lavam as cobertas. Só que, de facto, o algodão de que são feitas as cobertas é espesso e, não tendo eu máquina de secar, se as lavo em tempo de chuva, é um caso sério para as secar.

Portanto, com estes dias de solinho, tem sido um fartote de máquinas de roupa. Tinha, claro, o banal como a roupa de cama e as toalhas da casa de banho, tinha a toalha de mesa gigante usada no fim de semana, que é também espessa, e, depois, mais estas cobertas (só posso lavar uma coberta por máquina, tal a dimensão e espessura), e mais as toalhas que usamos no ginásio mais as calças e tshirts e demais roupa. E fiz outra só com tapetes, os da casa de banho e os de pano que tenho junto às portas da rua para que o cãobeludo, nestes dias de chuva, não patinhe a casa toda nem traga lama para dentro de casa. Assim, não é que saiba limpar os pés quando entra, mas, pelo menos, passa por eles e a maior fica neles. Portanto, fiz várias máquinas de roupa de seguida. Uma alegria ter a roupa cheirosa a secar ao sol. E secou tudo que foi uma beleza.a

E hoje estava para lavar as forras das almofadas e algumas das almofadas mas já não consegui pois não esteve calor nenhum e esteve meio nublado. E parece que para a semana volta o tempo incerto pelo que este meu ímpeto lavadeiro tem que abrandar. É que, a seguir, quero que vão as carpetes. É outra coisa que gosto imenso de fazer. Estendo-as em piso plano ou inclinado, molho-as com mangueira, coloco detergente, depois 'esfrego-as' com vassoura rija. O bom e o bonito é tirar-lhes, depois, todo o detergente, deitam espuma que se fartam. Com a mangueira e a vassoura vou lavando, lavando. Tenho que estar descalça, claro. Mas preciso de sol forte para depois as carpetes me secarem senão ficam a cheirar a lã molhada, malcheirosa. Secando rapidamente ficam não apenas limpinhas como cheirosas. 

Tenho dúvida quanto aos cortinados mais espessos que são forrados e 'enformados'. Temo lavá-los eu, e na lavandaria também disseram que não assumiam a responsabilidade. Por isso, têm sido apenas aspirados, sacudidos, postos ao sol. Mas qualquer dia tenho mesmo que levá-los ao banho. O que lavo regularmente são os brancos finos como o desta sala, outro que tenho a separar a despensa da cozinha, e os das duas janelas do meu quarto, um dos quais de renda belga. Estes lavam-se que é uma maravilha, nem precisam de se passar a ferro.

Também tenho duas colchas de renda para lavar mas essas têm que ser levadas à lavandaria pois são um peso bruto e mais ainda quando estão molhadas. Claro que aí há as secadoras mas não quero tratar já disso pois, quando chove e não quer que o limpemos com uma toalha, o nosso cão maluco corre e vai esfregar-se e rebolar em cima da cama do quarto do fundo ou no sofá do primeiro andar que tem uma colcha de renda a servir de coberta. Por isso, enquanto ainda estiver de aguaceiros, não vale a pena.

Também andei com o meu marido a podar as roseiras trepadeiras que estão em volta da árvore maior. Aquilo já estava para ali um arbusto farto. Quando está florido é uma beleza e um perfume do mais inocente e maravilhoso que há. Aquelas rosinhas cor de rosa clarinho têm um perfume que faz recordar a primeira-comunhão e a infância. Mas é a tal coisa de não haver bela sem senão: espinhos e mais espinhos. E, para se conseguir chegar à árvore, para a desbastar, havia que desbastar primeiro os pés de roseira pois não apenas tinham volume a mais como picam por todo o lado. Também desbastámos um pouco a buganvília. E andei a arrancar ervas grandes que nasceram e se desenvolveram à grande tal a profusão de água das chuvas. Depois o meu marido andou com a máquina a cortar a relva. E também ficou um cheirinho bom a relva cortada.

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Bem, hoje estou para temas domésticos. Não faz sentido estar para aqui a escrever isto, pois não...? O que é que isto interessa a alguém...?

Por isso, para sair deste registo (só me faltou dizer que amanhã quero dar banho ao cão, o que não é uma metáfora nem uma gracinha, é mesmo literal), vou antes transcrever um pequeno excerto de 'Etrusca', um livrinho pequeno, que, há muito, muito tempo, aqui escrevi em capítulos, como um folhetim, uma das histórias que muito me divertiu escrever. 

E devo dizer que gosto desta capa, acho que me saiu bem. Custou mas, à enésima versão, quando já desesperava, lá me agradou... Mas, claro, é discutível, haverá quem ache uma pepineira. E eu respeitarei.

Enfim.

Aparentemente ínvios são os caminhos da sedução. As etruscas sabiam bem disso. Eu também.

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(...)

Quando cheguei, já lá estava. Sisudo.

‘Sim, patrão’, apresentei-me ‘já cá estou.’

Não estava para sentidos de humor, foi direito ao assunto. ‘O que tens andado a fazer é estúpido, irracional, descabido. A que propósito andas tu a chapar na internet assuntos que são pessoais e que não te dizem respeito? O que ganhas tu com isso? E achas que percebes tudo o que vês ou que podes fazer juízos de valor baseando-te apenas em metade dos factos?’.

Tinha os punhos fechados em cima da mesa, furioso. E olhava-me nos olhos, como se, com o olhar, me quisesse punir, talvez até agredir.

Nestas ocasiões fico invulgarmente calma. Disse-lhe: ‘Respira fundo. Acalma-te. Olha para fora. Quando estiveres na plena posse das tuas capacidades, recomeça. Mas devagarinho que eu não gosto de ver gente stressada à minha frente.'

Não ligou nenhuma e continuou, desorientado: 'Aí andas, a fazer conjecturas, a falar com a minha mulher, com o amiguinho, até com a advogada, e depois vais para o computador e desatas a escrever tudo. Se te ligo, lá vejo no dia seguinte tudo escarrapachado na internet - e eu gostava de perceber que brincadeira é esta.'

'Oh senhores, mas eu não estou farta de dizer que é ficção? Tudo ficção. Qual daqueles protagonista és tu? Eu, ao olhar agora para ti, diria que és a bicha, uma bicha toda agitada, à beira de um chilique.', brinquei.

'Mau!', continuou ele no mesmo registo 'assim não vamos a lado nenhum!'.

'Não vamos a lado nenhum? Mas onde é que tu queres ir, que eu ainda não percebi...?', sorrindo eu.

'Achas que tenho um caso com a advogada, achas que não estou a dar a mão à minha mulher, achas que sou um neo liberal arrogante. Achas isso tudo, não é? Achas que me atirei à advogada, que ela não quis nada comigo, que eu fiquei em lágrimas. Achas isso tudo, não é?! E se fosse?', e quase espumava.

'Olha, baixa o tom de voz. Não é por mim, é por ti que não há quem não te conheça, já estão a olhar para nós.'.

Então levantou-se, pagou e, seco, disse-me, 'Vamos lá para fora'.

E eu refilando: 'Logo hoje? Há tanto tempo sem chover e logo hoje, que está de chuva, é que queres ir passear...?'

Saímos. Foi buscar o chapéu de chuva ao carro.

E, então, num anoitecer chuvoso, frio, passeámos à beira rio enquanto ele falou tudo o que quis que eu soubesse.

(...) 

in Etrusca, Vera Mulanver, Amazon 

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A todos uma bela sexta-feira

quinta-feira, março 27, 2025

O que é um optimista? - É alguém que tem sempre esperança.
E o que é a esperança? - A esperança é a coisa com penas que, empoleirada na alma, canta a melodia sem palavras e nunca pára

 

Simples, não é? 

Claro que os pessimistas não sabem do que estou a falar. Se calhar nunca sentiram esta coisa sem penas empoleirada na alma a cantar melodias sem palavras, e que nunca se cansa.

Está mau tempo? -- O tempo bom não tardará, ouviremos a coisa a sussurrar, sem palavras

Esta pessoa fala sem parar, esgota a nossa paciência? -- Já vai cansar-se, cantará ela, na sua suave melodia.

O populismo e o extremismo pró-fascista estão a alastrar como uma mancha de óleo putrefacto? -- Haveremos de encontrar o antídoto e toda a gente se mobilizará para limpar os estragos, dirá a coisa com penas.

Parece que já não há pessoas interessantes, tão interessantes que a gente deixe tudo para as ouvir? - Deve haver, estão é resguardadas. Mas haveremos de convencê-las a partilhar as suas ideias connosco. Dirá ela, e nos acreditaremos.

Temos dores e sentimo-nos desalentados? - Isso há de passar. E até parece que já nos sentimos melhores.

A esperança é o combustível que move os optimistas, é o oxigénio de que precisam para viver. A esperança não regateia, não cobra, não censura. A esperança está lá. Um ombro amigo, uma mão que se oferece, um sorriso que alenta, a flor que traz a luz quando a nuvem espreita. 


Helena Bonham Carter lê 'Esperança' de Emily Dickinson 
| 365 Poems for Life by Allie Esiri


“Hope” is the thing with feathers -
That perches in the soul -
And sings the tune without the words -
And never stops - at all -

And sweetest - in the Gale - is heard -
And sore must be the storm -
That could abash the little Bird
That kept so many warm -

I’ve heard it in the chillest land -
And on the strangest Sea -
Yet - never - in Extremity,
It asked a crumb - of me.

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Dias felizes para si que me lê

quarta-feira, março 26, 2025

O Montenegro é o verdadeiro vendedor de banha da cobra
-- De novo, a palavra ao meu marido --

 

Vi hoje no noticiário da TVI um excerto do programa do Goucha onde o Montenegro dizia que estava a ser acusado porque trabalhava. É preciso ter uma "ganda" lata, um topete infinito, um descaramento a toda a prova, uma dificílima relação com a verdade, uma jactância interminável e um grande amor à não-verdade para fazer esta afirmação. É o contrário, Luís, está a ser acusado de, entre outras coisas, receber avenças sem fazer nenhum. É exatamente o contrário Luís! 

O Luís também está irritadíssimo porque aparece num cartaz ao lado do José Sócrates. É a vida, Luís. Provavelmente achou que tinha piada, pelo menos não criticou, o cartaz quando o mesmo aconteceu ao António Costa e ao Fernando Medina. Agora foi a sua vez. Azarinho. Mas realmente não percebo a razão de tanto incómodo. Quem não deve não teme e, até ser condenado, o Sócrates é tão inocente como o Luís. Objetivamente, se alguém tem razão de queixa em relação ao cartaz. se calhar até será o Sócrates que não deve gostar nada de se ver exposto ao lado de um Primeiro-Ministro alegadamente avençado.

O Luís Montenegro diz o que lhe convém, independentemente de ser verdade ou mentira, e tem dois pesos e duas medidas em cada situação. Não é sério. Para vendedor de banha da cobra já chega o Ventura.

NOTA: Obviamente não concordo com a associação que Ventura faz entre os anos de democracia e a corrupção. Mas essa, que eu saiba, não é a razão da indignação do Montenegro.

Um dos homens mais poderosos do mundo, num jantar de gala, entretém-se a brincar, à mesa, com avioezinhos feitos com os talheres

 

Vê-se e custa a acreditar. Em Mar-a-Lago, num jantar de gala, uma vez mais sem respeitar o dress code, Elon Musk mostra as suas dificuldades em portar-se 'normalmente'. Com uma faca e colheres em equilíbrio ali está entretido a fazer uma gracinha. 

Claro que isso poderia não ser problema nenhum, cada um é como cada qual, não fora dar-se o caso de Trump lhe ter concedido poderes ilimitados. As decisões mal fundamentadas, irracionais e tantas vezes desumanas de Musk têm-se revelado um poço de problemas não apenas -- e sobretudo -- para as vítimas mas também para os republicanos, para o próprio Musk (veja-se a pancada que as contas da Tesla estão a levar) e, espero bem, para o Trump.

terça-feira, março 25, 2025

MP & Madeira, uma dupla porreira -- não desfazendo do Marcelo e do Luís
-- A palavra ao meu marido --

 

A esquerda perdeu as eleições na Madeira e todos os partidos desta área deveriam refletir sobre os resultados e tentar perceber se o respetivo discurso e prática politica coincide com os anseios e objetivos dos eleitores ou se estão apenas a "fazer politica" para eles próprios e para os seus incondicionais. 

Quando já se sabiam os resultados da Madeira, foi paradigmático ver ontem o Louçã no programa do Ricardo Araújo Pereira zurzir com dez vezes mais veemência o PS do que o PSD.

Mas existe um outro derrotado nestas eleições; chama-se Ministério Público. Os madeirenses e porto santenses que ontem votaram disseram que se estavam nas tintas para o MP e que não se incomodam por serem governados por um partido cujos militantes que estão no governo têm processos a decorrer na justiça. Depois de uma deslocação de um avião cheio  de policias à Madeira e de uma investigação que dura há mais de um ano sem qualquer avanço conhecido, o povinho confirmou que se marimba para este tipo de investigações teatrais e inconsequentes. Também o MP deveria refletir sobre os casos que mediatizou e que "pariram ratos" e, por uma vez, pôr a arrogância de lado e reconhecer os erros.

Ontem, o Marcelo, no final do futebol, também comentou o resultado das eleições na Madeira. É curioso que um assunto, julgo eu, importante para o País seja comentado ao mesmo nível do desempenho da Seleção. Até fiquei admirado que não tenha feito comparações entre os jogadores e os dirigentes políticos da ilha. Mas... uma "piquena" questão para o PR: não lhe causa nenhum desconforto que os eleitos passem este atestado de menoridade ao MP?

Por outro lado, o Montenegro, confirmando a postura ética a que nos habituou, parece não saber quais os limites da acção de um governo de gestão. Não só publicita decisões que ultrapassam a mera gestão corrente associada a esta fase pré eleitoral como anda a fazer campanha eleitoral como PM, anunciado não sei quantas auto estradas, estradas, variantes  e circulares. Para o Luís vale tudo, "até tirar olhos". No Luís nada me surpreende mas chateia-me ligeiramente aquele sorriso sacana com que diz estas coisas parecendo que está -- ou estando mesmo -- sempre a gozar com  a malta. 

A "ruralidade" (Marcelo dixit) está-lhe colada à pele e a falta de cultura democrática também.

segunda-feira, março 24, 2025

Lanche ajantarado

 

A modalidade nos últimos fins de semana tem sido o lanche ajantarado. Em época de testes, assim conseguem aproveitar melhor o tempo de estudo. Chegando por volta das quatro e tal ou cinco, dá para conviver, depois lanchamos, conversamos, e, quando vão, já não precisam de ir jantar, quando muito petiscam ou ceiam. E eu gosto desta versão pois, como gosto de improvisar e variar, posso fazer várias coisas, sempre na expectativa de que possam ter por onde escolher.

De cada vez, tenho uma ideia. Penso no que uns gostam e avanço por aí, sei que outros nem por isso e evito ou arranjo alternativa. Claro que tenho sempre aquelas velhas dúvidas quanto às quantidades. Pelo sim pelo não, faço a mais, pensando que é bom que sobre pois, se quiserem, podem levar marmita para o dia seguinte.

Para este domingo o meu marido disse que podíamos fazer bifanas e eu lembrei-me de fazer uma quiche de frango assado, uma quiche de camarão e uma tortilha de salmão. E para sobremesa resolvi fazer uma coisa que vi no instagram, com aveia e tangerina.

Fui ao supermercado e, como sempre, não levei lista. Penso sempre que não vale a pena, pois, à medida que for passando nos corredores, vou-me lembrando do que preciso. 

No entanto, quando já estava perto da caixa com o carrinho a transbordar e de tal forma pesado que mal o conseguia manobrar, vi que me tinha esquecido da massa quebrada para as quiches. Claro que poderia fazer em casa mas, no meio da azáfama que são as minhas culinárias, seria inútil perder tempo com uma coisa que se se compra feita e que é boa. Lá fui. 

E lá voltei para a caixa.

Mal cheguei a casa, vi que me tinha esquecido de comprar frango assado. Gaita. E nem cru o tinha. Ou seja, quiche de frango assado já era. Fiquei passada. Apostava tanto naquela quichezinha...

Como trouxe costeletas para o almoço -- e em quantidade generosa, já a contar que sobrassem para o almoço desta segunda --, pensei que teria que ser quiche de costeletas. Quem não tem cão, caça com gato. E assim foi, desossei e parti em bocadinhos quatro costeletas fritas de cebolada, juntei a cebola, juntei uma boa quantidade de espinafres que tinha amolecido por cima das costeletas (depois destas já estarem fritas), e com o leite, os ovos e queijo ralado por cima bem com bacon aos minicubos, fez-se.

A quiche de gambas fiz com crème fraiche, ovos e um pouco de ketchup. Para evitar gordices, não usei natas nas quiches. Tinha fritado os camarões ainda com casca, com louro e alho. Depois o meu marido descascou-os e tirou a tripinha, abrindo-os ao meio longitudinalmente. Eram grandes. O caldo da fritura foi misturado com o resto. Como tinha 'planchado' uns lombos de salmão, também com alho, cebola, louro, e receando que os camarões, apesar de muitos e grandes, se perdessem na quiche (dado que têm uma textura muito leve, praticamente neutra), lasquei ainda um lombo de salmão dos que tinha feito para a tortilha. Penso que estava boa (não comi pois sou alérgica a marisco de casca encarnada). Mas, de facto, o meu filho disse que a textura dos camarões perdia-se na quiche, mais valia que se tivessem comido por si só.

Para a tortilha, estufei, com um pouco de azeite, legumes variados (cenoura ralada, alho francês, couve lombarda, micro bocadinhos de pimento, cebola, salsa, batatas aos cubos). Quando estava cozinhado, lasquei os lombos de salmão, juntei seis ovos, envolvi tudo. Aqueci uma frigideira muito grande e, quando o azeite estava quente, deitei tudo lá para dentro. Depois foi aquela cena de rodar a frigideira para não se pegar, depois de tostado virar com um prato grande, voltar a colocar, rodar, etc, e mais uma vez.

E fritei as bifanas de porco. Tinha comprado vinte e tal bifanas. Quando estava a fritar, pensei que era um exagero. Depois do resto, ninguém comeria tanta bifana. O meu marido também achou demais mas disse que fritasse, o que sobrasse eles levariam.

Foi tudo para a mesa bem como uma taça de salada de alface. E o meu marido levou a frigideira com as bifanas para a mesa, disse que cada um faria as que entendesse. Aqueci um monte de bolinhas de Rio Maior que também foram para a mesa bem como mostarda e ketchup. 

Resultado: sobrou um pouco de tortilha, pouco, uma fatia pequena de quiche de camarão e duas míseras bifanas. Fiquei zonza. Quando tinha acabado de fazer aquilo tudo, juraria que tinha sido um daqueles exageros de que sempre me acusam. Mas não. Para a próxima tem que ser mais. E nem sei se o mais novo não é o que come mais. Como dizia a minha avó, 'benza-o Deus'. Dá gosto vê-lo comer. E aprecia. E dá opinião. Até o 'doce' ele comeu de gosto. Meu rico menino.

E o que comem vê-se: estão todos a ficar enormes. Não imaginam como fico pequena ao lado deles quase todos. Um deles, o que está quase a fazer catorze anos, quando passou junto ao muro de lado  -- para ir com o primo e o tio para ajudarem o avô que não tinha conseguido desencarcerar sozinho um dos troncos grandes que se quebraram na noite de vendaval  -- perguntou-me: 'O muro sempre foi assim tão pequeno?'. E não estava a fazer-se engraçado. Não. Estava mesmo intrigado. É que antes ele era bem mais pequeno que o muro. Agora está quase da mesma altura. Uma coisa impressionante.

Mas falta falar do doce. Aí é que não acharam muita graça. Lá está: não gosto de fazer doces, não tenho mão. Fiz uma papa de aveia com leite, com quatro ovos, casca de duas tangerinas e, lá dentro, não me lembro se quatro ou cinco tangerinas (sem caroço). Ainda dois paus de canela e açúcar mascavado. Como geralmente nunca ponho açúcar em nada, tenho sempre receio que, ao pôr, fique doce demais. Por isso não pus muito. Provei e pareceu-me bom. Depois de estar bem cozido, grossinho, e etc, retirei os paus de canela e a casca das tangerinas e triturei bem tudo o resto, até ficar bem cremoso. Quando fui pôr no maior tabuleiro que tenho, quase deitava por fora. Fiz uma quantidade exagerada. Voltei a colocar os paus de canela e polvilhei. Quando provaram, estranharam pois acharam que eu me tinha esquecido do açúcar. Uns juntaram mais açúcar e já toleraram. Acharam que parecia papa de pequeno-almoço. 

Também tinha feito um tabuleiro de frutas. Disponho em riscas. Uvas brancas. Mirtilos. Gomos de tangerina. Morangos. Papaia aos cubos. Acho que fica bonito. Tiram à mão e servem-se. Voa num instante. 

Como sobrou imensa 'papa' (não sei como me saiu tamanha quantidade...) levaram  para comerem à noite, à ceia, ou, então, ao pequeno-almoço. Lá proteica e saudável é. 

Ficou um bocado para o meu marido que disse que gostou.

E é isto. 

Sobre o resultado das eleições na Madeira não falo. Indispõe-me. Há coisas que custam a perceber. Também me poupei à conversa do Portas. Vi o Louçã no Isto é Gozar com quem trabalha. Foi desenterrado pela Mortágua. E, para meu espanto, constatei que elege como inimigo o PS. Uma coisa surreal. Grande parte do tempo a cascar no PS -- isto em vez de cascar no Chega. Gente com astigmatismo político, caraças.

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Uma boa semana a começar já por esta segunda-feira

Dias felizes

domingo, março 23, 2025

Será que as sondagens mentem tanto como o Montenegro?
-- A palavra ao meu marido --

 

Desde quinta-feira que temos o regabofe instalado na comunicação social. Como foi publicada uma sondagem em que a AD tinha 20% das intenções de voto, o PS 15% e o conjunto da esquerda 3%, a maioria dos comentadores e algumas televisões (claro que a SIC foi a mais entusiástica) não se calaram a tecerem loas à governação do Montenegro, concluindo que Portugal são uns Estados Unidos em miniatura e que, tal como o MAGA em relação ao Trump, a malta se está nas tintas para os "enviesamentos" (para ser meigo) do Montenegro.

Mas vale a pena analisar a sondagem com mais profundidade e rigor do que foi feito propositada ou involuntariamente (quiçá por falta de conhecimento) por alguns dos jornalistas e comentadores. 

Segundo  a ficha técnica da sondagem, o universo da amostra é 802 pessoas (que correspondem aos escassos 15% que responderam às questões o que, já de si, mereceria uma ponderação). Analisemos, então, os números, segundo a informação publicitada.

  • Na AD afirmaram ir votar 160 pessoas, 
  • 120 pessoas afirmaram votar no PS
  • 72 pessoas têm intenção de votar no Chega 
  • na IL temos 32 pessoas 
  • e, em cada um dos partidos de esquerda, menos mal, lá houve uns 8 que têm intenção de votar ou no PC ou no Livre ou no BE. 

Não parecem quantidades de respostas impressionantes para que tanto alarido tenha sido feito.

Aliás, na mesma sondagem,os dados mais interessantes talvez até tenham sido estes:

  • 313 pessoas responderam que ainda não tinham decidido 
  • e 417 pessoas responderam que os esclarecimentos do Montenegro são insuficientes.

Portanto, as conclusões -- admitindo que com um número de respostas tão pequeno podemos considerar os resultados válidos --  são:

  • temos mais indecisos do que o conjunto de intenções de voto nos dois maiores partidos, PDS e PS
  • e mais pessoas do que o total de pessoas que afirmou terem intenções de votar em qualquer dos partidos responderam que pretendem saber mais sobre o Luís e a sua empresa (Spinunviva). 

Ou seja, afinal, as "historietas" do Luís não passaram à história.  

Apresentar os dados desta forma é bastante diferente do que tem sido alardeado pelos órgãos de comunicação social. Seria mais honesto e mais ético apresentar os números como eles são (honi soit qui mal y pense).

Nota: o total das percentagens não dá 100% pelo que pode haver uma questão de casas decimais e/ou de intenções de votos em pequenos partidos aqui não mencionados ou, mesmo, imprecisões nos dados divulgados. 

Já agora, e não querendo aborrecer o Luís, pergunto:

  • Não parece esquisito que, a ser verdade o que tem sido noticiado e não desmentido, o valor do metro quadrado de construção declarado por ele para a luxuosa casa de Espinho -- que até elevador tem --, tenha sido inferior ao preço médio da construção em Espinho? 
  • O valor declarado estará relacionado com alguns subsídios? Ou terá também a ver com alguma 'optimização fiscal'? 
  • Não parece esquisito que uma empresa que se dedicava a atividades relacionadas com o RGPD, só 18 meses depois de iniciar a atividade tenha cumprido os requisitos legais nesta área? 
  • Não parece esquisito que não estejam reduzidos a escrito os contratos relacionados com as avenças da Spinunviva? 
  • Não parece esquisito que alguém que pormenorizou o número e tipo de árvores que tinha em cada terreno não se tenha lembrado das relações comerciais da empresa de que era proprietário? 
  • Não parece esquisito que o advogado Luís não soubesse que a passagem das quotas para a mulher o mantinha como proprietário da Spinunviva?
  • Ou que não podia unir andares com diferentes proprietários?
  • E que os pedidos de licenciamento não podem se apresentados trinta dias depois do início das obras?~
  • ... 

E finalmente, mais uma cereja no topo do bolo. A célebre Inês Patrícia afirmou numa entrevista que  a Spinunviva se auto geria. Até fiquei comovido: recordou-me o PREC e as empresas em autogestão. E das duas uma: ou estamos perante perigosos revolucionários ou querem enganar-nos. Só faltava mais esta pérola! Não parece esquisito... é, no mínimo, muito esquisito!

  • Questão adicional: não seria mau, para sabermos se também não será esquisito, conhecermos quais as despesas contabilizadas na Spinunviva. Terão sido contabilizadas despesas não decorrentes da estrita atividade da empresa? Estando  a empresa em "autogestão", não terão sido indevidamente consideradas admissíveis? Senhores Jornalistas temos e devemos saber!

E uma sugestão aos Senhores Jornalistas: leiam 'Como mentem as sondagens' do Luís Paixão Martins. Talvez vos seja útil.