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segunda-feira, outubro 07, 2013

Fim de semana in heaven. Plantando árvores, apanhando uvas, apanhando sol, lendo ['A terra de que um homem precisa' (Tolstoi)]. O prazer das coisas simples.


No post a seguir a este poderão ler o que penso sobre a TSU das viúvas e sobre os velhacos que se lembraram de uma ideia tão canalha. Só não me insurjo mais porque tenho a certeza de que não irá avante. Há limites mesmo para os descarados que não conhecem limites. A bem ou a mal os cortes nas pensões de sobrevivência não passarão. 


A seguir a esse post, há um vídeo muito esclarecedor que explica bem para onde tem estado a ir o nosso suor e o nosso sangue.

Mas isso é a seguir. Como já o disse muitas vezes não gosto nada de me ir deitar aborrecida. Por isso, aqui, agora, a conversa é outra.

*




O sol de outono regressou. A terra estava húmida das chuvas que caíram durante a semana. As folhas estão douradas, cheias de luz. Aprisionam a luz para depois partirem. A glicínia, que na primavera se enche de cachos de flores lilases, está agora requintadamente envolta em ouro. O portão está assim como aqui o vêem, envolto em rendas suaves, filigranas delicadas.




Aproveito a terra húmida do início do outono para plantar algumas árvores e arbustos.

No meio das pedras apareceu um pequeno rebento de pinheiro. Ali não poderia medrar. Transplantar pinheirinhos não costuma resultar bem. Com muito cuidado tento trazer o pequeno rebento à superfície sem que a raiz se parta. Os pinheiros deitam raízes fundas. Mesmo este pequeno rebento tem uma raíz bem maior que ele. Num lugar de terra mais farta abri uma cova e, com muito cuidado, plantei-o. Depois aconcheguei bem a terra à sua volta.




Vamos ver se vinga, tomara que sim. Que vingue para vingar o grande pinheiro que tombou com o vendaval de inverno.

À sua volta coloquei umas pedras para delimitar o seu espaço pois, quando vier a primavera, a erva vai rebentar e cercá-lo e, assim, quando se for roçar o mato, as pedras farão alguma barreira, não vá a máquina feri-lo de morte.

Plantei também um pequeno cedro. Gosto muito de cedros. Quando grandes são frescos, densos e perfumados.




Plantei também loendros e callunas. São resistentes, floridos e perfumados, é o género de arbustos que se dá muito bem por aqui.

Não uso luvas, não me dá jeito. Na cozinha também não uso. No campo gosto de sentir a terra, a terra molhada. Ajeito as plantas à mão, é quase como se estivesse a ajeitar a roupa na cama a um bebé. E como usar luvas e não sentir a pele dos bebés?

Claro que por estas e por outras é que não consigo ter unhas compridas. Nails é coisa que não se dá comigo. Vejo as unhas das raparigas do escritório, artísticas, em dois tons ou com estrelinhas, unhas enormes. É coisa que não consigo: entre as unhas compridas e o gosto de sentir a terra nas mãos, opto, sem dúvida, pela segunda alternativa. A pele também se ressente, fica seca mas, enfim, depois tento compensar com um creme.




As uvas estão doces, muito doces, alguns bagos já estão comidos pelos pássaros - e como eu os compreendo - outros são quase passas. São uvas moscatel. Mel. Um mel líquido. Andei a apanhá-las mas, enquanto as apanho, vou comendo. E logo as uvas que, tal como os figos, engordam tanto. Paciência. Logo faço dieta ou logo faço caminhadas mais longas para compensar.




Na sexta feira tinha descoberto uma pequena livraria que vende livros dos fundos. Uma maravilha. Qualquer dia só encontro livros que me interessem nos fundos. Comprei logo uns quantos. Baratos. Só um custou 7€, os outros foram a 3.




No sábado li A Arte de Caminhar de Henry David Thoreau um livrinho cuja leitura me encheu de prazer. Sou caminhante de curtas caminhadas mas sei bem o prazer que é caminhar, ir para onde os passos nos levam, e o prazer imenso de percorrer os caminhos limpos da natureza, viver dentro dela, ser apenas um dos muitos pequenos seres que a habitam.

No domingo, de tarde, deitada ao sol, estive a ler 'A terra que um homem precisa' de Tolstoi (ou Tolstoy). Conta a história de um homem chamado Pahóm que nunca estava contente com o que tinha. Podia ser feliz, era bem sucedido, mas comparava-se com quem tinha mais e ficava impaciente enquanto não conseguia ter também. Ia sucessivamente largando o que tinha para ter mais e mais. Por fim, soube de um sítio de terras férteis a preço baixo. Partiu para lá, com o criado, para comprar terras, muitas terras, num lugar longe do sítio onde vivia com a mulher e os filhos. Nessa terra vivia um povo, os Baskirs. Os Bashkirs vendiam por um preço baixo toda a terra que ele pudesse percorrer e marcar num único dia desde que voltasse ao sítio de onde tinha partido antes do sol se pôr. Pahóm correu, correu para marcar mais e mais terra, correu, exausto, correu para conseguir chegar ao ponto de partida. Quando conseguiu, de tal forma estava exausto, caíu morto.

Os Baskirs davam estalos com a língua, para mostrar a pena que sentiam. O criado pegou na pá, fez uma cova em que coubesse Pahóm e meteu-o dentro; sete palmos de terra: não precisava de mais.

Assim termina a história.


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A música acima é Serenade de Schubert interpretada por Horowitz. As pinturas que se vêem no vídeo são de Ivan Aivazovsky (1817-1898).

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Hoje no meu outro blogue, o Ginjal e Lisboa, Mia Couto traz as suas palavras simples como a terra e as minhas juntam-se às dele quase como se rezassem a um deus que anda desaparecido. A seguir há duas grandes vozes, Kate Aldrich e Daniela Dessi, interpretando a Norma de Bellini. Muito gostaria de vos ter por lá.

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Relembro: se quiserem testemunhar a minha revolta e náusea por causa da TSU das viúvas, por favor desçam até ao post abaixo.

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Resta-me desejar-vos, meus Caros Leitores, uma bela semana.
Que as patifarias do desGoverno não vos tirem a vontade de ser felizes.

segunda-feira, dezembro 10, 2012

Anna, a mulher adúltera. Keira Knightley, Sophie Marceau, Vivien Leigh, Nicola Pagett: qual a Karenina mais credível?


As famílias felizes parecem-se todas; as famílias infelizes são infelizes cada uma à sua maneira


Assim escreveu Leo Tolstoi (ou Tolstoy) quando criou Anna Karenina há bem mais de cem anos.

Independentemente do contexto específico em que decorre a história, tão intemporal, tão realista é a situação que o interesse que desperta atravessa o tempo. Várias adaptações ao cinema tiveram já lugar.

A última é a que está em cena com Keira Knightley, Jude Law e Aaron Taylor-Johnson. Ao ver o trailer, admito que talvez Keira seja credível mas, ainda assim, parece conter em si a exuberância ou o excesso de beleza que, à partida, a predisporiam para o adultério.

Anna Karenina, tal como a recordo, é uma mulher bela sim, mas uma mulher casada, feliz e acomodada no seu casamento, talvez com algum tédio, talvez com alguma insatisfação mas nada de mais, nada que não fosse o normal nos casamentos tal como eram aceites naqueles tempos (e ainda hoje).

Anna é uma aristocrata rica, bela, tem tudo. Até que conhece o Conde Vronsky.

A partir daí a vida de Anna muda. Passa a ser a mulher perdidamente apaixonada, a mulher adúltera, a que tudo arrisca, a que, por fim, não consegue suportar o ilícito ou , simplesmente, não consegue viver com tão grande amor.

Tinha vontade de ver esta nova adaptação pois os pormenores da história desapareceram da minha memória e talvez nem seja bem como sumariamente a acabo de descrever. Mas não vou: a figura escolhida para o Conde Vronsky não me parece minimamente credível. Não consigo imaginar ali um temperamental, impetuoso apaixonado, capaz de levar Anna a desistir de tudo, até de viver. E Jude Law, o marido, caracterizado da maneira como ali o vejo, parece-me um desperdício injustificável.





Antes tinha havido uma outra adptação, dessa vez com Sophie Marceau e Sean Bean. Mas, aqui, também Sean Bean não me pareceu ter aquele toque que faz uma mulher desligar-se da racionalidade e entregar-se, perdidamente, à paixão.





Parece que houve uma outra adaptação com Vivien leigh mas nunca a vi. 

Na minha cabeça, quando penso em Anna Karenina é em Nicola Pagett que penso, um misto de inocência, de irreverência, de impaciência à beira da loucura, e um fogo desmedido. 




Quando penso no Conde de Vronsky é em Stuart Wilson que penso. Leviano, apaixonado, terno, belo, sedutor.




Trata-se da mini-série da BBC. Acho que nunca, como naquela altura, o casting foi tão credível. Não encontrei o trailer mas encontrei uma das cenas decisivas.





Anna Karenina, a mulher adúltera, uma das personagens mais credíveis, mais pungentes, mais duradouras  da literatura.

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Antes de me despedir, não quero deixar de vos convidar a visitarem o meu outro blogue, o Ginjal e Lisboa. Hoje as minhas palavras perdem-se na névoa, perto de um poema de Vasco Graça Moura. Na escolha de música, houve mudança de tercio. Hoje abro a semana que vou dedicar a Ernesto Lecuona. E é o calor cubano que vai começar a aparecer.

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E é isto. Tenham, meus Caros Leitores, uma bela semana a começar já por esta segunda feira.