segunda-feira, novembro 30, 2015

Eu tenho dois amores


Como uma casa a abrir as suas portas, o calor das ruas abriu o rosto do Lisboa.



Não andam fáceis estes meus dias. Com o tempo contado ao minuto para ver se dá para tudo o que é importante, e com condicionalismos inamovíveis como a hora das visitas no hospital que é estreita e que não dá para ser mais ao fim do dia, com os afazeres domésticos que também não podem ser adiados, com a vontade de estar com os meninos (os grandes e os pequenos) longe de quem fico cheia de saudades, os dias são um autêntico contra-relógio. Pouco consegui ler, pouco consegui descansar como deve ser -- mas vale-me o sono profundo em que caio mal me encosto e que me deixa repousada mesmo que os períodos de sono sejam curtos. Claro que, com isto, muito menos vi televisão ou li notícias. 
Nestas alturas, só me dá para a diversão ou para a parvoíce. Ao sentar-me aqui, ocorreu-me falar do guarda-costas da Adele, aquele gato de olho azul que é de encandear qualquer uma. Poderão ler sobre isso no post abaixo.
E agora, aqui, pensei que deveria falar de qualquer coisa mais 'a preceito'. Mas sobre o quê? Não tenho paciência para falar nem das inventonas que a comunicação social cria para ter sobre o que falar (vide aquela coisa do OE 2016), nem tenho conhecimentos ou cabeça fresca para falar sobre o clima ou sobre a guerra da Síria ou do papel de tampão que a UE quer que a Turquia faça, deixando o cordelinho de fora para que alguém puxe quando a coisa merecer atenção. Ouvi que já lá vivem dois milhões de refugiados. Uma vergonha, este mundo.  
Por isso, estou sem assunto. Tenho andado para falar do Butcher's Crossing que acabei de ler no outro dia e que me fez me lembrar Hemingway. Literatura grande. Mas ainda não encontrei o registo certo: nos grandes a gente não pode pegar de qualquer maneira, tem que ser com cuidado. Transcrever pequenos excertos acho que não dá, o livro é uma sequência perfeita e vale também por isso. Um livro assim eu não leio de trás para a frente, não salto páginas, nem linhas, nem palavras: ali eu vou levada pela mão do autor e faço o que ele quis que eu fizesse, penso o que ele quis que eu pensasse e sinto, ah se sinto, tudo o que ele quis que eu sentisse. Tudo ali é perfeito, essencial. Por isso, agora também não vou falar deste magnífico livro: ainda não sei como fazê-lo.

Portanto, estando neste impasse, vou antes continuar a falar destes meus dias de canseira (e que agora já não são tanto de grande ansiedade porque me parece que as coisas estão controladas mas, ao princípio, há umas duas ou três semanas, já nem sei, foi complicado; e, de resto, também sei que não posso dizer que estão controladas porque um dia estão assim e no outro estão assado, tudo muda de um instante para o outro).

Voltar à poesia, a esta distância sem rumo nem projecto,
voltar à poesia para estar mais longe
do que sou.

Mas, enfim, a verdade é que, pelo meio, entre a vinda do hospital e transportar a casa a outra visita, e a noite, ainda conseguimos, no sábado à tarde, dar uma escapadinha até ao campo; e este domingo ainda conseguimos estar na praia com todos, isto depois de virmos do hospital e de almoçarmos às quatro da tarde. E, em ambos os dias, antes de começarem estas provas esforçadas, ainda deu para a matinal caminhada junto ao rio. E, sempre, para ir fazendo fotografias.

E, no meio disto, por estranho que possa parecer, ainda consigo sentir-me feliz. Claro que, escrevendo isto, muitos de vós me acharão desprovida de sensibilidade, de inteligência ou de preocupação familiar ou social. 

Mas no outro dia li uma coisa que me tranquilizou: não é que eu seja mentecapta por me sentir quase sempre na boa (mesmo nos intervalos de alturas em que estou aflita, cheia de medo ou angustiada): a questão é que devo ter os pré-cúneos muito desenvolvidos. Eu explico:
Neurologistas japoneses dizem ter encontrado a sede deste estado de alma que desafiou filósofos e poetas ao longo da história. 
Íntima e subjetiva, efémera, mas sempre repetível, a felicidade, na definição da sua essência, tem sido um desafio para filósofos e poetas. E também para a psicologia, que na última década conseguiu transformá-la num conceito operacional, de forma a poder ser estudada e medida. Agora, um grupo de neurologistas japoneses da Universidade de Kioto deu um passo mais, foi à procura da felicidade no cérebro e diz ter encontrado a sua sede - ou, pelo menos, uma delas - numa pequena área do córtex, no lobo parietal, chamada pré-cúneos. 
No estudo que acaba de publicar nos Scientific Reports, do grupo da revista Nature, a equipa liderada por Wataru Sato afirma que as pessoas com índices mais altos de felicidade têm também um volume maior de massa cinzenta naquela zona específica do córtex cerebral. E esta observação foi uma constante, independentemente do sexo, da idade ou dos resultados dos testes de inteligência dos sujeitos, reforçam os autores.

E, portanto, caminhando rente ao rio, sentindo o azul das águas e o do céu, vendo as gaivotas, as paredes gastas e belas das ruínas, Lisboa luminosa do outro lado, Lisboa tão suavemente colorida, os veleiros elegantes e silenciosos levados pela mansa aragem, os gatos da margem, os pacientes pescadores - eu encanto-me, sinto-me privilegiada, agradecida, feliz, e vou fixando as imagens que os meus olhos vêem. Este fim de semana o tempo esteve bom, a temperatura amena, o azul muito azul - e eu sinto-me em harmonia com esta tranquilidade. Mas, se o tempo estivesse virado do avesso, ventanias, chuvadas, trovejamentos, mesmo assim eu sentir-me-ia abençoada por poder estar ali, presenciando a beleza da natureza e da obra do homem.

De tarde, como acima já disse, bicho do mar que sou, voltei para junto das águas, das águas do mar. Lindo, lindo o mar. Lindo, lindo o mar ao pôr do sol. Os meninos jogando à bola, felizes, correndo, fazendo ginásticas, torres de areia, os meus amores lindos, cheios de alegria, banhados pelo sol dourado deste outono marinho, o mar folião, espumando, o sol tingindo a praia de luz afogueada.

Nós, os descobridores, assistimos ao caos.
O ocidente calou-se e no horizonte sai
um sol do oriente, um sol de dias maus,
um sol que não aquece quem entende que cai.

Por lá nos deixámos ficar até que o céu mergulhou no horizonte. Os meninos espantavam-se: ainda agora ali estava, depois começou a desaparecer e agora já não se vê. Eu disse que por isso é que se diz que o sol se põe, porque vai pôr-se a dormir, vai deixar que chegue a noite. E, dizendo isto, pensei que estava para ali a enganar as crianças, que devia ter explicado os movimentos da terra e não estar a induzi-los em erro, como se fossemos tão importantes que até o sol se ajeitasse às nossas rotinas. Mas fica para depois, agora deixo-os apreciar a beleza da natureza sem grandes explicações.

Mais tarde, quando eu estava a dizer que ia pendurar uma mega-bota na lareira e que ia enfeitar a lareira com luzinhas para o Pai Natal saber onde devia deixar os presentes, o mais crescido disse-me que já sabia que era a família que oferecia os presentes mas que não ia dizer nada para os mais pequenos continuarem a pensar que era o Pai Natal. Dei-lhe um beijinho na cabeça e disse que ele fazia muito bem. Meus meninos mais lindos.

E, portanto, saímos da praia quando o frio estava a chegar e o sol já tinha mergulhado nas águas. A fotografia abaixo foi tirada uns instantes antes.

Não vivo sem o rio mas também não passo sem o mar. São, verdadeiramente, dois amores, duas presenças que marcam a minha vida, que a enchem de beleza e de paz.

Esperanças de um maior contentamento na areia dos dias que se espraiam.

E depois ainda fomos lanchar. Claro que eu e o meu marido não comemos nada pois o almoço tinha sido tardio. Mas bebi um saboroso chá de erva-príncipe e limão. De regresso a casa, fiz uma sopa. De base levou abóbora, courgette, cebola e três dentes de alho. Depois de cozinhado, juntei azeite e moí muito bem: ficou um puré macio, grossinho. À parte tinha cozido feijão verde cortado miúdo e cebola roxa desbastada que juntei à base da sopa. Mexi para envolver o puré com os legumes. Ficou mesmo boa.

Fiz também lombos de salmão no forno. Assim: aqueço previamente o forno a 250º. Depois, cá fora, ponho num pirex um fio de azeite, depois rodelas de maçã. Em cima das rodelas de maçã ponho os lombos de salmão. Tempero com umas pedrinhas de sal. Por cima, fatiei um resto de cebola roxa fatiada que tinha subtraído à sopa. De lado, pus fatias finas de abóbora (que também subtraí à que tinha posto na sopa). Esfarelei um ramo de alecrim por cima do peixe e da abóbora. Juntei também uns salpicos de orégãos (por isso, basta muito pouco sal). Reguei com um pouco de azeite. Levei ao forno e baixei-o para os 150º. Ficou lá até eu ver que já estava bom - o peixe mediamente passado para ficar macio e não seco, e a abóbora cozinhada, quase sequinha, bem colorida e saborosa. Para acompanhar, fiz arroz basmati, cozido em água com umas pedras de sal e um fio de azeite.

Mas pouco comemos. Por isso, já tenho jantar para esta segunda-feira.

E fiz ainda uma máquina de roupa e paguei o IMI e etc, tarefas com pouco glamour mas que, igualmente, fazem parte da minha vida.

E, para acabar o dia em beleza, aqui estou convosco, na boa, na conversa. Talvez seja a isto que se chama hygge: o prazer das coisas simples. Enfim, para mim é prazer - para vocês não sei.

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Na legenda das fotografias usei excertos de poemas de Luís Filipe Castro Mendes in A Misericórdia dos Mercados.

Lá em cima Melody Gardot interpreta Love me as a river does

As duas primeiras fotografias foram feitas no Ginjal. As duas últimas na Caparica.

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Chego ao fim de tudo o que para aqui estive a escrever a achar que, para vocês não deve ter sido prazer nenhum, deve é ter sido uma seca das valentes, nada que se aproveite. Não é que nos outros dias, por aqui, consigam encontrar pérolas -- mas acho que hoje nem as conchas vazias, quanto mais pérolas. Mas, olhem, não deu para mais. A ver se amanhã estou mais informada ou inspirada.

Permitam que relembre que, no post abaixo, falo do Apolo de olho azul que zela pela boa disposição de Adele e mosto-a cantando com acompanhamento musical de instrumentos infantis. Uma graça.

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Peter Van der Veen, o guarda-costas de Adele que toda a gente gostava de ter. Mas, azarinho, 'toda a gente' não é Adele nem é capaz de cantar com acompanhamento musical de instrumentos infantis.


Adele protegida pelo estonteante Peter Van der Veen



O homem chama-se Peter Van Der Veen, é holandês e é mil vezes melhor vestido do que despido. Já foi antes bodyguard da Lady Gaga.



Como CV, isto estava a parecer-me curto e, portanto, lá fui em busca do seu rasto. Preguiçosa como sou, ou o que quero está na primeira página de selecção da google ou desisto. Acresce que, como não tenho conta no twitter, no facebook ou no instagram, não consegui saber nada mais que se aproveitasse. Que já foi Mr. Europe daquilo de body builder e que todo ele é músculo - mas não era disso que eu estava à procura, que isso a mim diz-me pouco. Queria sabê-lo amante de Borges, a saber montes de poemas de cor, queria sabê-lo com formação de base em matemática ou em física, queria sabê-lo a participar em conferências sobre o buraco do ozono - coisas assim que fazem com que a minha consideração por um homem bonito suba ligeiramente. Mas não, não descobri nada disso. Vi-o foi todo descascado, todo músculo, armado em bom. Não gostei. Gosto de homens normais, com alguns defeitos para que a gente possa desfeiteá-los quando nos sentimos menos poderosas e com necessidade de nos vingarmos de alguém, ou seja, homens com corpinhos na base do dad bod.

Mas, se despido fica desinteressante, já vestido tem muito que se lhe diga. 


Na minha actividade profissional ou na minha vida social, não existem motivos que me levem a contratar um guarda-costas deste calibre pelo que vou ter que sonhar que me saia o euromilhões e que, portanto, para me defender de quem tente assaltar-me, eu precise de protecção extraordinária; ou sonhar os riscos que vou correr quando me transformar em empresária de sucesso numa área com que ando para aqui a congeminar. 

Mas, enquanto isso não acontece, quem anda a desfrutar da beldade e a causar uma inveja galáctica é a Adele. Por onde ela passa, lá vai a beldade atrás. Prefiro vê-lo de fato, todo giraço, mas também não sou esquisitinha: até de cãozinho ao colo ele fica bem.

De resto, a Adele merece. No outro dia, deu outra vez um show danado. Com o Jimmy Fallon and the Roots interpretou o seu êxito Hello tendo, como acompanhamento musical, instrumentos musicais infantis. 


A canção deixa de ser sentimental e torna-se uma animação, todos em ambiente de festa, balançando e fazendo coros, e ela, alinhando na brincadeira, com aquele seu vozeirão, a transformar também este momento num imediato hit que, apesar de ter sido divulgado apenas no dia 24 de Novembro, à hora a que escrevo, já vai com 13 951 080 visualizações no Youtube.


Jimmy Fallon, Adele & The Roots interpretam "Hello"
 (com instrumentos musicais infantis, de sala de aula)


 
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Desejo-vos, meus Caros leitores, uma bela semana, a começar já por esta segunda-feira.
Sejam felizes, está bem?
A vida é curta - não dá para não aproveitarmos tudo o que ela tem de bom (mesmo que seja pouco)

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domingo, novembro 29, 2015

As flores obscenas, as flores cómicas, as flores trágicas, as derrocadas de rosas saem de todos os lados. O típico exemplo da pureza ofuscante e inadmissível.




Tantos talentos acabaram por levá-lo, na assentada de um só ano, à Academia Royal de Belgique e à Académie Française. E a fazer viver ao lado deles o êxito de uma sedução pessoal que o rodeou de homens e mulheres elegantes, de intelectuais, de outros anjos que se chamaram Marcel Khill, Jean Marais e Edouard Dermit.

Jean Cocteau , Picasso , Stravinsky & Hohlova - 1926


Em 1981, dezoito anos depois da sua morte, aconteceu a primeira edição francesa de O Livro Branco com nome de autor. 

O Livro Branco passava a ser o Cocteau assinado, não para ficar entre os seus melhores momentos em prosa mas como sua única confissão sexual directa e associada ao desejo do outro, de se fundir nele e através dele se realizar como narciso, também desejo de ver a sua preferência por rapazes incluída nas tolerâncias da sociedade onde vivia.

Já era uma época em que mais tempo e distância concediam ao contestado Cocteau, ao 'príncipe frívolo' dos anos trinta e quarenta, o direito às serenidades; em que as críticas se amaciavam com aquela memória do maestro que em singulares momentos da primeira metade do século XX tinha regido sinfonias marcantes da cultura francesa. 

Angelo Rinaldi pôde reconhecê-lo como 'ponto extremo de brilho no aforismo, na máxima e na fórmula', François Mauriac, desde há muito assustado com as entrelinhas 'pecaminosas do seu mundo mental, chegava a concordar que 'a morte lhe conferia um carácter de autenticidade', e Marguerite Yourcenar a encontrar-lhe 'uma grandeza estranha, muito próxima de um poder oculta'. 

Chegava o tempo de ser compreendido de outro modo o que fora observado apenas na dimensão prestidigitadora das palavras, na diversidade polifacetada que ele próprio defendia como recusa do colete ortopédico dos géneros (Le Secret Professionnel), de ao tempo enganar o hábito dissonante cantando de vinte formas diferentes e evitar, assim, o elogio do hábito e as nobres pedras de gelo (Plaint-chant), na afirmação provocatória que foi alvo, entre os surrealistas, de um demorado sarcasmo: o poeta é uma mentira que diz sempre a verdade (Secrets de Beauté).

Jean Cocteau por Diego Rivera
Cocteau morreu em 1963, a poucas horas de uma outra morte, da sua grande amiga Edith Piaf. Uma grande fraqueza física aconselhava aos médicos transfusões de sangue que o fariam prolongar-se sem glória num pouco mais de vida. 

Na frase da sua recusa à antipoesia desta técnica científica, talvez haja ressonância do título do seu mais velho filme: Nada substitui o sangue de um poeta.

E, tempos antes, tinha avisado: Façam de conta que choram, meus amigos, porque os poetas só fazem de conta que morrem.



[Excerto da apresentação de 'O Livro Branco, seguido de O Fantasma de Marselha' de Jean Cocteau, redigida por Aníbal Fernandes que é também o tradutor; os destaques do texto são da minha responsabilidade e a escolha das imagens também, claro]

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Início do livro


Por mais atrás que eu volte, e mesmo na idade em que o espírito ainda não influenciou os sentidos, encontro rastos do meu gosto por rapazes.

Sempre amei o sexo forte, que me parece legítimo chamar o belo sexo. Os meus problemas chegaram de uma sociedade que condena o raro como crime e nos obriga a modificar inclinações.
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Três factos decisivos me acodem à memória.

O meu pai vivia num pequeno castelo, perto de S. O castelo tinha um parque. No fundo do parque havia uma quinta e um tanque que não lhe pertenciam. Em troca dos lacticínios e dos ovos que o homem da quinta diariamente nos trazia, o meu pai tolerava-os sem vedação.


Numa manhã de Agosto vagueava eu no parque, a brincar aos caçadores com uma carabina carregada de espoletas, e oculto atrás de uma sebe esperava que um animal passasse, quando vi do meu esconderijo um rapaz da quinta, muito jovem, levar ao banho um cavalo da lavoura. Para entrar na água e por saber que nunca havia quem se aventurasse naquele fim de parque, cavalgava completamente nu e fazia o cavalo soprar a poucos metros de mim. O bronzeado do rosto, o pescoço, os braços, os pés, contrastavam com a pelagem branca e lembravam-me castanhas-da-índia a saltar das vagens, mas os sombreados não se ficavam por aí. Outro me atraía os olhares e ao centro tinha um enigma que se destacava com todo o pormenor.

Os meus ouvidos zumbiram. O meu rosto congestionou-se. Fiquei sem força nas pernas. Tinha o coração a bater como um coração de assassino. Sem saber como, perdi os sentidos e só me encontraram depois de uma busca que durou quatro horas. 

(...)
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Um encontro de mentes brilhantes
A propósito de Parade : Cocteau fala de Erik Satie, Picasso, Diaghilev



Parade



Je Suis Jean Cocteau

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Os desenhos são de Jean Cocteau.
O título do post é parte do que Genet escreveu a propósito da escrita de Cocteau.
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Lá em cima, Antony and the Johnsons interpretam Another World - "Flowers"


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E queiram, por favor, descer até ao post seguinte onde o River Man se passeia in heaven, lá onde a paz é absoluta e as cores parecem, por vezes, alinhar-se a la Barnett.

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River Man in heaven


UJM,  (uma espécie de Barnett) in heaven, 2015



UJM, (uma espécie de Barnett) in heaven, 2015


UJM,  (uma espécie de Barnett) in heaven, 2015


UJM, (uma espécie de Barnett) in heaven, 2015
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[Apesar de Barnett ser cá de casa, neste caso os devidos créditos a quem de direito]
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Desejo-vos, meus Caros Leitores, um belo domingo.

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sábado, novembro 28, 2015

Qual a parte do seu rosto que prefere? - Antes de ler o que se segue, feche os olhos e pense na resposta. Depois confira: é que isso diz muito sobre si.


Digo já que não sou nada narcisista. Muito menos sou convencida. Zero. Uma das coisas que mais odeio, acho que já aqui o disse, é ter reuniões à primeira hora da manhã e ter que ir directamente para a sala de reuniões sem me poder ver antes ao espelho. Sinto-me insegura, não sei se estou bem. Ou se deixo o carro num parque público e vou a pé, ao vento, pela rua, e dali directa para uma sala de reuniões, sem saber se o cabelo está minimamente aceitável ou disparatadamente pelos ares. Além do mais, dormindo pouco e estando muitas vezes ao computador, sinto que, por vezes, tenho os olhos um pouco avermelhados. Se calha dizer que os sinto assim, dizem-me que não se nota mas não sei se não estão apenas a ser simpáticos.

Mas, enfim, fiz o exercício e fui conferir se a resposta revelava mesmo a minha personalidade.

Olhos

A visão    A imagem
a sutura do espelho

Quando se dá a ver 
o rosto ou a alma

Ou então se mostra
a face do desejo
Tentando capturar
a beleza invisível

Tal como surge 
ao ser encarada

Antever     Entrever
verificar o estrago

Que a sedução produz
na memória narrada
A mon seul désir 

Por isso, perante uma pergunta destas ('Qual a parte do seu rosto que prefere?), fico sem saber bem o que responder. Contudo, talvez que o que, no meu rosto, 'faz mais sucesso' sejam os meus olhos. Têm uma cor variável e acho que talvez seja isso que tenha alguma graça. Ou isso ou a forma como olho, não sei. Mas são inconvenientes, os meus olhos: falam o que eu, por vezes, não quero dizer. Mas, às tantas, acontece isso com toda a gente. Não sei.

Ora, respondendo eu que talvez o que prefira mais no meu rosto sejam os olhos, então dizem que sou sobretudo clássica:
  • que, imagine-se, no Natal prefiro o galo capão (e não é que é verdade? Uns dias antes do Natal, vou sempre ao talho encomendar um galo capão!), 
  • que o meu autor fétiche é Shakespeare (e, não sendo eu grande leitora de poesia que não em língua portuguesa, a verdade é que gosto mesmo de Shakespeare -- como se pode ver na consulta às etiquetas aqui ao lado). 
  • E qual o pintor que adoro? Dizem que, provavelmente, Picasso, sobretudo no período azul (e, uma vez mais, verdade! sou maluca por Picasso; não sei, se tivesse que escolher um período, se escolheria o azul mas, sim, gosto muito do período azul). 
Jeune femme en chemise de Picasso, 1904

Ou seja, dizem que os meus gostos (incluindo as minhas cores preferidas) não se distinguem muito do comum dos mortais. E que, mesmo quando invejo os gostos incomuns, reconheço que o classicismo tem um encanto verdadeiro e uma intemporalidade sem igual (aqui tenho algumas dúvidas mas, na realidade, olhando para a forma como me visto ou para a minha casa, um ou outro apontamento mais dissonante não apagam o conjunto que, de facto, é mesmo mais para o clássico).

No entanto, também sou louca, talvez inexplicavelmente louca (e não são as loucuras todas inexplicáveis?) por Rothko e não sei se isso é muito clássico.

Blue, orange and red - Mark Rothko, 1961


Boca


Se eu hesitasse, e hesito (porque não tenho a certeza de nada disto), seria em relação à boca. A minha mãe costumava dizer que a minha boca era bonita mas sempre achei que eram coisas de mãe. Tenho os lábios cheios. Dantes não os pintava em tons rouge porque achava que ficava provocante demais. Agora já não me importo - acho que já tenho idade para me marimbar para isso.

Mas quem preferir mesmo a boca, pode ser classificada como voluptuosa: provavelmente a sua voz é grave, a sua silhueta curvilínea e, claro, os seus lábios devem apelar à volúpia. Provavelmenete dirá que, da vida, prefere o luxo, a calma e a volúpia. Ah, sim, e também deve gostar de poesia.


Nariz


Bem, se prefere o nariz, então a sua inteligência e cultura são ilimitadas. Gosta de livros antigos, de grandes mulheres da História (como a Cleópatra) e até deve gostar que a fotografem de perfil.


Maçãs do rosto

Caso prefira as maçãs do rosto, então deve gostar de estar sossegada, deve desejar que chegue a idade da reforma (ou, se já lá chegou, sente-se muito bem) e gosta de se preocupar unicamente com o quotidiano e com os pequenos prazeres da vida. Quem não tenha ainda cabelos brancos, deve estar desejando de os ter e provavelmnte sente-se bem com o cabelo apanhado atrás (num chignon) e, se calhar, até se perfuma com água de Colónia.


Sobrancelhas


Se gosta, acima de tudo, das suas sobrancelhas (incluindo, até, do tufo entre elas) então é bem capaz de ter um amor destemperado pela moda e pelo seu universo. Você deve ser um fashionista puro e duro!


Testa 



Se, sobretudo, ama a sua testa, então é uma pessoa cerebral.


Queixo

Prefere o seu queixo? Você só pensa em dinheiro, credo...


Orelhas



Se as orelhas são o seu maior trunfo, então saiba que isso significa que pensa demais.

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Já agora: se é certo que gosto muito de Shakespeare, então, aqui vos deixo, uma vez mais com Benedict Cumberbatch que diz  maravilhosamente o 'The Seven Ages of Man'

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Lá em cima, Monica Bellucci dança ao som de Dance me to the end of Love do Leonard Cohen.

Os excertos de poema pertencem a Visão de 'A dama e o Unicórnio' de Maria Teresa Horta.

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Escrevi como se o teste se aplicasse apenas a mulheres mas talvez se aplique também a homens. Não inventei isto, claro -- li [e traduzi (de forma livre)] na Marie Claire francesa: CE QUE VOUS PRÉFÉREZ SUR VOTRE VISAGE EN DIT LONG SUR VOTRE PERSONNALITÉ
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Desejo-vos, meus Caros Leitores, um bom sábado.
Saúde, alegria, paz de espírito, muito afecto.

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sexta-feira, novembro 27, 2015

Por favor, minhas amigas, tratemos bem o Pai Natal


No post abaixo já falei de gente com pancada, chatos encartados, papagaios intragáveis, homens pequeninos com má figadeira e má pontaria, etc. Por acaso, a meio da conversa, apareceram-se-me o João Miguel Tavares e o fantasma do palácio cor-de-rosa mas acho que foi mesmo só por acaso.

Mas isso é a seguir. Aqui, agora, é tempo de falar de Natal. Temos razão para andar felizes e contentes: o céu está azul e os bons augúrios andam no ar, 


Tenho ideia de que aqui há um ou dois anos houve para aí uma polémica qualquer com uma blogger que dizia qualquer coisa como ter como principal sonho ter uma carteira de marca que custava para cima de uma fortuna. Toda a gente se insurgiu, as redes sociais ficaram ao rubro, as televisões cavalgaram a onda e a dita blogger talvez tenha ficado toda orgulhosa com a publicidade. Mas, como sou uma maria desmiolada, não retive o nome da blogger, nem do blog nem da marca da valise (pelo que, na volta, mais valia estar calada).

Eu também gosto de carteiras mas sou uma preguiçosa do caraças. Como as que uso se comportam como um misto de caixote do lixo e de arca do tesouro, evito ao máximo fazer trocas.

Se me visto em tons azuis, olho com melancolia para o lugar onde as tenho penduradas e penso que aquela ali, azulinha e linda, iria mesmo a condizer. Se me visto em noir, quiçá com uma blusinha blanc, fico triste por não levar o saco encarnado que ficaria ali mesmo a matar. Ou, se há um apontamento em yellow na toilette, a pena que me dá de não levar o meu lindo saco amarelo ensolarado que tem, em relevo, na pele, uns girassóis Van Gogh (comprei-o, num museu em Amesterdão).

Uma pena mesmo o matagal que cresce dentro das minhas malinhas.

Já lá vai o tempo em que a minha mãe fazia questão em oferecer-me malas de pele, forradas, com bolsos e bolsinhos, coisa que, em dinheiro de hoje, seria para cima de muitas centenas de euros. Insistia ela que carteiras e sapatos tinham que ser de boa qualidade. 

Depois emancipei-me. Achava aquilo um despropósito, não gosto de coisas tão caras. Se permitirem que eu me arme em cosmopolita, dir-vos-ei que comecei, então, por comprá-las em Paris ou Madrid onde as havia bonitas, coloridas e baratas. Calhou depois aparecer, por cá, a Parfois e a Misako e foi o delírio. Uma oferta fantástica. 

Por isso, tenho uma de cada cor e feitio. O pior é conseguir fazer o transbordo da mercadoria de uma para outra em tempo útil. Lá dentro coexistem, na maior anarquia, bolsinhas com maquilhagens, o porta-moedas, o porta-documentos, envelopes com não sei o quê, o pente, as chaves de casa, a chave do carro, o telemóvel, travessão para o cabelo, ganchinhos para um just in case, um mini-skate de brincar de um dos miúdos, um pacote de lenços, uma embalagem de tridente white, e sei lá: mais mil coisas.

Mas gosto muito. Isso e sapatos. Também gosto de os usar de cor e conjugá-los com a roupa. Sapatos de camurça encarnada, isso então nem se fala. Desde pequena que tenho pancada por eles. Ao longo da minha vida nem sei quantos sapatos já tive de camurça encarnada, ou encarnado vibrante ou encarnado velho. Tenho uma fotografia com uns quatro anos, no estúdio de fotografia, eu toda aperaltada e com uns sapatos encarnados. Não me lembro nada do vestido apesar de ver que a saia era pregueada e que tinha uma gola de rendinha. Mas, dos sapatos, lembro-me perfeitamente: o orgulho que tinha neles... A minha mãe conta que, sempre que me ia comprar sapatos, eu os queria encarnados. Tá Redshoes, that's my name.

Bem, vem isto a propósito de um filminho engraçado alusivo ao Natal que já aí está a rebentar, tudo enfeitado, as lojas a apelar ao consumo, promoções e black fridays a bombar (e eu, como sempre, a fazer de conta que não dou por nada e, tanta a aversão a estas compras à maluca, que deixo tudo para a última).


A Holiday film by Coach - Are you naughty or nice? 


NB: Estive todo o santo post a vacilar entre o uso da palavra carteira (como é bem dizer-se) ou mala (como a gente do povo costuma dizer). As que uso, a bem da verdade, são mais do tipo mala, transbordantes de tralha, e se usei várias vezes a palavra carteira não foi para me armar em fina mas para poder, agora no final, apresentar este importantíssimo statement (que, já agora, remete para uma coisa que em tempos escrevi). Hoje, talvez por se aproximar o fim de semana, estou numa de frioleirazecas. Sorry.

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E, não é que sejam belos presentes (... e é que nem o embrulho se aproveita), mas, caso queiram dar de caras com um fantasma ressabiado ou com um João Miguel Tavares, desçam por favor, até ao post que se segue.

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João Miguel Tavares, a nova estrela comentadeira da TVI, uma aberração a todos os títulos: primário nos raciocínios e nos juízos de valor, básico na verbalização do que pensa, vulgar na articulação discursiva. Valeu, hoje, a Constança Cunha e Sá que lhe deu na cabeça, e com força - mas não o suficiente. E eu interrogo-me uma vez mais: o que é que uma criatura daquelas está ali a fazer? |||||| E, já agora, deixem que, depois de Marcelo Rebelo de Sousa o ter declarado politicamente morto, fale um pouco do fantasma do palácio cor-de-rosa.


Cá em casa, jantamos tarde e, porque não conseguimos ver televisão antes, ligamo-la durante a refeição o que, por todos os motivos e mais alguns, não será o melhor acompanhamento - mas, enfim, é o que é. E, portanto, apanhamos sempre com os debates televisivos e com os painéis de comentadores que os canais têm a seguir às nove da noite.

Hoje não foi diferente. Na SIC lá estava aquela insuportável, a Teresa Leal Coelho. Ressabiada, com os pés presos ao passado, manipuladora, querendo fazer passar toda a gente por parva, omitindo os anos de indigente desgovernação PSD e CDS, como se estivéssemos a passar directamente de 2011 para Novembro de 2015 -- a sua conversa é enervante. 


Eu, apesar de me irritar ver uma pessoa sem escrúpulos na argumentação, ainda queria perceber até onde a raiva perante o desfecho dos resultados eleitorais a iria levar; mas aquela mulher causa erisipela ao meu marido, mesmo à distância. Começa por ficar incomodado, ao fim de meio minuto já está furioso e, se eu o forço a tal provação, fica possesso não apenas com ela como também comigo. Mudámos, então, para a TVI. 

Continuava a 'cena' dos comentários; em todo o lado, toda a gente debate tudo -- o que aconteceu, o que acontece, o que pode acontecer, o que não devia ter acontecido, o que talvez nunca aconteça -- uma coisa insuportável, onde tudo o que é cão e gato opina, ad nauseam, sobre tudo e sobre todos.

Pois bem, lá estava o José Alberto Carvalho a fazer um endoscopia e colonoscopia e toda a espécie de exames invasivos à realidade política actual -- mas isto numa perspectiva escatológica, já quase chegando a fazer apostas sobre a duração do governo (e sei lá que mais). Neste caso, dos três comentadores, dois até eram gente com boa cabeça, um de barba de que não me lembro o nome e que o meu marido diz que é do Expresso e a Constança Cunha e Sá. Mas o terceiro, o João Miguel Tavares, introduziu tamanho ruído, baixou de tal forma o nível da conversa, que todo aquele espaço virou mais uma daquelas cegadas televisivas que de informativo nada tem: só circo, e circo de quinta categoria. Uma insuportável baderna.


Aquele João Miguel Tavares parece que virou o comentador da moda: espalha a sua indigência intelectual pelo Público e pela TVI e cada vez em doses mais abundantes. Não sabe nada, é inculto, é primário, rege-se pela sua fraca experiência profissional, pelos seus fracos conhecimentos e pela obsessão por Sócrates. Hoje, por exemplo, ao falar do processo negocial entre o PS, o PCP e o BE, demonstrou que não faz a mínima ideia de como se negoceia. Mas, vendo os acontecimentos à luz da sua ignorância, opina como se alguém o tivesse incumbido de falar como se fosse a consciência moral do país. Uma coisa absurda. Mas, sobretudo, a criatura parece precisar de apoio clínico pois aquela pancada que tem em relação a Sócrates, é, na prática, uma cegueira doentia que o impede de raciocinar e, até, de se comportar capazmente em sociedade. Quase insinua que os ministros que já trabalharam com Sócrates foram contaminados pela peste negra, e as explicações que dá revelam uma mente (eu ia dizer mesquinha mas não é mesquinha, é pior que isso) deformada, paranóica, intelectualmente lobotomizada.

Agora, face a isto, pela cabeça de quem é que passa ter um doente destes na televisão ou mesmo com uma coluna de opinião no Público? Não consigo perceber quem faz estas escolhas: será o director de informação ou o de entretenimento? É que uma pessoa fica com a sensação que fazem questão de ter sempre alguém que faça o papel de sarrafeiro (agora, enquanto escrevo, enquanto não começa a Quadratura do Círculo, estou a ver o Paulo Rangel que, antes, parecia um sujeito inteligente e que agora se porta como um vulgar trauliteiro; neste momento até está a provocar, com uma deselegância estapafúrdia, a Constança Cunha e Sá), alguém que faça o papel do burro, alguém que faça o papel do pateta, alguém colado à conversa pafiosa e, vá lá, um ou outro bem pensante que, apesar de terem tino, quase desaparecem no meio da sarrafada que os outros para ali armam.

Uma coisa é ter gente culta, informada, emocionalmente equilibrada, para fazer análise política, sociológica, filosófica, o que for - isso é útil, é formativo, traz diversidade às opiniões. Outra é ter as televisões infestadas por uma praga de comentadeiros que denigrem a política, que afastam os cidadãos do cerne das questões, que arrastam para a lama a imagem do jornalismo e o papel fundamental da informação e anulam a importância da discussão sã, elucidada, clarividente.

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De raspão, agora outro assunto.

Um fantasma em decomposição

E a verdade é que, com isto tudo, ainda não consegui ver o discurso do fantasma do palácio cor-de-rosa nem o discurso de António Costa. Por onde quer que me desloque só apanho comentários. Pode ser que amanhã, cedo, enquanto estiver a comer o meu doce e carnudo dióspiro e o meu kefir com muesli, consiga ver, nos noticiários, aquilo de que já tanto ouvi falar.
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Mas, enfim, por muito mauzinho que tenha sido o discurso de Cavaco, também não exageremos. Ele e a sua santa esposa poderiam ter feito pior: com a vontade que estavam de estragar a festa, poderiam ter aparecido aos convidados disfarçados de assombrações, a assustar os amigos e familiares dos novos ministros e secretários de estado. Mas não, contiveram-se. Do que tenho ouvido, parece que o senhor se limitou a fazer o que sempre fez: a mostrar os seus maus fígados e os seus genes enviesados.

Mas compreende-se: depois de anos e anos primeiro a ver se dava cabo do Sócrates, depois a andar com o Láparo ao colo, agora a ver se impedia os socialistas de formarem governo, como se podia querer que o senhor agora estivesse?
Vesgo e parece que já um bocadinho diminuído, o que se poderia esperar de um senhor que andou tantos anos aos tiros? Tudo tiro nos pés, claro. 
Portanto, acabou o seu mandato com os pés em sangue, a engolir um sapalhão do tamanho de uma orca, a dar posse a um governo do PS com o apoio do PCP e do BE e, assim sendo, a indigestão que se lhe vê no fácies é permanente e indisfarçável. Coitado. Tenhamos, antes, pena do senhor.


(É que, como disse, a tomada de posse podia ter sido assim)


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Volto aqui só para dizer uma coisa: tenho outro post praticamente pronto mas quero colocar umas fotografias e estou outra vez com o disco a rebentar pelas costuras pelo que vou ter que apagar filmes, power-points e coisas do género e a ver se amanhã de manhã já o publico. Me aguardem.
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Assim sendo, até já e, entretanto, vou já desejando uma bela sexta-feira.



quinta-feira, novembro 26, 2015

Sobre os Ministros e Secretários de Estado do Governo de António Costa


Começo a escrever este post perto da uma da manhã depois de ter escrito sobre o João Galamba numa verdadeira cena de far west, cercado por inimigos, e sobre Teresa Caeiro toda derretida (inclusive com os neurónios derretidos) perante uma Mariana Mortágua indiferente a tanto rebolar de olhos e a tanta cabecinha descaída com os seus canudos capilares saltidando sobre os ombros.

Agora, depois de ler a Mulher correndo na Noite pus-me a ouvir o Gunga Din e quase perdi o élan para a missão que aqui me trazia. Mas uma Leitora, ontem, em comentário, disse que esperava que eu me pronunciasse sobre os ministros de António Costa e, como os desejos dos meus Leitores para mim são ordens, cá estou dando prosseguimento a tal desiderato.

Contudo, dado que daqui a nada tenho que estar a pé, não vou poder alongar-me. Ou seja, com vossa licença, agora tem que ser uma rapidinha.





Parece-me um Governo forte, com uma distribuição de pastas inteligente que endereça (como nos meus meios é moda dizer-se) áreas bem demarcadas. Não há ministérios de tipo casa da mãe joana como aquele da cultura, igualdade e mais não sei o quê.

A equipa, no seu conjunto e do que me é dado conhecer, é competente e a atribuição de pessoas a pastas, em geral, parece ser inteligente.

Tem ministros que são pesos pesados: experientes, inteligentes, gente que impõe respeito. Vieira da Silva, Augusto Santos Silva, Capoulas Santos são nomes que garantem idoneidade, respeitabilidade e qualidade ao Governo.


Tem ministros que são garantidamente competentes na sua área: Maria Manuel Leitão Marques, Pedro Marques, Mário Centeno, Adalberto Campos Fernandes, Francisca Van Dunem e Manuel Heitor são nomes que calam quaisquer vozes que queiram questionar a escolha. Têm tudo para fazerem um excelente trabalho.


Tem um ministro que me irrita quando começa qualquer conversa dizendo, mesmo a despropósito, que fulano é seu amigo pessoal e que tem por ele estima pessoal (como se isso importasse para alguma coisa) mas por quem tenho a melhor das boas impressões como fazedor. João Soares será, de certeza, um grande Ministro da Cultura. Nunca me passaria pela cabeça que fosse para tal pasta mas, quando soube, até me ri de alegria. Vai fazer obra. Vai deixar obra.


Tem duas pessoas que não conheço bem mas das quais, do pouco que conheço, não tenho lá grande impressão, parecem-me ambos um bocado desbocados, destemperados. Contudo, lendo os jornais online, vejo que se calhar estou enganada: Ana Paula Vitorino e Eduardo Cabrita. Soube que são casados e logo me lembrei do que a minha mãe costuma dizer: só se estraga uma casa...


Tem uma pessoa que não estava nada a ver na pasta que vai ocupar mas é capaz de ser falta de conhecimento da minha parte e até pode ser que lhe venha a correr bem: Azeredo Lopes. Espero que sim.

Tem uma pessoa por quem tenho uma boa impressão quanto à sua inteligência, visão, raciocínio coerente e bem dirigido mas relativamente ao qual me preocupa a sua inexperiência no mundo real em que terá que se movimentar e em que encontrará pela frente toda a espécie de macacos de rabo super-pelado: Manuel Caldeira Cabral* na Economia, uma pasta fundamental. Terá que couraçar-se rapidamente, percebendo contudo que entre a teoria e a prática vai, muitas vezes, um universo inteiro.


Tem pessoas que desconheço mas que têm belos curriculuns pelo que admito que venham a fazer belos lugares: Constança Urbano de Sousa, Matos Fernandes e Tiago Brandão Rodrigues. Tomara que tenham sorte. Do Tiago Brandão Rodrigues espero muito que seja a lufada de ar fresco de que bem precisados estamos na área da Educação. É um desafio e tanto e eu torço, torço mesmo, para que a sua presença seja marcante e faça mesmo a diferença (pela positiva).

Espero não me ter esquecido de nenhum mas, se esqueci, é do sono.

Quanto aos Secretários de Estado, dos que conheço, considero-os competentes, trabalhadores. Não vou aqui falar de cada um pois, obviamente, não tenho conhecimentos sobre todos, e teria que me pôr aqui a fazer dissertações sobre o que li -- e, sobretudo, tenho que largar o computador antes que não tenha tempo de dormir. Mas acho bem que sejam em número bastante para que cada um se ocupe de uma matéria bem determinada e possa fazê-lo com unhas e dentes. O trabalho de reconstrução é imenso e é bom que se faça de forma estruturada, consistente, tanto quanto possível rápida.


A tomada de posse é esta quinta-feira, dia 26 de Novembro, em pleno outono, a estação afável, a estação da reflexão e das folhas douradas. Daqui a nada estaremos no inverno e, durante este tempo, a nova equipa irá ambientar-se às suas novas funções, tomar contacto com a desgraça que vai herdar, planear o que tem pela frente e preparar-se para deitar mãos à obra. Pela primavera, a obra começará a nascer e, estou certa, com todo o vigor.

Uma vez mais desejo que tenham juízo, que não deixem nunca enredar-se nas teias do clientelismo ou que não acabem fazendo cedências face a interesses mesquinhos ou espúrios. E que se mantenham unidos: PS, BE, PCP. A esquerda está a ter uma oportunidade única e nunca deverá esquecer-se disso. Desejo ainda que tenham boa sorte. Muitas vezes há tudo para dar certo e falta a boa sorte. Pois que nunca lhes falte. E que nunca se esqueçam que estão a governar para bem dos portugueses, os de agora e os que ainda estão por nascer.

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Não falo dos que cessam funções e que, em boa hora (ou melhor: tarde e a más horas), vão deixar de espatifar o país. Espero nem tão cedo ter que voltar a falar de tão indecentes criaturas. Tomara que desistam da política e vão fazer fotocópias ou abrir portas para longe da nossa vista. 
E bye bye PàFs, vão ver se está de chuva ou, se não estiver, vão dar banho ao cão. Ou ao gato. Ou ao coelho. Ou ao que quiserem desde que eu não vos ponha a vista em cima.
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* Por lapso tinha escrito Manuel Vilaverde Cabral. Um Leitor, em comentário abaixo, alertou e já corrigi: Manuel Caldeira Cabral. Obrigada.

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As fotografias são de Julija Televičiūtė e mostram uma árvore na China com 1.400 anos.

Zeca Afonso -  Traz outro amigo também.

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E recordo: sobre a desregulada Teresa Caeiro num frente a frente com a ultra-focada Mariana Mortágua, é só descer até ao post seguinte.

Depois ainda vem o João Galamba e vem em força.

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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela quinta-feira.

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Mas o que é que a Teresa Caeiro anda a fazer na televisão? A fazer de comentadora não é porque não diz duas de seguida. Rebola os olhos, balbucia sons e nunca se consegue perceber se tem alguma coisa dentro daquela cabeça. A menos que estivesse a ver se conseguia desfocar a Mariana Mortágua.


No post abaixo já me insurgi contra os critérios jornalísticos da SIC que chamam três para ver se dão uma tareia no Galamba mas uma tareia em que ele fique sem dentes e com um braço ao peito. Não conseguiram, claro, que o Galamba é duro na queda e chegou bem para eles; mas foi um tal charivari que para ali se armou que ele teve que falar grosso para se fazer ouvir. 

Como ali referi, cá em casa, furiosos com aquele circo estapafúrdio, desligámos a televisão. Passado um bocado, já na sala, voltámos a ligá-la. 


E fomos dar com a Mariana Mortágua, de um lado, contida como sempre e, em frente, a Teggy, uma vez mais na versão Miss Piggy, toda de cabeleira aos cachos sobre os ombros, toda ela olhinhos, boquinhas, sorrisinhos. 


teresa caeiro na televisão com mariana mortágua

Não soubesse eu a Teresa Caeiro casada com um homenzão como o Miguel Sousa Tavares e, olhando para aquela performance, quase diria que mais parecia estar a atirar-se à Mariana Mortágua. 


teresa caeiro quase parecia estar a atirar-se a mariana mortágua

Mas como admito que a dita Senhora Deputada do CDS não seja de sexualidade fluida, aquilo deve ter sido apenas mais uma demonstração dos seus habituais modos destemperadamente fofos.

teresa caeiro na televisão com mariana mortágua

Mas isso podia ser apenas uma questão de forma. Só que não: mais grave ainda do que o despautério daqueles trejeitinhos, é o que ela diz. É que não se aproveita nada. Nada. Não consegue dizer uma frase inteira. Mal diz o sujeito já começa a hesitar no verbo e, a partir dali, já não atina, muda de ideia a meio da frase. E, se lhe perguntam uma coisa, começa por dizer que quer, primeiro, comentar o que o interlocutor disse e, mal abre a boca, diz uma tontaria qualquer que não tem nada a ver com o que tinha sido dito. 
Dava uma personagem cómica de primeira, daquelas louras burras que não acertam uma. Aliás, eu, se produzisse um programa cómico, até fazia a pares: ela e a Paula Teixeira da Cruz a representarem os PàFs. Ganda dupla. Não sei é quem é que lhes colocava à frente. Podia ser o gozão do Augusto Santos Silva, que lhes havia de dar um baile de a gente se partir a rir, mas agora já não dá, foi para ministro. Olha, talvez a Ana Gomes para ser a curtição completa. E quem haveria de ser o partenaire da Ana Gomes? Haverá algum bacano no PCP ou no BE que garantisse uma bela revista à portuguesa?
De notar que até admito que Teresa Caeiro seja boa pessoa. Mas a questão é que acho que não está ali na televisão na qualidade de boa pessoa. Mas, se não é por isso, também não sei porque seja porque, como comentadora é que, de certeza, não é. Nunca a ouvi tecer um comentário que se aproveitasse, mas é que nem um. Aliás, acho que nunca conseguiu sequer dizer uma frase completa até ao fim.

Quanto à Mariana Mortágua, como sempre, esteve aquela máquina. Bem pode a outra rebolar-se, fazer olhinhos, titubear, fazer boquinhas, dizer toda a espécie de coisas ao lado que ela não se torce nem se amolga. Continua na dela, focada, articulada, voz baixa, olhar vibrante, certeira na argumentação. Uma mulher de armas. Só que a outra não dá luta.


E eu interrogo-me uma vez mais: quais os critérios jornalísticos que levam uma televisão a contratar uma pessoa que parece padecer de dislexia mental e que não sabe nada de nada nem consegue, sequer, disfarçar que está ali mais para ver passar os comboios? Não se percebe. E depois é desatenta. Hoje disse uma coisa qualquer sem grande sentido. A Mariana Mortágua corrigiu-a. Pois ela, parecendo ter ouvido a correcção, voltou, afinal, a repetir o que antes tinha dito: dá ideia que não conseguiu processar.

Ou seja, é um caso perdido. Ao fim de pouco tempo, vendo que a coisa não ia dar em nada porque, por brilhante que seja a Mariana Mortágua, com uma interlocutora daquelas, a coisa não resulta, fizemos zapping e pusemo-nos a ver um programa qualquer de culinária. Agora estou a ver um excelente programa sobre os intervenientes das bandas rock dos anos 90 (90 ou 80? - nem sei; já devo estar velhinha, velhinha, a cair da tripeça, porque me parece que foi há pouco tempo e, às tantas, estão a falar de coisas que se passaram para cima de há uns vinte anos ou trinta anos; credo). 

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Relembro: sobre o João Galamba cercado por três sem açaime agarrados às pernas dele falo no post abaixo.

E, de bónus, também lá encontrarão o momento erótico da noite: o tal José Gomes Ferreira em êxtase perante o Catroga dos milhões. 

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