No post abaixo, relembro Manoel de Barros, poeta de minha afeição, que neste dia 13 se foi embora. Deixou-nos, no entanto, palavras que mais do que chegam para nos irmos lembrando da sua agramática, da sua simplicidade e do seu amor pela língua portuguesa. Gostava que descessem até ao post seguinte pois o Manoel de Barros que ali tenho veio pela mão do Cine Povero, e isso, sabemos bem, é sinónimo de qualidade e sensibilidade.
Mas isso é mais abaixo. Aqui, agora, a conversa é outra. Aqui deixo a poesia porque a conversa é prosa e da seca.
Esta quinta-feira fomos surpreendidos com mais uma: uma razia de detenções. Isto é todo o santo dia: ou é uma desgraça, ou um escândalo, ou uma bacorada governamental. Não há um dia de folga. Mesmo que eu queira vir para aqui dar largas à minha imaginação, acabo sempre por não ter oportunidade pois não consigo passar ao lado destas maçadas correntes.
Mas vamos com música que vamos melhor.
Story of my life pelos The Piano Guys
![]() |
de Edvard Munch |
A Polícia Judiciária deteve esta quinta-feira 11 pessoas - incluindo altos quadros do Estado - por suspeitas de corrupção, branqueamento de capitais, tráfico de influência e peculato, no âmbito de uma investigação sobre atribuição de vistos gold.
Os 11 detidos pela Polícia Judiciária vão passar a noite na prisão e são presentes ao juiz de instrução criminal esta sexta-feira. Em comunicado, a Procuradoria-Geral da República (PGR) explica ainda que "foram também realizadas seis dezenas de buscas em vários pontos do país, incluindo nos ministérios da Administração Interna, da Justiça e do Ambiente, Ordenamento do Território e Energia".
Entre os detidos encontram-se o diretor nacional do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, Manuel Jarmela Palos, a secretária-geral do Ministério da Justiça, Maria António Moura Anes, e o presidente do Instituto dos Registos e Notariado (IRN), António Figueiredo.
![]() |
de Paul Klee |
O caso que está a ter maior impacto e a causar maior estupefação na sociedade portuguesa é o do diretor nacional do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), Manuel Jarmela Palos, que ocupa este cargo desde 2005. Palos entrou para o SEF em 1993, ou seja há 21 anos, e fez aquilo que se costuma chamar 'carreira de sucesso' dentro desta força policial.
A detenção de Maria Antónia Moura Anes, 56 anos, é quase tão surpreendente quanto a de Palos. Nomeada a 1 de novembro de 2011 para o cargo de secretária-geral do Ministério da Justiça, pela atual ministra Paula Teixeira da Cruz, Maria Antónia foi coordenadora do sector de formação do Instituto dos Registos e do Notariado (IRN) entre julho de 2010 e setembro de 2011.
É aqui, no IRN, que esta licenciada em História que iniciou a vida profissional como professora de liceu, até entrar para os serviços de documentação do Centro de Estudos Judiciários em 1987, se cruza com um outro dos 11 detidos: António Figueiredo, presidente do IRN desde 2007.
de Edvard Munch
Refira-se ainda que a secretária-geral do Ministério da Justiça, entre outras funções, foi funcionária da Polícia Judiciária e adjunta de José Pedro Aguiar-Branco, durante menos de três meses, quando o atual ministro da Defesa tinha a pasta da Justiça.
Albertina Gonçalves, secretária-geral do Ministério do Ambiente e sócia do escritório de advogados do ministro da Administração Interna, Miguel Macedo, foi ouvida no âmbito da operação vistos gold. Não foi detida, mas o seu gabinete foi objeto de buscas.
O Expresso apurou que três cidadãos chineses e três funcionários do IRN estão entre os 11 detidos.
![]() |
A inexplicavelmente ainda ministra |
E mais: quer mais, quer sangue.
![]() |
de Velazquéz |
Paula Teixeira da Cruz falava à agência Lusa quando questionada sobre o eventual afastamento do cargo da secretária-geral do Ministério da Justiça (MJ), Maria Antónia Anes, e do presidente do Instituto dos Registos e Notariado, António Figueiredo, hoje detidos âmbito de uma investigação sobre a atribuição de vistos "gold".
"Qualquer pessoa que ponha em causa uma instituição deve imediatamente apresentar o seu pedido de demissão ou o seu pedido de suspensão de funções em função daquilo que é a imagem das instituições e da instituição que dirige. Portanto, seguirei a minha linha, como sempre segui", afirmou a ministra.
.... & ....
Ora, face toda esta cegada, o que tenho a dizer é o seguinte:
![]() |
de Velazquéz |
Por isso, porque cá não há empresários com dinheiro que se veja, é uma boa política que se faça captação de investimento e que haja qualquer coisa de atractivo para que isso aconteça.
Claro que se admite que não se acolherão foragidos, que o país não será transformado numa lavandaria de dinheiro sujo.
2 - O investimento de que o País precisa é de investimento reprodutivo. Um bom investimento é aquele em que há criação de riqueza, criação de postos de trabalho, pagamento de impostos.
Mas, admitindo que se está a falar de gente honesta e que o dinheiro é limpo, comprarem casas devolutas ou em mau estado não é mau. Pode até ser razoável, se houver lugar à reconstrução ou arranjo das casas - sempre haverá alguma relativa animação a nível da construção civil, sector que está nas ruas da amargura e que bem precisa de algum estímulo. O que é, é pouco. Seria bom se fosse um pequeno complemento; é curto, muito curto, se for só isto. Mas, repito, o desejável é que venham investimentos como os da Auto Europa ou outros, indústria de preferência.
4 - Não interessa, pelo contrário, se o que vier for gente obscura, com dinheiro em notas dentro de malas, que usará o Visto Gold para poder circular livremente na Europa em vez de trazer actividades que criem valor e que paguem impostos em Portugal. Também não interessa fomentar a proliferação de bazares chineses, que só vendem produtos importados, que não criam postos de trabalho, que não vendem produtos portugueses.
![]() |
de Paul Klee |
O que espero é que - com o tão pesado manto de desconfiança que isto lança sobre a máquina de Estado, com o lodaçal em que pareceria que Portugal se estaria a transformar se isto fosse verdade - se apure rapidamente a verdade e se faça justiça. Rapidamente, repito.
![]() |
Paula Teixeira da Cruz que, infelizmente, já ninguém consegue levar a sério |
É certo que não precisou a que período histórico se referia, poderia estar a reportar-se ao tempo de algum reinado em particular. Não se sabe. Da boca daquela transtornada senhora - que, não nos esqueçamos, não se ensaiou nada para enlamear dois técnicos de informática, que viram os seus nomes espalhados pela comunicação social, como se fossem uns perigosos sabotadores - já espero tudo.
![]() |
de Paul Klee |
As notícias que se sucedem a um ritmo alucinante e que provêm invariavelmente dos lados das mais altas instituições de Estado levam a que a população desacredite da bondade do Estado Democrático.
Tende a parecer que isto é tudo uma corrupção pegada, um fartar vilanagem, que tudo foi tomado de assalto por uma seita desqualificada. E este pensamento é do pior que há: abre a porta a populismos, a autoritarismos.
A continuar assim, neste clima malsão e com esta sucessão de destrambelhamentos e desgraças, neste ano que falta até às eleições o país ver-se-á transformado num manicómio ou num decadente prostíbulo (e, por falar em meio mundo de perna aberta e tudo à venda por dez réis de mel coado, ainda me apetecia falar da venda da TAP mas é muito tarde e já não tenho energia para isso).
![]() |
de Botero |
_____
Alonguei-me, eu sei. As minhas desculpas. Para atenuar a aridez do tema não sei se as pinturas que escolhi ou a música lá em cima foram suficientes. Por isso, deixem-me que ainda partilhe convosco um surpreendente vídeo de dança.
Horses never lie
Bailarina e coreógrafa: Caroline Richardson
Filme de Kathi Prosser
--------------------------------------------
Manoel de Barros deixou-nos esta quinta-feira e eu relembro-o no post abaixo, socorrendo-me dos belos vídeos do Cine Povero. Se conseguirem, gostava que se juntassem a nós em volta das belas palavras do Poeta. É que, quando tudo arde, salva-se a arte.
----- -----
Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma boa sexta-feira.
....