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sexta-feira, julho 03, 2015

"PORTUGAL É UMA BOMBA-RELÓGIO “À ESPERA DE REBENTAR”", diz Matthew Lynn no WSJ Market Watch. O José Manuel Fernandes é bem capaz de achar que esse fulano é um pessimista. [E, ainda: Quem somos? - pergunta Viriato Soromenho Marques, a propósito de uma Europa que se destrói a si própria]



BITCH BETTER HAVE MY MONEY



Lisbon’s debts are high, and foreigners own most of it

Portugal has a high debt-to-GDP ratio, and it owes most of its government debt to foreigners.


Soube desse artigo ao ouvir Marisa Matias num debate sobre a Grécia na RTP 1 com Braga de Macedo, Paulo Trigo de Morais e José Manuel de Fernandes num debate na RTP sobre a Grécia.
(Só vi um bocado mas fiquei a tentar adivinhar o critério para escolher as pessoas que levam à televisão. Será que querem respeitar umas quotas? Por exemplo: uma mulher de esquerda tida por conhecer o Syriza, um tido por muito inteligente e próximo do PSD, um tido por moderado, justo e próximo do PS e, por fim, um tido por muito limitado? Talvez seja. Uma coisa equilibrada, portanto).

O que os ouvi dizer estava em linha com eles próprios. Braga de Macedo disse que a saída precipitada da Grécia da zona euro seria uma bagunça, o Paulo Trigo de Morais disse coisas acertadas, que a crise da Grécia afecta a todos, etc e tal,  Marisa Matias no fim, para rematar, referiu o que mais abaixo transcrevo, e o outro não disse uma que merecesse registo. Nunca diz. Mas convidam-no para todo o lado. Deve ser por aquilo do equilíbrio, só pode.

Bem.

Para aligeirar o texto que se segue, que entre o momento musical. E este é dos bons.
Leitor a quem agradeço enviou-me um vídeo já com uns meses e que acho que até já aqui divulguei mas, porque tem piada e continua actual, aqui o coloco de novo. 

V for Varoufakis


NEO MAGAZIN ROYALE mit Jan Böhmermann 




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Ora bem. Que entre, então, o artigo que é um baldinho de água fria na cabeça do láparo.


ESQUEÇAM A GRÉCIA. PORTUGAL É UMA BOMBA-RELÓGIO “À ESPERA DE REBENTAR”



Entre avanços e recuos, a crise na Grécia poderá estar em vias de se resolver – pelo menos por mais uns meses. Mas um conceituado analista financeiro acredita que a verdadeira crise na Europa poderá estar muito longe da Grécia, mais concretamente num país que é uma bomba-relógio à espera de explodir: Portugal.

O analista britânico Matthew Lynn afirma esta quarta-feira na sua coluna de opinião no WSJ Market Watch que o nível de dívida pública portuguesa, acima dos 130%, poderá ser já “insustentável”.

No artigo em causa, “Forget Greece, Portugal is the eurozone’s next crisis“, Lynn salienta que Portugal tem o maior índice de dívida publica em percentagem de PIB na zona Euro, e que a maior parte da dívida é detida por estrangeiros.


Segundo o financeiro, a economia portuguesa não se encontra no estado de permanente crise da economia grega, que “está nos cuidados intensivos”, mas não parece capaz de conseguir uma recuperação sustentada.

Portugal, diz Lynn, “ainda está em sarilhos“, e poderá ter que enfrentar uma situação de incumprimento. Lynn antecipa mesmo que as eleições legislativas de Outubro poderão despoletar uma segunda crise em Portugal.

“À superfície, Portugal parece estar muito melhor do que há três anos, depois de ter saído com êxito do programa de assistência da troika“, continua o analista, “e a economia parece estar a crescer”.

Se, depois da Irlanda, também Portugal conseguir efectivamente recuperar da crise, “será uma vitória estrondosa para a União Europeia e para o FMI”, cuja receita baseada em austeridade se revelou “uma catástrofe” na Grécia.

O problema, diz Lynn, é que Portugal poderá afinal não estar salvo.


Segundo o analista, a evolução positiva de alguns dos principais indicadores económicos – consumo, desemprego, exportações, investimento – parecem não ser sustentadas.

Mas o verdadeiro problema, defende o cronista, é mesmo a dívida.

Portugal tem uma dívida pública de 130% do PIB, e 70% dela é detida por estrangeiros.


Até há países, como a Finlândia ou a Letónia, com maior percentagem de dívida detida por estrangeiros. Mas têm muito pouco endividamento. Itália, por outro lado, tem uma enorme dívida pública – mas quase toda contraída internamente.


[Texto obtido aqui]

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Belo trabalhinho que o Láparo e Companhia têm andado a fazer, belo trabalhinho, sim senhor.

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A fotografia lá em cima mostra Rihanna no seu novo vídeo mas é tão tétrico e nonsense que não o mostro. Só a ela, de pistola em punho ao pé de outra amordaçada, junto à desgraça da dívida portuguesa. Afinal isto anda tudo ligado.

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Mudando de assunto: está na hora de reflectir -- mas vamos com boa música.

A lua sobre o rio, aqui na minha janela


Dustin O'Halloran com We Move Lightly



Deixem, então, que partilhe convosco mais uma grande crónica de um dos homens inteligentes deste País

Quem somos?


por VIRIATO SOROMENHO-MARQUES (no DN)


Muitas vezes, quando se compara a tendência crónica para a Europa entrar em convulsão política, com a capacidade dos EUA para navegarem as borrascas da história, sem perderem o rumo da lei e da ordem garantido pelo seu federalismo constitucional (como se viu agora com o histórico acórdão do Supremo Tribunal que fez recuar a homofobia em toda a União), ouve-se dizer: "para chegar ao federalismo os EUA tiveram de passar por uma guerra civil". Trata-se de uma afirmação vazia de sentido. Ortega y Gasset deu talvez a melhor explicação. Para ele, há muitos séculos que a Europa constitui uma "sociedade", alimentada pelos laços históricos e materiais tecidos pelos seus povos. Contudo, é uma sociedade sem um sistema de governação funcional. Para Ortega, as guerras europeias (incluindo as duas mundiais) são formas brutais de "governo europeu". O holocausto de pessoas e de bens faz parte da crónica incapacidade de os europeus construírem um regime comum baseado na lei e na liberdade. O grande sonho da União Europeia residiu na esperança de que, depois de tantas guerras civis, também nós europeus percebêssemos que só é possível vivermos em conjunto respeitando a dignidade dos cidadãos e a igualdade dos Estados. Em 2010, a grandeza deu lugar à cruel realidade de uma zona euro, que em vez de defender os povos contra os riscos da globalização os imolava numa folha de Excel destinada a saldar os danos da ganância de um sistema financeiro, que a venalidade política deixou sem regulação nem limites. Veremos se a Grécia regressa, depois de jugulada a rebeldia, ao redil hegemónico de Berlim-Frankfurt-Bruxelas. À rédea curta de uma Europa, sem alma nem rumo, que confunde cansaço com anuência e medo com lealdade. Contudo, uma Europa assim nem precisa de inimigos. Derrota-se a si própria.

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E, assim sendo e nada mais tendo a acrescentar, despeço-me porque tenho que ir ver que roupa hei-de vestir e que maquilhagem hei-de pôr para fazer pendant com a toilette -- coisas interessantes que me desviam o pensamento das maçadas que acima divulguei.


Mais do que a maquilhagem ou a roupa, é tudo uma questão de atitude


Yves Saint Laurent - rímel Babydoll com Cara Delevingne



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Tenham, meus Caros Leitores, uma bela sexta-feira. Gozem-na bem, está bem?

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terça-feira, julho 15, 2014

O que vai acontecer a Ricardo Salgado e outros que, à frente do BES, usaram o dinheiro dos depositantes e dos investidores como se este lhes pertencesse e dele pudessem fazer o que lhes apetecesse? E qual o valor das inspecções das troikas, reguladores e demais auditores que nunca dão por nada? E o que vão o Governo e o BdP fazer para evitar uma derrocada sistémica,' agora que tudo arde'? Perguntas simples numa noite de verão. Fazem coro comigo: Craig-James Moncur, Carlos Paz e Viriato Soromenho Marques. E, para me ajudar no tema que se fala, o da Reestruturação da Dívida, trago os especialistas da Porta dos Fundos.







Já aqui falei disto: os empresários portugueses, os ditos grandes empresários, os happy few, construíram os seus impérios em cima de nada, isto é, de dívida. Não os construíram sozinhos porque não têm arte suficiente para isso. Têm, sim, um pressuposto em mente: não investir o seu próprio dinheiro nos seus negócios. E têm, depois, um batalhão de juristas, fiscalistas, auditores, consultores, experts de toda a espécie a trabalhar para si. Corrijo: não para si mas para as suas empresas pois são as empresas que os pagam. As empresas têm que pagar tudo, tudo. Não eles.

São criadas sociedades que detêm participações noutras sociedades, que detêm outras sociedades e mais outras e mais outras e por aí fora e há sociedades onde são parqueadas dívidas, outras que são veículos, outras que são instrumentais. Há consolidações para obter benefícios fiscais, há artifícios, há muito por onde fazer rodar as verbas. Tudo dentro do que é lícito, jogando nos interstícios da licitude. 

É sabido que as leis são estudadas e validadas por assessores e por grupos de trabalho por onde circulam deputados, ex-deputados, membros de escritórios de advogados, empresas de consultoria e auditoria, tudo na maior promiscuidade. O que se passa nos lugares onde tudo se passa,  não é percebido pelos olhos inocentes de quem julga decidir alguma coisa, os eleitores.

Mais: as universidades e institutos mais prestigiados a nível de gestão financeira e de negócios ensinam isto mesmo. Católica, INSEAD, por exemplo. 



Já aqui o disse e sei que me estou a repetir mas gostava que não se esquecessem que se ensina (ou ensinava-se até há muito pouco tempo) nestas grandes escolas que gerir bem é gerir para o accionista e que gerir para o accionista é criar valor para o accionista e que, para isso, bom, bom é a alavancagem financeira. Ou seja: usar um mínimo de capitais próprios, ou seja: um máximo de empréstimos financeiros. Quanto mais juros se pagam, maiores são os custos, e se maiores são os custos, menores os lucros brutos e, portanto, menos os impostos que se pagam e melhores são os lucros líquidos (e a isto, entre outras habilidades, se chama optimização fiscal). E, desta forma, investindo capital alheio, escusa mexer-se no capital próprio. Ou seja, os accionistas escusam de lá meter dinheiro. Pagam-se os investimentos com o pêlo do cão (expressão usada para designar que quem paga o investimento é a própria empresa, não o dono da empresa). Podem comprar-se empresas atrás de empresas, fazer investimentos de toda a ordem, sem lá meter um chavo.

Os bancos emprestam.

Qual a garantia que os bancos têm de que os empréstimos são pagos? A garantia, na maior parte das vezes, é a própria empresa, seja através de acções, seja através dos bens ou serviços adquiridos com o empréstimo.

E se o investimento for um fiasco e a empresa não o puder pagar? Nada a saber: dão-se ao banco acções da empresa ou o que se adquiriu com o dinheiro do empréstimo. 

E se as acções valerem zero e o que se comprou valer ainda menos? Azar. Azar para o banco, claro.

[É aquela velha máxima: se eu dever um milhar, o problema é meu; se eu dever um milhão, o problema é do banco]

Claro que para prevenir situações como as descritas, que assentem em garantias precárias, em que há mais do que possíveis riscos, em especial os sistémicos, e para garantir a solidez do sistema bancário, existem os reguladores, os auditores, os agentes responsáveis por fazer testes de stress, por validar contas e rácios de solvabilidade e outros, por atestar o merecimento da confiança. Contudo, estranhamente, como sempre que rebenta uma bronca, verifica-se que falharam todos. Todos. Ninguém percebeu, ninguém viu, ninguém agiu. Uma vergonha. Incompetência, conluio, interesses, cortesia, solidariedade de casta, cobardia? Não sei. Não consigo explicar uma coisa destas.


O que acima descrevi, os empréstimos dados sem garantias reais ou as verbas aplicadas em produtos de risco, foi, mais coisa menos coisa, o que aconteceu ao BCP, por exemplo. É isto que agora está a acontecer às sociedades financeiras do GES e é por isso que o BES vai ter que reconhecer milhares de milhões de dívida incobrável pois financiou toda a espécie de sociedades insolventes do GES, ou não se sabe o quê (por exemplo, em Angola, parece que se perdeu o rasto a milhões e milhões que foram emprestadadas não se sabe a quem nem a troco de quê - embora se desconfie).


Ouço agora os papagaios do costume a dizerem, convictamente como sempre, que isto não é o BPN e a SLN, que esses eram um caso de polícia. Do que tenho lido e ouvido, não sei se há diferenças. Aliás, sei: o BES é muito maior, as implicações muito maiores, o rombo global muito mais difícil de quantificar. Quanto ao resto, alguém terá que me explicar - mas muito devagarinho a ver se eu consigo perceber.

Mas o BES não emprestou apenas dinheiro a rodos e sem garantias reais a empresas da família, isto é do universo GES. Ouço que enfiou milhões nos clubes de futebol e que, por isso, já se estará a assistir a uma venda apressada de jogadores. Não sei. E não tenho dúvidas que o BES enfiou rios de dinheiro em tudo o que é grande e média empresa, grande parte das quais vivem também em cima de dívida - e que, se se virem obrigadas a pagar de súbito o que devem, vão para o buraco em três tempos. É que nem duvidem.


Nunca tivemos economia a sério nem uma verdadeira política de desenvolvimento económico. A infância da democracia e o servilismo deslumbrado de uma classe política pouco culta deu nisto. 

Saímos de um proteccionismo caduco e em grande parte falido (antes do 25 de Abril) para um período de euforia despesista, gerida por gente que não estava preparada para isto. Já aqui o disse muitas vezes: penso que o período mais nefasto para o País neste pós 25 de Abril foi o período cavaquista. 

A troco de fundos e subsídios, Cavaco Silva aceitou acabar com o que restava de tecido económico português e inviabilizou o que podia nascer e prosperar sustentadamente. Fechar a indústria, acabar com a frota pesqueira, pôr os campos agrícolas em regime de set aside foi do mais nefasto que se poderia desejar para um país que dava os primeiros passos no percurso da democracia e do desenvolvimento moderno.

Não se fazem políticos como se saíssem de brinde da farinha Amparo. Gente das jotas, amigos de amigos de amigos, ex-autarcas, funcionários de bancos alcandorados a experts dentro dos partidos, advogados ao serviço e avençados de toda a espécie - tudo farinha do mesmo saco. Espertismo em vez de cultura política.

Há que ter maturidade, sentido de estado, cultura, competência, experiência - e a clique cavaquista e quase tudo o que se lhe seguiu foi de meter dó.

A nata portuguesa tem pouco de verdadeira crème de la crème. Políticos, banqueiros, autarcas, pseudo-empresários, jornalistas: um caldo que tem ajudado a perpetuar esta indigência e a manipular um povo genericamente envelhecido, inculto, com pouco mundo.

A euforia pós-euro fez o resto: crédito a preço de uva mijona, um incentivo permanente ao consumo para que os país pobres e desindustrializados consumissem os excedentes dos países desenvolvidos. As directrizes europeias quando rebentou a crise financeira foram no mesmo sentido: prego a fundo no investimento. E haja financiamento bancário.

Deu no que deu.

Depois, quando se assustaram com o ataque dos abutres especuladores, foi o que se viu: travão a fundo, doa a quem doer. Tiraram o tapete à bruta, e que se lixem os que estavam em cima. Um trambolhão é um dano colateral até muito brando, há coisas piores, então há? Até porque os desgraçados aguentam tudo, ai aguentam, aguentam, já lá dizia o outro.

E assim estamos. Mais pobres, espoliados, entregues à bicharada. Sem governantes capazes, sem reguladores eficientes, sem políticos experientes e responsáveis, com uma múmia em Belém.


No meio disto, a família Espírito Santo parece ser carta fora do baralho do poder económico português (e espero bem que a justiça perceba que tem uma palavra a dizer) mas o rombo nas economias de muitas famílias vai fazer-se sentir por muito tempo e vamos ver se o BdP e o Governo têm a maturidade suficiente para fazer o que deve ser feito mesmo que momentaneamente impopular. 

É indispensável colocar um travão na desconfiança e no temor, há que ter sangue frio e, se necessário for, há que ser capaz de intervir (seja por injecção do fundo que estava reservado a isso, seja de que forma for). A não ser assim, pode assistir-se a uma queda em dominó, de consequências imprevisíveis. Os portugueses não merecem ser ainda mais saqueados por quem não tem um pingo de vergonha. Para proteger os povos existem o Estado e as suas instituições.





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Permito-me ainda recomendar-vos algumas coisas que achei importantes e que descobri por aí.


1. Do sempre oportuno e acutilante blogue Bons tempos hein?!: 'The banker', magnífico.



"O Banqueiro" poema de Craig-James Moncur, dito por Mike Daviot.



2. Do blogue Aventar, A história do banco do meu avô, da autoria de Carlos Paz. Muito bem descrito.


Transcrevo apenas a parte final mas digo-vos que acho que deve ser lido na íntegra:

Fui falar com os novos políticos com uma proposta: reformo-me, dou lugares de Administração a uma série de políticos do partido do Governo e eles que resolvam o problema do Banco do meu avô.
Continuemos a IMAGINAR coisas…
Os políticos aceitaram a minha proposta (aceitam sempre que se fala de lugares de Administração). 
Finalmente reformei-me. Ainda somos donos de 5% do Banco do meu avô e de uma série de outros negócios (sustentados pelas dívidas ao Banco do meu avô).
Tudo isto sem termos gasto um tostão (o dinheiro da família continua todo guardado na América do Sul).
E, tomei a última medida antes de me reformar: atribuí a mim próprio uma reforma de um milhão de euros por ano (para as despesas correntes).
E, assim, acabou a história IMAGINADA do Banco do meu avô.
**************
Se alguém teve a paciência de ler este texto até ao fim, deixo uma pergunta: Se esta história em vez de ser IMAGINADA, fosse verdadeira, que fariam ao neto?


3. Do Diário de Notícias, mais uma excelente crónica de Viriato Soromenho Marques, Tragédias antigas e modernas


Transcrevo também apenas a parte final mas, como em todos os textos de Viriato Soromenho Marques, todas as palavras contam:

Se Aristóteles contemplasse a moderna tragédia sistémica do mundo financeiro, do Lehman Brothers ao GES/BES, ficaria emudecido. Os personagens que causam a catástrofe não são nobres. São, na verdade, gente grotescamente banal. No lugar de uma consciência moral, muitos possuem uma vertigem narcísica que tudo absorve (por exemplo, o "livro" de João Rendeiro, do falido BPP, tem a profundidade de uma tábua rasa). Depois, os seus actos de mentira, logro, ocultação, são mera predação desprovida de grandeza, causando dano apenas aos outros. Indivíduos e povos inteiros. Desde 2008, foram afectadas centenas de milhões de pessoas, pela desmesura de algumas centenas de figurões do sistema financeiro mundial. Dezenas de milhões perderam os seus empregos, e viram a sua integridade física e psicológica molestada. Por último, não houve qualquer catarse. Estas criaturas menores compraram imunidade total, porque têm entre os seus activos as leis e os governos que os poderiam levar a juízo. Assistem, no conforto protegido das suas "salas de pânico", ao puro terror que semearam pelo mundo, como Nero assistiu ao incêndio de Roma. É uma tragédia moderna. Um espectáculo vil. Uma miséria sem conceito.


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Bom. Não posso despedir-me assim, no meio de tanta agrura. 

Por isso, bora aí  minha gente, vamo falar de renegociação de dívida, valeu? 

Bem, galera, no que toca a dívida eu sou toda a favor mas, olha aí, eu tenho meu limite, viu? P'ra começar não vou levantar o bum bum da cadeira até esse troço aí da dívida estar todo renegociado, viu? E, memo assim, vou sair às arrecuas, ouviu aí, seu moço?



O BANCO - Porta dos Fundos


Transcrevo do Youtube:

Bancos são cruéis. Eles aparecem na sua vida, prometem mundos e fundos, te f@#$% gostoso, nunca mais te ligam e quando você vai reclamar, aparecem com uma historinha nova e te f@#$% gostoso de novo.


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Para verem como sou cabeça no ar. Nesta noite quente, com o rio banhado por um luar de encantar, vinha para aqui com vontade de escrever sobre palavras aladas; mas ouvi as últimas sobre o BES e não resisti. É esta driving force que parece que me puxa para a chungaria, senhores, que castigo. Com tanta coisa boa para falar e logo fui falar desta gente que vive acima das nossas possibilidades, que suga o sangue e o suor sem olhar a quem. 

É preciso cortar o ordenado aos pobrezinhos para que tenham menos força para protestar, é preciso acabar de vez com os direitos laborais para que mais facilmente possam ser postos no olho da rua com uma à frente e outra atrás, é preciso acabar com as escolas no interior, com a investigação, com a saúde pública. Dizem-nos a toda a hora.

Para quê? Ainda não se percebeu mas o que vemos todos os dias é para onde vão os milhões e milhões que são sugados à população em geral: para o cano, isto é, para o bolso de corruptos, de gente que vive à margem da lei, bandidos de punhos de renda. Que sina esta, credo.

A ver se amanhã a coisa começa a entrar nos eixos para o País sossegar, que bem merece, e para ver se me posso dedicar à reinação ou à efabulação.

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E, assim sendo, vou-me deitar que já se faz tarde. Incapaz de reler dado o adiantado da hora e o tamanho do lençol que daqui saíu, só espero que não haja gralhas indecorosas. Se as houver, por favor, sejam indulgentes, está bem...?

Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma boa terça feira. 
Saúde e sorte é o que vos desejo - no mínimo.


terça-feira, maio 20, 2014

Alguns dos meus últimos livros [Das vidas instáveis ao desenhar nuvens, talvez coisa da cegueira dos pintores. Ou Portugal, nação rebelde em queda com a Europa, esse projecto cheio de ironia. E outros amores e coisas de mulheres e, ainda, lições da vida - de tudo um pouco]


No post a seguir a este, podemos ver o verdadeiro casal-maravilha, Cristiano Ronaldo e a namorada Irina, posando para a revista Vogue Espanha sob a especialíssima lente de Mario Testino. Sedução e beleza, intimidade e ousadia. O vídeo com o making of mostra a sessão, as sombras, as luzes. Junto ainda um vídeo com as proezas futebolísticas do Imperador Ronaldo (conforme me foi enviado por um Leitor a quem agradeço).

Mais abaixo ainda mostro um vídeo com um menino prodigioso. Não sei o seu nome, mas o que é um nome perante a grandeza da pessoa? Vale a pena ver.

Aqui, agora, a conversa é outra. Livros. Uma vez mais, livros.







Alguns dos meus Leitores escrevem-me e contam-me as suas vidas difíceis. Mas não precisariam de o fazer para que eu saiba bem o que é a vida difícil de quem vive contando os euros e tendo que abdicar de pequenos prazeres para que o dinheiro chegue para as necessidades. Sei bem disso, sinto-me solidária e, na minha vida pessoal, profissional e social, luto contra as políticas cegas que ignoram as pessoas. Luto contra as políticas que causam recessão porque a solução para o que quer que seja nunca pode nascer da desgraça de parte da população. Luto a favor de uma política de desenvolvimento porque sei que é daí que nasce o crescimento da economia e o florescimento de condições de vida melhores para todos, em especial para os sectores mais desfavorecidos. Luto na medida do que posso e sei. 

O meu conhecimento e a minha experiência profissional têm-me mostrado ao longo de anos que uma empresa vinga se apostar no crescimento (vendendo mais, produzindo mais, dando mais formação às pessoas, zelando por melhores condições de trabalho, procurando ter produtos e serviços melhores) e não apenas no corte de custos (já que, por essa via, apenas se conseguirá atrofiar a empresa, conduzindo-a à morte). É assim nas empresas, é assim na sociedade. O mundo avança no sentido da expansão e não do declínio. Todas as políticas que contrariem esta tendência são contra-natura, malévolas.

Mas eu quando luto, não luto por mim porque, já aqui o confessei tantas vezes, eu não me posso queixar. Bem mais de metade do que ganho é-me sonegado à partida. Sendo trabalhadora por conta de outrem, quando recebo o meu ordenado, tento nem olhar para o recibo para não ficar estarrecida. Grande parte vai-se sem que eu lhe ponha os olhos em cima. Acresce, claro, o IMI, o IVA e todos os outros impostos. Trabalho para mim talvez uns quatro meses por ano, nem sei. O resto é-me levado pelo Estado. E tudo estaria bem se fosse para ser bem usado e não para pagar a financeiros agiotas.

Mas, ainda assim, sou uma privilegiada.

Aqui tento ser cuidadosa quando falo de mim, tento ser sempre parcimoniosa na descrição dos meus hábitos de vida para não incomodar os que me lêem e que fazem uma tremenda ginástica com o pouco que ganham.

No entanto, não vou ser mentirosa ou hipócrita. O que ganho permite-me, ainda assim, viver bem e manter algumas extravagâncias. E a maior delas, já todos aqui o sabem, são os livros. Viciada, viciada em livros. Vejo a conta e penso: estou a gastar em livros que talvez nem chegue a ler o que algumas pessoas tanto precisam para viver. Penso isto com pesar. Mas são pensamentos inconsequentes. A vida é o que é e há mesmo diferenças e o importante é que os que têm mais sintam que serão mais felizes se os outros também puderem vir a tê-lo em vez de centrarem a sua vida em terem mais e mais, esquecendo os outros.

Vem isto a propósito dos meus últimos livros. Fotografei-os para vos mostrar mas depois pus-me a pensar: querem lá as pessoas saber dos meus livros? Aqueles que andam às voltas a ver se os cem euros que têm até ao fim do mês lhes chegam, até devem ficar chocados com a facilidade com que eu gasto cem euros em livros.

Por isso, estou a escrever isto e ainda sem saber se vou levar este post até ao fim ou se, como às vezes faço, desisto, apago e escrevo sobre outra coisa qualquer.

A favor de falar de livros tenho o argumento de que, quem não tem possibilidade de ter, nem por isso deixará de gostar de saber ou de ver. Eu não posso viver num palácio veneziano e, no entanto, adoro ver fotografias deles. Ou coisas assim. Ou não tenho onde ir aperaltada com belos vestidos Armani e, no entanto, o que eu gosto de ver esses vestidos. Não sinto qualquer inveja do que vejo, sinto apenas curiosidade. E gosto de ver.

Bem, isto vai longo e eu, quando comecei vinha era com ideia de falar de um dos livros em particular e, com estes meus pruridos todos, já é tão tarde que estou a ver que já não vou conseguir.

Vou mostrar. Já me decidi.

Não sei se alguns já tinha mostrado antes. Creio que não, mas não ponho as mãos no fogo.



Vidas instáveis - António Mega Ferreira com pinturas de João Queiroz da Editora Abysmo
Da cegueira dos pintores - Júlio Pomar, edição do Atelier Museu Júlio Pomar e Câmara de Lisboa
* De Mulher para Mulher - Mónica Campos da Editorial Estampa
* A mulher certa - Sándor Márai da D. Quixote
* O Amor Louco - André Breton da Editorial Estampa
* À mesa do amor - Joaquim Pessoa da Litexa Editora
* Morte no Verão - Yukio Mishima da Editorial Estampa


Os livros marcados com * foram comprados em saldo, a 5 euros cada



Portugal na queda da Europa - Viriato Soromenho Marques da Editora Temas e Debates
A ironia do projecto europeu - Rui Tavares da Editora Tinta da China
Portugal, A economia de uma Nação rebelde - José Manuel Félix Ribeiro da Editora Guerra e Paz
Jorge Coelho, o Todo-Poderoso - Fernando Esteves da Editora Esfera dos Livros
Às terças com Morrie - Mitch Albom da Editora Sinais de Fogo
Desenhar Nuvens - José Manuel Castanheira da editora Caleidoscópio com o apoio da Câmara de Almada



Destes, há livros que são uma beleza só ao toque como o último, Desenhar Nuvens. Que livro maravilhoso! Tirei algumas fotografias também ao interior porque é uma preciosidade mas não mostro já porque quero saboreá-lo com tempo e depois logo vos conto e mostro. E há um, de que ouvi falar faz tempo ao querido Leitor dbo e que só hoje descobri, o Às terças com Morrie, de que até já tinha aqui o post idealizado na minha cabeça. E há outros que folheei e que me parecem apelativos. E há as palavras de Júlio Pomar e eu adoro ler conversas ou ideias de pintores. Estava a pensar transcrever aqui um bocadinho mas alonguei-me tanto com as minhas hesitações que agora daria para muito tarde. Fica para outro dia. E o do Viriato que deve ser muito bom porque dali nunca nada desilude mas que o meu marido já daqui mo surripiou e já o começou a ler. Depois a ver se vos consigo falar dele. (Peço ao meu marido para fazer um resumo...)

E, com isto, fico com a sensação que mais valia ter estado calada e falar logo dos livros em si em vez de me pôr sem saber se havia de falar ou não. Agora tenho que me ir deitar e vocês devem ficar a achar que sou mas é maluca e que as minhas hesitações não interessam para nada, o que interessava mesmo era o que estava dentro dos livros e de que nem falei.

Ai.

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A música é Possibility por Lyke Li

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Relembro: Cenas escaldantes entre o Cristiano e a menina Irina e cenas de bradar aos céus da autoria do Imperador CR7 são já a seguir. E um puto que dança que dá gosto é ainda um bocado mais abaixo.

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E eu, por agora, por aqui me fico. Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma boa terça feira.


terça-feira, maio 06, 2014

Um dia de cada vez. Leiam os lábios dele. // A escrita fluida, límpida e honesta de duas aves raras: Viriato Soromenho Marques e Pedro Santos Guerreiro


Há pessoas cuja escrita nunca desilude. Pessoas inteligentes, honestas, donas de uma maneira de se exprimirem límpida. Viriato Soromenho Marques e Pedro Santos Guerreiro são duas dessas escassas pessoas. Um oásis num deserto. Não falam apenas da espuma dos dias. Não, eles dão um passo atrás, pensam, vêem mais longe, têm uma visão abrangente e, sobretudo, têm, ainda, consciência.

De cada vez que leio o que escrevem, apetece-me transcrever aqui. Como um eco. Era bom que fosse ressoando por todo o lado, para que as palavras verdadeiras não desapareçam da nossa sociedade.


Um dia de cada vez, por VIRIATO SOROMENHO MARQUES no Diário de Notícias 



A história mostra que toda a grandeza, seja dos indivíduos ou das nações, só se consegue quando se olha para o tempo longo, como alguém que contempla um extenso vale a partir de uma alta montanha. A empresa dos Descobrimentos só foi possível pela coerência das políticas que vão de Ceuta à chegada de Gama à Índia. Para que o "Estado social" escandinavo ou a modernização sul-coreana tivessem ocorrido foram precisas décadas de persistência política. Os resultados positivos no SNS português implicaram 40 anos de continuidade. Esse é o método da estratégia, que implica visão e firmeza no rumo. O método de quem aprende a criar e a contar com um tempo previsível. Pelo contrário, "a saída limpa", anunciada ontem pelo primeiro-ministro - num estilo épico inapropriado , representa a vitória do tempo mínimo. O triunfo da tática parcelar e fragmentar. A nossa "saída limpa" não espelha a nossa liberdade reconquistada, mas o nosso abandono por parte dos países que, connosco, formam o corpo da zona euro, onde deveria reinar a solidariedade, mas impera um egoísmo vesgo e malsão. Ficamos, para já, entregues ao "programa cautelar" endógeno e improvisado de uma "almofada financeira", que nos custa milhões, mesmo sem ser usada, sobretudo para não ser usada. Ficamos à mercê de forças que não controlamos, sejam elas o humor dos mercados, as decisões dos bancos centrais mundiais, a incerteza sobre o rebentar das bolhas chinesas (do crédito e do imobiliário), a sorte das armas na guerra civil ucraniana. Como poderemos esperar que nesse solo estéril as sementes da confiança, do investimento e do desenvolvimento possam crescer? A zona euro transformou-se numa planura desértica. Sem estadistas visionários que escalem montanhas para vislumbrar o melhor rumo para o bem comum de todos os europeus.


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Leiam os lábios dele, por Pedro Santos Guerreiro no Expresso de 3 de Maio de 2014


Perante isto, faz-se o quê? Encolhemos os ombros, rimos, zangamo-nos, alto-e-pára-o-baile? mudar de opinião não é mentir. Mudar de decisão não é mentir. Errar não é mentir. Até dar cabo da vida não é mentir. Mas mentir é mentir. Aumentar os impostos jurando antes que assim não seria e (céus!) jurando depois que assim não foi é descaramento. Ou é paranóia. Ou é mentir.

(...)

O contorcionismo moral entorpece a sociedade. A mentira, a pequena trapaça, os falsos cursos superiores, a manipulação criam habituação. Não sei o que é mais impressionante: se a cara de pau de Passos no aumento de impostos se os pezinhos de lã com que o aumento foi aceite. Começa a parecer demagógico criticar quem mente. Começa a parecer moralista falar de moral. 


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Muito interessante também o texto de O Ladrão de Bicicletas. Ainda há gente que não vai na onda.


sexta-feira, março 14, 2014

Alô! Alô! sintonizem a SIC N e vejam Viriato Soromenho Marques no Expresso da Meia Noite


Absolutamente a não perder. Grande Viriato. 


Viriato Soromenho Marques na SIC N, no Expresso da Meia Noite
muito bem como sempre.

Muito mais gente houvesse assim e não estaria Portugal entregue à bicharada como está

É verdade, Viriato: meio Portugal parece padecer do Síndroma de Estocolmo.




Em contrapartida, estou até incomodada com a conversa obscurantista, cheia de buracos negros, de um tal José Sá Carneiro. Mas de que século muito lá para trás saíu aquele homem mais estranho? Para além do look, não sabe pensar, não sabe relacionar, desconhece a história, parece que não consegue sequenciar o raciocínio. Pessoas assim são um perigo. São convidadas como especialistas e não conseguem dizer coisa com coisa.

Percebo a aflição de Viriato Soromenho Marques - que é uma pessoa culta, séria e rigorosa - a ter que ouvir o palavreado sectário e impreparado do outro.

Mas quem é que escolhe esta gente que o Ricardo Costa leva lá para defender o Governo Passos Coelho? Só se ele já não arranja gente com cabeça e já tem que recorrer a criaturas assim.


***

Sobre os mails que recebo, por favor desçam até ao post seguinte.


Manuela Ferreira Leite, subscritora do 'Manifesto dos 70' a favor da Reestruturação da Dívida, diz que não deve nada a ninguém, não tem que agradecer nada a ninguém, nem nunca pediu nada a ninguém - e que, portanto, é uma mulher livre que pensa pela sua cabeça e se preocupa pelo destino do País. Ao ouvi-la, percebi que ela só não parte para a desgraça, dando um tareão no Passos Coelho, porque não deve estar para sujar as mãos. Estive a vê-la na TVI 24: a raiva que ela mostra por essa gentalha que não sabe o que é a democracia, os mercados, a soberania, a verdade, a gestão da dívida, etc, é tão forte que eu quase juraria que a ouvi a ranger os dentes de fúria. Percebo-a.


No post abaixo já me descontraí, já mergulhei um pouco, ao de leve, muito ao de leve, no mundo Chanel. Pela mão de Karl Lagerfeld e com Geraldine Chaplin, maravilhosa, percebemos a raça desta mulher magra e voluntariosa que trouxe glamour à moda e a transformou numa forma de negócio moderna e potencialmente lucrativa.

Uma coisa bonita de se ver. Abaixo.

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Aqui agora falo de uma outra mulher corajosa e, à sua maneira, elegante. Aliás, elegante mesmo, moderna. Manuela Ferreira Leite.


Manuela Ferrreira Leite subscritora do Manifesto dos 70
 fala do documento e dos que tão estupidamente o criticaram,
 alguns sem o terem lido, outros sem o terem percebido




Aqui há tempos via-a justamente no Mandarim do Estoril (de que falei aqui no outro dia) e constatei o seu lado afável, familiar. Mas adiante que isto é apenas uma pequena fofoca que não tem nada a ver.

Estive agora a vê-la com o Paulo Magalhães na TVI 24. Uma loba. Uma leoa.

Não teve medo de assinar e dar a cara por um Manifesto ao lado de Louçã, Carvalho da Silva e outros de quadrantes políticos bem diferentes do seu. Pessoas assim, que ultrapassam divergências em nome de mais altos interesses, os interesses nacionais, são pessoas que temos, forçosamente, que respeitar e ouvir. Não estamos a falar de pessoas à toa: estamos a falar de gente que foi ministra, que é culta e informada, empresários, professores universitários, deputados ou ex-deputados, ex-Secretários de Estado, ex-Governadores do Banco de Portugal, (ex)Assessores do Presidente da República, o Presidente da CIP, etc. A lista é variada e heterogénea. E deveria encher a todos de orgulho.

Falar destas pessoas e do documento que ontem aqui transcrevi na íntegra com um despudor estúpido, só revela uma estupidez primária.

Manuela Ferreira Leite, hoje na televisão, não podia ter sido mais directa.

Eu tantas vezes aqui já vos mostrei a minha raiva por ver tão impreparada e incompetente gente a destruir o meu País. Mas imagino o que sentirá, então, Manuela Ferreira Leite. Ela, sobre o que há de mais fundamental, pensa o mesmo que eu - mas ela já teve outras responsabilidades políticas, ela já foi ministra das Finanças, ela já foi líder do Partido que está a fazer isto. Por isso, a angústia dela deve ser ainda superior à minha.

O que ela mostrou sentir em relação a Passos Coelho e à sua vil reacção, bem como em relação a todos os pequenos papagaios, caniches amestrados, marionetas, vendidos e avençados, e demais cambada, ficou absolutamente explícito: ela despreza-os. E despreza-os muito bem. 

*

Outro dos que assinou o manifesto e se bate por ele, é alguém que admiro especialmente e de quem aqui já outras vezes falei. A sua crónica no DN desta quarta-feira merece atenção:


Os homens não são todos iguais por Viriato Soromenho Marques


O manifesto propondo a reestruturação da dívida foi conhecido no mesmo dia em que o INE revelava os resultados da política levada a cabo pela troika com a cumplicidade entusiástica deste governo. Como se fosse uma lista de baixas numa guerra, ficámos a saber que o PIB do país recuou ao nível do ano 2000 e o emprego tombou até ao ano de 1996. Em dois anos e meio foram destruídos 328 mil empregos. Tudo isto para combater uma dívida pública bruta excessiva, que, no mesmo período, subiu de 94% para quase 130% (ultrapassando em 15% as precisões da troika)! Este manifesto limita-se a olhar a realidade de frente: o País caminha para o suicídio, e é preciso mudar o rumo. No quadro europeu. Pesando o interesse de Portugal, mas também o interesse comum do projecto europeu, de que muita gente, em Bruxelas e Berlim, parece ter-se esquecido. Perante isso, o primeiro-ministro, e uma escassa legião de escribas auxiliares, acusam os subscritores do manifesto de "pôr em causa o financiamento do país", de "inoportunidade", e, até, de falta de patriotismo. No século xix, dois grandes europeus, Antero de Quental e Nietzsche escreveram, ao mesmo tempo, quase a mesma coisa: o que separa os homens é a maior ou menor capacidade que têm de "suportar" a verdade de que depende a dignidade da vida. A verdade dói, mas a mentira mata. Tenho muito orgulho em ter assinado este manifesto ao lado de Manuela Ferreira Leite, ou Bagão Félix, pois a diferença crucial não é entre esquerda e direita, mas entre a verdade e a mentira. O que une este governo, e o atual diretório europeu, é a ligação umbilical entre o seu poder e a mentira organizada. O país e a Europa só poderão sobreviver se forem resgatados de líderes medíocres, com fobia da verdade.


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Acabo de ouvir, também na TVI 24, o pequeno caniche descabelado a gritar, histérico, contra a reestruturação da dívida porque, diz o caniche, reestruturar a dívida, significa perdão da dívida. Os outros explicam-lhe que não, que não é sinónimo. Mas ele não atinge tal coisa. 

Digo eu: dizer reestruturar a dívida é como dizer arrumar a casa. Claro que uma pessoa para arrumar a casa pode pegar no que está fora do sítio e deitar tudo janela fora. Ou selar as divisões que estão bagunçadas. Pode.

Mas geralmente não é isso que se faz: limpa-se, varre-se, aspira-se, põe-se no sítio. Pode até acontecer que se deite fora algum lixo (se declaradamente o houver). Mas entre isso e dizer que arrumar a casa é selar a casa ou deitar-lhe fogo vai uma grande diferença. Só gente estúpida ou de má fé pode pensar isso.

Alguém explica isso ao caniche histérico?

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Sentida, daqui agradeço ao Viriato, à Drª Manuela Ferreira Leite, ao Dr. Bagão Félix, ao António Saraiva (a quem ontem gabei a pachorra de aturar o destituído Gomes Ferreira), e todas as pessoas inteligentes, patriotas, livres, corajosas que escreveram, assinaram e defenderam o Manifesto a Favor da Reestruturação da Dívida. Tomara que o seu esforço valha a pena. Tomara.


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A quem precise agora de espairecer e queira penetrar no ambiente íntimo do atelier de Miss Coco Chanel, convido a descer um pouco mais. Karl Lagerfeld estará lá para vos receber. Geraldine Chaplin está fantástica, é o que vou já avisando.


sexta-feira, fevereiro 28, 2014

"Almofada de Pedra" de Viriato Soromenho Marques. "Escolhas" de Nuno Teles. "A troika foi arrogante? - Coitados" de Pedro Lains. Todos a falarem de mais um embuste que rouba os portugueses (os tais que estão piores apesar de Portugal estar melhor). LOL. Por isso tanto eles se riram, LOL-LOL-LOL, no congresso do PSD.


No post a seguir a este mostro-vos como a palavra dada antes das eleições pode ser virada do avesso logo após a tomada do poder. Quase teria graça se não espelhasse uma realidade muito triste. Aplica-se como uma luva aos desavergonhados do PSD e do CDS.

A seguir a esse temos mais uma corajosa manifestação de liberdade cívica por parte de Paulo Morais que foi à Assembleia da República demonstrar de que peças se faz o edifício da corrupção. Que a voz nunca lhe doa. O vídeo merece ser visto.

Mas isso é abaixo, a seguir a este post.

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Sobre a notícia tão propalada de que Portugal abate 1,3 mil milhões na dívida - Operação de recompra de dívida reduz pressão na amortização, permito-me transcrever na íntegra, do DN, o brilhante e lúcido artigo desta quinta-feira de uma pessoa que eu admiro desde há muito (e nem vos digo desde quando para não fazer revelações indiscretas): Viriato Soromenho Marques.



ALMOFADA DE PEDRA


Como é que designaríamos o comportamento de um cidadão que, incapaz de honrar um crédito pessoal a uma taxa de 3,35%, prestes a atingir a maturidade, contraísse um novo empréstimo a uma taxa de 5,11% para pagar o primeiro ("troca de dívida")? 

Sem dúvida, tratar-se-ia de um comportamento pouco recomendável

E como seria classificado esse comportamento se o cidadão em causa utilizasse parte do novo empréstimo (de 11-02-2014) para antecipar, parcialmente, o pagamento em 19,5 meses do primeiro empréstimo, pagando 102,89 euros por cada 100 euros de dívida ("recompra")? 

Seria, certamente, uma atitude temerária, pois aumenta a despesa com juros para apenas empurrar a dívida para o futuro

Pois é isso que o Governo pretende fazer hoje. 

O leitor pode ir ao site eletrónico do IGCP. Abra o boletim mensal de fevereiro sobre "Dívida Pública". Na p. 2, vê que o Estado vai ter de resolver até 2016 cerca de 39 mil milhões de euros de empréstimos. 

Esse imenso obstáculo tem sido o pretexto para a constituição de uma volumosa "almofada" financeira. 

Tudo indica que o IGCP quer recomprar, hoje, uma parte de uma série de dívida a dez anos, contraída a partir de outubro de 2005 (ver p. 3). 

Se o fizer, às taxas mais recentes no mercado secundário, isso significa que, para o montante que for hoje amortizado, vamos pagar mais 3,53% de juros por ano até outubro de 2015 do que antes das duas operações financeiras supracitadas. 


Será isto uma gestão prudente, ditada pelo interesse nacional, ou estará o Tesouro público em risco para alimentar uma ilusão pré-eleitoral de triunfo? 

Será esta uma almofada que alivia o País, ou uma pedra amarrada às pernas que o atira para o fundo

Temos direito a saber a lógica com que se joga o dinheiro sonegado aos salários e às pensões. Direito a uma explicação, ou a uma beliscadela que nos acorde deste pesadelo.


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Uma vergonha. Pois. O que se está a passar é grave demais e todas as denúncias são poucas. Por isso, junto duas outras.

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Transcrevo do blogue Ladrões de Bicicletas:

Escolhas


Vale mesmo a pena este artigo do Público sobre a operação de amortização de dívida pública em curso. Não discutindo aqui qual a melhor gestão de tesouraria do Estado, importa notar o resultado de umas contas de merceeiro. 

Se o Estado tiver depositado uma média de 10 000 milhões de euros no banco de Portugal (o valor era de 12 819 milhões antes desta operação), pelo quais ganhou um juro quase nulo, mas que tiveram um custo de 4%, esta "almofada financeira" traduziu-se numa despesa anual de quase 400 milhões de euros. 400 milhões de euros foi o valor avançado para a famigerada "convergência das pensões", entretanto substituída por cortes alternativos.



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Transcrevo do blogue do Pedro Lains

A troika foi arrogante? - Coitados.


Parece que na última reunião com os parceiros sociais a troika se irritou e foi arrogante, até com os "patrões", falando do alto da burra e tudo. Muito bem. É um bom sinal, sinal de que estão mesmo a ficar com poder zero. Pelas razões óbvias, relacionadas com o fim à vista do défice primário, o que significa que todo o dinheiro que aí vem é só para pagar juros. Mais a almofada financeira. Tudo como previsto.


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As palavras a fazerem o pino e o vídeo de Paulo Morais são já a seguir.


domingo, fevereiro 16, 2014

Retrato dos tempos que correm: a palavra a Rui Zink, Pedro Tadeu, Viriato Soromenho Marques e Pedro Santos Guerreiro. 'O aprendiz de Maquiavel em dez lições'. 'A Europa prometeu-nos o paraíso. Lembra-se?'. 'Regras de etiqueta'. 'Vende-se, bom preço'. A música é 'Lamento della Ninfa' interpretado pelos L'Almodí Cor de Cambra e as ilustrações são de Pawel Kuczynski.


A palavra a quem a usa com inteligência, serenidade e lucidez - e felizmente, apesar de tudo, ainda há vozes assim na nossa imprensa.

As imagens ternas e tristes na sua crueza são de Pawel Kuczynski, um polaco nascido em 1976, formado em Artes, que já recebeu inúmeros prémios e cuja obra se debruça essencialmente sobre pobreza, a fome, a guerra, o trabalho infantil, a corrupção política, a poluição, a exploração e a desigualdade social.


Mas, antes, por favor, música: L'Almodí Cor de Cambra interpretam Lamento della Ninfa de Claudio Monteverdi.

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O aprendiz de Maquiavel em dez lições - RUI ZINK 


Cumpre estas leis e poderás, pela calada, desobedecer a todas as outras.


1. Inculca culpa na tua vítima. Convence-a de que é responsável pelo que lhe está a acontecer. Se o fizeres, a tua tarefa estará facilitada. Lembra-te: se aqui vítima há, és tu, cujas intenções são “incompreendidas” pelos “ingratos e invejosos”.

2. Usa palavras mágicas: pátria, empreendedorismo, sacrifício, futuro, reformas, construir, acreditar, inovação. Baralha-as numa Bimby e faz bimbices. Se conseguires dizer sem te rires algo como “Pensar e preparar o futuro do nosso país é proporcionar às gerações que nos irão suceder as ferramentas adequadas para construir um Portugal diferente, num quadro de qualidade, responsabilidade e inovação”, tens um lugar assegurado.

3. Diz que compreendes a insatisfação dos prejudicados e concordas que, sim, têm razão, mas agora não pode ser nada. Justifica-te com a burocracia, a qual és o primeiro a combater. Pede para adiarem o seu protesto, que tu próprio reconheces como justo, “houve de facto erros, a corrigir no futuro”, mas que em breve tudo se resolverá, se as pessoas tiverem “calma e paciência” e souberem “aguardar discretamente”.

4. Desvia as atenções. A forma mais prática de aliviar uma afta é martelar um dedo. Estudo de caso: há anos, um governo estava em crise com uma sucessão de demissões. Um ministro de génio (para estas coisas) marcou uma conferência de imprensa a anunciar a construção da terceira ponte lisboeta sobre o Tejo. Todos os jornalistas caíram no engodo – por malícia, naiveté ou pura cumplicidade. Aplica estes e os outros preceitos e terás a vida facilitada.

5. Usa factos. Não importa quais. E números. Muitos números. Mostra gráficos. Sê firme, mesmo que não saibas o que estás a dizer. Não te preocupes, com sorte o teu interlocutor não terá informação ou coragem para te confrontar, e o risco de seres apanhado é inferior a 1,6% (número que acabo de inventar, aliás). Quando te apresentarem factos contrários, responde que “são casos isolados”. Simplifica ao absurdo mas, se necessário, foge na direcção contrária, e diz que “a questão é demasiado complexa” para ser tratada “daquela maneira” na praça pública.

(...)

7. Sabes que a crise tem unicamente por função baixar “o custo do trabalho”. Corrijo: também servirá para vender alguns anéis públicos, e os dedos que a eles vierem colados. Só que baixar o custo do trabalho é a prioridade. Infelizmente, não o podemos dizer desta maneira. Então mostra compaixão, geme, condói-te, solidariza-te, “compreende”. Etc. Faz como te digo e vais ver que tudo corre bem.

8. Defende e respeita a tradição. Porque a tradição é “a alma dum povo”. Lembra que, em contrapartida, para progredir é preciso “proceder a reformas necessárias”. E são sempre necessárias, essas reformas, ainda que “dolorosas”. Tu compreendes que são dolorosas, só que necessárias. Em simultâneo, tenta respeitar “as bonitas tradições do nosso povo e de nossos pais”. E nenhuma é tão bonita como o futebol.


Cumpre estas leis e poderás, pela calada, desobedecer a todas as outras. Ámen.

(...)


*


A Europa prometeu-nos o paraíso. Lembra-se? - PEDRO TADEU


Primeiro é a Suíça. Seguir-se-ão, é previsível, a Grã-Bretanha e a França (entretanto liderada por Marine Le Pen) e, depois, uma catadupa de Estados pequenos mas ainda abastados da União Europeia até, finalmente, chegar a vez da Alemanha. Se eu tiver razão - e espero que não - dentro de meia dúzia de anos acabou-se a liberdade de circulação de trabalhadores entre os países assinantes do tratado de Schengen e da União Europeia.

Em contrapartida, cada um destes países, que procura livrar-se de imigrantes vendedores de mão-de-obra, tenta ser mais competitivo do que os seus aliados na capacidade de atracção de capital estrangeiro.

Temos soluções, estilo "visa gold", a dar nacionalidade europeia a qualquer riquito que se apresente com meio milhão de euros e esteja disposto a ser enganado na compra de imobiliário sobrevalorizado, como está a acontecer em Portugal.

Temos uma constante diminuição do nível de impostos sobre as empresas - enquanto os impostos sobre o trabalho sobem - a transformar cada vez mais Estados desta Europa da globalização numa montra de paraísos fiscais com falso selo de respeitabilidade. Olhem para a Holanda, para o Luxemburgo e para o que quer fazer a Irlanda.


Temos até o socialista António José Seguro a prenunciar uma governação estilo François Hollande (típica da esquerda baralhada), ao defender tribunais especiais para estrangeiros investidores que queiram comprar os favores da nossa justiça.
(..)
Se nada mudar, a Europa do futuro é já desenhável pelas tendências das reformas fiscais: as baixas do IRC, os benefícios fiscais e a diminuição das taxas de Segurança Social para as empresas, que se discutem e se aplaudem de Lisboa a Sófia, enquanto o ataque aos pensionistas e ao IRS dos empregados não é, de maneira alguma, exclusivo português.

A Europa do futuro abrirá, assim, os braços a passadores de droga que tentam lavar dinheiro sujo; até os subsidiará. A Europa do futuro terá pedras na mão para receber um operário que procura trabalho noutro país da União. A Europa do futuro aceitará ser a sede luxuosa de empresas que escravizam, em fábricas distantes, crianças de 8 anos. A Europa do futuro recusará um visto a um jovem cientista candidato a um contrato de três anos num laboratório de ponta.


A Europa do passado prometeu-nos o paraíso na terra. Lembra-se?


no DN

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Regras de etiqueta - VIRIATO SOROMENHO MARQUES


A expulsão pelo PSD de António Capucho, um cidadão respeitado e com serviço público prestado visível, não me parece uma simples questão de (in)disciplina partidária. Confronta-nos, sobretudo, com a dura realidade do envelhecimento da nossa democracia representativa. 


Em quatro décadas passámos do mais puro idealismo de partidos entendidos como organizações ao serviço do desejo de participação cívica dos eleitores, para a partidocracia pura e dura actual. Mesmo nas zonas da esquerda mais longínqua, onde o acesso ao Orçamento de Estado é bastante indirecto e rarefeito, quem quiser abrir a janela pode constipar-se. 

Por exemplo, o tratamento que tem sido dado a Rui Tavares, e ao seu novo partido, evoca a atmosfera descontraída do filme Há Lodo no Cais... 

Em poucas décadas, os partidos transformaram-se de instrumentos da cidadania em agências de empregos bem pagos para pessoal com baixas classificações, mas pronto para qualquer função. Voltar a meter muito da "cultura" praticada pelos partidos na ordem constitucional, que não os desenhou para serem fins-em-si-mesmos, não será tarefa fácil. 

Mais do que nunca reina o princípio de que quem ganha as eleições administra os despojos (spoils system). E numa altura em que o troféu é um país inteiro, mutilado no seu património, aturdido no seu ânimo, e que até a alma parece ter para venda, a unidade de comando do chefe máximo torna-se indiscutível. 

Querem uma síntese para o caso António Capucho, e para a recusa do seu pedido de defesa antes da aplicação da sentença de expulsão? À mesa não se fala...



No DN


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Vende-se, bom preço - PEDRO SANTOS GUERREIRO



Vendem-se direitos humanos e língua portuguesa, base de licitação de 133,5 milhões de euros depositados no Banif. Quem dá? Pás!, vendido à Guiné Equatorial.


Vende-se inocência para pequenos e grandes devedores fiscais. Bom negócio, oferta de juros e coimas. Quem quer? Arrematado: encaixe de 1,3 mil milhões de euros, desconto de 500 milhões. Siga para bingo.
(...)
Vendem-se impostos baixos para empresas, inclui benefícios fiscais para grandes empresas. Só para VIP. Custo: 70 milhões de euros no primeiro ano, 220 milhões nos seguintes.
(...)

Vende-se austeridade. Custo: uma geração. Pagamento em recibos verdes.


Vende-se ilusão de ultrapassagem da crise. Custo: 130% de dívida pública.


Vendem-se anéis como se não fossem dedos, corpo como se não fosse a alma, palavras como se não fosse a palavra.

Compra-se submarinos, estradas vazias, bancos validos e dívida pública cara. Sem devolução. Paz? Pás.



No Expresso de 15/2/2014



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segunda-feira, julho 02, 2012

O falhanço colossal da política de austeridade e a demonstrada incapacidade de Passos Coelho em perceber o que se está a passar


Música, por favor

Wagner - Tannhauser Pilgrim's chorus

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A austeridade como estratégica económica e política -  e o fatal empobrecimento colectivo



O mais que comprovado fiasco das chamadas políticas de austeridade - que vêm espalhando a insolvência por onde passam - parece, felizmente, começar a motivar uma tentativa de correcção de rota a nível europeu (embora, para nossa desgraça, tal ainda não tenha sido assimilado como necessário pelo governo português).

Como é sabido, e reportando-nos apenas ao passado próximo, essas políticas começaram por ser experimentadas na Grécia a mando de técnicos da chamada troika (contrariamente ao que aconteceu na Islândia que rejeitou liminarmente seguir essa via e onde os resultados já são conhecidos e até são melhores do que os expectáveis).

Se na Grécia, fruto de um poder político fraquíssimo, desestruturado - especialmente depois de posto a nu o embuste nas contas públicas, embuste este preparado com o apoio da Goldman Sachs (onde António Borges era vice-presidente entre 2000 e 2008) - não houve quem tivesse condições para impor um caminho alternativo ou, pelo menos, mais moderado, já em Portugal a questão foi outra.



Os mercados à solta


Os chamados mercados (nos quais pontuam entidades financeiras tais como a omnipresente Goldman Sachs) têm mecanismos de salvaguarda que lhes permite ganhar sempre, especialmente quando o alvo se encontra enfraquecido. Um deles é exigir taxas de juro elevadíssimas e, dessa forma, garantir a elevada rentabilidade dos fundos que comercializam. Quando um país começa a vacilar, aí estão eles a sobrevoar a vítima.



A especulação financeira é isto



Tem vindo a acontecer progressivamente na Europa. Quando as atenções se viraram para Portugal, José Sócrates - que tinha injectado dinheiro na economia (sobretudo porque essas eram as orientações da UE na sequência da crise financeira despoletada pelo caso Lehman Brothers) incrementando o défice das contas públicas - viu-se encostado à parede. Com a maioria do parlamento a puxar-lhe o tapete, com Cavaco Silva a desautorizá-lo publicamente, com os bancos a anunciarem mediaticamente o fim do financiamento público, José Sócrates não teve outra alternativa senão ajoelhar perante quem lhe podia valer.



Os homens que apareceram para experimentar receitas num País em estado de aflição
- e a quem Passos Coelho estendeu a passadeira encarnada
(como se fossem canais de transmissão da Merkel, a sua guru),
e a quem, achando que ficará bem visto, diz pretender ultrapassar na posologia a aplicar aos portugueses


O plano da troika continha muitas coisas boas, era um plano muito razoável de reestruturação das várias frentes despesistas. Tinha um ou outro ponto excessivo (por exemplo, os relativos à redução de direitos associados ao trabalho), pontos esses que deveriam ter sido corrigidos na negociação mas, de modo geral, era um plano lógico. Deveria ter sido um plano a 5 e não a 3 anos e isso deveria ter sido outro aspecto a ser negociado. E, sobretudo, deveria ter sido considerado como um dos planos a pôr no terreno, um dos, não o único. Ou seja, deveria ter sido complementado com um outro plano: o plano do lado do crescimento estratégico da economia portuguesa.

As taxas de juro são suportáveis quando não excedem o somatório da taxa de crescimento e a da inflação. Ora com uma taxa de crescimento negativa (ou mesmo que, dentro em pouco, tendencialmente nula), os juros praticados são manifestamente impossíveis de suportar, gerando, portanto, mais dívida. Ou seja, a grande prioridade por todos os motivos e também por este é a de conseguir que a economia portuguesa cresça.

A economia portuguesa não prima, desde o princípio dos tempos, por ser sólida e florescente. Reportando-nos às últimas décadas, poderemos perceber que, com um Estado Novo retrógrado, fechado e protector, difícil seria esperar que a economia, nessa altura, manifestasse um generalizado pendor inovador e competitivo.

A seguir, com o 25 de Abril, seguiu-se um período de periclitância política que se traduziu em avanços e recuos, naturais num período de aprendizagem democrática e de abertura ao mundo. Quando se estava, pois, a dar os primeiros passos no sentido da aculturação ocorreram profundas alterações estruturais no panorama económico internacional com fortíssimo impacto directo no tecido económico português.



Instalações fabris encerradas - uma imagem dramaticamente multiplicada ao longo do País


A adesão à moeda única e a sucessiva queda de barreiras no comércio internacional, deixaram a economia doméstica exposta, em toda a sua fragilidade, à violência dos mercados internacionais.

Tudo isto está descrito de uma maneira breve e superficial já que este não é o local para análises longas e aprofundados (nem eu seria a pessoa mais habilitada para as fazer) mas, em traços largos, é muito disto que se tem passado.

Voltando pois ao nosso passado recente.

Quando Passos Coelho, impreparado, inábil, resolve provincianamente adoptar um estatuto de menoridade perante a Alemanha (o de aluno, o aluno acrítico, submisso, marrãozinho) impondo medidas ainda mais draconianas que o programa da troika e esquecendo o lado do desenvolvimento, condenou ao fracasso toda a sua política.



De mãos postas, coluna vergada, eis Pedro Passos Coelho perante uma Merkel mandona de punho fechado
- a típica imagem do aluno engraxador (manteigueiro, ouvi agora, Miguel Sousa Tavares chamar-lhe no Prós e Contras)



E tão incompetentemente o fez que isso se traduziu em descalabro em menos de 1 ano. Sem qualquer visão estratégica, sem conhecimentos, incapaz de desenvolver um raciocínio que envolva operações algébricas, colocou-se nas mãos de dois teóricos no que à economia e às finanças diz respeito, e nas mãos de um típico fura-vidas (daqueles para quem a ética é um conceito abstracto ‘que não lhe assiste’) para efeito de coordenação política.

Esquecendo este último que tão sequiosamente se atirou a todos os potes (na linguagem de Passos Coelho) que acabou por se descredibilizar totalmente junto da opinião púbica, detenhamo-nos então nos dois primeiros.



Dois dos vários erros de casting - estes especialmente responsáveis pelo buraco
em que Portugal está a ser (irremediavelmente?) enfiado



Para o ministério da Economia, Emprego, Desenvolvimento Regional, Inovação, Transportes e Energia, Passos Coelho - que se lembrou de inventar este ministério ingovernável - não teve a lucidez de perceber que, para que aquele mastodonte funcionasse, teria que ter alguém com uma grande dose de experiência e com um cabedal de Schwarzenegger. Em vez disso foi buscar um tenrinho. Absolutamente inexperiente, vivendo a milhas do país, académico, o exercício de Álvaro Santos Pereira tem sido uma festa. Não consegue fazer nada, não sabe nada, não tem jeito para nada. Aos poucos, Passos Coelho começou a fatiar-lhe o ministério e a distribuir fatias por outros, incluindo por outros que nem ministros são, como é o caso do oportuno (digamos assim) António Borges. O célebre Álvaro é, pois, desde o primeiro dia, um dos elos mais fracos do governo, um erro de casting que descredibiliza acima de tudo quem o escolheu.

Para as Finanças, Passos Coelho foi buscar outro verdinho, desta vez um homem de gabinete de bancos centrais. Ao que dizem, conhecedor da realidade financeira europeia, Vítor Gaspar não tinha experiência de gestão concreta nem do impacto que os modelos, quando mal construídos, têm no mundo real e, o dramático, é que, justamente,  revela não saber construir modelos, não saber aferi-los, não saber corrigi-los nem, sequer, perceber os erros quando demonstram não se ajustar à realidade. É, portanto, desde o primeiro dia um colossal erro de casting.

E o que, para mal dos portugueses, está a acontecer é que, enquanto Vítor Gaspar, sem perceber o que anda a fazer, se entretém a traçar medidas que desgraçam as contas públicas e destroem a economia, o outro, o Álvaro, não consegue nem agir, nem reagir, e por aí anda a ouvir desacatos, a levar enxovalhos para casa, a ser justamente acusado de não fazer nada, a ser gozado e, mais grave, sem conseguir perceber o que é que os coisos querem (os coisos, isto é, os portugueses).



Mariano Rajoy e Mario Monti, dois dos PIGS que fizeram a Merkel dar um passo atrás


E, portanto, enquanto a Espanha e a Itália batem o pé e forçam a Merkel a dar os primeiros passos de recuo e enquanto o mundo inteiro implora para que a Europa ganhe tino e se organize no sentido de se pôr na rota do crescimento, Portugal - país pobre, envelhecido, sem tecido económico sustentável, com as falências e o desemprego a galoparem, com as suas melhores e mais estratégicas empresas a serem vendidas de qualquer maneira a qualquer um que apareça com dinheiro no bolso, com grande parte da população a ser tratada de forma indigna (o episódio da miséria paga aos enfermeiros é apenas mais um dos sistemáticos episódios que revelam a imoralidade de toda esta política) - continua pela voz do primeiro ministro a dizer que cumprirá a meta do défice custe o que custar (leia-se, nem que tenha que lançar mão de mais medidas de austeridade).

Podia ser autismo mas não é porque os autistas geralmente são pessoas inteligentes.

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Dizia Einstein: 
Insanidade é fazer a mesma coisa uma e outra vez e ficar à espera de resultados diferentes
  
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Estou a acabar este texto e está justamente agora a acabar o Prós e Contras que hoje está ser interessantíssimo. Viriato Soromenho Marques, meu conhecido de outros carnavais, brilhante como sempre. Mário Soares lúcido, determinado e líder como sempre. António Esteves Martins muito objectivo, como nos tem habituado. Miguel Sousa Tavares polémico (e um pouco superficial, convenhamos) como sempre. Fátima Campos Ferreira hoje mais comedida. Ou seja, um belo programa.

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Bom, se vos apetecer amenizar: hoje lá no meu Ginjal e Lisboa, a love affair as minhas palavras andam em torno de um certo corpo ao sol, um corpo de que fala Nuno Júdice num dos seus belos poemas do novíssimo livro Fórmulas de uma luz inexplicável. A música é ainda Manuel de Falla, de uma alegria envolvente.

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E, depois disto tudo, o que vos desejo é que tenham uma bela terça feira! 
Be happy!