No post abaixo falo de sexo, mentiras e vídeo. Há cenas de sexo explícitas, pelo menos na forma tentada (e nisto, sabemos, o que conta é, sobretudo, a intenção), pelo que tive o cuidado de colocar uma pequena bolinha no canto direito do título.
Mas isso é a seguir. Aqui, agora, a conversa é outra. Podia dizer que, de certa forma, ia continuar a falar de sexo, pois poderia começar este texto dizendo que estamos bem f... Mas isso não seria conversa de salão e, como é sabido, o Um Jeito Manso é um blogue de família.
Adiante.
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Poderia, ó se poderia, falar da conversa aparvalhada e metida a besta do ministro-do-mamar-doce-crato na revista Veja. Ó povo burroooo, gostam alguns brasileiros de dizer dos portugueses e, neste caso, depois de ver o que ele disse, todo prosa, fotografia de tardo-galã da Rede Bandeirantes, também tenho vontade de dizer isso. Mas não digo, não vá ele achar que eu estou a faltar-lhe ao respeito. Por isso, com muita ternurinha, digo antes assim: ó ministrinho mais monty python, ó cabecinha mais vaidosa, ó cobrinha mais venenosa.
Mas, sobre isto, tamanho é o nonsense, só vou dizer que, neste desGoverno, cada tiro cada melro, cada cavadela cada minhoca. O que admira é como, com tanto tiro que dão nos pés, ainda andam pelo próprio pé.
Mas, pensando melhor, já não andam a pé coisa nenhuma: ou andam ao colo do Cavaco ou no bolso dos seguranças.
E, de resto, sobre a melíflua e maligna criatura,
já falei aqui e, por agora, chega, não vá o veneno dele contaminar-me aqui o salão.
Mas adiante, que quero é falar de outra coisa.
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Aliás, eu se calhar não devia dizer o que vou dizer. Mas como sou pouco dada a actos de auto-censura e como gosto mais de fazer o que me apetece do que restringir-me ao que devo, adiante.
Não me apareceu do nada, a ideia sobre o que vou dizer. Ocorreu-me depois de ter lido um
pequeno texto do Pacheco Pereira. Nesse texto, com a devida vénia a Soares, ele explica qual a diferença fundamental deste face a António José Seguro.
E isso deu-me vontade de dizer a minha opinião. Então cá vai.
O que penso do Seguro já aqui o disse várias vezes. Para estar à frente do PS eu preferiria, de entre os que até à data já se perfilaram, o António Costa. O ar de sobrinho de tia velha do Tozé não faz o meu género.
Gosto de gente com ‘pica’, com punch, gente espontânea, com nervo. Mesmo que sejam, por vezes, politicamente incorrectos, prefiro os que me parece moverem-se por convicções, por paixão, com inabalável energia, gente que sobe montanhas, que remove escolhos, e sempre com infatigável determinação. E gente intuitiva. E que vai à luta por prazer.
Ora não é nada disto que vejo em António José Seguro. O que vejo é um tipo aplicadinho, arrumadinho, que deve pensar sempre muito bem antes de falar, que deve gostar de organizar-se para ter a casa toda muito arrumadinha, a secretária sem um papelinho a mais, os caminhos previamente desbravados. Deve odiar as surpresas, os desafios arriscados. Carisma: zero.
E depois, desde que o conheço, tem aquele ar de menino-velho, de bem comportadinho, de mosquinha morta, de pãozinho sem sal.
E aquela pose de estadista tira-me do sério, como se, antes de o ser, já fosse um honorável senador.
Posso estar a ser injusta. Mas é que eu própria sou uma intuitiva. A minha impressão chega lá antes do meu raciocínio. Não tenho paciência para me pôr a estudar os seus registos biográficos, o que escreveu, o que disse: sei que deve ter sido tudo muito coerente, tudo sem uma gaffe. Mas a questão é que não é com isso que se fazem os verdadeiros líderes.
E depois, para além disto, há ainda os pormenores. E eu sei que pormenores são pormenores e eu até me chateio quando as pessoas se prendem com irrelevâncias, não prestando atenção ao todo. Mas também sei que o diabo está nos pormenores…
E um pormenor que me causa enjoo é vê-lo a chegar aos locais num bruto carro e ele sentado no banco de trás e haver ali uma corte à sua volta como se fosse a rainha de Inglaterra a deslocar-se e ele muito cheio de pressa, muito jet set, muitos sorrisinhos para a comunicação social, e sempre de boquinha fechada, sempre muito apertadinho.
Não sei. Não gosto. Mais: embirro...!
São pormenores, sei que são. Mas preferia vê-lo num carro mais utilitário, com menos ar de estadão. Não é pela diferença de valor que isso deve ser irrelevante mas é pelo ar. Acha-se importante e a mim irritam-me os tipos que se acham importantes, o que é que eu hei-de fazer…?
E agora ali anda a fazer a ronda dos partidos a querer arranjar consensos ou lá o que é - e até acho que é normal e saudável que os partidos falem uns com os outros, e, muito em especial, numa altura destas, tudo certo - mas é o aparato, uma vez mais a comunicação social atrás a filmar o acontecimento, e tanta pose, tanta cagança, tanta encenação, a armar-se em primeiro-ministro, rodeado de acólitos. Parece que não se enxerga, credo.
Não tenho pachorra, senhores, não tenho mesmo. A coisa podia fazer-se discretamente, com sentido de dever, com empenhamento, sem aquele cortejo todo. Aquela mise-en-scène dá-me nervos, o que é que eu hei-de fazer?.
Agora lá vai, pela mão do Balsemão, ele mais o Portas, para o Bilderberg. Já em tempos
escrevi aqui sobre isto. Esta escolha diz tudo: estão escolhidos os senhores que se seguem.
Nada que não se saiba. Faz um bocado de impressão constatar como é que estas coisas se passam, estes contactos, estas influências, mas, enfim, as coisas são o que são. Ou melhor, as coisas passam-se a um nível tal, que goste a gente ou não goste, elas se movem na penumbra e manipulam, fazem e desfazem. Não têm rosto. Nem moral.
Por isso, tirando o lado mais substantivo da questão, o que me incomodou mesmo, senhores, foi o arzinho de virgem imaculada do Tozé, de santinha do pau oco, quando lhe perguntaram o que achava do convite. Via-se que não lhe cabia um feijãozinho no rabo mas, todo apertadinho, a armar-se em superior, a fingir uma displicência que notoriamente não tem.
Mãezinha… que falta de paciência que tenho para estes parvónios.
Tempos como os que vivemos pedem líderes a sério, gente capaz de dar um murro na mesa, de ter uma visão e um instinto verdadeiramente disruptivos. Gente capaz de correr riscos, de dar o peito às balas.
Pacheco Pereira tem razão: Mário Soares, concorde-se ou não, goste-se ou não, é assim, chega-se à frente, expõe-se, separa as águas. Ele pressente as coisas, ele quer genuinamente derrubar o que está podre, não se importa de ir em frente mesmo não sabendo onde vai dar porque confia que, andando, com a sua vontade e intuição, acabará por desenhar o seu próprio caminho.
Mário Soares é um leão que ruge e, ao fazê-lo, enche o país com o seu rugido. Tem querer, tem raça. Tem-nos no sítio.
Agora este betinho do Seguro, senhores, tudo muito by the book, muito certinho…
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Mas, enfim, agora que já despejei o saco, tenho que dizer: seja como for, entre o Tozé copinho de leite e o incompetente e perigoso Passos Coelho, não há dúvida: antes o Tozé. Que disso não restem dúvidas. O Tozé pode não ser rapaz para grandes rasgos, provavelmente outro Hollande, mas não fará a destruição, não fará a maldade, a ignomínia de destruir o país (esperemos é que as coisas não lhe cheguem às mãos já irreversivelmente destruídas).
A política, no actual regime, resume-se, essencialmente, a fazer a melhor escolha possível entre o que nos é dado escolher.
Sócrates não era extraordinário? Pois, se calhar extraordinário não seria. Mas, há dois anos atrás, a alternativa era melhor? Passos Coelho com o seu amigo Relvas eram melhores que Sócrates? Cruzes! Não! Estes são infinitamente piores. Por isso, a decisão de deitar abaixo o Sócrates para lá pôr o Passos e o Borges e outros que tais não foi uma decisão inteligente. O resultado está à vista.
O Seguro não é, nem de longe, alguém que eu, em escolha livre, escolheria? Ah pois não. Mas entre ele e o Passos+Portas+Borges+Gaspar+etc também não há dúvidas. Fecho os olhos e engulo o Seguro. Paciência. Melhores dias virão.
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Obtive as imagens manipuladas no blogue We Have Kaos in the Garden.
Que fonte de imagens engraçadas - que inspiração a do autor deste blogue!
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Bom. Para
sexo, mentiras e vídeo, já sabem, é descerem até ao post seguinte. Isto se não forem primos do Tozé. Se forem apertadinhos como ele, é melhor não irem. Eu aviso... e uma vez mais explico porquê: nunca se sabe se o lombinha não está a ler o UJM (eu acho que está e, se quiserem, eu explico porque é que acho) e não quero que ele volte a ir ao engano a algum lugar que não seja da sua afeição.
Adiante.
Convido-vos ainda a irem até ao meu
Ginjal e Lisboa. Hoje por lá, para além de um poema
caliente de Camões e de uma despudorada contradança minha, há ainda um saboroso poema sobre Lisboa que uma Leitora me enviou e com o qual constituí um post autónomo. A música hoje, embora seja ainda Luciano Berio, parece-me mais atilada.
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E, por hoje, é isto. Tenham, meus caros Leitores, uma bela quinta feira.
Nada de desistir. Nunca. Força.
Para a frente é que é caminho.