No post abaixo fiz a minha análise a quente dos resultados dos 5 municípios mais dramáticos para o PSD, Lisboa, Porto, Gaia, Sintra, Oeiras.
Mas, agora, aqui, vamos lá a fazer um balanço geral deste dia de eleições. Não sou pessoa especialmente atenta nem disciplinada e, além do mais, aqui em casa o zapping é coisa que se pratica com muita insistência pelo que dificilmente se consegue ver alguma coisa de seguida.
Portanto, não garanto que o que vou dizer seja uma análise muito rigorosa. Mas acho que isso não deve ser grave já que quem quiser ler análises rigorosas e isentas poderá ler as que são feitas por gente instruída e isenta como o esperto Henrique Raposo, o estratega Henrique Monteiro e outros da mesma envergadura intelectual.
Ora bem, vou tentar guiar-me pelos discursos dos líderes partidários para ver se me mantenho fiel às palavras deles.
CDU
Jerónimo, o velho lobo, e Bernardino, o novo presidente da Câmara de Loures - a fabilidade e a honestidade na política |
Jerónimo de Sousa foi o mesmo de sempre: um homem honesto que aponta erros da governação, que defende a consistência da posição comunista, que promete acção na luta (ou luta na acção - não sei se a ordem dos factores aqui é relevante).
Nas palavras dos comunistas jamais se vê uma palavra nova, um rasgão na realidade que abra caminhos diferentes. São o que são, conservadores e consistentes. Na gestão autárquica são geralmente honestos e a população retribui essa correcção.
Fico contente com os resultados francamente bons da CDU. É gente que se esforça e que merece.
Fico especialmente contente com a vitória de Bernardino Soares. É um grande município, complexo, e tenho a melhor das opiniões do novo presidente de Loures.
Fico também contente porque uma pessoa de quem sou aparentada (acho que se diz assim da família por afinidade) ganhou a presidência de um município. Não é vida fácil a dos Presidentes de Câmaras e, por tudo, a essa pessoa desejo toda a sorte do mundo.
Bloco de Esquerda
À hora a que escrevo ainda não sei se João Semedo foi eleito para vereador de Lisboa. O que sei é que o BE perdeu Salvaterra e que, no conjunto, foi varrido do mapa autárquico.
Ouvi-o há pouco. Queixou-se das televisões. As televisões não são flores que se cheirem, fazem fretes, colocam e descolocam pessoas no poder. Se o BE teve de início uma excelente imprensa, talvez agora haja alguma indiferença. Não sei. No outro dia, o Marcelo Rebelo de Sousa referiu-se a eles como 'aquela dupla encantadora' e senti nele a ternura que se dedica aos irrelevantes da política. E eu senti o mesmo. João Semedo é um querido, simpático, certeiro no que diz, a Catarina é rija, fala bem, é, ao mesmo tempo, sintéctica e analítica mas, para além da bizarria de ser uma dupla a comandar um partido, poucos mais há que eles. É um partido que, paulatinamente, vai tendendo para zero.
Na comunicação ao país no rescaldo das eleições e sem saber o seu futuro, João Semedo falou, pois, da derrota dos partidos do Governo e queixou-se das televisões. Acho que ninguém se comoveu. Com a perda de Miguel Portas, com a saída de Francisco Louçã, agora com o afastamento da Ana Drago (e, tempos antes, da Joana Amaral Dias), o BE foi perdendo o glamour, o cosmopolitismo irreverente, a novidade da esquerda caviar, das meninas bonitas de esquerda. Pouco fica. Até porque, no que se refere a homens bonitos, já no outro dia aqui o disse: agora não há como o PCP.
CDS
Paulo Portas, a arte de passar através dos pingos da chuva Anda na política, à chuva, e tem a arte de conseguir não se molhar (mas são sempre de Pirro as suas pequenas vitórias) |
Pois. Lá apareceu o Paulo Portas todo contente, agora fecha os olhos com delongas para mostrar como está agradado, e faz gracinhas como a da mão de dedos abertos para dizer que o CDS teve o seu penta com as suas 5 câmaras. Teria razão para estar contentinho (mas não razão para estar tão contentezão).
Com cinco câmaras não se pode dizer que tenha alguma influência a nível autárquico. Mas, enfim, artista como é, faz de conta que não tem nada a ver com as derrotas que sofreu nos locais em que estava em coligação, e canta de galo com 5 câmaras. Mas que fique contente. Tinha só 1, agora tem 5, pronto, nesta politicazinha liliputiana as coisinhas pequenas parecem grandes. Não quero com isto desmerecer as câmaras que passaram para o CDS. Aliás, ainda no outro dia me contaram que Ponte de Lima está um miminho. Tudo certo. Não se percebe é aquela alegria esfusiante.
Que mais posso dizer? Nada. Paulo Portas não consegue ser contido, não consegue parar para pensar. Aquele impulso que, pelos vistos, não consegue travar leva-o a não ver as coisas em perspectiva. Neste caso não vê que se ridiculariza por, no meio dos resultados da noite eleitoral, aparecer deslumbrado e radiante como se tivesse ganho não 5 mas, sim, 500 das 300 câmaras.
PSD
Pedro Passos Coelho, um sujeito mal preparado, mal formado e, ainda por cima, mal encarado O País está farto dele. |
Dá dó. Arrasado nos municípios mais relevantes do País, o PSD sofreu um vexame, uma humilhante derrota. Ao escolher figuras como as que escolheu e com o país aborrecido com as suas políticas, o PSD mostrou não perceber a raça de que os portugueses são feitos. Digo isto e a mim própria me apetece rebater (e isto porque os portugueses, se fossem mesmo de uma raça vigorosa, não tinham era dado nem um único voto a gente como o Abreu Amorim, o Seara, o Menezes, o Moita Flores, o Pedro Pinto).
Mas, enfim, as coisas são o que são.
No entanto, a desgraça não foi apenas nestas 5 câmaras: o PSD foi varrido de muitas outras. Ou seja, há muito presidente, vereador, assessor e amigos que vão ao ar. Ora o PSD é o partido por excelência do país profundo, do caciquismo, das influências. Ao apear tanta gente por esse país fora, o PSD vai ficar em rebuliço. Cheira-me que estas vão ser noites de facas longas. O PSD vai começar a perceber o que os espera quando as eleições forem as legislativas e não acredito que as concelhias e as distritais se deixem ficar sossegadas. Não se vão deixar.
E depois há a Madeira. Foi patético ver o Alberto João. Vencido. Ainda a ensaiar uns rugidos mas já sem força para isso. As pessoas deveriam saber sair a tempo. Ao não sair, é outro vexame. Um reduto do PSD, até esse, a ruir a olhos vistos.
Mas depois houve o discurso de Passos Coelho. Infeliz. Seco, amargo, distante: uma pessoa que se afastou da realidade. Chegou ali e com aquela sua voz bem colocada que tende a enganar às primeiras impressões (parece que as pessoas gostam de ser enganadas por quem lhes fala com voz de barítono) reconheceu que o PSD saíu derrotado, que o PS ganhou e que, pela parte que lhe toca, o que pode prometer é que vai continuar a fazer o que tem feito até aqui. O Cacos Coelho é daqueles malucos que faz tudo mal feito, que chefia um governo que faz tudo mal feito, que chefia um partido que anda desgovernado, às aranhas, perdidos, cada um para seu lado - e que não percebe coisa nenhuma. Faz uma e outra vez o mesmo disparate e a única coisa que conclui é que deve continuar a fazê-lo. Nada a fazer com uma criatura assim. Um desastre.
Ou melhor: tudo a fazer. Retirá-lo de onde está.
Ou melhor: tudo a fazer. Retirá-lo de onde está.
[Vejam por favor as semelhanças:
o PSD de Passos Coelho & Marco António Costa e os malucos do Monty Phyton]
PS
António Costa teve uma vitória fantástica. António Costa é um político de mão cheia. António Costa escolheu, desta vez, para seu número dois um outro homem muito bom, Fernando Medina. A Câmara de Lisboa estaria muito bem nas mãos de Fernando Medina. O Partido Socialista estaria muito melhor nas mãos de António Costa do que nas mãos do Tozé Seguro. Portugal estaria muito melhor nas mãos de um Partido Socialista que estivesse nas mãos de António Costa do que em quaisquer outras (remetendo-me apenas às figuras conhecidas que se perfilam).
O discurso de vitória de António Costa foi de festa. Rodeado por rostos conhecidos, sorrisos abertos, palmas, alegria, rostos de gente ganhadora. António Costa apresentou-se - e muito justamente - vitorioso.
A seguir apareceu o Tozé Seguro. Uma sala pífia, meia dúzia de gatos pingados. O Zorrinho estava com cara de quem foi arrancado da cama à pressa para ir para ali fazer número: olheirento, mal penteado, ar de quem nem conseguiria dizer uma palavra quanto mais bater palmas. Depois mais uns quantos com ar igualmente ensonado. No meio de um palco vazio, o Tozé parecia pequenino, apagado. Com um ar tristinho que dava pena, disse que tinha ganho e que é alternativa. Mas o fácies não consegue convencer-nos: as sobrancelhas descaídas, o cabelo encrespado a precisar de um bom corte, a ler um discursos em voz monocórdica, todo ele apagado, ar de vencido.
Sendo a pessoa que mais razão tinha para estar em festa, o bom do Tozé apareceu-nos com cara de perdedor. Nada a fazer. Não consegue mobilizar-se a ele próprio, quanto mais o partido, e, quanto mais, o País. Conseguiu uma bela vitória - mas não por mérito dele; antes por absoluto demérito dos outros nabos.
Mas, enfim, o PS ganhou: a contabilidade dos votos, dos vereadores, dos presidentes assim o determina. Tomara que façam por merecer esta vitória e tomara que ganhem ânimo para lutarem como leões e não como cãezinhos amestrados.
Abstenção, nulos e brancos
Lamento mas não tenho dados que me permitam opinar. Deve ter sido uma percentagem alta e não me admiro. Pela amostra que tive oportunidade de conhecer, deduzo que grande parte das listas deve ter sido de uma indigência constrangedora e, para além do mais, as pessoas estão fartas de tanto troca-tintas, tanta arrivista, tanta nulidade no poder. Mas como não sei números, fico-me por aqui.
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Sobre as reacções das 5 estrelas-perdedoras do PSD (Seara, Menezes, Moita Flores, Pedro Pinto e Abreu Amorim), por favor, desçam um pouco mais, até ao post seguinte.
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E por aqui me fico. Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma boa semana.