Não sei há quantos anos terá sido. Dez? Dez não, devem ter sido mais. Vinte? Se calhar. Ou quinze. Não faço ideia.
Poderia ir informar-me mas, quando aqui aterro, a esta hora e depois de um dia como o de hoje, já estou mais para deixar correr do que para ir à procura de respostas.
Não corria para ver o episódio e nem me lembro se dava para por a box a andar para trás. Sei que, de certeza, nunca pus, provavelmente porque nunca tal me passou pela cabeça. Mas, lá está, gostava de ver aquela parte em que ela colhia elementos do seu dia para escrever a crónica para a revista. Esse lado de reportar as insignificantes minudências do dia a dia é-me familiar e agradável. Na altura ainda não deveria ter blog pelo que provavelmente, na altura, não me ocorreu que, anos depois, também eu haveria de chegar à noite, sentar-me ao computador e desatar a escrever.
Tenho andado a ver publicidade ao regresso das amigas, agora já sem Kim Catrall, a hot girl do grupo. Ao que parece o santo dela e o de Sarah Jessica Parker não cruzavam.
Como não presto muita atenção a estas coisas, pensava que era uma sequela do filme (que não vi, apenas via a série). Afinal não.
O meu filho colocou-me também na HBO. Vi lá o extraordinário Mare of Easttown mas, de resto, tenho ideia que é mais fraco que o Netflix. Contudo, isto é opinião de fraca utilizadora pelo que não deve ser tomada à letra.
No outro dia, numa daquelas preguiças que me dão quando não consigo suportar a televisão, fui espreitar. E dei de caras com And just like that. E vi os dois episódios que estavam disponíveis.
E vi com aquele sentimento de desconforto que não é carne nem é peixe: desconforto pelo que estava a ver, desconforto também pela minha reacção -- os chamados mixed feelings.
Coloquei lá em cima o trailer mas o trailer mostra uma animação que o que vi até agora não tem.
A questão é que o tempo passa. Passou também para elas. E elas não o escondem (ou não conseguem esconder -- não sei...). São agora mulheres com outro corpo, com rugas, cabelo grisalho.
Mas, lá está, quem sou eu para falar destes aspectos? Não sei eu também, tão bem, que o tempo, ao passar, vai deixando as suas marcas? E que mal têm essas marcas? Faria sentido chegar-se a velha com carinha e corpinho de adolescente? Seria até estranho.
Mas nem é tanto a idade que agora têm: é também todo o enredo. A Charlotte tem filhas adolescentes, uma das quais armada em rebelde, a Miranda também tem um filho adolescente que leva a namorada lá para casa (e para a sua cama) e o marido, sempre tão low profile, está também mais velho e mais low profile. E a Carrie está instalada, casada com o seu Mr. Big.
E já não há aquele viço, aquela leveza, aquele espírito de brincadeira que as levava a rir mesmo quando falavam de desgostos de amor. Agora os semblantes por vezes ficam fechados e, quando se divertem, é um divertimento algo forçado, coisa de mulheres maduras que ainda wanna be fofas e leves. Falta a Samantha e a sua pimenta que incendiavam as conversas, falta a alegria.
Portanto, até ver, o que fica é como que um amargo de boca. Já basta a vida de verdade ser tantas vezes uma seca e uma xaropada do piorzinho que há. A ficção, a este nível, numa série supostamente levezinha, não tem que tentar reproduzir a realidade senão vira também um desconsolo.
Pode ser que seja um arranque envolto em desgraça -- cabelos brancos, conversa de quase-velhas, a artista principal caída numa inesperada e triste viuvez --, para depois se lançar na paródia. Mas não sei, não...
Por enquanto estou naquela de que, na volta, aqui também se aplica aquela de que não se deve voltar onde já se foi feliz e que, se calhar, mais valia termos ficado com a recordação daquele grupo divertido numa Nova Iorque vibrante, cheia de eventos e de gente animadíssima. Se isto vai virar uma série de três velhas saudosistas e chatas vou ali e já venho. Mal por mal, antes a Candice Bergen toda descadeirada, a Jane Fonda toda emperiquitada ou a Diane Keaton, essa sim, sempre uma intemporal crazy girl.
O que vale, para nosso consolo, é que isto não interessa para nada. Importante, importante é que o jeitoso Vice-almirante voltou a ser chamado -- desta vez para coordenar as detenções. Boa. Estamos safos. A coisa vai correr bem.
E o resto é conversa.
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Desejo-vos um dia feliz
E cuidado com a bicha má, Ómicron de seu nome.
Evitem espaços fechados, usem máscara... essas coisas.