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sábado, dezembro 14, 2013

Numa certa casa, se é que me entendem. E, depois disso, compras. E depois arrumações. E mails. E mais não sei o quê. (E continuo sem ter tempo para ler a LER de Dezembro e tentar perceber se o Magris é mesmo sujeito para se pôr a pintar o cabelo]




*

Esta minha semana passou sem que eu quase não tivesse dado por ela. Detesto semanas assim, em que quase não há uma pausa, são umas atrás de outras, de um lado para o outro, uma canseira.

Esta sexta feira, por exemplo, levantei-me bem cedo. Quando tenho compromissos, sou pontual como um relógio suíço. Se sou eu a conduzir as reuniões, chego à hora e começo-as, sem minutos de tolerância. Não tenho paciência para estar à espera nem tenho paciência para pessoas que não sabem gerir o seu tempo, impondo atrasos aos outros. Por isso, se tenho alguma reunião à primeira hora do dia, saio de casa com uma segurança de quase o dobro do tempo. Hoje, no entanto, era daqueles dias em que nem um minuto era admissível pelo que saí com cerca de uma hora de antecedência em relação ao tempo que o gps do carro me indicava. Não era eu a conduzir a reunião mas era alguém ainda mais rígido nos horários que eu.

Por isso, saí de casa com uma antecedência correspondente ao triplo do tempo suposto. Para não correr o risco de me atrasar, já tinha na véspera à noite escolhido a toilette. Vesti-me e despi-me nem sei quantas vezes. Parece que não atinava. Vestia-me, ia ter com o meu marido que tem uma falta de paciência para isto que nem vos digo nada, pedia-lhe para se pronunciar e ele, quase sem olhar, dizia, 'Não'. Claro que isso não me serve. 'Não? Não porquê?'. e ele 'Pára. Não tenho paciência para essas perguntas. Despacha-te. Vamos jantar'. Fico indisposta com esta má vontade. Então insisto: 'Preciso de saber o que não está bem para perceber o que hei-de vestir'. Resposta: 'Deixa-me em paz com essas parvoíces e vem jantar'.

Então lá ia eu de volta para o roupeiro, lá escolhia outra toilette e lá se repetia a cena. Até que finalmente me disse 'Pronto, está bem'. Claro que quis confirmar, 'Mas é para eu não te chatear mais ou porque assim estou mesmo bem?'. Resposta: 'Estás bem. Agora vem'.

E pronto, lá organizei as roupas para, no dia seguinte, ser só enfiar, sem hesitações. Preto em predominância mas, na blusa, um estampado largo em encarnado profundo, por cima um blusão de seda forrado e quentinho em xadrez encarnado e preto, dois colares bem compridos, um preto, outro encarnado, brincos encarnados. Assim fui eu. O dress code referia casual.

Mas, estando eu a sair de casa, toda preparada e perfumada (com Chance - Chanel, claro), tive logo o meu primeiro sobressalto: estava nevoeiro e as manhãs de nevoeiro são jeitosas para quando se está com pressa. Confirmou-se. Foi um stress, o tempo a passar e eu quase sem sair do mesmo sítio. Um acidente com quatro carros lá mais à frente entupiu o trânsito todo. Acho que isto é o que, nesta vida, verdadeiramente me enerva: ver o tempo a escoar-se e eu sem poder deixar o carro no meio da barafunda e seguir a pé, a correr, para tentar chegar a tempo e horas.

Bom. Depois de passar os carros acidentados, lá fui, enervada, a abrir tanto quanto possível e, vá lá, cheguei a tempo: uns dois minutos antes da hora (claro que já estavam os outros vinte e tal à minha espera).

Uma reunião complexa, tensa, mas, enfim, há coisas piores.

Até porque, a seguir, já eram quase 2 da  tarde, passámos para os salões onde uma grande árvore de natal brilhava num canto, um pequeno presépio dava uma graça inocente àquele espaço tão acolhedor, e velas acesas e pequenos arranjos natalícios e muitas tapeçarias, sofás enormes e confortáveis, uma grande lareira, grandes peças de louça e vidro, grandes e belas carpetes a que o tempo retirou alguma cor e alguma espessura - e tudo contribui para aquele ambiente tão aconchegante, tão caloroso.

Por ali estivemos, conversando suavemente, trincando amêndoas torradas e salgadas, coisinhas assim.

Depois passámos para a sala de jantar, enorme pé direito, paredes forradas a azulejo, grande candelabro de tecto Murano sobre a grande mesa.



O almoço foi a delícia de sempre. A cozinheira é exímia, uma simpatia, e nós não nos cansamos de a elogiar e de lhe agradecer.

Sobre a mesa com toalha de linho, serviço vista alegre, vários castiçais com as velas acesas.



Do meu lugar, e eu estava à direita do anfitrião, via a hera que cobre as paredes do pátio interior, via a vegetação verde, fresca, frondosa.

Dali não conseguia ver as largas escadaria de pedra nem os vasos com grandes fetos.

Depois de almoço voltámos ao grande salão para o café, um ou outro (cada vez menos) fumando, e deixámo-nos estar todos à conversa até que nos despedimos. Saí de lá um pouco depois de meio da tarde, bem mais cedo do que costumo sair do trabalho mas tarde demais que justificasse ainda deslocar-me até ao escritório.

Vai daí resolvi ir para um centro comercial fazer o resto das compras de natal, livros especialmente. Um calor lá dentro horrível, um carrego... Mas, enfim, já estou despachada tirando duas ou três coisitas. 

Ou seja, cheguei a casa mais estafada do que se tivesse vindo directamente do trabalho. E depois fui fazer a minha caminhada e, na volta, fomos ao supermercado buscar mantimentos para o fim de semana e comprar já bacalhau para o natal (tenho sempre medo que acabe e que eu fique pendurada, a casa cheia de gente, e eu sem bacalhau para lhes servir).

Ora, quando de tarde, regressando mais cedo do que o costume, vinha a pensar que, dada a mini-folga que me tinha auto-concedido, me iria estender a ler a LER, em especial a entrevista do Magris. Qual quê...?


Agora, há pouco, ainda tentei mas não consegui: entre telefonemas, arrumações, responder a vários mails,  etc, fez-se tarde demais para isso. 

Mas estou curiosa.

E eu bem digo que, quando gosto de ler o que uma pessoa escreve, prefiro não saber como ela é fisicamente porque, às tantas, ainda posso ficar mal impressionada.

Aqui, no caso do Claudio, nem é bem a cara, é mais o cabelo.

Um homem daquela idade não pode ter o cabelo daquela cor, praticamente sem cabelos brancos. Cá para mim o homem pinta o cabelo. Já o vi de cabelo quase preto, castanho claro, de franja, sem franja, agora está arruivado.

Senhores. Que incómodo que isto me causa. É capaz de ser pancada minha mas faz-me impressão os homens que usam capachinho, ou três cabelos a atravessar a careca, ou que pintam o cabelo. Sou preconceituosa, eu sei. Mas, caraças, como é que um homem que escreve coisas que eu gosto tanto de ler, depois tem esta mania com o cabelo?

Por isso, quero perceber como é a conversa dele, se é um palerma qualquer com a psicose do cabelo ou se é um homem simpático, interessante como a sua escrita parece deixar perceber.

De qualquer forma, passa das duas da manhã, estou cheia, cheia de sono, já devia estar a dormir há séculos para ver se ponho o sono em dia, que com semanas destas é um disparate eu persistir nestas noitadas. Não consigo sequer responder aos comentários e tanto que eu hoje queria fazê-lo, em especial à querida O.M. que esteve a ler a história da Leonor, do Afonso e do Duarte e que foi deixando as suas impressões à medida que a história ia evoluindo. A ver se amanhã consigo organizar-me para fazer o que tenho que fazer, e ler o Expresso, e ler a LER e descansar e ainda conseguir ter tempo para conversar convosco.


*

Lá em cima a canção é 'Eu Seguro', interpretada por Márcia e Samuel Úrias.



No Ginjal e Lisboa  hoje temos João Cabral de Melo Neto na voz sedutora do sedutor Chico Buarque.

*

E, por hoje, por aqui me fico. Desejo-vos, meus Caros Leitores, um belo sábado!

quinta-feira, maio 02, 2013

Penela, Espinhal, Praia da Louçainha, Rabaçal, Miranda do Corvo, Gondramaz, Ansião - as Terras de Sicó, as Aldeias de Xisto, a boa comida, a simpatia, o verde, e as nascentes, os rios, os riozinhos, as igrejas e igrejinhas. Fazer turismo é bom em Portugal.


No post abaixo falo de dois seres nos antípodas um do outro, Passos Coelho e o Papa Francisco (e até me sinto mal por estar a referir o primeiro-ministro que nos calhou em (má) sorte junto a um homem que, a cada dia que passa, melhor me impressiona): refiro-me às intervenções públicas que, neste 1º de Maio, se eu quiser usar uma linguagem que até não costuma ser a minha, revelam bem o que é um representante do Mal e que, felizmente, ainda há quem represente o Bem.

Mas isso é no post a seguir. Aqui, agora, a conversa é outra.

Tal como tinha referido há dois dias atrás, eu e o meu namorado de longa data fomos comemorar o facto de há uns quantos anos atrás termos dado o nó e, sobretudo, o facto de, tanto tempo depois, estarmos ainda juntos, cada vez mais juntos, cada vez mais unidos e românticos (nesta do romântico é melhor explicitar que falo por mim, que ele não é lá muito dado a piroseiras destas). Como já anteriormente o disse, cada vez mais gostamos de passear no nosso país. Sempre o fizemos, de norte a sul, mas parece que cada vez sentimos mais carinho por esta terra tão díspar e tão genuína.


Música, por favor: eu seguro

(faz de conta que vamos de passeio, ouvindo o rádio e esta canção, interpretada pela Márcia e pelo Samuel Úrias, é muito bonita)





Desta vez fomos passar uns diazitos às Terras de Sicó, uma terra de serras e água, muito verde, gente muito simpática, comida fantástica.

Penela, Rabaçal, Espinhal, Louçainha, Miranda do Corvo, Ansião, aldeias serranas: tudo lindo!




A religião sempre muito presente (o que ainda é mais evidente nas terras pequenas), as árvores floridas, as paisagens a perder de vista - assim é esta região. 

Quase não se vê ninguém nas aldeias e nas vilas mas, de vez em quando, alguém que passa a rua olha-nos com curiosidade. Quando isso acontece, penso sempre que não deve ser fácil viver numa terra pequena onde todos se conhecem e vigiam.

Uma outra coisa que vi muito nestas terras e que nunca tinha visto noutro local desta forma tão pública são as folhas de papel, coladas nas paredes, nas portas, até nas árvores, sobre o falecimento de pessoas ou sobre a realização de missa de 7º dia, folhas com uma cruz preta. Talvez isto signifique que as pessoas são todas muito próximas umas das outras.




Nas estradas, nos recantos, de vez em quando há pequenos oratórios. Não sei se terão um nome próprio mas, se têm, desconheço. São uns nichos, umas capelinhas pequeninas, figurinhas religiosas, velinhas acesas, flores, tudo sempre limpo e arranjado. Eu, que não sou dada a idas à missa ou manifestações públicas de religiosidade, fico tocada, gosto de parar, olhar - como se o carinho e cuidado de quem os arranja passasse para mim.




Entro em todas as capelas, igrejinhas. Ninguém, nunca. E eu sinto-me bem assim, sozinha, nestes locais tão frescos, tão recatados. Depois gosto de reparar no lado humano: os panos, as rendas nos altares estão sempre muito brancos, muito arranjados, e há sempre flores frescas e velas acesas. Que mãos cuidadosas se ocupam destes espaços. Muito bonito mesmo. Se eu fosse organizada poderia, um dia, juntar todas as fotografias que tenho feito pelo país fora (pelo país e por outros países) e fazer um roteiro de capelinhas, igrejas, catedrais, simples oratórios. 




Algumas são de grande simplicidade, outras têm aspectos peculiares e eu imagino o que as pessoas gostam das suas igrejas, provavelmente estabelecendo comparações, tendo preferências, quem sabe até rivalidades. Em Ansião, duas igrejas uma frente à outra. Na mais pequena vi algo que nunca tinha visto: o tecto pintado de um azul vibrante, imprevisto. Gostei.




São lindos os locais de culto e recolhimento. Quando há missa não gosto de entrar, aquele ambiente é-me estranho, aqueles rituais, aquele levanta e senta, ajoelha e levanta, não sei as falas, não gosto nada daquela parte em que toda a gente beija o vizinho do lado, nada daquilo me diz nada. 

Mas os momentos em que entro numa igreja vazia e olho à volta e sinto aquele silêncio fresco e sereno são muito bons.

Julgava que podia visitar o imponente Mosteiro de Santa Maria de Semide, rodeado de espaço, as montanhas azuis muito ao longe.

(Quando vi o cedro todo inclinado, não pude deixar de pensar que, num próximo vendaval, corre alguns riscos de tombar. Mas, se calhar, está bem implantado na terra e eu é que ainda estou traumatizada pelas minhas árvores que sucumbiram num dia de ventania)




Mas as portas do mosteiro estavam fechadas. Lá dentro funciona o CEARTE, escola de formação profissional, e um lar de jovens da Cáritas.

E chovia, e fazia muito vento e estava muito frio e o meu companheiro de passeio chamava-me pelo que não ousei tocar à campainha e perguntar se podia visitar.




A própria imagem religiosa parecia dizer-me adeus. Obedeci, molhada e enregelada.

Por isso, lá nos fomos embora. Dali seguimos, então, para uma das aldeias serranas que visitámos, Gondramaz, uma aldeia de xisto. É no alto, junto à estrada, que está a placa com o poema de Miguel Torga que mostrei no outro dia.

O frio que ali estava... nem vos digo nada. Continuava a chover e, se não estou em erro, estavam 4º e um vento... pelo que ainda mais enregelada fiquei. Devia estar-se bem dentro de uma daquelas belas casas, aconchegada junto a uma lareira. Não foi o caso.

Nem vivalma... com excepção para uns pedreiros que trabalhavam no restauro de uma casa.




A aldeia fica numa encosta, de frente para outras encostas, a típica aldeia de montanha, tudo em xisto. Ruas estreitinhas, íngremes, casas pequenas, todas restauradas ou em vias disso, tudo muito, muito bonito.

Não percebi se há também por ali muito sentido de humor ou se é mesmo assim, genuíno e inocente. Seja como for, uma ternura.




Claro que a loijinha do bezitante estava fechada, estava tudo fechado - como disse, só uns dois ou três pedreiros.

(Aliás, aqui como por todo o lado, não há aproveitamento turístico de nada e isso, numa perspectiva económica, é desolador. Claro que, do ponto de vista de quem aprecia a genuinidade, é do melhor que há. Mas seria desejável um compromisso - e não há porque, de todo, não existe qualquer aproveitamento turístico de tanta beleza)




Não sei se a farrusca era uma leoa pois também não vi nem ouvi qualquer cão. Muitas vezes, nas aldeias por onde andamos, não se vê ninguém mas sempre há um ou outro cão que se espanta connosco e começa a ladrar no quintal. Aqui nada, apenas silêncio e pássaros.




Gostava de ter conhecido o Manuel Escultor que, em 2010, avisou 'AO ENTRAR QUIDADO COM A CABEÇA'. Mas também não dei conta que lá estivesse.

Apesar da chuva e do vento gelado por ali andei, entre as casas, descendo pelos campos. O meu namorado é mais racional que eu, diz que já está tudo visto, que vamos embora, que já estamos molhados demais.

Eu teimo, gosto de aqui estar, não quero ir-me já embora, e continuo a deliciar-me com o que vejo. Mas, quando ele, lá em cima, me chama de novo, viro-me, olho para trás e... dou um grito, 'Ai!!! Caraças!'.

Parecia-me alguém ali, no meio do campo, a olhar especado para mim, a rir.




Um espantalho! Há quanto tempo não via eu um espantalho a sério...! Concluo que, por terras de Gondramaz, o pessoal (quando aparece), se diverte mesmo.

E ainda vi mais dois, uma graça.

Mas, depois do susto que apanhei, resolvi mesmo regressar.

No outro dia, haveria mais passeio. E houve. Mais uma bela caminhada por um caminho de montanha, um cheiro forte e bom a terra, a primavera, a liberdade.




Junto ao rio Dueça que salta juvenil e livre sobre as pedras, e perto do hotel onde ficámos, um hotel muito simpático e recente e que tomara que se aguente pois bem o merece, há animais que farão parte da quinta que estão a organizar. 




Tudo muito bonito. 

Mas não vos maço mais que isto já está longo demais, não é? E, além disso, daqui a nada são 3 da manhã. Para além do tempo de escrever, escolher fotografias entre as muitas que fiz, reduzir a sua resolução para que o blogue não fique muito pesado, não leve muito tempo a abrir, toma-me muito tempo... e, agora, já estou mesmo cheia de sono.

Só mais uma coisa: ouvi que decorre este fim de semana uma feira dedicada à promoção das Terras de Sicó, creio que, justamente, em Ansião, a terra onde o Nabão se veste de verde e se enfeita de delicadas florzinhas brancas.

Esta zona está muito bem servida de estradas, está no centro do país, e vão por mim: vale a visita. É uma região linda. Se puderem não deixem de a visitar, agora ou quando vos der jeito.

*

Recordo que, sobre a conversa 'marada' do Passos Coelho sobre os cortes e sobre a dívida e, em contraponto, a conversa humana e lúcida de Jorge Bergoglio, Papa Francisco, é descer um pouco mais, até ao post seguinte.

Convido-vos ainda a virem comigo até ao meu Ginjal onde temos um Operário em Construção ao som da Trova do vento que passa.

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Não vou rever o que acabei de escrever, já não consigo. Se derem com letras trocadas, vírgulas a mais ou menos ou outros defeitos, relevem, está bem?

Desejo-vos uma boa quinta feira. Saúde e boa disposição é o que vos desejo!