O coração de Lídia quase saltava do peito. Mesmo que lhe ocorresse tentar controlar-se não o conseguiria. Enervada, enervada. Mas, apesar disso, uma determinação inesperada batia mais forte. Não recuar, não recuar, pensava surdamente. O que fazer, como fazer, seriam perguntas a que, se as formulasse, não saberia responder. Reparou que Paulo também não estava tranquilo como habitualmente. Não conseguia abrir a porta do quarto, virava o cartão em todas as direcções e a porta não abria. Depois respirou fundo, endireitou-se, e tentou de novo. A porta abriu-se mas ele não se riu como se teria rido noutras circunstâncias.
Lídia pensou vagamente que não devia fazer sexo inseguro mas não conseguiu pensar muito mais do que isto. Não saberia como o evitar, não estava prevenida para nada. Sentia-se a tremer e já nem se lembrava da dor nos pés. Paulo disse, Se quiser, pode descalçar-se. E dê-me o casaco que eu penduro aqui no roupeiro. Lídia tremia, não disse nada, não se descalçou e quase não conseguia despir o casaco.
Paulo disse, Quer aqui vir ver a vista do quarto?
Lídia foi mas sem acção, É bonita, disse sem qualquer convicção e só pensava E agora? E agora o que faço? Que medo, que nervos.
Paulo perguntou-lhe, Quer que ligue a televisão?, mas sabia lá ela se queria, se não. Encolheu os ombros. Paulo ligou a televisão.
Depois durante um instante os seu olhares cruzaram-se mas logo o desviaram. Lídia pensou, Se não fosse a vergonha de fazer figura de parva, ia-me já embora.
O quarto era pequeno e estavam os dois de pé, notoriamente atrapalhados, desconfortáveis.
Paulo disse, O quarto é pequeno, se houvesse uns sofás, eu dizia para a gente se sentar, assim só posso oferecer a cama. Mas Lídia continuou de pé. Depois pensou, Mas que situação mais ridícula, aqui de pé, especada no meio do quarto. Paulo tinha-se sentado na cama, de lado. Permaneciam em silêncio. Depois, sentindo que não seria possível prolongar por muito tempo a situação, Lídia também se sentou mas do lado contrário. E ali ficou, de lado, a olhar para o chão. Até que, olhando num relance para Paulo, lhe deu vontade de rir. Que situação, que figura. Talvez fosse dos nervos, um escape, qualquer coisa; o certo é que nem se reconhecia na incontrolável vontade de rir. Ria, ria. Paulo também se desatou a rir e, às tantas, já riam os dois à gargalhada, Lídia chorando de riso como nunca antes lhe tinha acontecido. E, então, Paulo aproximou-se e abraçou-a e, como se nem mais nem menos, beijaram-se.
Depois Paulo baixou-se e disse, Vou tirar-lhe os sapatos, vou pôr água a correr na casa de banho, senta-se na beira da banheira e põe os pés de molho que eu a seguir dou-lhe uma massagem nos pés. Pode ser? Lídia pensou, Se me sento com os pés dentro de água, na banheira, vou ficar com as calças encharcadas e então disse, Já agora tire-me também as calças.
Paulo quase caíu para trás. Sério...!?, perguntou, duvidando do que tinha ouvido. Lídia disse, As calças são justas em baixo, não dá para as pôr para cima, se me ponho de calças na banheira, molho-os todas. Paulo riu, É o sentido prático das mulheres… Mas eu tiro-lhe as calças com todo o gosto. Baixou-se e tirou-lhe os sapatos. Lídia pensou que ia ficar ridícula sem calças e de meias pelo joelho e, por isso, disse, Tire-me também já as meias. Paulo obedeceu.
Lídia, então, levantou-se e deixou que Paulo lhe tirasse as calças. E pensou, Felizmente comprei lingerie de jeito antes de vir. Quando a viu, Paulo quase ficou fulminado. As pernas de Lídia eram bonitas e as cuecas eram inesperadas, muito cavadas, de seda muito fina, cor de pele, debruadas a renda um pouco mais escura. Paulo quase instintivamente ia tocar mas Lídia não o deixou, Não senhor, não permito tais ousadias a um massagista e, alguém de fora que a visse, não a reconheceria, decidida e maliciosa. Foram então para a casa de banho.
Lídia disse então, Não sei, parece que me estou a sentir desenquadrada, assim despida. Vou fazer uma coisa. Descalce-se também. Paulo obedeceu. As meias também. Paulo obedeceu. Depois Lídia desabotoou-lhe o botão das calças. Paulo estava quase em ponto de rebuçado. Lídia lentamente pôs-lhe as calças para baixo. Paulo nem se mexia. Na verdade, quase nem respirava. Lídia disse, Tem que ajudar, levante um pé, agora o outro. E Paulo ficou assim, também sem calças, o desejo exposto. Lídia, se parasse para pensar, não se reconheceria. Mas pensar era coisa de que ela não iria ser capaz naquele momento.
Sentaram-se, então, os dois na borda da banheira, os pés lá dentro, sentindo a água quente que corria. Que bom, que bom... E ficaram assim, por um momento, em silêncio.
Mas depois Lídia disse, Há uma coisa, Paulo.
Paulo sorriu, Sim... diga, estou preparado para tudo.
Mas Lídia atalhou, Não, não é mais nenhuma revelação. Não é isso. É que, se vai acontecer alguma coisa, acho que deveríamos ter cuidados...
Paulo abraçou-a, brincando, Oh minha senhora, esteja descansada, está tudo previsto...
Lídia ficou surpreendida, aborrecida, Mas então já veio para cá a pensar nisto...? Já estava a contar com isto?! É muito convencimento da sua parte. Ou isso não tem a ver comigo? Anda sempre prevenido para o que der e vier?
Paulo foi muito directo, Não Lídia, não ando sempre prevenido, não ando por aí à caça. Mas é verdade que admiti que, aqui, poderia acontecer qualquer coisa. Somos adultos, livres, gostamos um do outro. Não tem mal, é normal, é saudável. O sexo é uma coisa boa, faz parte da vida, não é pecado, não deve ser encarado com culpa. Eu quero, Lídia. A si não lhe apetece?
Depois abraçou-a. Lídia suspirou. Depois disse, Vou fazer uma coisa que há muito tempo ando com vontade de fazer. Desabotoou-lhe, então, a camisa e com as duas mãos sentiu a pele de Paulo, o peito peludo, o tronco, mexeu, sentiu, acariciou. Paulo estava imóvel, deixava que ela fizesse o que queria, quase em transe com as inesperadas carícias. Lídia nunca tinha experimentado uma sensação tão boa. A pele quente de Paulo, o corpo tão desejado de Paulo. Depois, olhando-o nos olhos, disse-lhe, E eu? Não tenho direito a nada…? Paulo nem percebeu. Lídia esclareceu, Quero eu dizer: não tenho direito ao mesmo tratamento? Paulo apressou-se, Claro! e, desajeitadamente, tirou-lhe a blusa. E ficou quase de boca aberta, de olhos fixos, sem pestanejar. Lídia tinha um soutien igual às cuecas, um soutien gorge, muito decotado, muito sensual. Parecia estar quase sem lingerie, não fora a renda ligeiramente mais escura que debruava as pequenas peças. Tão bonita, Lídia, tão bonita…
Lídia sentiu-se desejada e isso ainda ateou mais o desejo nela. Numa fracção de segundo passou-lhe pela cabeça o que a sua amiga Mary costumava dizer na brincadeira, que umas gotinhas de Chanel nº 5 vinham sempre a calhar. Devia ter pensado nisso. Mas, agora, paciência, logo compraria no aeroporto.
Quando saíram da casa de banho a caminho do quarto, Lídia disse, Já anoiteceu. E foi até à janela. Andando pelo quarto apenas em lingerie, sentia-se livre, sensual, sentia-se desejada. Olhou a rua.
Numa curva da rua, um andar iluminado de azul, uma festa, gente animada. Chovia. E o som suave da chuva, as luzes que iluminavam a noite, tudo, tudo convidava ao aconchego, à proximidade, ao abraço quente e bom, ao calor dos corpos que se querem.
Lídia deixou-se ficar assim, quase nua, à janela. Paulo estava quase sem reacção, tão bela e desejável a via, recortada contra a janela, impúdica, imprevisível, outra.
Depois virou-se, feminina, sedutora, e perguntou-lhe, Posso despir-me ou ainda me quer ver mais um pouco? e o sorriso era de pura malícia.
Paulo sorriu vagamente, rendido, seduzido. Não, não dispa ainda, deixe-me ver melhor. Vire-se. E Lídia virou-se, sensual, provocante. Depois, passado um pouco, disse, Agora já chega, e, então, lentamente, começou a despir uma alça, outra alça, devagar, e depois, uma perna, e depois, muito, muito lentamente, outra perna e os movimentos eram quase felinos, provocantes. E ficou nua, disponível, olhando um Paulo extasiado, e o olhar dos dois era de desejo, puro desejo. A seguir disse, e a voz era quase um sussurro, rouco e quente, Então prepare-se para eu ver como é, que de futuro faço eu. Paulo, quase tímido, obedeceu. Lídia disse, Agora deite-se, Paulo. E Paulo deitou-se.
E, então, Lídia sentou-se em cima dele e, com cuidado, com deleite, inaugurou o prazer de ser mulher.
E, então, Lídia sentou-se em cima dele e, com cuidado, com deleite, inaugurou o prazer de ser mulher.
Depois abraçaram-se, beijaram-se, felizes, saciados, e o carinho era tanto, mas tanto, que os olhos de Lídia estavam molhados mas as lágrimas eram lágrimas de felicidade e Paulo disse-lhe, Que amor tão grande que eu sinto, Lídia, há tanto tempo que eu não me sentia assim, Lídia, gosto tanto de si, tanto, tanto.
E Lídia, abraçou-o ainda mais, enlaçada nele, com vontade de partilhar a mesma pele, com vontade de lhe beijar o coração, E eu nunca antes tinha sido tão feliz, Paulo, meu amor mais querido.
E Lídia, abraçou-o ainda mais, enlaçada nele, com vontade de partilhar a mesma pele, com vontade de lhe beijar o coração, E eu nunca antes tinha sido tão feliz, Paulo, meu amor mais querido.
FIM
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Chega assim ao fim a minha história de Lídia, a mulher que era tão triste e que, aos poucos, foi aprendendo a viver.
Começa agora a história de Lídia e Paulo. Se eles fossem de verdade, desejar-lhes ia toda a sorte do mundo. Assim, desejo apenas que permaneçam algum tempo na memória de quem, aqui, os conheceu.
Começa agora a história de Lídia e Paulo. Se eles fossem de verdade, desejar-lhes ia toda a sorte do mundo. Assim, desejo apenas que permaneçam algum tempo na memória de quem, aqui, os conheceu.
Gostava muito que esta história servisse para iluminar um pouco a vida de alguém. Ou, pelo menos, o dia de alguém. Ou, pelo menos, este momento do dia de alguém.
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Relembro que, caso queiram ler a história desde o início, deverão procurar nas etiquetas aí ao lado direito, lá mais para baixo, 'Lídia, uma mulher muito triste'
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E a vocês, meus Caros Leitores, desejo que também festejem a vida e o amor e que procurem conquistar momentos que fiquem, para sempre, gravados no vosso coração.
Tenham uma bela sexta feira!