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sexta-feira, agosto 01, 2025

Na ressaca de uma ida às compras, com o corpo habituado ao descanso e ao silêncio

 

Quando estamos no campo, o tempo flui de uma outra maneira. Durmo mais, levanto-me tarde e isso não atrapalha o resto do dia porque tudo corre tranquilamente, quase como se o tempo deslizasse com todo o vagar.

Com o calor que tem estado, só se consegue estar bem dentro de água ou dentro de casa. Só ao fim do dia se consegue andar na rua. E, ao fim do dia, com a doçura do entardecer, tudo é serenidade. O tempo em tardança.

Sou eu e é ele: zen, zen, zen
Ainda hoje, no campo, à sombra, a dormir descansadamente

Portanto, com este ritmo pausado, o meu corpo parece desabituar-se da agitação, do movimento.

Aconteceu-me hoje um banho de imersão num bem animado shopping. Já no outro dia, quando um dos meninos fez anos, fomos às compras com ele (e com o mano). Mas a transição do campo para a cidade não foi como hoje, foi mais rápido e só um dos rapazes estava comprador. 

Hoje, com dois leõzinhos em vias de fazerem anos, de presente quiseram também ir às compras. Só ao fim da tarde porque antes estiveram na praia. 

Ele despachado, muito pragmático. E impaciente. No capítulo das compras, igual ao pai. Antes tinha-nos avisado qual a hora limite pois tinha que estar em casa a tempo de tomar banho e jantar para, quando começasse o jogo, queria estar a postos em frente da televisão.

Ela é outro comprimento de onda. Disponível para avaliar todas as opções, com gosto em experimentar tudo, sem pressa. Neste capítulo, igual à tia. Disse o irmão que, só por saber que ele se queria despachar para não perder pitada do jogo, já ela fazia tudo mais devagar. Ela disse que não mas não sei se, lá no fundinho, ela não se importou nada de não corresponder às pressas dela. Contudo, penso que, nela, é, sobretudo, o prazer de ir às compras e de experimentar toilettes. Compreendo-a. Não posso esconder que sou também assim. Talvez não agora, em que me forço a não ceder ao consumismo, mas, antes, o prazer que sentia em adquirir farpelas novas era grande e sempre renovado.

Portanto, gerir estas duas personalidades e motivações, foi uma coisa um pouco complexa: ele desesperado, farto, irritado, ela nas calmas, nas sete quintas. 

Entretanto, o meu marido resolveu levar o cão, mas, logicamente, ficou lá fora a passeá-lo. Não sei se imaginou que seria rápido mas, se imaginou, imaginou mal. Por isso, também desesperava, telefonando-me volta e meia a pedir-me um ponto de situação, dizendo que já não conseguia andar mais tempo às voltas. Pelo meio, ligou-me também o meu filho a querer saber onde andávamos pois daí a nada começava o jogo, e, perante o ponto de situação, disse-me que eu não estava a gerir bem as prioridades. Talvez, mas perante abordagens contrárias, até conflituantes, que poderia eu fazer?

Segundo ela, foi o irmão que ligou aos pais a queixar-se dela e a mostrar o seu desespero. Não vi mas ele não negou. 

No final, ela já estava bem abastecida, embora ainda com um item em falta, ele ainda quase sem nada.  Vi o caso mal parado. Ele já não queria nada para ele nem queria que a irmã fosse comprar o que lhe faltava. Tive que convencê-lo, iríamos a correr, tudo muito rápido. Não podia ser ficar praticamente sem presentes. Respondeu-me que logo comprava, noutra altura, e depois logo dizia quanto tinha custado. Disse-lhe que isso não tinha jeito nenhum. Uma negociação difícil. Com a promessa de que despacharíamos o assunto em poucos minutos, lá acabei por convencê-lo e lá se resolveu tudo. Mas disse que não volta a ir às compras ao mesmo tempo que a irmã. E, de facto, mais vale tratar do assunto em duas expedições distintas, uma para cada um.

Mas, enfim, entregámo-los em casa resvés campo de ourique, presumo que ainda conseguiu ver o futebol todo (não sei se teve tempo para o banho e se não teve que jantar em frente da televisão...). Os primos, em contrapartida, gentileza do tio que lhes arranjou bilhetes, viram-no ao vivo, no Algarve.

Agora o que acontece é que, desabituada de estar no meio de muita gente, desabituada de algum stress (por irrelevante que seja), desabituada de pressas, chegada a casa, quando acabei de jantar, sentei-me aqui no sofá e foi como se estivesse anestesiada: caí num sono profundo. Não imaginam. Não conseguia acordar. Ferrada, ferrada, ferrada, como se tivesse vindo de correr a maratona.

Não sei se é desábito, se é deste calor ou se é de outra coisa: no outro dia o meu marido disse-me que eu passo meses sem ver a tensão arterial. Muito instada por ele, acabei por ir ver e estava baixíssima: a máxima parece que estava em 10 e picos e a mínima nem chegava aos 5. Na volta, também é isso.

Com esta situação, como poderão imaginar, nem faço ideia do que se passa no mundo nem consigo agradecer e responder os comentários. Vou retirar-me para os meus aposentos.

segunda-feira, julho 28, 2025

Um domingo feliz

 

Festejámos, em família, o último aniversário de Julho, o terceiro. Daqui por poucos dias iniciam-se os de Agosto, mais três. Bem quero manter-me na linha, mas as tentações são sempre mais que muitas. Claro que eu poderia manter-me de boca fechada, em especial quando chega a hora dos bolos. Mas com a falta de açúcar que entra na minha dieta rotineira, quando me apanho com um doce à frente nem tento controlar-me. Pelo contrário, sobe em mim uma insana vontade de me desforrar, vontade essa que não contrario.

De cada vez que nos encontramos pasmo com o que está a acontecer-me. Estou, de dia para dia, relativamente mais pequena. Uma coisa que me deixa diminuída, digamos assim. E, contudo, fora deste contexto há quem me ache alta. Alta eu sei que não sou mas, caraças, também não sou uma anãzinha. Mas é assim que me sinto quando estou ao pé dos mais altos. E repare-se que a meio da semana almoçámos com dois dos meninos e no domingo anterior tinha estado com todos. Portanto, não passou um mês desde que os tinha visto. E, no entanto, juraria que este domingo estavam todos mais altos. Já ao fim do dia, fiz questão de me fazer fotografar entre os dois rapazes mais altos. Grandões, peludos, cabeludos, com o braço sobre os meus ombros, tenho que virar a cabeça para cima para lhes ver a cara. A impressão que me faz o ritmo a que isto se processa. 

A minha menina também já está uma mulher. No outro dia, andando em passeio, estava a apanhar banhos de sol sobre uma rocha e a fotografia que o meu filho enviou tinha sido tirada de um ângulo em que eu não via muito bem a cara. Parecia-me ela mas achei que pelo corpo não podia ser, devia ser a mãe dela. Virei o telemóvel para ver se a via de frente mas o telemóvel rodava a imagem. Só então reparei na minha nora, de pé, na água, junto à rocha. Só visto. Também já me ultrapassou. Com os seus olhos claros, toda ela grande, faz-me lembrar as jovens do norte da Europa. O mano seguinte também está mais alto, claro, quase a apanhar-me. Mas ainda não entrou naquela fase da adolescência em que, quais feijões mágicos, deitam corpo diariamente. O mais novo, ainda na primária, evidentemente ainda se mantém um menino (apesar de um espertalhão e de um reguila de primeira, o que não é de admirar face à 'escola' que tem de todos os lados - para além dos dois irmãos, pelo lado do pai tem dois primos e, pelo lado da mãe, tem mais quatro; isto já para não falar dos primos em segundo grau e dos inúmeros filhos dos amigos dos pais).

Enfim, é a vida a florescer, uma primavera radiosa.

Os telemóveis têm vida própria e o meu volta e meia, geralmente à noite, dá um toque que me parece o de uma mensagem a chegar. Vou ver e é para me dizer e mostrar que tem uma nova história. . Há dois dias era uma história de há 3 anos. Por sua alta recriação, junta fotografias, passa-as de carreirinha como um vídeo e junta-lhe uma música. Quando fui ver até estremeci. A primeira era da minha mãe, toda sorridente, jovem, bem encarada, elegante. Estávamos no Algarve. Um dos meninos já estava espigado mas o que hoje está já da altura do mais alto ainda era um menininho, bem mais pequeno, nem se compara, carinha de menino. O que eles cresceram nestes três anos nem dá para acreditar.

Fiquei a pensar que a minha mãe, naquela altura em que respirava saúde, em que andava pela praia sem se cansar, sempre na boa, em que, a caminho dos noventa, nos deixava pasmados com a sua vitalidade, mais do que certamente já tinha o mal a crescer dentro dela. Aliás, creio que foi pouco depois disso que fez um exame que alertava para a probabilidade de haver ali um problema, recomendando exames complementares, exame esse que ela escondeu de toda a gente bem como escondeu o facto de a médica lhe ter telefonado duas ou três vezes a insistir para ir fazer o exame e a informá-la do que poderia vir por aí. Mas, na altura das fotografias no Algarve, por tudo o que me recordo e pelo seu ar tranquilo e bem disposto das fotografias, tenho quase a certeza de que ela pensava que estava tudo bem. E como não, se não tinha qualquer sintoma? Sabia, isso sim, que tinha insuficiência cardíaca, mas não era nada de especial e os médicos diziam que, na idade dela, era normalíssimo. Estava medicada e eu estava descansada. Nunca a vi a tomar um único comprimido que fosse, mas, se eu lhe perguntava, dizia que já tinha tomado e que depois voltava a tomar à noite, antes de se deitar. Porque haveria eu de desconfiar? No entanto, poucos meses depois vim a descobrir que a insuficiência cardíaca se tinha agravado e que, se eu sabia que um dos comprimidos ela se recusava a tomar por achar descabido e com muitos possíveis efeitos colaterais (julgando eu que a médica estava ao corrente dessa sua decisão e a relevava), muito provavelmente também não tomava o outro que eu julgava que, para ela, era pacífico. Mas, naquela altura, ela estava tão bem que eu não tinha razão para duvidar de coisa alguma. Isto há três anos. E ela já morreu há ano e meio. Ou seja, tudo o que se passou, passou-se muito rapidamente e de uma forma muito incompreensível para mim pois a gestão que a minha mãe fez do seu quadro clínico deixava-me muito confusa. Com o que vim a descobrir aos poucos, estou em crer que o que a arrasou mais e motivou as suas decisões foi o seu pânico em tomar medicamentos e, com certeza, muito mais, em fazer quimio ou radioterapia. Preferiu fazer de conta que tomava os medicamentos e, sobretudo, preferiu fazer de conta que não sabia o mal que tinha.

Mas, enfim, não vale a pena estar a pensar nisto. Tenho que pensar que, com a idade que tinha, provavelmente não poderia mesmo fazer tratamentos agressivos e viveríamos todos na angústia de saber que não viveria muito. Assim, pensávamos que não tinha nada e ela não se viu forçada a ser tratada como uma doente terminal. E, se calhar, acreditou naquilo que em que falávamos muitas vezes: nestes casos, a idade joga a favor, as células já não se multiplicam rapidamente. Aparentemente tinha esperança de viver muitos mais anos e isso também foi bom.

Hoje os meninos lembraram-se dos belos crepes que ela fazia. O mais novo disse que nunca mais tinham comido daqueles crepes. Não sei quem disse que, sim, já tinham comido, sim. Ele esclareceu: 'Feitos pela avó não'. Apeteceu-me comentar que ficava contente por se lembrarem dela. Mas não quis parecer que estava a querer puxar ao sentimento, pensei que isso poderia deixar os miúdos constrangidos, poderiam pensar que me estavam a entristecer ao falarem nela. As coisas devem ser naturais. É bom que percebam que a vida continua, que a alegria deve viver entre nós, juntamente com as memórias que cada um guarde.

Quando chego ao fim do post, penso como hei-de resumir tudo num título. Agora vacilo. Ia escrever 'Um domingo feliz com saudades dentro' mas vou deixar ficar só o 'um domingo feliz' porque as memórias e as saudades não têm que macular a felicidade. Não maculam. Integram-na.

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E ia escrever sobre mais uns vídeos que, agora à noite, vi com declarações de várias mulheres que foram vítimas de assédio e abuso por parte do Trump, mas, vejam só, derivei para esta conversa. Acontece, não é?

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Desejo-vos uma boa semana a começar já por esta segunda-feira

quarta-feira, junho 18, 2025

Uma aventura no IKEA


No fim de semana, estávamos aqui à mesa, diz um dos meninos: 'O que eu gostava era de ir ao Ikea comer almôndegas.'. Ficámos estupefactos. Ao Ikea?! Almôndegas do Ikea?!?!?!

Toda a gente o contestou. Quem é que quer ir ao Ikea? E quem é que, ainda por cima, quer ir comer almôndegas? Dahhhh....

Mas o menino dizia que gostava mesmo de ir. Perguntei à minha filha porque é que não satisfazia o filho, se era coisa que ele queria assim tanto. Respondeu que pagava para não ir ao Ikea. E muito menos iria lá comer almôndegas.

E a conversa ficou por ali.

No dia seguinte, intrigada, perguntei à minha filha de onde conhecia ele as almôndegas do Ikea. Disse que, dantes, a sogra costumava ter em casa almôndegas congeladas e, quando apareciam os netos para almoçar, descongelava-as. Se calhar não era sempre, se calhar aconteceu algumas vezes. Mas as suficientes para o menino sentir saudades.

Acresce que está de férias e, tirando os treinos de futebol, pouco tem que fazer. Um dos primos do menino também está de férias.

Então, ocorreu-me o seguinte: 'E se fossemos buscar um e outro e fossemos com os dois  ao Ikea comer almôndegas?'

O meu marido foi categórico: não, não e não. Nem Ikea nem almôndegas. Segundo ele, um disparate sem sentido. Nem pensar em ir enfiar-se no Ikea, nem pensar ir para o restaurante do Ikea, nem pensar em almôndegas. Não e não e não. Assunto encerrado.

Fui ver o menu do restaurante e vi que há outras iguarias. Li-lhe.

E falei-lhe no prazer que daríamos ao menino que estava com saudades das almôndegas. E o primo, certamente, ficaria feliz por ir também.

Auscultei os respectivos pais. Por eles, sim. 

Mas o mano do primeiro também quis ir. E a menina, que eu pensava que estava com aulas, afinal esta terça-feira não as tinha, pelo que também estava livre e também quis ir. 

(O mais novo se calhar nem chegou a saber desta aventura... Está ainda na escola.)

Pôs-se, pois, o tema logístico. O carro só dá para cinco... 

Então fomos buscar dois, depois eu e a menina ficámos no Ikea e o meu marido e o outro menino foram buscar os primos.

Foi, pois, dia de festa. A alegria de estarem juntos num programa tão fora da caixa...

Todos contentes, com carrinhos, lá fomos buscar a comida. Comeram wraps de salmão para entrada, os rapazes comeram almôndegas, dose maxi, 12 almôndegas cada, com puré de batata, bolo, água (o mais crescido bebeu coca-cola, já se sente um rapaz crescido...). Quis que levassem salada mas disseram que não, que a alface do wrap era suficiente... Dois dos meninos levaram uma peça de fruta, os outros não quiseram. Ficaram a deitar por fora, todos contentes com o pitéu... Eu comi lombo de salmão, o meu marido e a menina comeram pernil estufado. 

Depois, surpreendentemente, na saída, entusiasmaram-se com os peluches. 

Já crescidos... mas parece que lhes deu a nostalgia dos peluches. Ela trouxe um alien, o mais crescido um pinguim que diz que é para oferecer à namorada pois estão quase a fazer 6 meses de namoro, outro trouxe um macaco e disse que era para o irmão e o menino que teve a ideia inicial das almôndegas trouxe uma bola de futebol mas ficou com pena de não ter trazido também um macaco (ficou prometido para a próxima). 

Os pais, quando viram as fotografias que lhes tirei a andarem com os peluches nem queriam acreditar. Mas eles estavam radiante. Um dos meninos disse que aquilo deveria passar a ser uma tradição, nas férias irmos todos almoçar ao Ikea (não sei se sempre almôndegas ou se a tradição admitirá variantes).

Depois um dos meninos pediu para ficar em casa dos primos, os três sozinhos em casa. Obtidas as devidas autorizações, assim foi, lá ficou. A menina ficou um pouco tristonha mas tem exames, tem que estudar, e logicamente não tinha levado os livros, tinha mesmo que ir para casa. 

Para o lanche, ainda lhes comprámos lá, ao lado do snack, umas panquecas congeladas e bolachas. Os anfitriões não queriam, que há muita comida em casa, que não, que não. Mas depois, na perspectiva das panquecas e daquelas belas bolachas, aceitaram. Disseram que poriam as panquecas no microondas e as comeriam com mel.

Soube depois que, enquanto o mais crescido estava a estudar para o exame, o menino que está de férias foi com o primo, os dois sozinhos, ao supermercado comprar nutela com o seu próprio dinheiro.

Claro que o pior foi o trânsito que depois apanhámos, uma seca das valentes. Fomos pôr a menina a casa que, imagino eu, não deveria estar com grande vontade de ir estudar... Os exames deveriam acontecer no outono ou no inverno ou no início da primavera. Agora exames no verão é um sacrifício para os jovens...

E ainda fomos comprar tinta para pintar o resto do muro e mais ácido muriático e mais uma série de coisas. Um calor dos diabos. 

Mas foi um dia muito bom. Gostei muito. E o meu marido também estava contente. Não é preciso muito para as pessoas se sentirem felizes.

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Uma boa quarta-feira

Be happy

quarta-feira, junho 11, 2025

Para mim, um 10 de Junho sem discursos -- mas, do que já vi, um grande discurso de Lídia Jorge

 

Tal como tinha dito, o meu dia começou bem cedo. Pouco passava das oito e já a casa se enchia das vozes que nos enchem de alegria -- a nós e ao cãomaisfofo que salta, rodopia, em volta deles, surpreendido e feliz. Os pais foram para fora, embarcavam bem cedo, e, neste dia feriado, ficaram cá. Nos outros dias ficam nos outros avós que vivem mais perto das escolas. 

Portanto, foi dia cheio, sempre algum a querer fazer alguma coisa, ela na cozinha a querer estar ao comando. Despachada, rápida, impaciente. Eu, que também sou rápida, vejo-me grega para acompanhar aquele ritmo. Está-lhe nos genes querer fazer tudo rapidamente e várias coisas ao mesmo tempo. 

Não apenas fez parte do almoço como fez uma limonada e um bolo que estava francamente bom. Pesquisa a receita, vai vendo os ingredientes necessários, vai buscá-los ou pede-os, ao mesmo tempo vai partindo ovos, batendo os ingredientes, comentando o que vai fazer a seguir. Um ritmo que vai lá, vai. Ao jantar, voltou a fazer a parte principal enquanto o mais novo se ocupava do acompanhamento. Uma animação, uma agitação, uma alegria.

E, de tarde, estivemos no jardim e dançámos e jogámos à estátua e rimo-nos, e, entre eles, também estiveram entretidos. Dia bom. 

Pensávamos que ia estar de trovoada e chuva mas não, para a tarde até abriu. Nada dos calores dos outros dias mas razoável.

O cãoamigo agora está com as pilhas todas carregadas, super interventivo. Mal me vê agarrada a algum deles, na beijoquice, aparece logo a interpôr-se entre nós. Mas, embora venha a rosnar baixinho, vem a dar ao rabo, encosta-se também a mim. Eu digo: 'Então, quer ver que já não posso dar beijinhos...?' e ele dá ao rabo, todo encostado. Só falta rir. O dia todo nisto.

Quando se iam embora, os meninos puseram as respectivas mochilas às costas, pegaram nas malas (como vão ficar uns dias fora da sua casa, de manhã trouxeram logo a bagagem e as coisas da escola para o resto da semana), e foram para o jardim, para o pé do portão, à nossa espera. O dog estava ao pé deles, a dar ao rabo. Pensava que também ia. Tive que refrear o seu entusiasmo e disse-lhe: 'O cão (de facto, disse o nome dele, não disse 'cão') não vai. Fica cá a tomar conta da casa, está bem?'. Pois, de imediato, o rabinho parou de abanar e, com ar infeliz, foi para o lado, sentado, meio deitado, a olhar para outra direcção. E, até sairmos, ali ficou, a olhar na direcção oposta. Conheço-o: estava decepcionado, triste. A sua capacidade de compreensão, as suas emoções e raciocínios surpreendem-me a toda a hora.

Fomos, pois, levar os meninos a casa dos outros avós. 

Quando regressámos a casa, ainda fomos tratar o problema da perna do cãobeludinho e ainda fomos dar uma voltinha boa.

Ou seja: não vi televisão o dia todo. Para dizer a verdade, nem me lembrei de tal coisa tal como nem me lembrei que era dia de cenas.

Portanto, não sei como foram os festejos oficiais, desconheço o que o Marcelo disse, desconheço quem esteve ou deixou de estar. 

Só agora, através do instagram, tive conhecimento que a Lídia Jorge fez um discurso inteligente e poderoso. Fico contente. Tenho que tentar encontrar o discurso inteiro. 

Não costumo ligar a mínima aos discursos do dia 10 mas dá ideia que este discurso teve substância, acrescentou, ficará na memória de quem o ouviu.

Tirando isso, nada mais me ocorre pois o conhecimento do que está a passar-se por aí (ruas de Los Angeles, comportamentos trogloditas contra adeptos ou contra actores de teatro ou outros sucedidos por terras de aquém e além mar) é diminuto. 

Por isso, não opino. Vou descansar.

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Como é bom de ver as imagens mostram imagens geradas pelo Sora (IA) a partir do que lhe pedi.
Não é bem o que eu queria mas não tenho capacidade para aqui ficar até 'ele' acertar.

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Dias felizes para todos

domingo, dezembro 15, 2024

O tocante e digno testemunho de uma mulher sozinha

 

Passei todo o dia num virote. 

Os meninos não dão tréguas. Em especial, ela que que é toda líder, toda voluntarista e determinada, logo que chegou anunciou que vinha tratar das decorações de Natal, dentro e fora de casa. Foi ela para a cave e foi de lá trazendo caixas e baús. 

E foi buscar o escadote e depois, claro, precisou de ajudantes.

E desencantou pais-natais de que se lembrava de, quando era pequena, ver na nossa outra casa, bonecada de que eu já nem me lembrava. 

Mas ela estava feliz pois o rever estes enfeites despertou nela uma certa nostalgia. 

E contou a toda a gente, inclusivamente por telefonema, que tinha descoberto os pais-natais da outra casa, e adorou também encontrar as bolas grandes que ultimamente não tinham saído à cena.

E agora há bolas numa árvore, fitas noutras, uma coroa natalícia num portão e um laço no outro. E há de tudo um pouco e a casa está alegre e festiva, com luzinhas que são uma graça.

E para o jantar anunciou que ia fazer cebola caramelizada para pôr por cima dos hambúrgueres e, sozinha, cortou cebola, muniu-se de ingredientes e fez o que eu não sabia que se fazia assim: com manteiga, açúcar mascavado, vinagre balsâmico. E ficou espetacular. E ajudou a rechear os hambúrgueres feitos à mão com queijo da ilha ralado. Isto com o cão a chatear e a ter que ser posto fora da cozinha.

E depois de ter tomado banho, pediu para lhe secar o cabelo, coisa que faço de gosto e que sempre acorda em mim o gosto de ser cabeleireira.

Os rapazes estiveram mais sossegados, a guardarem-se para atacar à hora das refeições.

Agora já dormem pois amanhã dois deles têm programa bem cedo. E ao almoço já cá estão de volta, desta vez também com os pais. 

E se agora conto isto é porque esta é a minha realidade, diametralmente oposta à de Jenny Jackson. 

Esta mulher já apareceu noutros vídeos desta série e sempre me espanto com a sua franqueza, com a sua incrível humildade e, ao mesmo tempo, orgulho e dignidade. Vive sozinha. Habitou-se a viver sozinha. Gosta de viver assim. Sente-se independente. Mas, ao ficar com muitas dores nas costas, agora que a idade já avançou um pouco mais, sentiu que precisava de ajuda. A forma como ela fala disso, tão sincera, tão espontânea, é tocante.

O vídeo é, em minha opinião um testemunho fantástico, e talvez nos ajude a perceber como podemos ajudar os que estão sozinhos e têm receio de perder a sua independência (ou a sua dignidade) caso peçam ajuda.

Está legendado de origem em português pelo que se vê (e ouve) lindamente.

I OWE you my LIFE

There comes a moment in every life when the weight we carry feels too great to bear alone. In these moments, a choice appears: to keep struggling in silence or to open ourselves to the strength and kindness of others.

This story is about that choice — a journey of discovering the beauty in being vulnerable, and in finding that this simple act can transform not just ourselves but those who stand ready to help.

It’s not easy to let go of the walls we build to protect our independence, but when we do, something remarkable happens. Bonds, delicate yet enduring, can be forged; a quiet, gentle exchange of giving and receiving becomes a shared act of humanity, binding us ever closer to one another and reminding us that we are not alone.

Featuring Jenny Jackson.

Filmed in Hermanus, South Africa.


This is the fifth film that we have made together with Jenny.  If you've missed the others, you can see them here:

domingo, março 10, 2024

Dia de não-reflexão... Antes, dia de sentimentos profundos

 

Dia efectivamente mais calmo. E muito bom. Almoçámos juntos num restaurante familiar, muito agradável, com comidinha boa. Comi um prato de que gosto imenso e que já não papava há que tempos: pescadinhas fritas de rabo na boca com arroz de tomate. Que bem me soube. 

Depois fizemos um pequeno passeio a pé que teve que ser encurtado pois desatou  a chover e... imagine-se: tínhamo-nos todos esquecido dos chapéus de chuva no restaurante. Portanto, voltámos lá e seguimos para casa do meu filho.

Os rapazes jogaram futebol na PlayStation e depois futebol a sério no corredor com uma bola mole (sendo que, aqui, já não foram só os rapazes pequenos que se digladiaram com o esférico como pretexto). Entretanto, a minha filha tinha ido comprar cenas com a sobrinha que, quando chegou, vinha radiante: um gloss com sabor a cereja, um gloss que refresca e faz efeito de plump up (ou lá como se chama) nos lábios e, ainda, um rímel transparente. 

E ainda houve lanche: a minha filha tinha levado uns biscoitos e a minha nora fez um delicioso bolo de laranja.

E, da horta, ainda trouxemos couves e brócolos que este domingo já marcharão com bacalhau com batatas. 

Portanto, uma tarde daquelas de que eu estava completamente a precisar. Cheguei a casa muito retemperada, mais leve, a cabeça mais descansada. E a caminhada feita depois, com o dog, ao frio e à chuva, só fez ainda melhor. 

Não reflecti nada a nível de eleições pois a minha decisão está tomada ab initio. Só espero é que a malta vá votar e, já agora, que vote com a cabeça e não com os pés.

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Entretanto, enquanto vejo a votação para o Festival da Canção (em que a Filomena Cautela ou está grávida ou está atrapalhada dos intestinos pois não tira a mão da barriga), vou partilhar um vídeo que vi há pouco e que me agradou bastante. Calma, tranquilidade, amor à natureza.

Feeling deeply

That’s what the world tells us. There's been a movement to watch our thoughts and feelings, making sure that we're positive at all times. We receive messages that we must shift these ‘bad’ feelings and find better ones. But when we do this, we close down and shut off parts of ourselves, suppressing the fullness of our emotions. To feel whole and be whole, we must honour all of it - good and bad.  All emotions are beautiful and create a fullness and wholeness in our experience.  

They are powerful forces that our bodies can use as fuel for action and healing. Our thoughts create reality, not the other way around. So when our reality doesn't look the way we want it to and brings up emotions that are unpleasant to us, that is the message we are being given to start building a bridge between what is and what can be. 

Taking time to be aware of our reactions, thoughts and emotions will bring us into a space of clarity and balance where we can make informed decisions guided and supported by our soul... decisions that will usher in release and healing for ourselves and all of life around us.

Featuring Phoebe Barnard (www.phoebebarnard.com)

Filmed in Mount Vernon, Washington State, USA.

The poem read at the start of this film is called 'The Peace of Wild Things' - by Wendell Berry.


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Um belo dia de domingo

Saúde. Boa sorte. Paz.

terça-feira, dezembro 26, 2023

Agradecer e abraçar

 

Afinal o dia de Natal não foi cá em casa. Eu com dores de garganta, meio engripada mas sob controlo. O meu filho, depois de bem atacado, já quase bom, embora ainda com tosse, mas a minha filha pior, a sentir-se doente, a sentir que não devia sair de casa.

Estávamos a ver as coisas mal paradas. Natal sem estarmos juntos e, em especial, sem que a criançada esteja junta não é Natal. Mas, felizmente, tudo se resolveu pelo melhor. Fomos nós ter com ela. Esteve com máscara e almoçou fora da mesa, embora perto de nós, não fosse contagiar os demais (os demais que ainda conseguem aguentar-se livres do bicho).

Eu e ela provavelmente apanhámo-lo nos hospitais por onde temos andado. Parece que está meio mundo apanhado.

De tarde, ver a minha mãe, por via das dúvidas, só meu filho e a minha nora. Encontraram-na menos queixosa, melhor encarada. Face ao estado em que a vimos, quase parece milagre que esteja a recuperar tão bem.

O meu marido foi para o parque com os rapazes. Não passam sem uma futebolada. Até o mais pequeno já gosta de se pôr à baliza. Se daqui por uns anos derem conta de dois irmãos mais dois irmãos, primos uns dos outros, todos guarda-redes, provavelmente dois pelo Sporting e dois pelo Benfica, já sabem que serão os meus quatro queridos rapazes.

Desta vez, despassarada e atordoada como tenho andada, incapaz de atinar com combinações, foi o meu filho que cozinhou as carnes. Óptimas, no ponto, saborosas e bem cozinhadas. É um chef, o meu filho. Eu limitei-me a fazer batatas raclette e molho de tomate.

Desta vez não levámos o cão maluco. Impossível num apartamento cheio de gente, com miúdos barulhentos, com o momento de agitação que sempre é o da troca de presentes, com bolas de futebol à mistura, com comida à mão de semear, com um movimento permanente. Portanto, foi mais tranquilo pois se, em cima disso, tivéssemos um cão a querer abocanhar tudo e toda a gente a zangar-se com ele, teria sido mais complicado.

Quando chegámos a casa, de noite, o bichinho, coitado, estava como sempre está nestas ocasiões: nervoso, amedrontado, com receio de vir à vontade ter connosco. Temos que lhe fazer festinhas e fazer-lhe perceber que não ficou de castigo, que não estamos zangados com ele. Quando percebe isso, fica numa alegria desmedida, salta e atira-se para o chão para lhe fazermos festas, brinca à nossa volta. Fomos fazer uma caminhada nocturna, o ar gélido, eu agasalhada e a recear piorar. E se calhar piorei mesmo. Estou para aqui cheia de frio, cheia de arrepios. Já bebi um chá quentinho e daqui a nada vou chupar outra pastilha. A ver se isto não se complica para aqui.

Entretanto, enquanto escrevo, vou vendo o que os meus amigos vão enviando sobre os seus natais, outros vão publicando piadas. E a minha filha encaminhou a fotografia de uma amiga comum, em casa, com as suas crianças. Todos muito bem vestidos, chiques, mesmo, as meninas vestidas de igual, todos sossegados, direitinhos, a fazerem pose para a fotografia. Fico sempre intrigada. Como conseguem? As nossas fotografias são o desconchavo habitual, uns sentados no chão a jogarem ao 'vírus' (se é que percebi bem), outros estendidos no sofá relax, um deles quase a fazer a cambalhota, por fim esse em tronco nu. Tinha pensado que neste dia de natal iria tentar que ficássemos na escada, todos sentados, a família toda junta. Afinal não aconteceu. A ver se no ano novo.

Não falei dos doces. Estou desconcentrada e a sentir-me meio adoentada. Gaita. Adiante. A minha filha tinha pavlova de chocolate e arroz doce e eu levei dois bolos da padaria portuguesa. E a minha nora levou mousse feita pela mãe. E bombons. E, uma coisa muito boa, um prato de belas bolachinhas, muito saborosas, feitas pela minha menina mais linda, tão querida, que gosta de também colaborar na confecção da ementa natalícia. Com tudo isto, sobraram muitos doces. Trouxe algumas bolachinhas e o que sobrou dos dois que levei, e congelei. Descongelo no ano novo.

E, com isto, a semana começa numa terça-feira. Não parece, não é? Diria que, no máximo, seria segunda-feira. Mas não senhor. Terça feira. Continuo desfasada das rotinas mas, agora que parece que a esperança numa recuperação não é ficção, a ver se consigo encaixar as idas ao hospital sem quebrar a rotina da piscina ou das leituras ou da escrita. Não sei bem como consegui-lo mas acho que terei que tentar porque senão parece que nem sou bem eu. Isto já para não falar que há não sei quanto tempo que não conseguimos ir ao campo, à nossa maravilhosa casinha in heaven. Enfim. Uma coisa de cada vez. É o que me dizem, é o que a minha filha está sempre a dizer-me: um dia de cada vez.

E pronto. O Natal já passou e daqui a nada o ano também já se foi. Mas estamos aqui e isso é o que importa. Agradecer e abraçar. E seguir em frente. É isso, não é?

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Maria Bethânia - "Agradecer e Abraçar"


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Muito obrigada pelas vossas palavras simpáticas e não levem a mal que não agradeça a cada um, está bem?

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Um dia feliz
Saúde. Força. Paz.

sábado, dezembro 23, 2023

Telefonemas, mensagens... e a vida a seguir num carril paralelo...

 

Estou muito cansada. Não foi a manhã nas compras com a minha menina linda, quase da minha altura, ligeira e apressada. Ela gosta de fazer compras e, por isso, o presente não será tanto o que compra mas o prazer de andar às compras. Decidida, objectiva, pragmática, ela já traz a lista das lojas onde quer ir. Chega, olha em volta, circula, vai direita àquilo que lhe agrada, pega no que lhe interessa e vai aos provadores. Isto se for roupa, claro. Como as medidas que levou são as dela, veste, fica-lhe bem e, sem hesitação, decide: 'Por mim, está feito'. 

Nos adereços ou nas agendinhas a mesma coisa. Depois ajudou na escolha de presente para os manos. 

Depois fomos almoçar e é também ela, sem pestanejar, que resolve o que vai comer. 

Um prazer andar às compras com ela. Sempre bem disposta, sempre conversadora, sempre com ideias.

O irmão mais novo andar às compras é coisa que não pratica. Para o do meio, se tem que ir, é uma tortura, fica furioso, impaciente. Os primos são igualmente despachados e resolutos. Nem vale a pena eu tentar sugerir alguma coisa pois a resposta é invariavelmente: 'Com todo o respeito, Tá, mas eu teria vergonha de usar isso'. 

Como a mãe do menino do meio tinha sugerido para esse filho uma camisola de malha, no outro dia aproveitei as compras com os primos para me ajudarem a escolher uma camisola à maneira. Ficaram estupefactos. Não acreditavam. Não podia ser, já ninguém usa camisolas de malha, diziam-me os dois. Por mais que eu lhes pedisse que se deixassem de preconceitos e me ajudassem a escolher, recusaram-se: 'Com todo o respeito, mas não vamos sujeitá-lo a isso. Uma camisola de malha? Vão gozar com ele.... Com todo o respeito mas já ninguém se veste assim...'. Liguei ao meu filho, passei-lhe o sobrinho mais velho, ele que ajudasse a esclarecer. Disse que esse era pelouro da mulher. Passou o telefone. Ouvi o mais velho a falar com a tia. Não estava nada confiante. Quando desligou, vencido mas não convencido, disse: 'Diz que é para ele vestir quando for almoçar a casa dos avós... Só mesmo se for para isso...'.

Lá arranjámos uma solução de compromisso. E só espero que não façam daqueles comentários junto do primo que vai receber a dita camisola....

Este ano as compras foram feitas sem grande (ou pequena) inspiração. Nem decorações natalícias ainda fizemos. Temos duas árvores estilizadas que se ligam e ficam com luzinhas e são as únicas que aqui temos.

Temos que arranjar mais qualquer coisa mas a verdade é que não nos tem sobrado tempo. 

A tarde inteira foi como as anteriores. Para agravar, um trânsito dos diabos. Depois, como é natural, muitos telefonemas, amigos de longa data a telefonar, a dar notícias. E depois quem sabe do que se passa a desejar bom natal e a querer saber da situação. E as mensagens. Várias, amigas, palavras de conforto e estima. Gosto, fico sensibilizada, aquece-me o coração. Mas estou a falar com uma pessoa e, ao mesmo tempo, várias outras chamadas a quererem entrar. Às tantas fico em stress. o meu marido enerva-se, diz que não sabe como consigo estar tantas horas ao telefone e trocar dezenas e dezenas de mensagens. Mas é natural: juntam-se os votos de boas festas aos votos de boas melhoras. 

Lá, no hospital, a minha mãe pediu para eu fazer chamadas em nome dela, a algumas amigas. Não me é fácil. Estava ao pé dela. Por isso, como é lógico, não entro em pormenores, relativizo, aligeiro. Mas há um esforço permanente para não usar nenhuma palavra a mais nem a menos, não mentir mas também não falar verdade, não desvalorizar mas não valorizar. 

Um dia, mais tarde, não sei quando, hei-de conseguir falar destes tempos tão complicados, tão difíceis. Nos primeiros dias ia-me completamente abaixo, não tinha mão em mim, não era sequer capaz de falar com os médicos, estava arrasada, incapaz de processar. A minha filha é que teve que se chegar à frente. Mas agora está constipadíssima tal como o meu filho. Ambos apanhadíssimos. Portanto, hoje fui sozinha. Não fazia sentido ir o meu marido. Não costuma ir. Se o visse, a minha mãe era capaz de estranhar e preocupar-se ainda mais. Portanto, enchi-me de coragem e fui sozinha. 

Dito assim pode parecer uma fragilidade ou cobardia excessivas da minha parte. Pode parecer e, se calhar, é. Quando eu for capaz de falar de forma explícita talvez compreendam a especificidade, o insólito e inesperado da complexa situação e o brutal impacto que está a ter em mim.

Mas começo a reagir. E, como sou extrovertida, falo sobre os assuntos e, por isso, a quem me pergunta como estão as coisas, a algumas das pessoas que sei que têm capacidade para compreender, conto e ouço o que me dizem -- tal como leio com muita atenção e carinho os comentários que aqui me deixam ou os mails que me enviam --- e, portanto, parece que o peso que me caiu em cima começa a pesar-me menos. Sinto-me mais conformada e resistente, talvez mais corajosa e, até, talvez comece a ganhar a capacidade de encarar as coisas com algum pragmatismo.

Mas a longa tarde lá e os longos telefonemas e as múltiplas mensagens deixaram-me muito exausta. 

Fomos caminhar à noite, quando chegámos. Um gelo ártico. Mas soube-me bem. Tal como me soube bem o banho quente a seguir. Temos comprado comida pois nem há horários nem disposição para culinárias. Valha-nos isso pois, a seguir aos banhos, o jantar está só à espera de ser aquecido.

E agora está a começar a dar-me o sono. 

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Um dia feliz

Saúde. Coragem. Força. Paz.

sexta-feira, setembro 15, 2023

Passarinhos (uns esvoaçantes e outros cagões), uma arvorezinha despistada, e eu sem saber como, dentro de água, me manter direita como um fuso enquanto bato pernas e braços

 



Uma amiga disse que tinha uma árvore e mostrou-a de bonita que era. Pelo nome, antevi que cheirasse muito bem. Ofereceu-se para me arranjar uma. Agradeci.

Quando a recebi, linda, não percebi a razão do nome que tinha. Pelo que dizia no vaso, o ilustre nome em latim, percebi que ela estava equivocada. Não era o que ela dizia, era outra, porventura não tão carismática mas mais mimosa, mais bonita.

Está plantada no meu jardim e já deu florzinhas desde que ali está. Tomara que vingue e se faça linda. Para sempre ficará como a ilustração de como é essa minha amiga, generosa, alegre... e um tudo-nada um bocadinho despistada.

Há bocado, ao fim da tarde, fui ver se um mini-sistema de rega estava ligado. Ao aproximar-me, levantaram-se do chão dezenas de passarinhos. Ao vê-los a elevarem-se e, depois, a voarem, pareceu um bando. Fiquei contente por estarem ali no meu jardim. Fico feliz quando vejo que os animais, sejam quais forem, gostam de estar no espaço que habito, admito que seja porque reconhecem que aqui há um respeito absoluto pela natureza.

No entanto, há um mas. Todos os dias de manhã, no terraço, debaixo do alpendre, sempre no mesmo sítio, aparece um grande cocó de pássaro.  Não percebemos onde está o pássaro quando ali vai fazer as suas necessidades. O ninho fica longe, não há onde se apoie e, digo eu, não é provável que faça cocó suspenso no ar, sempre no mesmo sítio. O meu marido fica furioso.

E, por falar em estar suspenso, creio que já referi que optei por outra modalidade de ginástica na piscina, agora em suspenso, sem pé. É mais puxado, cansa um bocado. Mas tal como tive grandes dificuldades quando comecei na outra, dificuldades ao nível da coordenação, agora estou a enfrentar outra complexidade. Ao passo que os meus colegas estão direitinhos como um fuso, na vertical, fazendo todos os exercícios sem sair do mesmo lugar, comigo é uma festa. Passeio pela piscina. Por exemplo, se o exercício for fazer movimentos de abrir e fechar as pernas, isto na vertical e sem pé, relembro, e ao mesmo tempo, com os braços abertos, fazer movimentos circulares de levantar a água, para fortalecer os músculos dos braços, faço tudo mas os movimentos que faço levam-se a deslocar-me. Por vezes vou parar à ponta da piscina. Enquanto os outros estão a fazer um exercício, estou eu a nadar para me reposicionar. Outras vezes tenho que parar para não atropelar os outros que ali estão, verticais e aprumados. Já perguntei a vários deles, incluindo ao professor, qual o truque para não andar de um lado para o outro. Não sabem dizer. Descansam-me, dizem que com o tempo vou conseguir, que é intuitivo. Ora isto é desconhecer que isto é física pura, estamos perante uma questão vectorial, de forças e impulsos. Presumo que tenha que me inclinar um pouco para trás ou para a frente ou fazer qualquer outra coisa. Mas ainda não percebi o quê.

Tirando isso, posso ainda contar que ao jogar ao disco com a minha neta, com receio de atirar para longe, atirava curto demais. 

Ela ficava sempre admirada: 'Mas o que foi isso...? Daqui a nada vou dar-te uma aula de musculação...'. E eu disse que sim, estava curiosa. Mas, afinal, esquecemo-nos. Não faz mal, fica para a próxima.

Resumindo: foi um dia bom.

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Desejo-vos um dia bom

Saúde. Alegria e simplicidade. Paz.

segunda-feira, julho 03, 2023

Um dia preenchido e feliz
(com uma peça de teatro pelo meio e uma menina muito segura em palco).

E uma casa que muda com as marés

 

Afinal o meu marido não escreveu sobre o SNS... De manhã saímos para irmos assistir à peça de teatro em que entrava a nossa linda menina. E devo dizer que tem um à vontade em palco que me deixou de boca aberta. Quer a postura corporal quer as expressões e a forma como fala, bem como a segurança nos textos deixaram-me um pouco admirada pois, ao contrário dos irmãos e dos primos (e aqui refiro-me aos que são meus netos, pois, para além destes, têm mais quatro primos) que são totalmente desinibidos e onde chegam conversam logo com toda a gente, ela é mais tímida. Mas em palco está completamente à vontade. E mesmo quando tinha que dançar, dançou tão ou mais animadamente do que quando está em família.

Quando saiu tinha a família à espera. Vinha um pouco a vogar, como é natural depois da adrenalina em palco. E vinha feliz. Pois claro, com tanto aplauso e tanto carinho, não haveria de estar...? Mas vinha também transpirada, tal o calor que lá estava.

Estava muito calor cá fora e lá dentro.

Ainda assim, aproveitámos estarmos naquele sítio para darmos um pequeno passeio por ali, para conhecermos a evolução a nível urbanístico/paisagístico que foi significativa nestes últimos três anos. Mas íamos ficando assados, grelhados, fritos, cozidos, estufados, escalfados. Que calor brutal nesta Lisboa... Parece que estamos no norte de África.

Almoçámos num restaurante muito agradável onde antes do confinamento íamos muito. Foi bom voltar a comer a mesma comida, no mesmo fresco e amplo lugar, servidos pelas mesmas simpáticas pessoas que antes.

E depois também apanhámos trânsito.

E, quando chegámos, ainda fomos passear o dog que tinha ficado em casa.

Quando chegámos, ainda fui estufar carne.

E depois começou a chegar o pessoal das pilhas que duram, duram, duram... Não sei onde é que estes jovens (e alguns dos adultos...) arranjam energia para tanto exercício, tanta brincadeira. Se calhar, quando tinha a idade deles também eu a teria. Não sei. O que sei é que agora me espanto.

Para o lanche fizemos tostas e vou explicar como as fazemos, pois eles adoram-nas e pode ser que vos seja útil. Vamos com pratos cheios delas e, num ápice, desaparecem.

  • Tosto ao de leve fatias de pão, de preferência pão rústico ou de mistura (muitas fatias!)
  • Faço uma emulsão de tomate, assim: 

Num copo misturador ponho dois tomates grandes, bem maduros, cortados aos bocados, com pele. Junto uma pitada de sal, um pouco de orégãos. Com a varinha, trituro bem e depois vou juntando um fio de azeite enquanto continuo a mexer. Fica uma 'pomada' vermelha.

  • Numas tostas, com uma colher, ponho uma generosa colherada de emulsão de tomate por forma a cobrir com fartura cada fatia.
  • Por cima, 

- numas fatias, ponho queijo mozzarella fresco (desmancho as bolas com as mãos e espalho por cima do tomate), 

- noutras ponho uns bocados de queijo fresco de barrar com ervas, 

- e noutras ponho salmão fumado.

  • Hoje fizemos também um paté (que se revelou curto para a adesão que teve): 

num copo misturador pus uma lata inteira de sardinhas em conserva a que escorri parte do azeite. Juntei maionese e um pouco de vinagre balsâmico de Modena. Triturei até ficar uma papa macia. Espalhámos por fatias até onde deu.

  • No fim passo um leve fio de azeite por cima dos pratos e polvilho com orégãos.

Para acompanhamento por parte dos meninos: bongo. Alguns dos adultos, mini.

No fim comeram uma peça de fruta (pêssego, no caso) e comeram um gelado (sandwich de gelado).

E, como sempre, fiquei feliz por vê-los juntos, a conversarem, a brincarem, sempre na boa, sempre com bom apetite. Momentos abençoados.

Parte do pessoal saiu daqui para ir ainda apanhar a praia ao fim do dia e outros ficaram até à noite, tendo terminado o dia com sandes em bolo de caco de carne estufada.

Cheguei aqui ao sofá da sala por volta das dez e picos da noite. Como é bom de ver, não vi televisão nem li notícias. Mas estivemos a ver o documentário sobre o Grupo Wagner que, entretanto, com o que aconteceu há dias, está desactualizado pois termina dizendo que Putin nunca admitiu a ligação do Kremlin. Ora não apenas agora o admitiu como teceu comentários que ou são incongruentes ou ainda há muita ponta por onde puxar.

Mas, tirando isso, a essa hora, não tenho grande paciência para ouvir sobre a situação em França ou sobre as desgraças que rebentam do chão como cogumelos.

Por isso, enquanto não vou dormir (e acho que daqui a nada vou mesmo dormir porque a pestana não está a dar-me descanso), estive a ver uma casa fantástica. Durante muitos anos alimentei o sonho de um dia ter uma casa sobre as rochas, sobre o mar.

Passou-me. Agora não quereria. Com a subida das águas, ter uma casa em cima delas não é propriamente uma ideia muito segura. Mas, sobretudo, em famílias com muitas crianças e adolescentes, deve ser um pesadelo, sempre com medo que caiam à água. 

Provavelmente em Portugal, um projecto como o desta casa não seria aprovado. Tenho ideia que as nossas normas, transpostas das europeias, são mais restritivas, mais atentas à segurança. Mas, enfim, não sei.

Mas, pondo de lado essas preocupações, a casa é uma maravilha. Eu não usaria o tom rosa na decoração da forma como a dona da casa o usa mas isso é lá com ela.

Convido-vos a ver. Não está legendado mas as imagens falam por si.

The Alaska ‘Vanity House’ That Changes With the Tides | WSJ Mansion

Esta luxuosa propriedade à beira-mar no sudeste do Alasca, com piso de betão e uma cozinha rosa, custou US$ 2,07 milhões para ser construída e mobilada. A casa inclui uma parede de morango, uma cadeira flutuante que custa mais de US$ 3.000 e vista para o mar de todos as divisões.

A proprietária Kristi Linsenmayer descreve as alegrias e os desafios de construir uma casa personalizada sobre a água na zona rural de Ketchikan.


Desejo-vos uma boa semana, a começar já nesta segunda-feira
Saúde. Tranquilidade. Paz.

sábado, junho 24, 2023

Num dia de calor de ananases, qual a melhor forma de o acabar...? Qual é? Qual é?

 

Não é só o que é, e o dia foi complicado, é também o calor. Já estive para adormecer mil vezes mas lá me vou aguentando.

Aqui ao lado, num dos grupos de whatsapp, sucedem-se as mensagens. De manhã à noite. Tive que tirar as notificações pois não suportava o plim plim constante. De cada vez que espreito já há mais umas quarenta por ler. e muitas não leio.

Por um lado uma efervescência omnipresente e vários dos intervenientes a combinarem coisas a toda a hora para todos os dias, e, por outro, as minhas horas que não dão para encaixar mais e a minha cabeça que já não consegue acomodar mais. Não que não gostasse. Gostava. Mas tinham os dias que ter cinquenta horas pois, para além do que tenho que fazer, tenho carências. 

Por um lado a questão do sono. Continuo com mais sono do que me parece normal. A última vez que fui ao médico contei que tinha tido covid e que daí para cá tinha ficado apanhada pelo sono e ela disse-me que, quando isso era um dos sintomas relevantes da doença, acontecia que subsistisse por mais um três meses. No meu caso já vai em quatro meses.

Por outro lado, a minha necessidade de ter algum tempo para mim, tempo para escrever (nomeadamente estas irrelevâncias), tempo para descansar alguma coisa. 

Chegámos aqui por volta das seis e meia ou sete, não sei, depois de ter ido ao supermercado e depois de uma conversa sui generis com a minha mãe que, embora esteja mais que óptima nos seus noventa anos, se compara com quando tinha menos trinta ou quarenta e se lamenta e manifesta profunda amargura por achar que tudo lhe acontece e que já não é o que era. Consome-se a olhar para o copo meio vazio e recusa-se a olhar ou a valorizar o copo meio cheio. Para além disso, teme qualquer sintoma, por mais banal que seja, como se fosse sinal de alarme e anúncio de uma fatalidade iminente, desestabilizando-se a ela e a mim.

Antes tivemos lá meninos em casa, uns fofos, sempre uma lufada de alegria. A minha menina foi para a cozinha e foi ela que cozinhou as costeletas que ficaram mesmo boas. Claro que, pelo meio teve o mano do meio a moer-lhe a cabeça, mas isso faz parte daquela dinâmica tão típica dos manos.

Mas, voltando aqui, depois de arrumar as coisas, ainda consegui ir apanhar orégãos (e a ver se este sábado consigo apanhar mais uma braçada) e já os pus a secar em cima de um lençol em cima da mesa da casa de jantar. E já está aquele perfume fresco e limpo e, ao mesmo tempo, cálido e mediterrânico, que tanto me agrada. E que me lembra que já passou um ano desde a última vez. Tempo do caraças que corre mais do que deve.

Está um calor de ananases. Mesmo agora a esta hora, a aragem que entra vinda da noite não é fresca. E isso não ajuda.

E tudo isto para dizer que não tenho cabeça para mais que isto. Salvam-se os vídeos com que me entretive a rir sobre danças do caraças. Divertidas, malucas, ou tradicionais mas tão extraordinárias que a gente vê e tem vontade de se questionar sobre o seu sentido e acaba a rir, como eles.








domingo, fevereiro 19, 2023

Crónica de um sábado
[E como se pode estar sozinho no meio de uma multidão]
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A minha neta ligou-me, dizendo-me que podíamos ir às compras. Disse-lhe que este sábado só se fosse ao fim da tarde pois antes disso estaria com a sua bisavó. Perguntei se não seria preferível a segunda-feira. Que não, hoje ao fim do dia estava bem.

Depois de deixarmos a minha mãe em casa fomos até casa do meu filho buscá-la e lá fomos as duas para as compras. Quando chegou ao carro disse que tinha feito a lista com as lojas a que queria ir.

Contei-lhe que comecei a escrever, que quero escrever um livro. Não estranhou. Para ela tudo o que eu faça é normal. Mas perguntou: 'E pintar? Não queres voltar a pintar?'. Disse-lhe que tenho vontade mas que depois não sei o que fazer aos quadros. Respondeu-me, de imedito, que podia vendê-los no OLX. Respondi-lhe que é uma ideia e que depois ela logo me ajuda nesse processo. Disse que sim e contou um peripécia de quererem comprar um carrinho para o irmão mais novo quando há algum tempo foram a Berlim e temiam que ele se cansasse de andar o dia todo no passeio mas que um carrinho era de brincar e noutro só lá devia caber uma criança de dois anos.

E lá fomos às compras. Focada, determinada, despachada. Não perde tempo, não hesita, não vacila. 

Depois fomos ter com o avô e com o cão e, a seguir, fomos pô-la a casa de uns amigos dos pais que, entretanto, já lá estavam porque o pai é que ia cozinhar. Eu disse: 'Ai é?'. E ela: 'Sim, ou era isso ou era frango assado do Pingo Doce. Por isso o pai vai cozinhar, vai fazer carbonara'. 

Farto-me de rir com ela. Relata as coisas com ar desprendido não deixando de fora os pormenores que acrescentam graça à conversa.

Quando lá fui levá-la, uma algazarra. Pelo que ela me disse, deviam ser uns vinte. 

Entretanto a turma da minha filha está a curtir as mini férias por terras do Alentejo e fomos recebendo fotografias não apenas da paisagem como, à hora de jantar, do lauto repasto. Com o apetite que os rapazes têm só mesmo um buffet à vontade. Estou mesmo a ver o mais velho a incentivar o mais novo: 'É enfardar...'

E nós, uma vez que já passava das oito e não tinha deixado nada feito para o jantar, fomos comprar uma pizza.

E agora vou dormir pois já é uma da manhã e o dia foi preenchido até dizer chega, tendo começado bem cedo. E eu, em vez me despachar e ir cedo para a cama, não senhor. Estive a ver a final do MasterChef (a muitas milhas do de Austrália, que adoro ver) e depois a dar uma vista de olhos nas notícias. Mas não me apetece comentar nada.

Já há bocado partilhei mais um vídeo com imagens extraordinárias do encontro de um grupo de gorilas com uma pessoa. E agora partilho um daqueles vídeos que gosto de ver da Green Renaissance. Ainda não tem tradução em português, é muito recente.

Sozinho no meio de uma multidão

The world is more connected than it's ever been before.  We can communicate instantly with our friends and family who live miles apart, thanks to the power of social media. And yet... why do so many of us still feel lonely? 

Feeling lonely is a normal human experience - it is something we all go through. And it's not simply a function of being alone. You can feel lonely in a crowd. Because loneliness is a feeling of being alienated from others, not feeling understood or connected - it’s a feeling that something is missing.

But loneliness is also a message that our body sends us, letting us know that we are important, and we need to become friends with ourselves again.  When we feel isolated or alone, we can choose to have compassion for ourselves. We can recognise our emotions without judging them.  When we accept where we are at and what we are struggling against, without berating ourselves, we can then begin to change.

In order to defeat loneliness, we have to listen to its message - You are complete, nobody is needed, you are enough!

Filmed in Groot-Marico, South Africa. 

Featuring Johann Moolman (https://www.art.co.za/johannmoolman/) -- que é também o autor da peça do início deste post

 

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segunda-feira, dezembro 26, 2022

Ementa do almoço de Natal -- um post culinário com reportagem fotográfica

 



Estou aqui a ganhar coragem para desencostar a cabeça do sofá para escrever. Acordei bem, provavelmente ainda sob efeito do paracetamol da noite mas, para a tarde, o torcicolo começou a mostrar os dentes e agora está aqui a morder de uma maneira... Tenho que tomar outro mas, como também estou com sono, prefiro escrever agora e, só depois, quando for para a cama, o tomar.

Não levem a mal que não agradeça os comentários ou não responda aos mails. Vai a caminho da uma da manhã e estou um bocado incapacitada. 

O dia foi muito bom, talvez dos melhores dias de Natal. Todos bem dispostos, todos com tempo, todos a mostrando gostar de estar na conversa. A lareira estava óptima, a deitar um quentinho bom e, aos poucos, fomo-nos juntando ao redor a contar histórias e recordações, a rir, os miúdos contentes por ouvirem histórias da família.

Claro que isto foi já à noite, quando a maltinha miúda já tinha gasto parte das pilhas. Alguns dos meninos receberam jogos de cartas e jogos de palavras e, por isso, houve uma animação doida com o pessoal em volta da mesa. Depois de almoço e durante um bom bocado, os decibéis estavam delirantes, tamanho o entusiasmo. A minha filha também trouxe hastes de rena que punham na cabeça e argolas para os outros acertarem, atirando-as de longe. Uma festa.

E houve filmes, houve montagem de legos, um dos bisnetos a resolver fenómenos "inexplicáveis" do telemóvel da bisavó, a tia a fazer penteados à sobrinha e houve tudo o que de bom acontece quando todos estão disponíveis para conviver em harmonia.

E naturalmente houve troca de presentes (e até e pequena fera os recebeu e na foto está já a usufruir de um) e houve contentamento e alegria pela troca e pelo prazer não apenas em receber mas, sobretudo, em dar. 

Desta vez, durante um parte do dia, pusemos o ursinho na rua, senão seria o fim da picada com as mesas cheias de comida à pata de semear, com papéis e sacos all over. 

Claro que não está habituado e ficou infelicíssimo. Subiu para um parapeito e pôs-se ali e encher-nos de remorsos. 

A minha filha fotografou-o e aqui está, em baixo, coitadinho.

Quanto ao repasto, penso que gostaram da comida e isso é uma coisa que me enche de alegria. Abriu-se a mesa grande e teve que se trazer mais uma mesa grande lá de fora. E ter assim uma mesa enorme cheia de gente é daquelas coisas que me enche o coração. A mesa redonda ficou a servir de mesa de apoio, onde nos íamos servir. 

Vou contar o que foi o almoço. Uma vez, ao descrever o repasto alguém disse que era comida a mais. Por acaso sobrou alguma coisa que, quando saíram, à noite, levaram. Mas é preciso não esquecer que é muita gente e, felizmente, todos uns bons garfos.

De entrada, tínhamos polvo no forno, tostas e embrulhinhos folhados. De prato principal, açorda de galinha do campo. De sobremesa, uma menina fez arroz-doce, outra doce de chocolate, outra bolo de cenoura e vieram também filhoses, sonhos e bolo-rei, broas. E havia uvas, bombons e etc.

Quando estou a cozinhar é sempre num registo contra-relógio pelo que nunca me dá para fotografar. E quando a comida é disposta, logo várias vivalmas se acercam de prato na mão para se abastecerem. Por isso, de comida nada tenho para mostrar. 

Tentei fotografar algumas luzinhas para vos mostrar mas não ficaram grande coisa pois há sempre alguém a passar. Ficam aqui as possíveis.

Mas vou contar como fiz o que eu fiz:


Tostas

Usei pão, salvo erro de massa mãe que fatiei, finamente, no supermercado. Foi ao forno até as fatias secarem. Cá fora, cobrimo-las de queijo mozzarela ralado. Voltaram ao forno para o queijo derreter. Quando saíram, reguei ao de leve com um fio de azeite e polvilhei com orégãos. A seguir, cobriram-se umas com presunto serrano de cura longa e outras com salmão fumado. Por muitas que se façam voam num ápice.


Polvo no forno

De véspera (de véspera apenas porque tive que ir adiantando serviço) cozi o polvo, depois de descongelado. Segui o ensinamento do meu filho. Põe-se a água a ferver. Mergulham-se os polvos e retiram-se. Deixa-se que a água volte a ferver. Novo mergulho e cá para fora. Depois de ferver, vai de novo mas desta vez fica por cerca de 45 minutos, até que fiquem macios. No fim, juntei um pouco de sal. E ali ficou até que hoje escorri e coloquei num tabuleiro de ir ao forno. Coloquei dentes de alho (com a sua pele), folhas de louro, um pouco de alecrim e azeite. Envolvi bem. Deixei ficar um niquinho do caldo. Ficou um bocado (20 a 30 minutos, talvez) no forno. Quando estava com ar tostadinho e cheiroso, retirei, cortei aos bocadinhos, retirei o louro e os alhos e coloquei numa taça.


Embrulhinhos folhados

De véspera coloquei num tacho três cebolas grandes, dois alhos franceses fatiados, bastante salsa fresca, folhas de louro, um bocado de vinho branco. Sobrepus uma belo naco de cachaço de porco no qual dei uns golpes fundos para melhor cozinhar. Cobri com outra grande cebola, sal, azeite, um pouco de alecrim. Depois de levantar fervura, baixei e ficou a cozinhar lentamente até a cebola e o alho francês estarem desfeitos, a carne muito macia e o caldo bastante reduzido. Depois de desligado, com um garfo andei à volta para a carne ficar desfiada. Ficou no frigorífico. Fiz de véspera também para adiantar e para que não estivesse quente quando usasse como recheio.

De manhã, usei massa folhada fresca que comprei no supermercado. Cortei cada uma em bocados e, em cada bocado, com uma colher colocava o estufado que estava quase com uma papa. Fechei bem para cada embrulhinho ficar selado. Alguns ficaram como bolinhas, outros mais irregulares. Entretanto, numa taça juntei umas colheradas de mel, azeite e gemas de ovos. Bati para ficar um espécie de polme caldoso. Num prato coloquei sementes de sésamo. Então, envolvi cada embrulhinho naquele 'polme' dourado e depois passei pelas sementes. Na grelha do forno, que estava quente, coloquei papel vegetal e acomodei o melhor que consegui uns quarenta e tal embrulhinhos. Ficaram até estrem bem dourados. Por acaso, uns quantos ficaram um pouco tostados de mais. Tem que se estar de olho e foi na fase dos presentes, distraí-me por uns minutos.

Aprovados. Numa tigela tinha polme de maçã que penso que fazia uma boa combinação com os folhadinhos.


Açorda de galinha

Encomendei duas galinhas do campo. Não sabia bem o tamanho. Acontece que, no conjunto, tinham sete quilos e tal e, por isso, acabei por não as usar na íntegra. Mas quase.

Mal me levantei, o meu marido tirou da última prateleira da despensa, o maior tacho que temos. Coisa tipo quartel. Uma vez mais, cebolas grandes, umas quatro. Um alho francês. Umas três ou quatro cenouras grandes às rodelas. Um belo bocado de salsa. Galinhas, aos bocados, lavadas e lá para dentro com água que deitei já a ferver, água abundante, quase até acima. Um pouco de sal. Depois de levantar fervura (mais de meia hora para isso, imagine-se), baixei. Ficou ali cerca de duas horas. Ao fim desse tempo, quando a carne já mostrava despegar-se do osso, juntei um bocado de chouriço aos bocadinhos, uma farinheira (poucos enchidos pois eram mais para temperar do que para serem ingrediente principal), ovos, um por pessoa mais dois de bónus, para escalfar no caldo. Já perto do fim, juntei uns cotovelinhos (massa) e deixei que cozessem. No fim, escorri um frasco de grão de bico cozido e juntei. Juntei um molho de hortelã fresca e mexi bem para perfumar o caldo.

Entretanto, num tigela juntei azeite e coentros finamente picados. Numa outra, o mesmo mas com um bom dente de alho picado (isto porque alguns não gostam de alho). Mexi bem cada uma. Cobri o fundo de dois tabuleiros grandes e fundos com fatias de pão alentejano. Cobri-as com o azeite com coentros (um tabuleiro sem alho e o outro com). Por cima do pão, colocámos (o plural é porque esta fase já foi a duas mãos, com o meu filho) os pedaços de carne, os ovos, as massinhas, o grão, a cenoura, os bocadinhos de chouriço, rodelinhas de farinheira e, por fim, regámos com o caldo.

Devo dizer que ficou boa e creio que o grande mérito tem a ver com a qualidade da carne de galinha do campo. Nada a ver, nada, nada, nada com as galinhas de aviário. De tal forma que a minha filha, estava a comer e até achava que seria outra carne. Uma carne escura, compacta, muito saborosa.

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E foi isto. Comeu-se, conviveu-se, curtiu-se e, bem vistas as coisas, aviou-se mais um Natal. Daqui a nada estaremos no próximo, ouçam o que vos digo.

E eu agora vou tomar o desejado paracetamol a ver se tenho posição na cama pois preciso meeesmo de dormir.

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Desejo-vos uma boa segunda-feira

Saúde. Boa disposição. Paz.