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terça-feira, outubro 02, 2018

Entrevista de António Costa na TVI com a Judite Sousa e o Sérgio Figueiredo.
Os comentários que se impõem.


Sobre a entrevista que acabei de ver, primeiro na TVI e depois na TVI 24, tenho algumas coisas a dizer:


1 - O António Costa continua com má dicção e com roupa que parece sempre uns números abaixo. Apesar de tudo, notei que tentou não deglutir mais do que uma sílaba de cada vez e notei que desta vez era apenas um número abaixo (na fotografia acima até parece bem). Modestos mas, apesar de tudo, alguns progressos.


2 - O Sérgio Figueiredo está bronzeado de uma maneira tal que fiquei na dúvida sobre qual dos dois ali era o verdadeiro chamuça* (e isto, claro, carinhosamente dito até porque me pelo (do verbo pelar) por chamuças, especialmente quando quentinhas; e, com isto, que ninguém pense que estou com vontade de dar uma trinca em qualquer dos dois cavalheiros; não estou, especialmente porque duvido que sejam estaladiços)

[* Usei a metáfora das chamuças para as virgens ofendidas não me acusarem de racista caso tivesse dito monhé -- que isto uma pessoa já nem sabe como falar para não ofender ninguém. Na volta, mais valia ter dito 'marron glacé' que a corzinha estava lá mas sem o picante que condimenta a conversa]


3 - A Judite estava com um penteado e uma maquilhagem que, de cada vez que se punha a rir para o Costa, aqueles sorrisinhos cheios de subentendidos, só me fazia lembrar uma pomba lesa. Cabeleira loura de tipo oxigenado com ondulação tombando sobre os ombros e sobre a testa, maquilhagem acentuada. Uma cena... 


4 - Digna de registo também a toilette da dita loura. Com sapato de baile, perna ao léu, toda ela parecia uma madame nem eu digo de quê. Ou isso ou uma cantora pimba já na fase vintage. Ou mulher de futebolista, igualmente vintage. Aquela ali não atina com o visual. Ora vai de Dartacão, ora de Carochinha, ora de Majorette, ora de Gótica. Não sei se aquilo é obra dela ou se o que ali vemos não passa, afinal, de uma instalação da mediática Joana Vasconcelos, quiçá numa de produzir a entrevistadora mais kitsch das televisões de todo mundo, conseguindo mesmo superar a carismática senhora do robe cor-de-rosa da Coreia do Norte.

5 - Tirando isso, retive a observação do Costa a propósito da magna questão do possível apoio a Marcelo, caso ele se recandide. Depois de se esquivar, dando uma resposta de circunstância sobre os hábitos do PS, a Judite tentou a sorte de perto, apelando ao bom entendimento entre ambos -- e vai o Costa, macaco de rabo pelado, saíu-se com uma muito boa: que não é por as pessoas se darem bem que forçosamente votam umas nas outras; que ele, por exemplo, não dá por adquirido que o Marcelo vá votar nele nas próximas eleições. 

6 - Para finalizar: ou foi distração minha ou não vi um único pavão a espreitar à janela. Será que os pavões não se pavoneiam à noite? Ou será que receou ficar ofuscado pelo brilho da outra ave, a dita pomba lesa?

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E é isto. Nada mais tenho a dizer até porque, para dizer a verdade, só vi um bocado da entrevista. Só espero é que, um dia, algum maluco me contrate para comentadeira televisiva. Quando os outros começassem a dizer coisas inteligentes, eu só me saía com observações deste calibre. Mas ditas com ar superior. Uma pose, por exemplo, à Raquel Varela, misto de bué inteligente e de castigadora. Ou isso ou um ar sofredor de quem vislumbra borrasca no horizonte, como a Helena Garrido. Ou seja, ar de comentadora a sério mas só a dizer parvoíces. Oh pá, adorava.

sexta-feira, outubro 21, 2016

Sérgio Figueiredo entrevista António Costa (juntamente com José Alberto Carvalho)
e eu pergunto:
a quem é que a gente tem que se dirigir para pedir que nunca mais o deixem aparecer à nossa frente a fazer entrevistas,

arrogante, pesporrente, insuportável?
É que não há paciência para aturar espertinhos insolentes destes...!


Estou a ver a entrevista na TVI. António Costa tem uma paciência infinita para aturar a criaturinha. Responde, explica, ensina -- e sempre sorrridente para com um Sérgio Figueiredo convencidinho, antipático, mal humorado, com ar mal disposto.

Bem informado, uma conversa muito bem estruturada, uma visão clara -- assim António Costa nos aparece. E sorridente, bem humorado. Dá gosto um governante assim: disponível, com uma visão muito clara das suas opções e leal para com os seus parceiros de coligação.

E, no fim, os entrevistadores a quererem acabar a entrevista e António Costa, como se estivesse numa boa, na cavaqueira, a querer ficar à conversa. E guardou a 'boca' do diabo para o fim, uma biqueirada bem humorada no láparo.


Esta atitude por parte dos governantes -- de proximidade e afabilidade ao mesmo tempo que didáctica e tranquilizadora -- aproxima a política do povo. António Costa, uma vez mais, mostrou que é eximínio nisso. Assim é que é.

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Em contrapartida, aquele brilhantinoso Sérgio Figueiredo... Acha-se. Acha-se o maior, o mais esperto, o mais irreverentezinho.

Não se aguenta um homenzinho assim, todo cheio de si próprio, todo ele jactância, impertinente. Durante toda a entrevista, uma pessoa está incomodada, com vontade que ele se cale e deixe o José Alberto conduzir a entrevista. Tanta prosápia roça a má educação, credo. 

Por estas e por outras é que eu seria incapaz de andar nisto da política ou de exercer cargos que me obrigassem a ter que aturar criaturas assim. À terceira já me tinha saltado a tampa e não respondia por mim.

O drama para a TVI é que o dito Sérgio é director. Portanto, não sei se há lá quem o possa mandar enfiar o rabo entre as pernas e limitar-se a fazer jogos de paciências ou palavras cruzadas. Ou isso ou pô-lo em frente ao espelho a ver se ele se farta de si próprio.



Tudo menos aparecer-nos à frente. 


(NB: No DN já não o leio: Sérgio Figueiredo é um escorpião de cabeça vazia.)


quarta-feira, outubro 05, 2016

Carta aberta a um Sérgio Figueiredo que a torto e a direito se revela um falso amigo









Meu Caro Sérgio Figueiredo,

Quando apenas o via de vez em quando, em comentários ocasionais, não tinha de si muito má impressão. 

Contudo, quando começou a ocupar lugares de maior responsablidade e começou a ter uma exposição que me permitiram conhecer melhor a sua forma de actuar, foi com incómodo que me apercebi que a sua maneira de ser me desagrada.

É, em si, frequente invocar a sua condição de amigo para, de seguida, qual escorpião que não consegue impedir-se de injectar veneno em dorso alheio, exibir esse seu desagradável lado de tecer considerações públicas de cariz quase pessoal que não abonam a favor daquele a quem chama amigo ou de agourar mau destino a propósito do resultado de medidas decididas pelos seus 'amigos'. 

Tudo isso são características que descrevem uma pessoa desleal, pouco confiável, alguém que não hesita em invocar a sua condição de amigo para o atraiçoar.

Há qualquer coisa de mesquinho, de pequenino e de muito desagradável na maneira de ser que transparece das suas crónicas ou das suas entrevistas.

Felizmente não sou sua amiga e ainda bem que a minha vida não se cruza com a sua. Se isso acontecesse, temê-lo-ia. Aprecio a frontalidade, a coragem, até alguma linguagem desabrida. Não receio o confronto. Pelo contrário, aprecio-o. Mas não é nada disso que vejo em si -- e eu não suporto pessoas que parecem revelar uma má índole. Textos públicos como o que agora escreveu sobre Mário Centeno, tal como o que escreveu sobre Sócrates, Augusto Santos Silva ou outros que já tiveram a pouca sorte de sofrer o efeito do seu veneno, incomodam-me -- sinto que lendo-o, involuntariamente, estou a ser cúmplice de um acto muito pouco louvável, de uma perversidade que fere.


Finalmente, Caro Sérgio Figueiredo, saiba que o associo ao grupo de pessoas que, em Portugal, tem vindo a destruir a boa imagem do jornalismo. V. mistura opiniões pessoais com factos, sentimentos com apreciações que se quereriam objectivas, mostra não saber portar-se com elevação ou mostrar respeito pela dignidade daqueles que escolhe como sua vítimas. Ou seja, no que diz e escreve eu vejo a antítese daquilo que, talvez ainda romanticamente, eu gosto de ver associado ao bom jornalismo.

Há algum tempo que não o lia (poupo-me, sabe?) mas infelizmente hoje abri uma excepção. E de uma coisa pode estar certo: tão cedo não voltarei a ler as suas palavras que escorrem fel e veneno e que não apenas não acrescentam esclarecimento à realidade como a distorcem.

Lamento ter que lho dizer mas isto é o que penso, meu amigo.




[A propósito de Carta a um amigo que é ministro escrita por Sérgio Figueiredo no Diário de Notícias]


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E caso vos apeteça ver Stephen Colbert em acção ou obter a resposta à pergunta 'Quem é Stephen Colbert', queiram por favor descer até ao post seguinte.

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quarta-feira, julho 08, 2015

Augusto Santos Silva na despedida ao comentário semanal na TVI: a coragem das palavras abertas contra a cobardia dos actos escusos. A sua explicação (dita com os nervos à flor da pele) na TVI 24, perante um Paulo Magalhães também nervoso. E, na despedida de Maria Barroso. Xácara das Bruxas Dançando


No post abaixo falo de Francisco Seixas da Costa, Ricardo Paes Mamede e Mariana Mortágua: três pessoas inteligentes, convincentes e com as ideias arrumadas. E, como contraponto, refiro o Arnaut, um exemplo acabado do que é um PaF em estado puro, um trauliteiro chapado que só engana quem gostar de ser enganado (que há gente assim, então não?: são os chamados cornos mansos). Vi-os na TVI e, pudesse eu ser conselheira da 'esquerda portuguesa' (e as aspas são intencionais já que, para mal dos pecados dos portugueses, não há essa tal coisa da 'esquerda portuguesa'), a ver se a 'esquerda portuguesa' não dava um memorável baile à coligação dos direitolas canhestros que por aí andam, convencidos que estão para ficar.

Mas, enfim, sobre eles falo no post seguinte. Aqui, agora, continuo pela TVI 24 e com Paulo Magalhães, desta vez na presença de Augusto Santos Silva: os porquês da política. E os porquês dos critérios televisivos.



Os porquês da esperança ou a ironia das circunstâncias da vida. 
Paulo Magalhães e Augusto Santos Silva juntos em livro agora que as televisão os apartou




Foi um Augusto Santos Silva nervoso que nos apareceu nos ecrãs. A voz trémula, denunciava a emoção e uma certa raiva contida. Com aquele seu mocking smile, disse ao que vinha. Tendo visto o seu contrato com a TVI unilateralmente denunciado, fez questão de explicar as suas razões. Fez bem. Foram palavras de coragem como são sempre as suas. E contrastam com o silêncio (cobarde?) da TVI.

E eu, ouvindo-o, percebo a sua perplexidade e desconforto. Devo também dizer que simpatizo com Sérgio Figueiredo e que aqui dele já referi as suas crónicas. Muito, mas mesmo muito, me espantou a sua decisão. Não parece dele. Ficar-lhe-á como uma nódoa incómoda, um acto do qual talvez se venha a envergonhar -- a menos que existam razões ponderosas; mas, nesse caso, seria de homem que as expusesse.

Augusto Santos Silva era a única voz socialista com um espaço de comentário fixo na televisão. Mas não era fixo, era aliás do mais móvel que existia. Aqui em casa não atinávamos com o horário que lhe destinavam. Ultimamente era um horário errático que desrespeitava a paciência dos telespectadores. Fez ele muito bem em protestar.


Disse acima que ele era a única voz socialista porque não consigo incluir António Vitorino nesse grupo. Não suporto aquele António Vitorino: é um habilidoso dos jogos florais, tem uma conversa adiposa, um paleio redondo que gira em torno de lugares comuns e graçolas inconsequentes. Sabendo-o criatura que saltita de administração em administração, de negócio em negócio, vejo-o como uma outra face do arnaut: um é alto e outro é mignon, um é bem parecido e outra é charila, um tem cabelo e outro parece que não -- mas, tirando isso, movem-se nos mesmos espaços. Para mim, se é para aparecer como exemplar socialista, mais valia que não aparecesse.
Adiante. De resto, depois da chazada inicial, Augusto Santos Silva esteve bem - como sempre. Atirou flechas e acertou sempre, mostrou a sua inteligência, a sua ironia, a sua cultura. 

Uma pena que a TVI o tenha tratado assim.

Mas estou certa que a esta hora já algum outro canal estará a contactá-lo e não tarda tê-lo-emos de volta, na maior e em grande estilo.

No final do programa, Augusto Santos Silva proferiu umas palavras de despedida em relação a Maria Barroso. Foi contido mas viu-se que sentia com emoção o que dizia.


Eu não consigo dizer muito nestas alturas, aliás, nem muito nem pouco, não sou dada a despedidas, muito menos em relação a pessoas de quem gosto.


Se Maria Barroso partiu em paz, sem sofrimento, 

já Mário Soares está a sentir tudo e, por isso, 

é também nele que penso com preocupação e muita pena.


Mário Soares é uma força da natureza mas era junto de Maria Barroso, 
essa mulher forte apesar de pequena e de aspecto frágil, que ele se completava


Não vou pôr-me com votos de pesar ou louvor porque tenho grandes dificuldades nesse registo. Limito-me a deixar aqui a voz de Maria Barroso lendo poesia. Nessas alturas, ela agigantava-se e mostrava a mulher de fibra que era e de que tantas evidências deu ao longo de uma vida imensa, intensa, ímpar.


Maria de Jesus Barroso - "Xácara das Bruxas Dançando"

do livro/CD "Geração do Novo Cancioneiro" (2010). Poema de Carlos de Oliveira. Música de Luísa Amaro.



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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela quarta-feira. 
Sejam felizes e sintam como eternos os momentos mais belos da vossa existência.

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terça-feira, junho 16, 2015

Sérgio Figueiredo sobre José Sócrates na prisão -- um texto que é um murro no estômago [E ainda Francisco Louçã que, sobre este mesmo assunto, diz que 'esta justiça mete medo'; e, para aquele que um dia disse ser um animal feroz, Faces of the Wild e Va, pensiero].


Va, pensiero, sull'ali dorate;
va, ti posa sui clivi, sui colli,
ove olezzano tepide e molli
l'aure dolci del suolo natal!





Quando José Sócrates recusou usar pulseira electrónica, logo um conjunto de apreciadores de animais rastejantes ou invertebrados veio dizer que o que ali se via era vitimização. Pessoas há que, talvez desabituadas de assistir a actos de coragem ou de simples dignidade, tentam encontrar uma vantagem mercantil no que é, tão só, uma manifestação de carácter.

Várias vozes insuspeitas se têm levantado contra a prepotência que leva a que, sem culpa formada e supostamente para investigar, numa deriva que parece delirante, se mantenha um homem encarcerado como se de um perigoso condenado se tratasse.

Muitas vezes aqui o tenho dito: não sei se Sócrates é culpado de alguma coisa punível por lei. Torço para que não seja. Se for, ficarei furiosa com ele -- e comigo, por ter acreditado nele. Mas -- e sei que estou a repetir-me -- até que a Justiça se exerça, ele, tal como eu ou você, Caro Leitor, somos, à face da lei, inocentes. Portanto, independentemente de se vir a apurar a sua culpabilidade ou a sua inocência, o que agora me assusta é a forma despótica como ele tem sido tratado.

E, quando falo nele, falo por ser o preso preventivo que conheço dadas as funções que ocupou. Provavelmente esta mesma prepotência é exercida contra muito mais pessoas, muitas da quais, se calhar, depois, não são condenados nem sequer acusadas. E, portanto, insurjo-me por ele, porque o conheço, mas insurjo-me igualmente por todos os que se encontram ou encontraram na mesma situação.

Imagino-me, a mim, numa situação destas e fico apavorada: poderia acontecer que um qualquer inspector suspeitasse de mim, me pusesse sob escuta, ouvisse todas as minhas conversas, tudo, as minhas conversas mais pessoais, as minhas conversas de trabalho, tudo, tudo, e depois resolvesse que, para poder espiolhar ainda melhor a minha vida, me deveria prender? Poderia acontecer que eu me visse desprovida de tudo, da companhia dos meus, dos meus mais básicos pertences? Poderia isso acontecer-me? 

Sendo eu uma vulgar cidadã, teria uma vantagem sobre Sócrates: quando me deslocasse não teria as televisões a seguir-me e os meus amigos e familiares não seriam inquiridos à porta da prisão. (Quanta devassa a que estas pessoas têm estado a ser sujeitas...)

Como se sobrevive a uma desgraça destas? Quem não tenha posses, sem trabalho, a ter que pagar a advogados, como sobrevive? E como se sobrevive à humilhação de se saber injuriado nos jornais e não se poder defender? Como se sobrevive, sabendo o sofrimento da família, dos pais, dos filhos? 

Não sei.

Se a lei permite isto, então a lei tem que ser mudada. Os cidadãos não podem estar desprotegidos a este ponto. Não me interessa quem foi o ministro ou o governo que aprovou a lei em vigor. Tudo se corrige, em especial as burrices.

Nem me interessa que distorçam o que digo -- nomeadamente que venham dizer que o estou a defender ou que quero tratamento privilegiado -- não me interessa mesmo nada. Leiam bem, leiam com atenção. Eu digo o que acho que devo dizer. Sou a favor da justiça, da liberdade, da democracia. Não consigo ficar calada quando assisto a violações de qualquer destes pilares de um mundo decente.

Como é que não há muitas mil vozes que se levantem para clamar por isto? E que cobardia é esta que parece ter tomado conta dos socialistas que, assistindo a uma coisa destas, se deixam ficar calados? Acharão que ganham mais votos se calarem a voz sobre a vergonha que se está a passar neste nosso desgraçado País?
Coitados. Não sabem que a Pátria não paga a traidores? Nunca pagou. Nunca pagará.

O que sei é que as vozes que mais alto se têm levantado provêm de outros quadrantes políticos.

Por exemplo, disse no outro dia Francisco Louçã no Público num artigo a que deu o título Há alguém por aí para enfrentar a triste degradação da justiça? e que Eduardo Pitta resumiu no seu blog Da Literatura.


«[...] Sugiro ao leitor que se mova então pela única certeza que podemos ter: este processo está a ser conduzido sem respeito pela justiça ou até pela decência. Não há acusação e passaram meses, não há acesso da defesa aos documentos e provas e isto ainda se pode prolongar mais uma eternidade [...] o caso Sócrates importa menos do que esta regra geral: esta justiça mete medo. [...] E isso já é com os candidatos – os das legislativas e sobretudo os das presidenciais. Digam-nos o que querem fazer ou fiquem de lado, porque se estão calados então não têm solução para os problemas de Portugal. É uma questão de regime, é mesmo convosco, senhores candidatos e senhoras candidatas.»

O, mia patria, sì bella e perduta!
O, membranza, sì cara e fatal!



Mas de tudo o que tenho lido, o que talvez me tenha impressionado mais foi o artigo de Sérgio Figueiredo desta segunda-feira. Diz que, depois de ter falado com Sócrates, saíu da cadeia em silêncio, e acredito. Há momentos em que não há palavras. E esse seu silêncio pesado transparece nas suas palavras. Transcrevo parte do seu texto.

(...)

2. Não devo nada a ninguém. Muito menos a Sócrates. Ao contrário de outros, outrora amigos, eternos da onça, que se escondem entre as frases ocas que proferem e as visitas que não lhe fazem. Partido cobarde, partido escondido, partido assustado. Nem é sequer o partido relativo, dirigentes de O"Neill, engravatados todo o ano, que se assoam à gravata por engano.

Não há engano entre os socráticos, apenas cálculo mental. Contas sem valores. Quantos mais votos contam, quanto mais puxam pela cabeça, mais o rabo se lhes descobre. Mais impressionante que a coragem de Sócrates em permanecer dentro de uma cela, entre delinquentes, é a falta dela em António Costa e na maioria dos dirigentes socialistas, que deliberadamente confundem justiça com amizade. Esperava mais, porque já lhe vi mais.

Salvo raríssimas exceções, mostram a sua raça num silêncio ensurdecedor que envergonha mesmo aqueles que detestam Sócrates. Miguel Sousa Tavares, Pedro Marques Lopes e até o "comuna" Pedro Tadeu, como se autodefine, insuspeitos colunistas, que não pertencem à família, nem de perto nem de longe, escreveram nesta semana a indignação da forma que nunca se ouviu em qualquer camarada do Rato. Um barco cheio deles, com um comandante à deriva - ou preso, porque o último líder do PS está no Alentejo e, espera-se!, a aguardar pelo dia em que responderá por corrupção e outros crimes graves.



3. No fim de contas, a entrevista não aconteceu. Às 22 perguntas que a TVI tinha para fazer José Sócrates não quis responder. Não tinha tratado pessoalmente do assunto, mas acabei por ser eu a confrontá-lo com elas. Entrar numa prisão não é uma experiência agradável. Visitar um ex-primeiro-ministro preso é um momento único, difícil de esquecer. Ou simplesmente difícil. Estivemos, eu e o meu camarada de redação António Prata, uma hora lá dentro. Conversa dura, ouvindo o que não queríamos, dizendo o que não podia ficar por dizer.

Conversa feroz, animal enjaulado. Ninguém ousa sentir o que um prisioneiro sente. Sei o que senti e imagino o que António Prata viveu. Saímos de lá em silêncio - a única palavra que repetia para si próprio, mas em voz alta, é aqui irreproduzível. Saímos mais pesados, sem entrevista, mas saímos. Uma hora depois. Não seis meses.

Sócrates pode ser mentiroso, pode ser odiado, pode ser odioso, pode ser intratável, pode ser malvado, pode ser acusado, julgado e condenado, pode ser corrupto - pode ser tudo o que magistrados têm o dever de provar e um juiz de julgar, seja o que for. Não é, porém, de nada disto que se trata quando um homem, naquelas condições, se recusa ir para o conforto da casa e a companhia dos filhos. É coerência, se estiver inocente. É coragem, em qualquer dos casos. Aquilo que fugazmente vi não paga arrogância ou o preço da vitimização.

Não temos pena. Apenas pânico - se a investigação judicial falhar e a acusação não produzir provas consistentes. E pejo - pelo nojo dos políticos surdos-mudos em que em breve vamos ter de votar.




Va, pensiero, sull'ali dorate
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O texto completo da autoria de Sérgio Figueiredo, intitulado A entrevista que não aconteceu, foi publicado no DN.


A música mostra Luciano Pavarotti & Cambodian and Tibetan Children's Choir interpretando Va, Pensiero de Verdi.

E, pensando naquele a quem, apesar de estar encarcerado, ainda chamam animal feroz, escolhi para ilustrar este post fotografias da autoria de Devin Mitchelle e que pertencem à série Faces of the Wild e que descobri no Bored Panda.
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Permitam que vos convide a descer até ao post seguinte onde poderão ver meio mundo de cabelos em pé com o que se vai sabendo do 'negócio' da privatização da TAP e, mais abaixo, um vídeo impressionante com Berlim em Julho de 1945 (para que o que aconteceu nunca seja esquecido).

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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma boa terça-feira. 
Da minha parte espero manter-me sempre como nas palavras de Sophia: 
face erguida, vontade transparente, inteira onde os outros se dividem. 
Desejo que vocês, meus Caros Leitores, também.

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