Há uma coisa que sempre se ouve dizer: que o odor de um perfume depende da pele que o acolhe. Eu, por exemplo, não gosto de perfumes doces, parece que, em mim, o sinto enjoativo. Aliás, em mim e em toda a gente. Mas, lá esta, provavelmente o meu olfacto também difere do das outras pessoas pois não acredito que tanta gente use cheiros enjoativos sem que tal lhes agrade.
A elegância dos frascos também não me deixa indiferente. Mas nâo é determinante: atrai-me mas é como os livros em que sentia, na outra vida, a necessidade de folhear antes de me decidir. Nos perfumes é idêntico, tenho que experimentar.
E isto em mim é recente. Recente de alguns anos. Até lá era sempre Chance para o dia a dia e Nº 5 para os momentos com o seu quê. Depois inverteu-se: Nº 5 para quase sempre e o Nº 19 ou o Cristalle ou o Chance para intercalar. Parece que, em mim, apenas os perfumes Chanel respeitavam a minha idiossincrasia. Até que comecei a experimentar e gostei. Tornei-me desleal na maior ligeireza. Talvez isto resulte de estar muito claro para mim que, por muitos que experimente, sempre voltarei ao Nº 5. Esse está num outro patamar. Intemporal, eterno.
E não é por mais nada: é que, em mim, ao longo do dia, o perfume se modifica e, na minha imodesta opinião, para melhor. Vai ficando subtil, íntimo, um cheirinho único que não identifico em mais ninguém mesmo se também o usam.
Dizem que a principal característica do Nº 5 é que não se parece com nenhum outro nem fica parecido entre as mulheres que o usam.
Um que trabalha na empresa de onde saí há cerca de um ano também usa um perfume característico, um Dior. Conheço-o há uns vinte anos e sempre o usou. Por vezes, eu chegava ao meu gabinete e parecia sentir o seu odor no átrio junto à entrada. Perguntava se ele lá tinha estado e diziam-me que sim, que tinha lá estado à minha procura.
O meu marido também usa o mesmo perfume desde que me lembro. Não quer outro. Põe muito pouco mas o seu cheiro é também inconfundível e muito bom.
Pessoas que usam um mau perfume estão para mim ao mesmo nível das que dão pontapés na gramática ou das que não sabem estar à mesa. Sei que os bons perfumes são muito caros e ao alcance de não muitas bolsas. Mas um bom creme corporal ou um bom sabonete são preferíveis a perfumes vulgares que transmitem a sua vulgaridade a quem os usa.
Mantendo o glamour sofisticado da publicidade de sempre, em que se mistura romance, independência e um visão poética do mundo, a casa Chanel vem divulgando testemunhos pessoais, em que se sente aquela serenidade e respeito pela beleza, aquela quietude sofisticada, aquela simplicidade elegante que se tenta que seja também a imagem da marca, a imagem da obra de arte que veste uma mulher, revelando-a em todo o seu mistério.
Marion Cottillard é o rosto do Nº 5 para os atípicos dias de hoje. E eu gosto bastante de a ver nesse papel.
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