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sábado, julho 19, 2025

Maria da Conceição, a dedicada filha e esposa de Manuel Lima

 

Passámos por um sítio que tinha, na parede, um televisor. O meu marido disse-me: 'Filha confessa que casou com o pai'. Estava espantado. Pelo tom com que o disse percebi que estava na dúvida. Se calhar tinha percebido mal, se calhar alguém tinha escrito mal. Mas eu não fiquei atarantada como ele pois, creio que na véspera, já tinha lido o título pois, quando vou googlar no telemóvel, aparecem-me notícias variadas. A notícia era mesmo essa: a miséria na versão mais miserável, mais triste. Uma miséria em ponto pequeno, uma miséria desprovida de tragédia, uma miséria quase comédia.

Voltei a googlar para tentar interpretar o feito. Confirmei: uma vez mais, a realidade supera qualquer ficção. 

Para começar, temos uma Maria da Conceição e só isso já quase garante que a história tem tudo para ser de gritos. Mulher de 68 anos, bem fornida de carnes, amplos seios, cabelo com madeixas, com certeza arranjado para a ocasião, discretamente vestida em tons de azul marinho ou submarino, pregador na blusa, talvez a negar a indiscrição do decote e a marcar a solenidade do momento, a mão segurando o bouquet devido a noiva que se preze. Pelo braço, também enfatuado em azul, colete a preceito, gravata clara para marcar a castidade do momento, lencinho em tons de amarelo-festivo na lapela, Manuel, o pai de Maria da Conceição, 95 anos, não sei se frescos, se acabados mas, pelo menos, andando pelo seu próprio pé.

Ao que se sabe, trocaram alianças. Não sei se selaram o momento com um beijo ou se saltaram essa parte. Também não sei se, no fim da cerimónia, Maria da Conceição atirou o bouquet para saber qual a próxima mocinha a dar o nó, nem sei se terá sido alguma irmã a apanhá-lo.

Quando a notícia estalou, Maria da Conceição candidamente confessou ser precavida e, sobretudo, estratega: antevendo que o seu noivo poderá ir desta para melhor antes dela, para depois poder receber a pensão (presumo que a pensão de sobrevivência ou de viuvez), casou-se com o pai, por sinal viúvo há apenas seis meses. Alega a noiva que foi aconselhada a isso pelos irmãos. Não terão sido todos pois alguns, sabendo das novas núpcias do papá, apresentaram queixa. São 12 ao todo, os filhos do produtivo Manuel. Contudo, para sossego de algumas pudicas almas sempre prontas a apontar o dedo, o noivo assegura que não tem qualquer envolvimento sexual com Maria da Conceição, que o nó teve mesmo apenas interesse financeiro.

Sabendo da polémica, não querendo ser alvo da fofoca alheia, Maria da Conceição já está por tudo, por ela divorcia-se já do pai. Mas não pode, a situação embrulhou-se e embrulhada está. Em sua defesa, diz que dá banho ao pai mas sem qualquer interesse sexual, pois o pai até usa fraldas.

No meio disto, subsiste o mistério: sendo proibido o casamento entre pai e filha, como foi possível que na Conservatória do Registo Civil de Guimarães se estivessem a marimbar para o facto? Enterneceram-se e fecharam os olhos? Ou o quê? 

Para ver se desvendam o mistério, os filhos escandalizados já apresentaram queixa. A ver é se o Senhor Amadeu desta vez também diz que quer que a coisa se resolva rapidamente. Não é por nada, mas não se sabe se daqui por uns dez ou doze anos o Manuel ainda terá a cabecinha fresca para poder responder pelos seus actos.

Coitada da Maria da Conceição.

sábado, outubro 19, 2024

Ministro Paulo Rangel grita ofensas a general
-- Como agora se diz, é o 'Paulo Rangel a ser o Paulo Rangel

 

Ao fazer pesquisas google no telemóvel, aparecem-me notícias. Acredito que isto resulta de alguma parametrização ou ausência dela que fiz no telemóvel, mas, como não me incomoda, não tirei ainda isso a limpo. 

E, provavelmente porque clico mais numas que noutras, o algoritmo vai aferindo o meu grau de curiosidade e o que mais a desperta e vai refinando o cardápio que coloca à minha disposição.

Hoje, a notícia que me aparecia à cabeça era a que usei em epígrafe e que tem como subtítulo o seguinte: 

Cartaxo Alves, chefe da força aérea, fez Rangel saber que não era local e momento para discutir.

Abri, pois, a notícia (que constava do Correio da Manhã). Admito que, ainda assim*, seja credível tanto mais que conhecemos bem os desmandos e os arroubos da criatura que Montenegro, vá lá a gente perceber porquê, achou por bem levar a ministro dos Negócios Estrangeiros (e, volto a dizer, abstenho-me de aqui invocar a possível razão, baseada no que um amigo, antigo ministro mas de outra área, dizia ser o nome, na gíria, do ministério ao qual Rangel pelos vistos anda a arranjar problemas). 

Reza assim a dita notícia:

O ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, "destratou de forma ofensiva e aos gritos" o chefe da Força Aérea, general Cartaxo Alves, no dia 4 de outubro, em Figo Maduro, na chegada do voo de repatriamento de portugueses do Líbano.

A notícia foi avançada pelo ‘Tal&Qual’ e confirmada ontem ao CM por fontes que presenciaram a situação constrangedora: militares, polícias e elementos da AIMA. O ministro estava descontente com uma questão protocolar à sua chegada e "atacou o general de uma forma desequilibrada". (...)

Pensei: Ora cá está, 'o Rangel a ser Rangel'. Ou: 'pode alguém ser quem não é?'

Pode o dito, de vez em quando, fazer um esforço para ser levado a sério mas conhecemo-lo, o pé puxa-o, e muito, para o chinelo. Deve ter sido o que aconteceu. Desceu do tacão e armou peixeirada. Deve ter sido lindo. Gostava de ver o General Cartaxo Alves a tentar pô-lo em sentido enquanto, certamente, tinha era vontade de lhe aplicar um calduço.

Uma vergonha.

[* - Ainda agora, ao falar com o meu filho e ao tecer um comentário no qual mostrei algum receio por uma certa situação, ele ficou espantado e, meio incrédulo, perguntou se eu andava a ler o Correio da Manhã. E, quando eu lhe disse que às vezes sim, cedendo à tentação despertada pelo algoritmo, ficou apreensivo, incomodado, disse que eu tinha que vencer o algoritmo pois, segundo ele, ler o Correio da Manhã estupidifica. E estava verdadeiramente incomodado, às tantas já imaginando a mãe feita totó, assustada com tudo e a dizer mal de tudo, julgando que o mundo é o antro de desgraças que o Correio da Manhã pinta. Sosseguei-o: ainda não estou assim. Estou reformada mas ainda não formatada pelos alarmismos do CM. Mas, no caso em concreto que aqui hoje me trouxe, não sei se os outros jornais, ditos de referência, noticiaram o disentérico destempero do nosso despenteado desministro Rangel.]

quinta-feira, julho 04, 2024

Now: o 'Optimista', 'Sem hipocrisia'...

 

Por razões que não vêm ao caso, a abertura do novo canal Now passou-nos um bocado ao lado. Não vêm ao caso mas posso referi-los: futebol em barda, estadias assíduas no campo (sem cabo), outras coisas em que pensar.

Por isso, só no outro dia apanhámos, e percebemos depois que era repetição do que tinha passado antes, se calhar na véspera à noite, o 'Otimista' com António Costa e Pedro Mourinho que, do que percebi, teriam convidado o Almirante Gouveia e Melo. Ficámos os dois a ver, interessadíssimos. E já recomendei ao meu neto mais velho que visse. E recomendo-vos a vós também caso não tenham visto. Muito, muito, muito interessante. De facto, temos valências e saberes no País que, atolados na lama e anestesiados pela espuma dos dias lançadas pelos media viciados em maledicência, nos passam completamente ao lado. Não foi só a surpresa ao descobrir o muito e incrível que se faz na Marinha, foi também a surpresa de alguns temas que me deixaram a pensar (nomeadamente os que se referem com a nossa soberania, nomeadamente no mar). Muito interessante mesmo.

Esta noite apanhei Rui Rio, também com Pedro Mourinho e com dois médicos, Manuel Pinto Coelho e, creio, Ana Miranda, na rubrica que tenho ideia que se chama 'Sem hipocrisia'. E, também aqui, gostei de ver. Também não vi de início mas passaram ainda um vídeo com a nutricionista Conceição Calhau de quem tenho um livro bastante interessante. Gostei imenso da postura do Rui Rio. Programa interessante, muito diferente do que é habitual.

E ontem apanhei, e percebi que já foi perto do fim, o Luís Paixão Martins com a Judite de Sousa. Como sempre, gostei do LPM mas, já no que se refere à Judite de Sousa, fiquei um bocado desconcertada. Apesar de ser pessoa experientíssima no jornalismo, parecia nervosa e não sei se estava com uma pastilha elástica na boca ou se tinha uma prótese solta pois não parava de deglutir em seco ou de ajeitar a boca. Ou, se não é isso, não será que não está com baton e gloss a mais e os lábios colam-se e dificultam-lhe a agilidade bucal...? Não sei. Fiquei um bocado solidária com a pilha de nervos em que ela estava e acabei por nem prestar bem atenção ao que disse.

Para terminar devo ainda confessar que, quando soube deste canal da propriedade do saco de lixo que é Correio da Manhã que já desfez tanta gente, julgando, condenando e apedrejando na praça pública ao arrepio dos mais elementares direitos obrigatórios e imprescindíveis num Estado de Direito, fiquei mais do que de pé atrás. Na verdade, com os dois pés atrás. E ainda estou.

Mas isto pode querer dizer que, na volta, o que vai começar a dar dinheiro é a decência e que as pessoas (leia-se, os espectadores) se agoniaram de tanta lixeira a céu aberto e agora vão passar a procurar a honestidade, a dignidade. Depois de serem valores arrastados pela lama, às tantas, vão agora passar a ser o novo hit. E, com o faro comercial que os donos do Correio da Manhã e do Now já demonstraram ter, quem sabe se não estão apenas a dar lugar ao que vai passar a ser o 'novo normal', o que vai passar a 'dar'.

Portanto, a acompanhar...

segunda-feira, fevereiro 05, 2018

Quem julga a actuação do Ministério Público? -- É o Dâmaso.
Quem julga os casos de justiça em Portugal? Os juízes? -- Não, é o Dâmaso.
Quem descreve a história dos últimos anos em Portugal, a da corrupção e penso que não só? -- É o Dâmaso.
Quem é o mais poderoso do País? É o nosso ubíquo Marcelo? -- Não! Nem pensar. É o Dâmaso.
Viva o Dâmaso! Viva!
Pim!


E pouco mais tenho a dizer depois o ouvir o Eduardo Dâmaso a monopolizar (com a sua presciência, assertividade e auto-segurança) o Prós e Contras. Já calou a Fátima Campos Ferreira, já calou a Maria José Morgado. o Juíz, o Advogado e o Professor que ali estão -- e todos quantos na plateia pensem que têm uma palavra a dizer sobre o tema. 


Arrasem o Ministério Público, arrasem os tribunais, arrasem o Parlamento, arrasem até a Presidência da República. Não fazem falta. Não acrescentam. Não têm a necessária coragem. Não sabem. Em representação de todos e acima de todos basta o Dâmaso.

O Dâmaso sabe que Pinto Monteiro não exerceu as suas funções ou exerceu-a de conluio com obscuros interesses. O Dâmaso sabe, no País, em cada ano, quem subornou, quem roubou, quem manipulou, quem escondeu. O Dâmaso sabe tudo.


O processo foi liquidado? O Dâmaso sabe que o foi a partir de cima. O Dâmaso sabe. O Dâmaso conta como foi.

Jornais à porta das casas onde vão decorrer buscas? -- Ora, ora, diz o Dâmaso, isso sempre aconteceu. Mesmo antes de elas acontecerem? -- Ora, ora, sorri o Dâmaso. E no seu sorriso a gente percebe a superioridade de quem sabe. 

O silêncio segredo de justiça foi violado? O Dâmaso sabe por quem. O Dâmaso sabe porquê.


Alguns jornais nunca trazem algumas notícias nas primeiras páginas? -- Vão acabar, vaticina o Dâmaso. Ele sabe.

O Dâmaso conhece os podres e as intimidades do país. Quem, como, quande, onde. O Dâmaso sabe tudo.

O Dâmaso não tem dúvidas. De nada. O Dâmaso não tem medo. De nada. O Dâmaso sabe muito. De tudo.

Acabe-se tudo o que vive do erário público (juízes, procuradores, deputados, etc, e demais agentes de despesismo e entropia) e deixe-se brilhar o Sábado e o Correio da Manhã que aí, sim, se pratica a verdadeira justiça. Deixe-se brilhar o grande líder Eduardo Dâmaso. Viva o Dâmaso. Viva! 

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E sobre o tema é isto que me ocorre. Como referi, pouco tinha a dizer. 
E menos ainda depois de ouvir o Dâmaso.

Ah, sim, já se sente o cheiro do Carnaval.


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quinta-feira, abril 20, 2017

João Pereira Coutinho é todo a favor das vácinas,
conforme dissertou ao balcão da Correio da Manhã TV


Fui agora espreitar as estatísticas do blog. Dizem-me que 'agora' estão 83 pessoas a ler o Um Jeito Manso. Mas estão aí desse lado e eu dava-me jeito é que estivessem aqui. Aqui. A beliscar-me. Todos, ao mesmo tempo, a beliscar-me.

Explico porquê e vocês já vão dar-me razão.

Antes de jantar, enquanto decorriam os preparativos, liguei a televisão e fui fazendo zapping. Estava a caminho da Sic Radical para ver se hoje havia o Colbert. Mas, a meio da operação, passei por um canal onde acho que até hoje nunca parei. Até hoje - leram bem. Vi e não acreditei. Parei para confirmar. Podia ser uma visão. Infelizmente não, vi que era real. O João Pereira Coutinho, ele mesmo, o grande intelectual, essa direitola figurética da luso-piolheira, comentando o caso da jovem que morreu com sarampo. Na CMTV.


O grande mestre da teoria política, ex-guru da blogosfera, agora transformado em vulgar profissional da crónica azeiteiro-social. Com uma fita rolante a passar-lhe em cima da cabeça com dizeres relativos ao Ronaldo, ali estava ele, populista, populista, demagogo, demagogo, a dar na cabeça dos pais da jovem. A mim que, claro está, nem me passaria pela cabeça não vacinar os meus filhos, sem conhecer os factos relativos a este caso não vou falar sobre eles, muito menos aos balcões do infecto-contagioso Correio da Manhã. Já li que a miúda tinha tido um episódio grave de alergia a uma vacina e que, por precaução, os pais resolveram não reincidir. Não sei. Não me pronuncio. Dor maior já os pais devem estar a sofrer, escusamos de deitar mais sal por sobre cicatrizes que, certamente, estarão em carne viva.
É certo que é uma boa oportunidade para apelar à racionalidade dos pais que se encontram nalguma deriva metafísica, pondo em risco a vida dos filhos, mas que o seja com contenção e, sobretudo, não ao balcão de uma coisa como a CMTV, no meio de uma conversa desenvolvida em tom fútil e demagógico.

E se eu visse um daqueles comentadores que tanto falam de Passos Coelho, como de uma jogada mal apitada pelo árbitro, como de uma camioneta que tombou na estrada despejando ruidosos bácoros, ainda vá que não vá -- uma pessoa, vai-se habituando a que baixem os padrõezinhos*. Mas, com o caneco... o João Pereira Coutinho...? Já desceu a esse ponto? Comentadeiro no Correio da Manhã...?!?! 


É onde se acolitam agora os ressabiados, os desaguados da democracia, os de má bílis, os moralistas do regime, os enfatuadinhos, os pintarolas encartados? No Correio da Manhã...? Muito me contam.

Mas a minha surpresa não se extinge aí. É que a criatura dizia vá-cinas. O entrevistador perguntava-lhe o que achava de não vacinar crianças e ele, cinquenta mil vezes, vácinas: vácinas para aqui, vácinas para acolá.

Totó como sou, ainda pensei: querem lá ver que eu é que ando com o passo trocado? Então fui validar e o totó é ele. Diz-se vacina com os dois a's fechados pois vacina é, obviamente, uma palavra grave.

Agora, vocês que aí estão sossegados e nem se dão ao trabalho de aqui me vir beliscar para eu ter a certeza que não eu estar a delirar, digam-me: como é que um intelectual destes, com esta carinha de menino inteligente, professorzinho da Católica e tudo, não sabe disto e diz vássinas**...? 
** Que, da maneira como ele diz, acho que até deve escrever escrever vássinas, senão mesmo váccinas como se ainda vivessemos no tempo das bexigas das vacas...
Minha mãe santíssima.

Estou banza, é o que é. Não estava psicologicamente preparada para ver uma coisa daquelas.

Quando a intelectualidade de pacotilha vira comentadeira do Correio da Manhã... o que se vai seguir...? Um dia ainda vou ver ali o Pedro Mexia, a pronunciar-se sobre o roubo por esticão ou sobre a namorada do CR7? E, ainda por cima, a dizer 'námora-da' ou Márcelo? Ou o cardeal Clemente comentador nos programas da Cristina Ferreira a falar do maestro gay que foi corrido pelo pároco de Castanheira de Pêra? A procuradora Mana do Vidal como avençada no programa da Júlia Pinheiro a comentar as aparições da pequena Maddie? O António Lobo Antunes a dar troco ao cacarejante Rangel? What...?


Não sei mas, depois do que presenciei, acho que temos que estar preparados para o pior.

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Fiz as fotografias à televisão e, depois, na segunda apeteceu-me pôr o comentador João pereira Coutinho ainda mais cor-de-rosa, com uma boquinha ainda mais mimosa. A ver se a imagem fica mais consentânea com o absurdo da coisa.

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E, a propósito de não baixar os padrõezinhos, aqui vos deixo o Lopes da Silva, o homem com demasiadas características.




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Um dia feliz a todos.

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sábado, agosto 13, 2016

PGR avança com inquérito crime à contratação pela Arrow da deputada Maria Luís Albuquerque?
- ou só tem tempo para se ocupar das viagens da Galp?
Pergunto.


Caso na secção do DIAP que investiga a corrupção. Ministros das Finanças e Economia não esclarecem se impediram governantes de voltar a lidar com a Galp. Viagens ainda por pagar.


(e quem quiser ler o resto, que compre o Expresso)

Ah o Expresso, sempre tão diligentes os jovens moços de fretes do Expresso... Agora que aquilo dos Panama Papers revelou não ser a generosa nascente de onde iriam jorrar escândalos atrás de escândalos mas, antes, uma gaitinha de onde não saíu mais do que uma mijinha de gato, viram-se para os biscates.

Desde que o público-alvo do que em tempos foi o jornal de referência aqui do burgo passou a ser o mesmo do Correio da Manhã, o Expresso deu em fazer parangonas em que mistura palavras apimentadas com 'casos' que talvez façam salivar os clientes dos cafés do bairro.

O genuíno agora fala, em garrafais, das subvenções e ilustra o furo com... Sócrates. Claro. Como não havia investigações ao sapateiro que pôs as meias solas nos sapatos de Sócrates ou ao varredor de rua que apanhou uma folha de árvore que foi pisada pelo Sócrates para alimentarem mais uma 1ª página do Caso Marquês, passaram para as subvenções. Podiam ter ilustrado a notícia com o Duarte Lima ou com a Assunção Esteves. Ou com qualquer outro dosduzentos que as recebem mas não, tinha que ser o Sócrates. Aquilo é fixação. Ou não: a verdade é que o Sócrates vende mais e, para vender mais, vale tudo. E os do Expresso, não sabendo o que dizer mal do governo ou da geringonça nesta semana tão dramática, com o país em chamas. voltaram-se, outra vez, para as viagens da Galp. O Montenegro e correlegionários foi à bola à pala da Olivedesportos, a Cristas à boleia da FPF, os jornalistas do Expresso também à pala da Galp - mas isso não intereesa, o que interessa é alimentar a parvalheira e juntar a palavra crime e o papão do PGR e deixar no ar que vai para aí um granel maior do que os submarinos do irrevogável Portas ou que os ex-calotes à Segurança Social do Láparo ou, até, que a indecorosa contratação da ex-ministra das Finanças, a pinókia agora deputada da Nação, por uma empresa como a Arrow. 

Ui. Crime, viagens pagas pela Galp, suspense, suspense, o que virá ainda a descobrir-se... leia o interior ou, melhor, leia os próximos capítulos... O Expresso revela tudo, os pormenores sórdidos, tudo, tudo...
Olhem, por estas e por outras é que dou uma espreitadela nos jornais online portugueses e piro-me, logo a seguir, para as harpar's, madames figaros e vanities desta vida. O que calhar. Qualquer coisa menos esta sistemática poeira para dar cabo dos olhos da populaça.

Expresso em papel? Estou limpa. Há mais de um ano que não consumo.

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Ricardo Costa: o menino à direita

Olhe, ó mano Costa, para não se queixar que eu não sou meiguinha para si, esta dançazinha aqui abaixo é um presentinho meu. Aceite, que é de gosto que lho ofereço. Escolhi com cuidado. Acho que vai gostar já que é uma coisa ao seu nível.
Devia, meu Caro, entreter-se com coisas assim, adequadas ao seu nível etário (mental e psicológico). Depois, quando crescesse e se livrasse de complexos, logo voltava a dedicar-se à comunicação social. Ok?


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E desçam, meus Caros Leitores, para verem uma jovem voadora que é só músculo, arte e anti-física.

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quinta-feira, junho 23, 2016

Gabor Kiraly, o guarda redes húngaro,
tem um grande estilo, aquelas ceroulas são absolutamente stylish
[E sobre o 3-3 do Portugal-Hungria não tenho assim muito mais a dizer.
Mas estou contente e os caracóis estavam mesmo bons.
E consta que os peixinhos estão a gostar do microfone que o Ronaldo sacou à CMTV
]


Nani e Ronaldo 3 golos no Portugal-Hungria

Claro que toda a gente se juntou a vibrar por Portugal. Fizeram-se apostas. Se não saísse era para uma instituição que precisasse. Se alguém ganhasse, faria o que entendesse. Acho que ninguém ganhou.

Depois vieram as cervejas. 

Primeiro o desconsolo, não se aguentava nós ali todos prontos para vibrar e aqueles atarantados sem se polarizarem.

Depois veio o entusiasmo, as explosões em uníssono. As palmas - apesar das críticas. Os golos de Ronaldo, o quanto tardavam, o até que enfim! pelo qual se esperava.

CR7, 2 golos num dia difícil

Não sei o suficiente para me aventurar a criticar a marcação de cantos, as tabelinhas, o André Gomes e sei lá que mais nem para sugerir que entrasse o Rafa ou este ou aquele ou o outro. 

Mas reparei no guarda-redes húngaro. Muito estilo. 


Parecia-me que estava de ceroulas. Primeiro até me parecia que seriam abaixo do joelho. Mas depois reparei que não, que as usa enfiadas nas meias. E, já percebi, são a sua imagem de marca. Gostei.

Parece que é o mais velho do Euro 2016 e o charme da idade salta à vista. Todo ele é estilo. 


Cá está o Gabor com o que parece ser o Ronaldo
(o CR7está tão escuro, tão marroquino,
que tem alturas que me custa reconhecê-lo)

Ao ir à procura dele na net, li: Gabor Kiraly, Hungary’s veteran goalkeeper who looks more like a portly pub landlord these days.


Noutro site li:

Is Gabor Kiraly the true progenitor of fashion’s biggest trend in 2016: athleisure?


Well, put it this way, he was turning up to work in tracksuit bottoms 20 years ago. Like all true trendsetters he found a look that worked and made it his own.
Gábor Király
um húngaro de 40 anos com muito estilo
So why shouldn’t the 40-year-old cash in on his status as a sartorial icon as he approaches the twilight years of his career? That, in fact, is exactly what the European Championships oldest-ever player is doing, and now you too could wear the sort of grungy joggers that permanently look like they’re in need of a wash. 

E num outro:

“Fans came from Munich to Craven Cottage wearing grey jogging bottoms,” said Kiraly of his trademark attire. “My son was a goalkeeper for the under-11s at Fulham, José Mourinho’s son was also there playing in goal for the under-15s. We bumped into each other a couple of times and chatted as two parents. He is a really straightforward and nice guy.”

Ou seja, o meu olhar clínico não me enganou. O Gabor tem mesmo carisma e pinta.
Ponham-me uma fiada de homens à frente que eu, em três tempos, digo logo qual é que tem pinta. E não me perguntem o que é isto de um homem ter pinta porque, na verdade, estamos mesmo a falar daquele je ne sais quoi que faz toda a diferença. Os cientistas talvez falem em feromonas ou na rápida capacidade de apreensão de que está li um bom reprodutor. Mas isso são os cientistas, não eu. É que eu não sei nada disso, só sei o que acho e mesmo assim que ninguém queira explicações porque não as saberei dar.

Tirando isso, fiquei contente com os golos de Portugal, nomeadamente com os do Ronaldo e por termos passado aos oitavos de final.

Depois do jogo, fomos para uma caracolada e o dia ainda me soube melhor. Uma bela tarde de verão apesar do calor tropical. Agora sobe do rio uma aragem que parece querer tornar-se fresca à medida que a noite amadurece.

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Quanto àquilo do Cristiano Ronaldo agarrar no microfone da CM TV e o ter atirado ao lago não sei que diga: o que o Correio da Manhã pratica está a milhas de ser jornalismo. Por isso, percebo que uma pessoa que se sinta sucessivamente ultrajada e perseguida por um grupo de gente acéfala a mando de um bando de gente desqualificada, se enfureça e o manifeste. Ataque à liberdade de imprensa não é, pode é ser um excesso. Mas não é tema que me inspire.



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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela quinta-feira.

Felicidades a todos.


domingo, maio 15, 2016

Fernanda Câncio, Sócrates, o Caso Marquês, a Visão, o Correio da Manhã
- ou o longo lamento de uma mulher fatigada




Ando num tal estado que parece que nada do que interessa à comunicação social me interessa a mim. Não pego num jornal em papel há que tempos. Passo uma vista de olhos pelos jornais online para ver o que está a acontecer à superfície da terra mas sinto-me frequentemente descoroçoada com o relevo que os jornais portugueses dão a vacuidades.

Por isso, a notícia publicitada pela Visão sobre o artigo de Fernanda Câncio a propósito do pretendido envolvimento no Caso Marquês não fez tocar, em mim, nenhuma campainha. Depois, os destaques e o que li na blogosfera também não, continuei indiferente. 


Contudo, mão amiga -- a quem agradeço -- fez-me chegar ontem o dito artigo. Li-o há pouco. E li com algum desconforto e, sobretudo, pena. Agora li o que Fernanda Câncio, a propósito, escreveu no Jugular -- o processo marquês e eu (e a visão) -- e o que sinto é a mesma coisa. Sobretudo pena.


Há neste caso qualquer coisa de trágico. 

Fernanda Câncio namorou José Sócrates. Tê-lo-á amado. Como qualquer namorada, ter-se-á sentido apaixonada por ele, ter-se-á sentido bem nos seus braços.

Depois afastaram-se. Acontece.

O que seria normal seria que, tendo-se afastado, cada um fosse à sua vida. No entanto, ao que se vê, Fernanda Câncio continua a viver com a sombra de Sócrates enleada em si.

Sócrates é um homem inteligente, carismático, voluntarioso e que sempre despertou ódios e paixões. Depois de, no seu primeiro mandato, ter sido um primeiro-ministro bem sucedido e, depois de, na sequência da crise financeira internacional, ter suado as estopinhas e lutado como um leão, por vezes como um leão acossado, e de ter caído às mãos de uma espúria aliança esquerda/direita, poderia ter finalmente atingido o momento da sua vida em que poderia descansar (até se abalançar a novos voos).

Contudo, qualquer coisa nele sempre parece atrair a blasfémia, a injúria, a tempestade.

Poderia isso ter terminado ao ir para Paris. Mas não. Os jornais perseguiram-no, as investigações também.

Não sou de ir em conversas. Penso por mim. Julgo o que tenho a julgar. Sócrates para mim foi e é um político e é como político que o avalio. E avaliá-lo politicamente é, sobretudo, votar ou não votar nele e, no intervalo, avaliar a justeza das medidas que defendia ou implementava. Votei nele das duas vezes e continuo a achar que, de cada vez que foi a votos, era a melhor alternativa. 
Não sou de me abster nem de me distrair com utopias. 
Se nas eleições vão a votos A e B, é entre A e B que escolho. 
Se não estou muito satisfeita com A mas sei que, se o apear, virá B que é pior, pois que, até haver melhor opção, fique A.

Depois, indícios que podem levantar suspeições relativas a ilícitos são para ser avaliados judicialmente. Não politicamente, muito menos na praça pública.

Não faço juízos de valor nem condenações morais a partir do que o Correio da Manhã ou o Jornal i lançam para a opinião pública. 

Custa-me que uma pessoa, ao ser detida, tenha a televisão a filmá-la, custa-me que a pessoa seja difamada e acusada na praça pública e que, ao fim de ano e meio, ainda não esteja acusada de nada.

Ninguém deveria estar sujeito a tal insanidade.

Madoff foi indiciado, julgado e condenado em quanto tempo? Se não estou em erro, em três meses.

Sócrates já esteve preso como se fosse um bandido e agora, apesar de em liberdade, continua com a vida em suspenso. Sem poder trabalhar, vive a aguardar que um omnisciente e omnipresente Juíz Alexandre (sobre quem caem todos os casos de peso neste país) se decida a não sei o quê e que um falhado Rosário Teixeira continue a investigar o rabo da pescada que a amiga de Sócrates deixou no prato depois de almoçar num restaurante que, vendo bem as coisas, pertence a um sujeito que já foi sócio de um outro que veio das Beiras e que deve ter conhecido o primo do amigo do tio de Carlos Santos Silva. Um filme que, se não fosse dramático para quem o vive por dentro, seria uma comédia.

E, em volta de Sócrates, vão caindo como arguidos ou potenciais arguidos todos os que mais próximos estiveram dele: a ex-mulher, a ex-namorada e mais uma mão cheia de pessoas.

Fernanda Câncio, depois de, ao longo de penosos meses, se ter visto envolvida em insinuações e acusações por parte das bocas infectas do Correio da Manhã, tremeu nos alicerces e sentiu que devia explicar-se.

No longo texto que escreveu, transcreve as acusações, desmonta-as, nega-as. Lendo-a, fica à vista a sabujice mental e a paranóia torcionária do jornalismo que se pratica no Correio da Manhã.

No entanto, não sei se Fernanda Câncio fez bem em fazê-lo. Eu, penso eu, não o teria feito -- pelo menos daquela maneira. No entanto, sei lá eu como é viver uma situação destas.

A questão, em meu entender, é que agora vê-se a ela própria na capa de uma revista, vê-se a ela própria envolvida numa coisa com que nada tem a ver.

Penso também que escusava de ser tão extensa na explanação das suas razões e, sobretudo, escusava de ter deixado subjacente um juízo moral sobre a utilização de dinheiro emprestado por parte de Sócrates. Ao fazê-lo, propaga, junto da opinião pública, o seu juízo moral a propósito de um homem que, em tempos, amou. Ora, para além do mais, o seu juízo moral sobre o homem que namorou não é tema público nem acrescenta nada ao que está em causa.

Se Sócrates cometeu actos ilícitos pois que o acusem e que vá a julgamento. E que, se for julgado culpado, que pague. 

Mas que se despachem com o processo dito Marquês. É inadmissível o tempo da justiça em Portugal. E não é só com Sócrates, é com tudo. Uma vergonha.

E que, se nada houver contra Sócrates (como tantas vezes acontece com estas longas investigações em que desgraçam a vida das pessoas a troco de coisa nenhuma), pois que nunca mais exerçam justiça neste País porque serão comprovadamente incompetentes, insensíveis e desumanos.

Quanto a Fernanda Câncio, compreendo que, sendo jornalista, não consiga alhear-se do mau jornalismo que se pratica em Portugal. E, até por isso, é trágico o que lhe está a acontecer. Agora queixa-se do sensacionalismo de que foi vítima por parte da Visão que, no fundo, se vem somar ao sensacionalismo do Correio da Manhã. No entanto, ao querer defender-se, veio, afinal, ajudar a alimentar o dito sensacionalismo.



O que eu lhe aconselharia -- até porque simpatizo com a sua maneira de ser frontal e a sua escrita talhada a direito (embora, por vezes, em minha opinião, não colocando em perspectiva a importância de algumas causas) -- seria que, se conseguisse, se lembrasse sobretudo de viver a sua própria vida, pôr tudo isto para trás das costas, retomar uma vida normal, recuperar a alegria, esquecer esta teia putrefacta em que se tem visto envolvida. O mundo existe para além do que os jornais como o Correio da Manhã e sucedâneos relatam e, até, para além de José Sócrates.

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Lá em cima Renée Fleming interpreta a terceira das 'Vier letzte lieder' de Richard Strauss sob condução de Claudio Abbado.

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Já dei seguimento à minha história mas não está fácil arranjar fotografias para a ilustrar, e agora tenho que parar com isto e ir para outra. Mas daqui a nada, já a publico.

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Contudo, entretanto, desejo-vos já, Caros Leitores, um belo dia de domingo.


terça-feira, dezembro 01, 2015

António Costa não discursou naquilo lá do Clima, António Costa teve o seu primeiro deslize, não sabia a data daquilo da nato e que a Turquia e mais não sei o quê. E dois terços dos jornalistas do Sol e do i vão ser despedidos. E a CMTV mostrou imagens do interrogatório de Miguel Macedo. Assim vai o jornalismo em Portugal.


No post abaixo falei e mostrei um vídeo com as sessões fotográficas do calendário Pirelli 2016 e, num outro, mais abaixo ainda, mostrei a Maitê Proença a cumprir a promessa de se pôr nua em público se o seu Botafogo conseguisse uma certa proeza. 

Portanto, quem estiver mais virado para mulheres fantásticas ou inspiradores e para stripteases, pode já saltar daqui para as mulheres Pirelli e depois para a nudez frontal da Maitê.

Aqui, agora, é de jornalismo que vou falar. E falo com o à vontade dos ignorantes na matéria: apenas conheço o jornalismo pelo lado do consumidor. 



Mas vamos com música, que vamos melhor.

Na venda do Isaías - Tais Quais



Na segunda-feira, enquanto me desloquei de carro, fui ouvindo nas notícias que António Costa não tinha discursado na Cimeira do Clima e que a culpa era do outro governo e os do outro governo a dizerem que tinham feito o que era preciso -- e os jornalistas pespegados àquele grande tema, como se fosse um drama ou como se os ouvintes achassem que isso era, sequer, tema. No meio de cento e tal discursos, alguém vai prestar atenção a isso? E, se alguém prestar, não vai ter em consideração que António Costa tomou posse há dois ou três dias úteis? E não se passou nada de importante naquele encontro para que tivesse passado praticamente em branco e todo o relevo tivesse sido dado a esse insignificante episódio paroquial?


E depois que António Costa disse que Portugal e a Turquia eram membros fundadores e trocou 1949 com 1959. Outra festa. Todos a falarem do lapso como se o homem tivesse dito que a rainha de Inglaterra se chamava Cavaco Silva. 

E ouvi na rádio e vi nos jornais online. Provavelmente na televisão terá sido a mesma coisa.

E a isto eu chamo um jornalismo de meia tigela.

Só se interessam pela rasteira, pela escorregadela, por alguém que tropeça, por alguém que tem um cabelo fora do sítio. Tudo o que é importante no mundo seja a que nível for, seja a nível de ciência, de arte, de verdadeira política, seja do que for, lhes passa ao lado. Os jornalistas hoje, por cá, empolam a trica, a pequena briga, a trampolinice, a gaiteirice, a coscuvilhice. Os jornalistas destroem o jornalismo, matam o interesse do público em ouvir e ler o que dizem.

O mundo é vasto, plural, belo. Ou pode ser atroz, implacável. Mas, em Portugal, os jornalistas interessam-se apenas pelo que tem uma componente de entretenimento básico seja pelo lado da faca e alguidar, seja pelo lado de fuchico, do sangue no asfalto, do carro de pernas para o ar, dos deputados a dizerem banalidades patéticas ou mentiras enfatuadas, da mulher doente da personalidade pública, do actor em recuperação de alcoolismo, da locutora atraiçoada. Ou de insinuações sobre este ou aquele. Ou agora, o cúmulo, imagens de uma pessoa a ser interrogada - a badalhoquice a que Ferreira Fernandes se refere, a miséria moral exposta sem véus.

Depois há a chusma de comentadores que invade as televisões e as rádios e os jornais: uma praga. Há gente boa que quase desaparece debaixo da avalancha que se está a tornar insuportável e que esmaga os jornalistas. 
Deixei de ler o Expresso depois de o ler durante anos a fio. O facciosismo tornou-se-me inaceitável. Não fazia sentido eu estar a pagar para que atentassem contra a minha inteligência.  Já não lia outros jornais em papel. Na internet nunca li o Sol, o i, ou o Correio da Manhã. Não há ali nada que me possa interessar. Televisão nacional também já pouco vejo. Evito a náusea, o enjoo.

Leio cada vez mais sites de jornais ou revistas internacionais, blogs: opiniões fundamentadas de gente que sabe escrever, sabe divulgar, que pensa fora da caixa. Não procuro a cacafonia ou os coros organizados. 

Sabe-se agora que mais umas dezenas de jornalistas, em Portugal, vão ficar sem emprego: o Sol e o i estão em desagregação. Tenho pena. Não gosto de saber que quem quer que seja fique desempregado. 

A responsabilidade pelo jornalismo sem qualidade que se pratica em Portugal não será sobretudo dos jornalistas. Talvez seja de quem gere os órgãos de comunicação social. Mas alguém, sobretudo as pessoas que trabalham nesta área, vão ter que repensar qual o seu papel, qual o nível mínimo de qualidade a que devem obedecer, quais os níveis éticos a que deverão atender. Os jornalistas vão ter que perceber o que se espera deles: não é o lugar comum, não é a repetição ad nauseam do que todos dizem, não é o que convém a A ou a B. Os jornalistas vão ter que saber viver no mundo actual com todos os seus constrangimentos e, apesar disso, pensar pela sua cabeça.

Tal como um dia, talvez não distante, deixemos de ter bancos portugueses (como Vítor Bento previu e eu concordo que há esse risco), talvez um dia deixemos de ter órgãos de comunicação social portugueses - e isso não é nada bom. É certo que também já temos universidades que foram compradas por estrangeiros e que as grandes empresas estratégicas já estão praticamente todas nas mãos de estrangeiros. Se ainda estivéssemos a ser governados pelos infames PàFs talvez um dia acordássemos e Portugal, todo ele, já tivesse sido posto à venda num site de real state.

Tenho esperança que este Governo consiga inverter parte deste triste rumo. Mas, na comunicação social, já vai ser difícil travar a decadência acentuada a que estamos a assistir. Ou alguns dos jornalistas mais preparados, talvez alguns dos mais apaixonados pela profissão e mais aventureiros, se juntam e gizam um projecto inovador, arrojado, de grande qualidade, e encontram um grupo de empresários que suporte financeiramente a aventura ou vejo o cenário muito mal parado. E isso é mau para os jornalistas e para os portugueses.
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[Os Tais Quais são Celina da Piedade, João Gil, Tim, Paulo Ribeiro, Vitorino, Sebastião, Serafim e Jorge Palma.]
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E permitam que vos recomende, em posts abaixo, o Calendário Pirelli 2016 ou o stripease da Maitê Proença. As mulheres estão em destaque, uma vez mais, no Um Jeito Manso

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quinta-feira, outubro 29, 2015

É mal lavado? Mal cheiroso?Tem bafo de onça?
Não, não estou a referir-me a um algum cão com pulgas em particular até porque este post não é sobre política.
Nem estou a referir-me ao Carlos Costa da Quinta das celebridades. Nem ao Eduardo Dâmaso do Correio da Manhã.
Estou a referir-me ao Bond. James Bond. O agente 007. Spectre ou não Spectre.
[De caminho, falo sobre países sexualmente satisfeitos - entre os quais não se encontra Portugal]


Depois das Barbies do post abaixo, agora é a vez do Bond. James Bond. 

Claro que, em vez disso, poderia falar de política. No outro dia um Leitor escreveu-me um mail dizendo que gosta que eu escreva sobre política e que acha que eu, aqui no blog, não deveria misturar assuntos mais intimistas com coisas sérias como a política. Disse-me, ainda, que alguns dos seus amigos lhe contaram que tinham deixado de ler o Um Jeito Manso porque se aborreciam de vir aqui à procura de política e darem de caras com parvoeiras (bem, ele não disse exactamente parvoeiras, isto já sou eu a destratar as ligeirezas a que, volta e meia, me apetece deitar mão). Mas porque haveria eu de estar aqui de castigo a falar sempre de política? Falar a torto e a direito de coisas que, em parte dos dias, não têm nada que dizer...? Ná...

Por exemplo, agora estamos num compasso de espera, à espera que o Passos vá ao parlamento estatelar-se ao comprido, depois de esta 6ª feira tomar posse com o seu séquito de tristes. Vou falar, portanto, de quê? Do vazio? Só se for para dizer que, de facto, não somos a Grécia. Aqui são precisos tempos infinitos para qualquer coisa: meses para convocar, meses sem poder fazer nada, meses para tudo, um atraso de vida. Na Grécia é o contrário: é atar e pôr ao fumeiro. Num abrir e esfregar de olhos convocam eleições, fazem campanha, votam, dão posse ao governo, começam a trabalhar.

É na política e no sexo: quase não há pai para os gregos. 

Já agora: a Grécia é dos países sexualmente mais satisfeitos. Falam abertamente de sexo, praticam-no com fartura, gostam do que fazem.

Greece: The reason the Greeks are so sexually satisfied is that they are less uptight about discussing their sexual desires. In fact, the Greeks have been talking about sex for centuries. In the fourth century BCE, Hippocrates spoke explicitly about the inevitability of sexual desire: “In the cases of women…when during intercourse the vagina is rubbed…an irritation is set up in the womb which produces pleasure and heat in the rest of the body.” Touché! Even today, Greeks commonly discuss sex at work, with friends, and most importantly, with their partners. Communication makes for a better sex life, period. Of course, the great weather, beautiful islands and healthy diet can’t hurt. Durex claims Greeks have the most sex in the world weekly (164 times on average a year). As for the Greeks themselves, they say they’re 51 percent sexually satisfied.  
De Portugal nem reza o estudo. Devem ser uns insatisfeitozinhos, os portuguesinhos: não falam para não ofenderem ninguém nem os próprios santos ouvidos, não fazem porque andam cansados, infelizes e mal pagos, não gostam porque queriam outra coisa. O costume. Os portugueses não valorizam o que têm, estão sempre enjoadinhos, parece que só gostam do que não têm. Uma seca.
Veja-se a Nigéria, o país com a maior taxa de gente sexualmente satisfeita (67%) e (talvez por isso mesmo) onde o acto é mais sexual é mais demorado, 24 minutos. Curiosamente é o país onde há mais mulheres a pular a cerca: infiéis que só visto, as nigerianas: 62%, imagine-se! 
Isto tinha muito que dizer, oh se tinha. Mas hoje não estou para aí virada, tinha que me alongar e longo já isto vai. Portanto, adiante.

Claro que poderia falar de outras coisas. Por exemplo, poderia falar do
Correio da Manhã que foi proibido de perseguir o Sócrates -- mas não falo porque as práticas e as opções do Correio da Manhã me causam asco. Cruzei-me no outro dia com o director do jornal e deu-me pena: uma fraca figura que, vá lá saber-se porquê, parece ter como único propósito de vida o dar cabo da vida de outra pessoa, gastando nessa ignóbil cruzada a sua triste existência. Ná, não me apetece falar de gente com taras.


Ou poderia talvez falar da Teresa Leal Coelho, essa pessoa que não se aguenta, tal o mau perder. Vi-a há bocado na SIC e foi uma luta para a ouvir durante uns minutos: esta mulher desestabiliza emocionalmente o meu marido e não é pelos melhores motivos. Não descansa enquanto não se vê livre dela. Por isso, quem me garante que vocês, meus Caros Leitores, não são como ele e, se me punha aqui a falar dela, vocês não desligavam logo o computador? Portanto, descansem. Não vou gastar a vossa paciência com essa insuportável e manipuladora criatura.

Poderia também falar da Quinta das Celebridades que agora estou a ver. Estava a fazer zapping e vim aqui parar. Para meu espanto, dei com um tal Carlos Costa (que não é o do BdP) a imitar o José Castelo Branco: todo pintado, as beiças inchadas, vestido de garçonette - nem sei bem o que é aquilo. Mas não vou falar, não saberia desenvolver. 


Olha, agora estou a ver a Cinha - outra vez metida nisto? - a desancar o dito Carlos porque, pelos vistos, ele acordou outro. Tempo de antena usado com isto... Nem dá para acreditar que viemos acabar nesta indigência terceiro-mundista, nesta estupidez sem tamanho que só pode dar em atrofiamento mental.


Portanto, a verdade é que não me apetece falar de nada em especial. Tudo uma pepineira. 

Por isso, vou antes deixar-vos com o Bond.

Seu nome é Bond, James Bond. Espião internacional, patriota, refinado, conquistador, inteligente, estrategista, atirador de elite e letal com as mãos. 
Qualidades não faltam para descrever essa epítome da masculinidade. As mulheres o querem, e os homens querem sê-lo. 
Mas nem tudo são flores para ele. Por alguma razão, seus chefes nunca duram e ele não consegue manter uma relação estável. As pessoas preferem que ele exerça sua licença para matar, do que se entregar para ele. Não sei, mas algo me diz que ele é flor que não se cheire.

James Bond  - Porta dos Fundos



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Relembro: se descerem até ao post seguinte, terão uma agradável surpresa. O tema tem a ver com a Barbie mas, garanto, é uma graça.

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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela quinta-feira com tudo de bom.

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domingo, setembro 13, 2015

Joana Amaral Dias na Vidas: a nudez, a gravidez, a política. "É menina! Oxalá seja mulher com liberdade". É isto uma mensagem eficaz em tempos de campanha eleitoral. Nestas alturas vale tudo?
[A propósito, recordo as duas vezes em que estive grávida]
E termino com uma sugestão ao Carlos Abreu Amorim


Quando engravidei, ao princípio, nunca ninguém dava por nada. Usava jeans que a minha mãe abria de lado e onde colocava um elástico que eu ia ajustando. E usava umas camisas floridas, larguinhas. Como não tinha enjoos, desejos ou daqueles sintomas usuais, é que ninguém sequer suspeitava; e eu não sentia necessidade de andar a alardear, achava que era coisa minha.

Depois, quando a barriga estava maior, e já era verão, usava vestidos à mamã (como, na altura, se dizia), larguinhos, coloridos. Lembro-me de um que a minha mãe me fez, encarnado claro com umas pintinhas, sem mangas, amplamente decotado com um folhinho à volta. Vejo-me nas fotografias, ar de miúda, vestido de miúda, sempre a rir... e com uma barriga que impunha respeito.

Na altura não era costume usar blusas justas sobre barrigas muito grandes. Também não era usual estar na praia com o barrigão à vista. Usava um biquini próprio, que tinha uma espécie de véu preso no soutien e que encobria a barriga. Quando não estava gente por perto, destapava-a para que os bebés sentissem melhor o sol.

Gostava muito da minha barriga que crescia imenso; das duas vezes toda a gente dizia que eu teria gémeos apesar de eu garantir que era só um. 

Gostava muito de, à noite, quando havia lua cheia, me pôr na varanda com a barriga ao léu. Achava que a luminosidade lunar haveria de ser boa. Nunca pensei porquê. Talvez achasse que traria felicidade. Mas quando estava quarto crescente eu também apresentava à lua, à noite, na varanda ou na janela do quarto, os filhos que viviam dentro de mim. Aí, se calhar, era para ver se cresciam bem.

Nunca pus cremes para estrias e, por sorte, nunca as tive. Gostava mesmo de ver a minha barriga, especialmente quando se mexia. 

A minha filha fazia movimentos curtos, mexia os braços, as mãos, os joelhos, os pés. Era possível, colocar as mãos sobre a barriga e ficar a senti-la a mexer-se. Punha música e falava com ela. Nasceu uma menina calma, sorridente, bem comportada. Dormia bem, mamava a horas certas, brincava sossegadinha.

Com o meu filho era muito diferente. Parecia que dava cambalhotas, os movimentos eram intensos, todo ele se revolvia, e com força. Chegava quase a ficar incomodada, quase mal disposta. Devia dar sapatadas que se reflectiam no estômago, sei lá. Sempre foi tremendamente irrequieto.

Nasceu enorme, não sei se se sentia apertado apesar do tamanho do barrigão. Ao fim de pouco tempo de nascer, tive que o tirar do berço porque dava voltas, punha a perna em cima, quase virava o berço.

Também era sôfrego a mamar, engasgava-se e quase sufocava, dormia mal, não parava sossegado, ia dando comigo em maluca pois não me deixava dormir mais que uma ou duas horas de seguida. E, como mamava daquela maneira, depois vomitava, tinha que mudar a roupa da cama. Ou seja, era cá fora aquilo que se adivinhava que seria quando estava dentro da barriga. 

No entanto, apesar da experiência traumática que foram aqueles primeiros meses do meu filho, durante muitos anos, eu sentia a nostalgia da gravidez, uma saudade enorme de sentir uma pessoinha a criar-se dentro da minha barriga, a ganhar vida própria, a adquirir a sua maneira de ser. 

Já contei muitas vezes que apenas pela vida que tinha - sem apoio familiar por perto, a viver numa cidade e a trabalhar noutra, tudo muito difícil, com problemas sempre que algum ficava doente - é que não tive uma meia dúzia de filhos. O meu corpo pedia para se transformar mais vezes - eu é que não lhe dei ouvidos.

Quando os meus filhos nasciam, tinha leite que não acabava; e eles, alimentados só com leite, sem suplementos, aumentavam a olhos vistos, saudáveis, cheios de vitalidade, felizes. 

Depois, vieram os momentos da gravidez da minha filha e da minha nora. Vivi esses momentos com felicidade mas de uma maneira muito diferente, com uma ansiedade que não tive quando tinha os meus filhos dentro de mim. Verdadeiramente só descansei, de cada uma das quatro vezes, quando os vi cá fora, bem, e as mães também bem.

Tenho verdadeira devoção perante uma barriga que transporta um filho em formação. Acho das coisas mais maravilhosas do mundo esta capacidade de uma vida se formar a partir de duas ínfimas células, multiplicando-se de forma inteligente, misteriosa, perfeita.

Uma barriga de uma mulher grávida é, para mim, uma coisa de uma beleza sobrenatural.

Talvez por isso me sinta chocada com a instrumentalização que Joana Amaral Dias anda a levar a cabo com a sua barriga, a sua gravidez. Há ali qualquer coisa de vulgar, como se, em política, valesse tudo, até a exposição da parte do corpo que, transformando-se para acolher um outro ser humano, pudesse ter o mesmo efeito que um cartaz de campanha.

É que uma coisa é pensar o corpo como um elemento estético, belo, uma mulher com outra pessoa dentro de si; e outra, muito distinta, é, em campanha, isso ser aproveitado de forma gratuita, perdendo o sentido mágico e transcendental, apenas para servir de bandeira eleitoral.

E se a fotografia anterior na capa da Revista Cristina já me parecia uma coisa sem jeito, a capa agora da revista Vidas do Correio da Manhã - em que aparece espalhafatosamente chocarreira - ainda mais vulgar me parece, quase chocante.



Joana Amara Dias, candidata do AGIR


Não me tenho por conservadora pois quer política, quer esteticamente, acho que estou o mais possível aberta à diversidade, à irreverência, ao inesperado. Mas acho que há coisas que merecem algum respeito: a beleza de uma barriga grávida não deveria ser instrumentalizada com vulgaridade.

Só falta, um dia destes, o Carlos Abreu Amorim, desesperado, numa de ver se salva a sua pafiosa coligação, nos aparecer também assim:


O actor Johnny Vegas aqui fotografado por Karl J Kaul,

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Bem. E a propósito dos pafiosos ou pafientos, desloquem-se por favor até ao post abaixo a fim de contribuirem para o peditório organizado pelo ainda Primeiro-Ministro para ajudar os pobrezinhos lesados do BES a pagar as despesas de porem o BES ou o Novo Banco em tribunal. Uma cena de crowd funding a la Láparo, não sei se estão a ver. Uma coisa esperta. Mais uma.

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Desejo-vos, meus Caros Leitores, um belo dia de domingo.


segunda-feira, julho 28, 2014

Os homens do Expresso e Ricardo Salgado, o BES, o Grupo Espírito Santo: Nicolau Santos, Pedro Santos Guerreiro, João Vieira Pereira. E Miguel Sousa Tavares. E João Duque. E outros de outra comunicação social como Marcelo Rebelo de Sousa. E o Correio da Manhã (mas isso não sei se é bem jornalismo). E os Partidos. E não só.


Volto a um assunto de que já tantas vezes aqui falei: a decadência de um poderoso Grupo económico português que se tem vindo a precipitar a velocidade acelerada, mostrando como entre a glória e a ruína vai um curto passo. Uma família Espírito Santo, até há pouco tão rica, rica demais para poder tombar, é hoje, certamente, um grupo de pessoas em aflição, consumida pela desconfiança e pelo ódio.





E volto ao assunto porque a imprensa, antes tão servil, é agora um cão esfaimado pronto a saltar ao pescoço daqueles a quem, antes, tanto venerava. E, ao lançar confusão e areia, a imprensa tablóide corre o risco de desviar a atenção daquilo que importa.

Por isso, vou começar no Correio da Manhã mas não por muito tempo pois penso que presta um mau serviço ao país e vou antes centrar-me no Expresso, no qual há, apesar de tudo, alguns jornalistas de qualidade. E digo alguns porque outros, jornalistas ou colaboradores, uns por uma razão, outros por outra, nem tanto (e agora estou a cingir-me, em particular, ao mediático caso Espírito Santo).


O Correio da Manhã, que parece estar umbilicalmente ligado ao Ministério Público, revela que o BES emprestou alguns milhões aos Partidos, com o CDS à frente (5.5 milhões?). 


Não sei como é feita a gestão económica e financeira dos partidos. Presumo que tenham como fonte de receitas o que os militantes pagam, que não deve ser muito, e algum apoio vindo do Orçamento de Estado. Como despesas, devem ter rendas e outras despesas de funcionamento da sede, incluindo pagamento de ordenados a funcionários, publicações e publicidade, etc. Não sendo empresas com fins lucrativos, diria eu que deveriam ser capazes de viver com o que têm já que não poderão fazer, como as empresas, diversificação de actividades, 'penetração' em novos mercados. Por isso, causa alguma estranheza que precisem de se financiar em milhões. Por exemplo, o CDS, um partido tão pequeno, precisa daqueles milhões para quê? Não sei. Mas, enfim, parece ser mais um caso de gestão do que outra coisa. Uma organização ou uma pessoa pedir empréstimos à banca não tem nada de mal, sobretudo se os conseguir pagar. Por isso, a capa do Correio da Manhã a mim não me diz nada: parece-me, isso sim, puro populismo jornalístico.

A questão é mais outra: quase toda a gente que exerce uma actividade em Portugal parece que não sabe gerir sem ser com recurso a capitais alheios. Ou seja, tal como digo aqui desde sempre e como fica cada vez mais claro, não foram as pessoas individualmente que viveram acima das suas possibilidades mas sim alguns, poucos, os muito privilegiados de sempre, e as organizações, especialmente as de gestão privada (provavelmente, partidos incluídos). 
Portugal vive em cima de dívida e isso, sim, é um grande problema. Há tempos li na entrevista que Anabela Mota Ribeira fez a António Nogueira Leite uma coisa com a qual estou absolutamente de acordo. Referia-se ele ao contacto que tinha tido com o patrono do Grupo Mello:
O Sr. José Manuel de Mello via sempre à frente de todos os outros. Há uma série de coisas que estão a acontecer que, ditas na linguagem encriptada que ele usava, e que quem trabalhava com ele percebia, anunciou. Refere, candidamente mas de uma forma frontal, que em Portugal as pessoas não gerem activos, gerem dívida – que até aí ninguém tinha dito.

É verdade. E, quando se vive em cima de dívida, vive-se no arame - dependente de tudo, vulnerável, as fracas economias que a actividade vá gerando a serem devoradas pelo serviço da dívida. E vive-se sob o jugo de quem tem o poder para ir dispensando mais uma pinguinha, mais um pózinho. 

Porque se chegou a este ponto? Ter-se-ia que recuar muito na História de Portugal para encontrar as causas e nem seria eu a pessoa mais habilitada para falar nisso.

Um Estado em geral ocupado por fracas elites, por gente que se deixa manipular, incapaz de regular o que quer que seja, o poder na mão de uns quantos, poucos, e muita corrupção, grande e pequena mas disseminada, dinheiro circulando por muitos corredores - esta tem sido, de facto, mais coisa menos coisa e salvo em alguns curtos períodos de excepção, a história da vida deste pobre país.

As empresas francesas, quando orçamentavam grandes projectos para venderem em Portugal, incluíam sempre uma rubrica designada por frais latin. Luvas. Soa humilhante para nós mas era (e até há pouco tempo era assim; agora não sei) indispensável para que se conseguissem ganhar grandes concursos.
Não havia grande negócio que se fizesse que não tivesse que contemplar dinheiros para este, para aquele e para aqueloutro. Por vezes, as benesses percorriam a hierarquia de cima a baixo, tudo agilizado (oleado) de forma generosa. Repito: escrevo no passado porque desconheço o que se passa nos dias de hoje.

E, portanto, uns porque pagaram, outros porque receberam, outros porque trabalham em empresas que são fornecedoras e que não querem perder negócio, outros porque são colaboradores e devem fidelidade à empresa, outros porque são amigos ou familiares, ou por mil outras razões - não puderam falar e, mesmo hoje que tudo se escancara em escândalo e revolta, há pessoas de quem se esperaria que denunciassem ou criticassem factos e o não fazem. 

Numa altura em que o assunto que grita no País é o escândalo e o drama da queda do império Espírito Santo, Miguel Sousa Tavares sempre tão atento à actualidade, não toca no assunto GES/BES. Compreende-se: a sua filha é casada com um Espírito Santo. Eu também teria dificuldade em arrasar publicamente um compadre meu. 



Marcelo Rebelo de Sousa já o disse publicamente várias vezes: é amigo pessoal de Ricardo Salgado, já passaram muitas férias juntos, e é sabido que a sua namorada de longa data, Rita Amaral Cabral, é administradora do Grupo. Como poderia ele falar abertamente? Como poderia ele lançar alertas públicos? Fala apenas em geral, em termos globais e fala agora. Ouvi-o há pouco dizendo que já em 98 afrontou Ricardo Salgado mas não tenho ideia. Desconheço se teceu críticas privadas ou quase privadas mas em privado tudo é possível porque, supostamente, as paredes não têm ouvidos. Sobretudo, é inconsequente. O que importava, perante as dramáticas consequências para tanta gente, era que, atempadamente, se tivesse tentado impedir que tanto mal acontecesse.


[Nota: Falar agora é fácil e meio mundo o faz como se já soubesse deste brutal escândalo há mil anos. Mas a coisa é ainda mais desagradável quando o falatório assume contornos de conversa de vizinha. É o que achei da recente conversa de Paes do Amaral. Paes do Amaral foi casado com uma irmã de Rita Amaral Cabral e, portanto, quase cunhado de Marcelo Rebelo de Sousa. A forma deselegante como, na entrevista que concedeu ao jornal Dinheiro Vivo a propósito da privatização da TAP, envolveu Marcelo Rebelo de Sousa na teia de Ricardo Salgado soou-me a vingança, a mau feitio, a coisa feia, a coisa muito pouco nobre - mas, enfim, por estes dias a nobreza parece andar pelas ruas da amargura]

Continuo. Falo agora não de jornalistas ou comentadores mas, sim, de gestores tidos por excelentes, verdadeiros opinion makers junto de quem se interessa pela boa governance de sociedades. Henrique Granadeiro ou Zeinal Bava eram presença frequente em seminários ou debates, casos exemplares. Contudo, estão nas administrações de empresas que têm como accionista os Espírito Santo - como podem falar, se estão onde estão pela confiança que merecem junto do ex-dono disto tudo? Não podem. Aliás, de forma incompreensível, atiraram para a lama a sua própria reputação, a reputação da PT e estoiraram com as economias dos que acreditavam neles. Um caso difícil de entender e que ainda irá dar que falar.



São exemplos, simples exemplos, porque as ligações são poderosas e inúmeras.



Nicolau Santos recordou na sua crónica do suplemento de Economia do Expresso de sábado: em tempos falou das suspeitas e indícios envolvendo Ricardo Salgado e, por causa dessa ousadia, o Expresso sofreu uma quebra de receitas publicitárias no valor de 3 milhões. O BES é um grande anunciante, uma fonte de receitas relevante para toda a gente que precisa das receitas publicitárias. Não é fácil a uma empresa como aquela que gere o Expresso encaixar uma perda de receitas de 3 milhões. Por isso, antes que alguém falasse, que pensasse bem. Assim funcionam estas coisas.


Por isso, foram poucos os que, em momentos difíceis, tiveram a coragem de romper o cerco. Nicolau Santos, como já antes o disse, tem sido exemplar na forma como rompe os cercos do medo. Esta semana não apenas recorda os que valorosamente têm posto o dever de informar acima de medos ou interesses, como tem a coragem de enunciar as actuações tíbias de Carlos Costa que tem sido tão elogiado por meio mundo e cuja actuação, na prática, tem sido tardia, pouco eficaz, e, sejamos claros, pouco credível.

Nicolau Santos fala também em Pedro Santos Guerreiro, um jornalista de primeiríssima água. Claro na expressão, directo, honesto, pela sua mão têm sido escritos dos mais claros artigos sobre a ruína da família Espírito Santo.


Esta semana, Pedro Santos Guerreiro, faz uma antevisão do que vai acontecer às empresas do Grupo (falências, depreciações, venda, prejuízos para os fornecedores e demais credores, muito desemprego), ao BES (perda de valor, perda de dimensão, provável aquisição por parte de outro banco, anulação da marca BES) e para a família (perda de tudo, ser processada, desagregar-se). Ler Pedro santos Guerreiro é ler a realidade sem photoshop.


Nicolau Santos fala ainda de João Vieira Pereira que acompanhou algumas investigações.

Confesso que, em geral, não me revejo na escrita e nas opiniões de João Vieira Pereira. Parece-me frequentemente errático nas suas apreciações, injustificavelmente crédulo (o que parece acontecer sempre que as promessas vêm do lado da actual coligação), só reagindo perante evidências, aparentando pouca consistência nos seus juízos de valor. Mas, de vez em quando, tem assomos de clarividência e escreve de forma directa, sem brandura. É o caso do que escreve esta semana no seu Bloco de Notas. Não sei exactamente a que se refere quando fala de links mas presumo que ele saiba e, por isso, transcrevo:

O Grupo Espírito Santo era claramente extractivo. Extraía para alguns. Para os seus. Família ou amigos. Não havia bem comum. Havia o bem de um.

Sobre ele girava um império. Os links estão todos feitos. A Durão Barroso, a Paulo Portas, a José Sócrates, à EDP, à PT, e até ao Benfica. Os casos sucederam-se durante anos. Sempre com o memsmo denominador. No palco ou nos bastidores.


Mas a culpa é tanto dele como de quem lá o deixou ficar. Durante anos houve um pacto que ninguém ousou quebrar, ninguém.Por mais que agora venham dizer que sempre avisaram, é mentira! Ninguém teve coragem para o fazer. Ninguém com o poder de acabar com a vergonha.

A vergonha de haver um poder económico que não trouxe prosperidade. E que ajuda a explicar por que razão continuamos na cauda da Europa. O valor criado era apropriado por alguns, os eleitos. E foram muitos os que ganharam no jogo.


Não posso estar mais de acordo. Só lamento que, com a presciência que agora revela, João Vieira Pereira não tenha tido a mesma lucidez nas vezes em que o vi defender, com unhas e dentes, as medidas estúpidas com que Passos Coelho tem vindo a destruir a economia, a aumentar a dívida e a atacar trabalhadores, como se tivessem sido estes últimos os responsáveis pelo estado do País. Mas, enfim, se finalmente, caíram os véus que, por vezes, pareciam toldar-lhe a vista, só posso ficar contente. O país precisa de um jornalismo isento e lúcido.


Exemplo de um cata-vento que diz o que calha consoante sopram os ventos é, em minha opinião, João Duque, justamente o da 'confusion de confusiones'. Chega a ser patético. Esta semana escreve uma crónica, naquele seu estilo que tenta ser humorístico, mostrando que, com a estrutura accionista e a estrutura organizativa (e fiscal), as empresas do Grupo Espírito Santo formam uma teia impossível de rastrear. Pois. Têm razão Nicolau Santos e João Vieira Pereira quando dizem que agora é fácil pisar quem já está no chão. Pois não foi João Duque que, à frente do ISEG, concedeu mais uma distinção a Ricardo Salgado? Em 2013, Ricardo Salgado  não foi prestigiado com o doutoramento "honoris causa" por serviços prestados à economia, cultura, ciência e à universidade?


Transcrevo uma parte de uma notícia de Julho de 2013, assinada por Maria Teixeira Alves,sobre o discurso de agradecimento de Ricardo Salgado ao ser agraciado :
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"Hoje em dia não se pode falar de emprego e crescimento sem ter conta uma visão estratégica sobre o que se passa no mundo", disse [Ricardo Salgado] defendendo a internacionalização. Elogiou o papel do BESI na internacionalização do banco.
"Agrada-nos muito ter contribuído para o aumento das exportações portuguesas", disse.
Ricardo Salgado reforçou o papel do Estado no equilíbrio das finanças públicas para poder reduzir a austeridade ao mínimo e promover o crescimento económico". O banqueiro realçou ainda a importância da União Bancária.
Finalmente elogiou o papel do ISEG, presidido por João Duque, no conhecimento.

Por isso, quanto a João Duque, estamos entendidos.



Mas volto ao muito esclarecedor artigo de Nicolau Santos e, para abreviar razões, limito-me a transcrever:

O BES foi seguramente, nos últimos anos, o banco que mais investiu em publicidade na comunicação social. Essa estratégia nunca foi inocente. Na sua mão tinha sempre a espada de Dâmocles, que levava o director de cada rádio, jornal ou televisão a pensar duas vezes antes de publicar algo desagradável para o banco verde.

A esta actuação aliava uma outra: o convite a jornalistas para irem a conferências de uma semana em estâncias de férias de neve na Suiça ou em França, onde de manhã se ministravam cursos de esqui na neve e à tarde se ouviam especialistas na área económica e financeira. E no verão repetia-se a dose: uma semana num barco algures no Mediterrâneo, acompanhando a Regata do Rei, até que num dos dias se subia a bordo do veleiro (ou será iate?) onde estava Ricardo Salgado para uma conversa descontraída sobre o banco.



Poderia eu acrescentar: Meu Caro Nicolau Santos, acha que esta prática era exclusivamente dedicada a jornalistas ou a estâncias de neve ou náuticas? Quantos directores ou administradores de empresas foram assistir a jogos de futebol aqui, ali e acolá, com viagem de avião, deslocações, almoços e jantares tudo incluído por convite do BES? Poderia juntar alguns exemplos para além do futebol como, por exemplo, torneios de golfe aqui e além mar, ou outros, mais mas isto está longo para além da conta e eu sei que a vossa paciência tem limites.


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Seria bom que se pudesse fazer uma limpeza nos bastidores da política, da economia e das finanças de Portugal, especialmente acabando de vez com a teia que perigosamente, ao longo de muitos anos, se foi entretecendo entre os seus vários agentes. Mas seria bom que isso não implicasse o sacrifício de muitos inocentes. E é disso que tenho receio, é isso que me preocupa. Mas tudo se há-de resolver e, com sorte, os efeitos colaterais não serão dramáticos e a justiça correrá célere para punir os culpados de tanto atraso de vida.

E até lá, até que a justiça faça o que tem a fazer, que haja decência e respeito (inclusivamente por parte da Justiça e dos seus agentes).





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As músicas são, respectivamente, as bandas sonoras dos filmes 'O Padrinho' e 'O silêncio dos inocentes'.

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Nota escrita na manhã de quinta feira, dia 7


Este post, à data a que escrevo isto, já foi lido mais de 22.000 vezes o que me surpreende imenso. Aos que aqui vierem agora permito-me sugerir a leitura do que, sobre o tema, escrevi entretanto, depois de ter escrito o que acabaram de ler:

Aqui

Aqui

Aqui

Aqui

e, já sobre o NOVO BANCO, aqui, e depois disso já outras dúvidas, perplexidades e catatonias de que seria fastidioso continuar a pôr a aqui os links pelo que o melhor, caso queiram, é irem direitos ao blogue em geral, sem destino definido (mas vão com cuidado pois - vou já avisando -, por vezes, perco-me por maus caminhos).


[Já agora: desde o início que venho escrevendo sobre o tema BES mas para não estar aqui a pôr todas as ligações, caso esteja interessado, sugiro que nas 'etiquetas' do lado direito, lá mais para baixo, clique em BES]. 


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