Ouço as notícias e, frequentemente, acho que é espuma e/ou treta. Repetem-se uns aos outros, vão atrás da conversa uns dos outros. Não param para pensar. Não acrescentam, não esclarecem, não raciocinam, não estimulam o pensamento de quem os ouve.
Ainda por cima, os jornalistas portugueses têm agora uma mania que detesto: para que a notícia chame a atenção, histrionizam a locução. Parece que estão a fazer grandes revelações, parece que há drama no ar. Outras vezes há suspense na voz, parece que nem a gente imagina o que está para aí vir. Só falta acabarem a notícia com um cúmplice: 'Se é que me estão a entender...'. Outras vezes fazem cara de e voz de maus e há censura e repreensão por detrás do que estão a noticiar, só falta acabarem a notícia a cuspir para o chão.
Tenho ideia que tudo começou com o José Rodrigues dos Santos. Empolgava-se todo. Gostou de se ver, os outros acharam que toda a gente gostava de o ver. Passaram em ensaiar ao espelho até ficarem parecidos com ele. Virou moda.
E vão carregando na dose. Ele mesmo vai evoluindo no sentido da total teatralização. Volta e meia está de pé, agitado, aponta para o ecrã onde tudo se passa, abre as mãos, faz pausas logo seguidas de empolamentos, e a gente teme que venha aí um míssil, que a guerra desta vez seja ali, em cima da cabeça dele. No fim, remata com um piscar de olho como que a dizer: 'Lá vos enganei outra vez, seus totós. Certo...?'
Virou um estilo. De uma forma ou de outra, todos querem seguir-lhes as pisadas. A Cristina Esteves, por exemplo, está quase lá. Só lhe falta que em vez de lhe tremelicar a beicinha, lhe pisque a vista.
Na TSF é o mesmo. De cada vez que é hora certa ou meia hora, em vez de sair um cuco, sai uma voz ansiosa, aflita, anunciando grande bernarda.
Na TSF é o mesmo. De cada vez que é hora certa ou meia hora, em vez de sair um cuco, sai uma voz ansiosa, aflita, anunciando grande bernarda.
Cansa-me isso.
O excesso de emoção e, ainda por cima, emoção a despropósito, cansa-me. As notícias querem-se rigorosas, neutras, fundamentadas, ditas sem estados de alma. Nada de fogo de artifício, nada de cheerleaders a anunciar a gripe das galinhas, das cobras, dos morcegos, e a Joacine e o André Ventura e se a mandamos de volta e se isso é por ela não ser loura ou por gaguejar ou por ser diva, e o Livre e as obras de arte de volta para a terra delas e mais uma chusma de comentadores e, pelo meio, a futura candidata a presidente-justiceira, gémea separada à nascença da amiga Júlia, a espumar ajustes de contas pelas ventas seja contra submarinos, lavandarias & orelhas, Isabéis e família, e, uma vez mais, mil comentadores, mil papagaiadas, mil estalinhos de carnaval, e mais a Joana Amaral Dias e mais meia dúzia de senhoras a manifestarem-se à porta não sei de onde a quererem canonizar o Rui Pinto, esse grande herói... e patati-patatá, patati-patatá.
O excesso de emoção e, ainda por cima, emoção a despropósito, cansa-me. As notícias querem-se rigorosas, neutras, fundamentadas, ditas sem estados de alma. Nada de fogo de artifício, nada de cheerleaders a anunciar a gripe das galinhas, das cobras, dos morcegos, e a Joacine e o André Ventura e se a mandamos de volta e se isso é por ela não ser loura ou por gaguejar ou por ser diva, e o Livre e as obras de arte de volta para a terra delas e mais uma chusma de comentadores e, pelo meio, a futura candidata a presidente-justiceira, gémea separada à nascença da amiga Júlia, a espumar ajustes de contas pelas ventas seja contra submarinos, lavandarias & orelhas, Isabéis e família, e, uma vez mais, mil comentadores, mil papagaiadas, mil estalinhos de carnaval, e mais a Joana Amaral Dias e mais meia dúzia de senhoras a manifestarem-se à porta não sei de onde a quererem canonizar o Rui Pinto, esse grande herói... e patati-patatá, patati-patatá.
Portanto, embora esteja aqui com mais uma atravessada para dizer (e que tem a ver com as razões que me levam a pensar que é bom para o Rui Pinto, esse grande artista dos discos piratas, que se mantenha preso), fecho a porta das minhas ideias, corro as cortinas, e, ansiando por estar na boa e esquecer a onda de resíduos com que a comunicação social tenta submergir-nos, desloco-me até ao cantinho das novidades e das antiguidades e ponho-me a ouvir música. Ao menos isso. A música é uma coisa boa. A pintura também. E a fotografia. E a poesia. A arte em geral. Faz bem, lava-nos as células, deixa-nos limpinhos e prontos para só gostar de coisas boas.
Que entrem, pois, a Rosalia e o Tim Bernardes que Laurence Kubski já entrou trazendo as suas fotografias.
E as palavras ditas. Gosto de ouvir palavras ditas, em especial quanto bem ditas.
Benditas palavras.
Benditas palavras.
Chego ao fim e tenho consciência que nada disto tem muita coesão entre si mas é assim a vida, cheia de desencontros, de encontros inexplicáveis, de acasos, de traços de luz que vêm de longe para se cruzar para logo se desencontrarem. Música, palavras, imagens, coisas que aparecem porque sim, instantes bons, hiatos, coisas de nada.
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