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quinta-feira, julho 10, 2025

Uma ficção suficientemente bem contada, se repetida o suficiente e apoiada por instituições poderosas, torna-se uma realidade concreta para milhões — mesmo que tenha começado como uma invenção de um só homem


Há pouco tempo, o meu marido referiu a história da origem da 'caça às bruxas'. Tenho andado a pensar nisso. 

Depois, no outro dia, vi uma série documental que me impressionou imenso, 'As Mil Mortes de Nora Dalmasso'. A quem puder ver na Netflix, vivamente a recomendo. Trata-se de um crime real que foi acompanhado de perto pela comunicação social, com notícias, fugas de informação do processo judicial, com comentadores em permanência nas televisões a debitarem certezas absolutas sobre o que se tinha passado. Começaram por falar em jogos sexuais, falava-se em orgias. Havia testemunhos, segredos mal guardados. Vizinhos, amigos, todos pareciam saber qualquer coisa sobre a qual pareciam querer encobrir o fundamental. Depois, como Nora Dalmasso era uma mulher rica que vivia num bairro rico, já falavam de encobrimento dos poderosos, depois em envolvimento político. Algum tempo depois, as suspeitas recaíram num rapaz que andava lá em casa a fazer obras. A população revoltou-se, dizendo que era uma manobra para desviar as atenções da família e dos amigos. Houve manifestações. O rapaz acabou por ser ilibado. Pouco depois, uma novidade: finalmente tinha sido descoberto o autor do crime. O assassino tinha sido o filho, um jovem adolescente. Toda a gente tinha a certeza. Arranjaram provas, provas ditas irrefutáveis. O filho era capa de revistas, notícia principal em jornais e noticiários televisivos. Ninguém duvidava: as provas eram públicas e falavam por si. Descobriram que o rapaz era homossexual e foi construída uma narrativa que tinha a ver com a não aceitação por parte da família. O rapazinho, que ainda não se tinha assumido publicamente, foi arrasado. Até que se concluiu que, afinal, o pobre do rapazito era inocente e vítima, tinha perdido a mãe e tinha visto a sua vida devassada. A seguir todas as suspeitas recaíram sobre o marido de Nora. Finalmente, o assassino tinha sido descoberto. Foi perseguido por jornalistas, foi apertado pelos procuradores, foi esmagado. A imprensa exultou, os comentadores explicavam o comportamento dele, toda a gente sempre tinha achado que as suas atitudes eram mais do que suspeitas. Desfiavam provas que, desta vez, eram óbvias, claras. Não havia dúvidas. Tinha que ser punido exemplarmente. Até que, muitos anos depois (porque tudo isto levou muitos anos, com vários procuradores a ocuparem-se do processo), aconteceu o impensável: no próprio julgamento, o procurador, o último, reconheceu que não havia qualquer prova contra o marido e retirava a acusação. Reconheceu-se, então, que tinha havido erros grosseiros na investigação e que os procuradores tinham seguido linhas de investigação erradas. Há pouco tempo, creio que há uns dois ou três anos, descobriu-se finalmente que o provável assassino tinha sido um outro trabalhador que lá andava nas obras. Só que vinte anos tinham decorrido e o crime tinha prescrito. A Justiça tinha falhado retumbantemente.

Então, como tenho andado a pensar nisto, pedi ao ChatGPT que escrevesse sobre o tema da 'caça às bruxas'. Por ser um tema sempre actual e que me parece bem interessante, aqui vai.

Como nasceu a caça às bruxas: a ficção que virou tragédia coletiva

1. Origem: quando a bruxaria era só superstição

Durante grande parte da Idade Média, a Igreja Católica não via a bruxaria como ameaça real. O Canon Episcopi, um texto do século X amplamente difundido, dizia que as mulheres que acreditavam voar com deusas pagãs estavam apenas iludidas pelo demónio — mas não era considerado que tivessem feito nada de real. A bruxaria era tratada como superstição popular, não como crime ou heresia grave.


2. O ponto de viragem: um frade ressentido e um livro perigoso

Em 1485, Heinrich Kramer, frade dominicano e inquisidor, tentou conduzir julgamentos por bruxaria na cidade austríaca de Innsbruck. Foi rejeitado pelas autoridades locais, que consideraram os seus métodos abusivos e infundados.

Em resposta, Kramer decidiu escrever um tratado. Em 1487, publicou o Malleus Maleficarum (“O Martelo das Bruxas”), uma obra que misturava fantasia, misoginia, superstição e uma visão teológica deturpada. Defendia que:

  • as mulheres eram mais propensas ao pecado e, por isso, à bruxaria;

  • o Diabo fazia pactos com elas através de sexo, feitiçaria e voos noturnos;

  • a tortura era necessária e legítima para obter confissões.

A obra foi rejeitada inicialmente pela Universidade de Colónia, mas Kramer conseguiu uma bula papal (de Inocêncio VIII) que lhe deu autoridade para agir como inquisidor. Isso deu ao texto uma aparência de legitimidade.


3. Disseminação: o papel da imprensa

O que deu ao Malleus o seu verdadeiro poder foi a prensa de tipos móveis, recém-desenvolvida por Gutenberg. A obra foi reproduzida em larga escala e circulou por toda a Europa ao longo dos séculos XV e XVI. Em várias regiões, foi tomada como manual jurídico e doutrinário oficial — mesmo sem nunca ter sido oficialmente aceite pela Igreja como doutrina universal.

A multiplicação dos exemplares fez com que ideias fantasiosas e sem base empírica passassem a ser tratadas como verdades absolutas, com aplicação direta em tribunais civis e eclesiásticos.


4. Expansão: medo, crise e histeria institucionalizada

Entre c. 1500 e 1700, a Europa viveu um período de instabilidade profunda: guerras religiosas (Reforma e Contrarreforma), pestes, fome e crises políticas. Em tempos de medo, o mito das bruxas oferecia um bode expiatório conveniente.

As autoridades, tanto católicas como protestantes, começaram a conduzir julgamentos em massa com base nas ideias do Malleus e em outras obras derivadas. O uso sistemático da tortura levou a confissões forçadas, que alimentavam novas acusações — criando um ciclo de autojustificação brutal.


5. Duração: três séculos de delírio

A “caça às bruxas” durou quase 300 anos:

  • Início efetivo: 1487 (com a publicação do Malleus)

  • Pico de violência: 1560–1630 (época das guerras de religião)

  • Declínio lento: após 1650, com o surgimento do racionalismo, o reforço de Estados centrais e o avanço do pensamento científico

  • Última execução oficial por bruxaria na Europa: 1782 (Anna Göldi, na Suíça)


6. As vítimas: quem pagou o preço da fantasia

Estima-se que entre 35 000 e 60 000 pessoas foram executadas por acusações de bruxaria — em alguns cálculos, até 100 000. Cerca de 80% eram mulheres, frequentemente viúvas, curandeiras ou socialmente marginalizadas.

Estas pessoas foram torturadas, queimadas ou enforcadas com base numa narrativa criada por um único frade ressentido, que misturou lenda, misoginia e moralismo num tratado tomado a sério por gerações.


7. O poder da ficção partilhada: o que diz Harari

O historiador Yuval Noah Harari usa este caso como exemplo clássico de como “ficções intersubjetivas” — histórias partilhadas por um grande número de pessoas — podem moldar o comportamento coletivo, as leis e as instituições. Quando essas ficções são tomadas como verdades absolutas, mesmo sendo baseadas em delírios ou mitos, podem conduzir a desastres reais.

"Uma ficção suficientemente bem contada, se repetida o suficiente e apoiada por instituições poderosas, torna-se uma realidade concreta para milhões — mesmo que tenha começado como uma invenção de um só homem."


Conclusão: da fantasia à fogueira

A caça às bruxas foi, em grande parte, o resultado de uma fantasia transformada em sistema judicial. O Malleus Maleficarum, escrito por um único frade, foi a semente de um pesadelo histórico que durou três séculos, espalhou medo por toda a Europa e custou dezenas de milhares de vidas. É um lembrete poderoso de como ideias infundadas, quando legitimadas, podem levar sociedades inteiras a cometer atrocidades em nome da “verdade”.

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Eis 3 casos contemporâneos, bem conhecidos do público, que funcionaram como “caças às bruxas” modernas — ou seja, situações em que pessoas foram julgadas na praça pública antes de qualquer verificação de factos, muitas vezes com consequências gravíssimas, apesar de acabarem por ser ilibadas ou inocentadas. Estes casos mostram como, mesmo sem fogueiras, a lógica da perseguição social sem provas continua viva.


1. Caso Amanda Knox (Itália, 2007–2015)

  • O que aconteceu: A estudante norte-americana Amanda Knox foi acusada do homicídio da colega de casa, Meredith Kercher, em Perugia.

  • Por que foi uma “caça às bruxas”: A imprensa sensacionalista italiana e internacional construiu uma narrativa sexualizada, chamando Amanda de "Foxy Knoxy", insinuando motivações satânicas e perversas sem base real. A sua atitude calma foi interpretada como sinal de frieza e culpa.

  • Condenação e absolvição: Amanda foi condenada e presa por quatro anos. Em 2015, o Supremo Tribunal italiano reconheceu erros processuais graves e ilibou-a totalmente.

  • Impacto: Mostrou como uma narrativa pública distorcida pode contaminar o julgamento legal, mesmo em tribunais modernos.


2. Caso dos McMartin Preschool (EUA, anos 1980)

  • O que aconteceu: Uma das mais longas e caras investigações por abuso infantil da história dos EUA. Professores da pré-escola McMartin, na Califórnia, foram acusados de abuso sexual e rituais satânicos.

  • Por que foi uma “caça às bruxas”: Crianças foram sugeridas e manipuladas em interrogatórios, gerando histórias de túneis secretos, bruxaria, voos mágicos e rituais satânicos. A histeria pública foi imensa. Muitos acreditaram cegamente nas alegações.

  • Desfecho: Após 7 anos de julgamentos, nenhum dos acusados foi condenado. Não se encontrou qualquer prova física. O caso foi abandonado em 1990.

  • Impacto: É um exemplo claro de como o medo coletivo e o moralismo social podem destruir vidas sem provas concretas.


3. Caso Johnny Depp vs. Amber Heard (EUA/Reino Unido, 2018–2022)

  • O que aconteceu: Após o divórcio, Amber Heard acusou Johnny Depp de violência doméstica. Ele perdeu contratos com a Disney e outras produtoras. Foi “cancelado” pelas redes sociais e imprensa.

  • Por que foi uma “caça às bruxas”: A cultura do #BelieveAllWomen levou a que muitos o condenassem sem julgamento, assumindo-o como agressor com base apenas no artigo de opinião que Heard publicou no Washington Post.

  • Desfecho: No julgamento de 2022, Heard foi condenada por difamação. Ficou claro que ambos tiveram comportamentos tóxicos, mas que as alegações centrais de Heard eram falsas ou exageradas.

  • Impacto: Mostrou os riscos da justiça mediática e do linchamento digital, com polarização extrema e julgamentos sem base factual antes do processo legal terminar.


🔍 Conclusão: a fogueira hoje é sobretudo digital

Estes casos mostram que a lógica da “bruxa a abater” persiste, ainda que hoje não se usem tochas — usa-se Twitter, manchetes e opinião pública em tempo real. A condenação precoce, o apedrejamento simbólico e a destruição de reputações continuam a existir, mesmo em democracias modernas.

sexta-feira, outubro 04, 2024

Sobre o OE25 -- que a AD apresentará na AR -- não me pronuncio porque não o conheço (há alguém que conheça?).
Por isso, passo a palavra a quatro pessoas inteligentes.
É um gosto ouvir pessoas inteligentes...

 

Não vou falar dos anhucas que por aí pululam, uns mais saloios que outros, uns mais totós que outros. Nem vou falar dos jornalistas palermas que não têm neurónios e usam como raciocínio as 'bocas' que alguém manda para as redações sob a forma de comunicado ou as habilidades semânticas que uns espertos utilizam e que passam como verdades inquestionáveis.

In illo tempore, uma das áreas que mais gostei de estudar foi Lógica. Adorei, para ser mais precisa. Até sonhava com aquilo. E ainda gosto. E sofro quando a vejo quotidianamente assassinada. Partindo de premissas erradas com raciocínios errados aí está a malta a tirar alegres e erradas conclusões. Uma dor.

Como se combate isto?

Cada vez mais me convenço que o sistema de ensino deveria levar uma reviravolta das valentes. Deveria ser obrigatório ensinar em todos os níveis, desde a mais tenra infância e até ao fim da escolaridade, disciplinas como Lógica, Cidadania, Nutricionismo, Natureza, etc., e isto já para não falar em Língua Portuguesa, neste caso obrigatória até ao último dia das licenciaturas, quaisquer que elas sejam.

Mas isso, neste momento e neste contexto, está deslocado. É devaneio e não é dos poéticos.

Portanto, desloco-me para territórios onde ouço de gosto o que dizem, com um sorriso, com vontade de ouvir mais.

O vídeo abaixo está legendado.

Overtime: Fran Lebowitz, Yuval Noah Harari, Ian Bremmer


sábado, setembro 07, 2024

Quando as coisas podem ser muito boas e muito más

 

Quantas vezes já aqui falei dos tremendos benefícios da Inteligência Artificial e dos tremendos riscos se não houver um apertado, sérios e muito rigoroso controlo na sua utilização? Muitas, muitas.

Sou assídua utilizadora do ChatGPT, uma das mais extraordinárias ferramentas de uso comum, ou de outros tipos de IA. Na Saúde a IA deve vir a proporcionar incríveis avanços. Mas em todos os ramos do saber se sentirá um incremento exponencial na precisão e na rapidez dos processos de decisão.

Mas os riscos, senhores, os riscos...

Se já estamos a ver os riscos de termos ferramentas de uso tão geral, tão ubíquo, tão intenso (como o X, ex-Twitter, o Facebook, o Instagram, o WhatsApp) nas mãos de gente estranha, auto-centrada, mais amiga de regimes autocráticos do que de regimes democráticos, gente que não respeita a legislação dos países em que opera, gente não por acaso apoiante de Trump, não será difícil antever os riscos de potentes motores de Inteligência Artificial nas mãos de quem se está nas tintas para regulações ou constituições 'locais'.

E uso a expressão 'locais' pois é assim que as grandes empresas tecnológicas que operam em vários países, em vários continentes se referem à legislação desses países. Respeitar as diferentes 'localizações' é daquelas maçadas a que se obrigam se contratualmente a isso estiverem vinculadas. Não o estando, é para o lado em que se deitam melhor.

No Brasil, exigiu-se que houvesse no Brasil alguém que respondesse pelo X. Não há como não há em quase todo o lado. E do Facebook há em Portugal? Ou do Instagram? Ou de tudo isso...? Um dia que se queira reclamar, bate-se a que porta?

A questão é que o Elon Musk se está nas tintas. Proibir  X no Brasil...? Está bem, está? Tecnicamente como é que isso se garante? 

Esta gente é fora-de-lei, é gente que pensa de outra maneira. Não querem saber de danos colaterais, não querem saber de problemas éticos, de questões constitucionais. É gente que está noutra. Um perigo.

A Inteligência Artificial pode ser um precioso auxílio para o desenvolvimento, para a democracia. E para a humanidade. Mas também pode ser totalmente destrutiva.

O vídeo abaixo é muito interessante. 

Yuval Harari fala sobre lançamento de Nexus e inteligência artificial! | 

Conversa com Bial

Yuval Harari, escritor israelense e autor do best-seller internacional Sapiens: Uma breve história da humanidade, se desdobrou no consumo da informação e na comunicação desde a idade da pedra até a inteligência artificial em seu novo livro Nexus: Uma breve história das redes de informação. No #ConversaComBial, o autor debateu sobre os prós e contras da evolução da comunicação atual 


Dias felizes

domingo, junho 02, 2024

Tempo de dúvidas, de perplexidades, de receios - apesar de também ser tempo de arraiais...

 

As aulas, não sei como, estão prestes a acabar. Parece que esta semana já vai ser a última semana de aulas. Não sei como é possível cumprir os programas com tão pouco tempo de aulas. Parece que é porque vão começar os exames. Mas uma coisa impede a outra? Ou não seria suposto que os exames fossem mais tarde para haver mais tempo para dar aulas sem ser a mata cavalos ou deixar parte do programa por dar?

Não percebo nada disto.

Independentemente disso, constato que já há arraiais e festejos típicos dos santos populares por todo o lado. Isto sendo que o primeiro santo, que eu saiba, só dará as caras no dia treze de Junho. 

Que não se veja crítica nisto. Sou totalmente a favor de convívios, festas populares, malta na rua a conviver e a festejar. Se há coisa que abre a mente e o coração às pessoas é o ambiente leve, alegre, de convivência e festejo. Música, canto, dança, petiscos, conversa, cor, luz. Tudo isto é meio caminho para que a felicidade entre na vida das pessoas.

Contudo, ao mesmo tempo, numa realidade paralela, chegam notícias que não são boas. Bem tento pensar que é coisa longínqua, coisa que não belisca a nossa liberdade, o nosso direito e a real possibilidade de fazermos o que nos apetece, mas, num canto de mim, temo que de escalada em escalada, um dia destes acordemos com uma notícia que nos deixe gelados de medo.

Ao contrário do que eu, antes de 2022, pensava, Putin continua a bombardear, a destruir e a matar, e ninguém consegue detê-lo. Se deixarmos cair a Ucrânia, estaremos a pactuar com o delírio imperialista de um psicopata (um não, vários) que resolveu reescrever a história, redefinir fronteiras, anular o direito à autodeterminação de um país. 

Contudo, à medida que o tempo passa sem que ninguém o consiga travar, ouvem-se as vozes dos que, tentando fazer-lhe frente, dão passos que podem servir ao ditador louco para dar ele um passo ainda mais tresloucado. E um dia podemos estar todos ensarilhados, num sarilho que não desejamos. Espanta-me que não haja quem consiga ter um ascendente sobre os malucos para chamá-los à razão, aconselhando-os a parar. Não há um líder que se erga e consiga apelar à razão os malucos que parecem tê-la perdido (neste caso, Putin e comparsas). Em Israel tenho esperança que Netanyahu vá de asa e que, a curto ou médio prazo, as coisas se componham. Entre a população na rua e um empurrãozinho da opinião mundial e dos States, acredito que o patife não se aguente muito mais tempo. Mas na Rússia parece que não se vê jeitos disso. Por isso, tenho receio que Yuval Noah Harari tenha razão ao temer que já estejamos a meio da 3ª Guerra Mundial. 

De facto, a estupidez humana é uma desgraça.

Stupidity: A powerful force in human history

Are we in the midst of World War III? What's the role of fiction in human evolution? Why do we tend to overconsume food?

Big or small, every detail in our behavior can be explained by looking at the past, from dietary choices to how we've used stories to advance. But if progress is narrative-driven, what comes next? 

In Yuval's extended Brief But Spectacular take (@YuvalNoahHarari) he speaks on humanity's superpower, the paradox of wisdom and the relationship between government and war. 


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De qualquer forma, tenho esperança que algum milagre aconteça e que voltemos a sentir que vivemos num lugar seguro, um lugar onde podemos ser felizes em liberdade

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Um feliz dia de domingo

quarta-feira, outubro 25, 2023

Mosab Hassan Yousef, filho do fundador do Hamas, depois um dos principais agentes secretos ao serviço de Israel, diz o que pensa (e sabe) sobre o que está a passar-se
[E Yuval Noah Harari reflecte sobre a situação]

--- E a palavra ao grande Eugénio Lisboa ---

 

Nestas guerras sangrentas, somos todos vítimas. 

Mas as vítimas não são todas iguais.

Umas morrem, outras são violadas, estropiadas, roubadas, agredidas, humilhadas, ameaçadas, forçadas a ver o horror.

E depois há as que estão a ver de longe -- nós.  

Estamos no bem bom das nossas casas, perto dos nossos, livres de perigo. Somos vítimas mas vítimas numa escala que, de forma alguma, se pode comparar com as que sofrem com o corpo e com a alma a dor e o medo das guerras sangrentas. Somos, isso sim, vítimas da verdade, vítimas de manipulação a que diariamente estamos sujeitos. 

Perde-se a perspectiva histórica, opina-se sem se conhecer a total verdade dos factos, fala-se do que não se sabe. O pó que nos entra em casa através das televisões não cobre apenas os corpos ensanguentados: cobre também a verdade que nunca conseguimos, realmente, ver.

Como sou ignorante, tenho dificuldade em dissertar sobre tema tão complexo. Mas tento adquirir informação para conseguir navegar neste mar encapelado e com tão fraca visibilidade.

Nos dois vídeos abaixo, pode pôr-se legendagem automática para português (mas, se o fizerem, não se espantem com gralhas que são de gargalhada...).

Hamas leader's son who became a spy explains what Hamas really wants

Mosab Hassan Yousef, the son of Hamas' founder who later became one of Israel's top informants, speaks with CNN's Jake Tapper about Israel's war on the terror group and the situation in Gaza


Yuval Noah Harari & Rosemary Barton - Israel's war with Hamas


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Recomendo a visita e a leitura de um texto do Grande Eugénio Lisboa no qual me revejo em absoluto: 

Começo, para não haver dúvidas sobre aquilo a que venho, por dizer que condeno com a maior veemência, o comportamento arrogante, brutal e invasivo que Israel tem demonstrado, ao longo dos anos, para com os palestinianos da faixa de Gaza. Mesmo tendo em conta que Israel passou por períodos altamente perigosos, no começo da sua formação, quando foi atacado por todos ou quase todos os Estados árabes da redondeza, o que lhe terá criado um complexo de “excesso de resposta”, este excesso tem ultrapassado todas as linhas vermelhas de uma desejada proporcionalidade. 
(...)
O fanatismo só pode levar à destruição e faz pena ver uma certa esquerda a pôr-se embevecidamente ao lado de fanáticos religiosos, que os devorarão, assim que tiverem oportunidade. Por detrás destes está um país infernal, tirânico, retrógrado e misógino, que a esquerda – uma certa – não gosta de atacar, porque financia os delírios revolucionários de grupelhos mais ou menos genocidas. Dizia o grande Umberto Eco que “as pessoas nunca são tão completamente e entusiasticamente más, como quando agem em nome das suas convicções religiosas.” Ficam aqui estes avisos destinados àqueles que se referem sempre à triste tragédia do povo palestiniano, esquecendo-se de mencionar o HAMAS, como um dos encenadores dessa tragédia. Com Israel, sim. Juntos.

Peço que o visitem e leiam o texto na íntegra

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Desejo-vos uma boa quarta-feira

Saúde. Boa sorte. Paz.

domingo, outubro 15, 2023

O horror antes e depois do horror

 

Sábado tranquilo. Até me pareceu mentira não ter aparecido nenhuma crise. Por isso, aproveitámos a calma e o sol para lavar e estender roupa, caminhar, descansar. 

Escrevi. Li. Dormitei. Escovámos o cãobeludo e cortámos-lhe alguns nós.

Tenho quatro novos vasos de flores. Recebi de presente. No prazo de dois meses já recebi, de três pessoas diferentes, várias plantas. Estas que recebi agora, segundo me disse quem mas ofereceu, são plantas que trazem alegria e boa energia. Parece que cada uma tem sua função mas agora não me lembro. Mas sei que é tudo na base das coisas boas para a casa e para quem aqui vive. Sobretudo, sinto-me agradecida por haver quem goste de me oferecer plantas. 

Parece que este domingo vai chover e é bom que chova. Complica-nos um pouco as caminhadas e o dog chega encharcado que nem um pinto e, para o limpar, é uma tourada, corre, rebola-se, sacode-se, anda aos saltos à nossa volta. Por fim, estamos nós cansados e ele ainda molhado e todo contente. Mas faz tanta falta, é tão bom que ela venha.

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E depois há o que as notícias nos trazem. A agonia. A dor. A destruição. A perda. Podem os mais cépticos, os que já viram de tudo, os que já assistiram à morte, ao silvar das balas, ao estrondo das bombas, ao esgarçar dos corpos, à desistência, olhar para tudo isto com indiferença. Mas eu, que vivo no conforto abrigado da minha casa, que tenho a alegria consolada da proximidade dos meus, olho para todo isto com uma grande aflição. Não consigo conceber como se pode fazer mal a alguém. Não consigo compreender como se pode pensar que a destruição de pessoas e bens pode servir para alguma coisa.

A nossa vida já é, em si, tão difícil de justificar que, se a usamos para destruir outras pessoas, tornamo-la, então, inútil, desprezível.

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Partilho um vídeo que talvez nos ajude a pensar. Talvez. Nisto uso talvez, talvez, talvez. Não sei nada. 

Yuval Noah Harari on CNN Amanpour - Hamas' aim was 'to assassinate any chance for peace'

Watch Christiane Amanpour's interview with Yuval Noah Harari, exploring the long-term implications of Hamas' attack on Israel and the subsequent retaliation in Gaza.


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Desejo-vos um belo dia de domingo

Saúde. Esperança. Paz.

Paz. Paz. Paz. Paz. Paz. Paz. Paz. Paz. Paz. Paz. Paz. Paz.

domingo, outubro 08, 2023

Em dia de casamento real para os pequenitos e de tiroteios para doer ali onde a gente sabe, há tempo para se falar nos reais riscos que a IA pode trazer?

 

Casou-se a filha do rei de faz de conta e a TVI, que provavelmente bancou o espectáculo, cobriu o evento como se estivessem às portas de Buckingham. E o povo (sic) colocou-se no exterior para ver, aplaudir e comer qualquer coisa à conta.

Tenho que confessar: só vi durante uns cinco minutos. A infanta (sic) vinha num coche (ou caleche?) com o senhor seu meio acabado pai, acenando à populaça. 

Lá dentro, os nobrezinhos, os newcomers e mais uns quantos vestidos a rigor aguardavam. E algures o Goucha e mais umas pessoas comentavam.

Desandei pois tudo ali me pareceu desfasado da realidade.

Podia ser apenas um casamento, e um casamento é sempre um momento com a sua graça. Mas não: quiseram fazer daquilo uma encenação fajuta de um casamento real como se Portugal fosse uma monarquia. E esse faz de conta elevado a esta escala faz-me um bocado de espécie.

E sei que o tema do dia é a desgraça que para ali vai no Médio Oriente mas como não serei a pessoa mais indicada para falar nisso, limito-me a dizer que não compreendo como podem os países envolver-se em guerras tão sangrentas quando têm tudo a perder. Bem sei que assiste aos humilhados e perseguidos o direito à indignação mas, se entramos por aí, logo virão os agredidos dizer que lhes assiste o direito à retaliação face à agressão. A uma escala planetária o que se vê é que por incapacidade de serem inteligentes, os humanos passam a vida a matar-se uns aos outros.

Claro que com estas cabeças, uns a iludirem-se feitos totós, outros a, maquiavelicamente, espezinharem populações, outros a invadirem outros países, e os atacados a defenderem-se, o que sobra são uns pobres coitados, cada vez mais velhos.

E sobra espaço para que tudo o que é dispensável avance como cão por vinha vindimada. E aqui incluo os populistas, os chico-espertos, os pequenos génios que inventam o que lhes dá na gana e que ninguém controla.

A entrevista abaixo é interessante. Recomendo-a. Ali Harari fala para os riscos reais da Inteligência Artificial. Estivesse a humanidade atenta e cautelosa em relação a isto, poderia usar-se apenas o seu lado bom. Mas andando tudo aos tiros uns para os outros ou para os pés e outros distraídos a brincar às divas, aos reis e princesas, às selfies e beijinhos, não sei se há quem seja capaz de pôr um travaão quando for caso disso.

(Dá para pôr com legendas a partir de tradução automática para português. Para quem não se entende com o original sempre é uma ajud)a. 

Piers Morgan vs Yuval Noah Harari On AI | The Full Interview

Piers Morgan Uncensored is joined by historian and philosopher Yuval Noah Harari for an in-depth conversation about the intricacies, benefits and threats of Artificial Intelligence and how the world should move forward using AI and the risks of what could happen without regulation.

Yuval believes that AI development needs to be regulated in a similar manner to how new medicines are studied and introduced. He feels that new technology needs to be thoroughly tested before being deployed for public use.

Yuval believes the main threat of AI is that it will break the trust of human-to-human interaction with 'fake humans' and believes our entire society, democracy and economy are based on the trust of human-to-human transactions and relationships. Yuval suggests we should look to ban 'fake humans' and 'deep fake' AI before it reaches a point of self-design and starts creating independent-thinking fake humans.


Desejo-vos um bom dia de domingo
Saúde. Boa sorte. Paz.

quinta-feira, julho 13, 2023

Mais uma voltinha, mais uma viagem

 

De facto, continuamos a girar neste vasto universo e nem damos por isso. Quase nos convencemos que pisamos solo firme numa realidade estática. E, no entanto, por aí andamos às voltinhas. E, depois, há outra. A organização do tempo que leva a contabilidades a que nos agarramos como se fossem condicionantes, bem vistas as coisas são meras abstracções.

Mas cá estamos para irmos fazendo de conta que, quando há um determinado alinhamento, faz sentido apagar velas, cantar, bater palmas. Desde pequena que, no que a mim diz respeito, acho isso uma fantasia em que me encaixo com algum esforço.

Contudo, logo que tive filhos e vi como para eles e para a família era importante um festejo, passei a encarar os aniversários com maior bonomia. Aliás, fazer festinhas de anos para eles era para mim uma alegria, com amiguinhos da escola, primos e, à noite, a família toda. Como é tudo gente do verão, só me lembro dos calores que me apanhavam quando já estava cansada e a precisar de férias.

Enfim.

O que posso dizer é que, portanto, podendo facilmente estar enfiada no campo sem qualquer comemoração, a verdade é que a opção foi outra: cá estivemos, todos juntos, malta dos 6 aos 90, tudo junto, tudo à conversa, conversas sobrepostas, os miúdos com aquele apetite voraz que os caracteriza, e uma boa disposição contagiantemente maravilhosa. Complicado mesmo é conseguir uma fotografia de grupo em que não fique um a olhar para baixo, outro a fazer cara de totó, outro a fazer cornos a alguém, outro fora de ângulo. E, passado algum tempo, já estão todos fartos e vai cada um para seu lado. Uma frustração.

A ementa foi daquelas que os deixa felizes só de verem as bancadas compostas: crepes chineses, diversas caixas de sushi, pizzas várias daquelas boazonas em forno de lenha, arroz chau chau, frango assado, batatas fritas. Só faltaram as chamuças e o pão naan mas já não tivemos tempo. O bolo foi de pão de ló com mascarpone, morangos e amores-perfeitos. E havia também pão de ló com doce de ovos e bolo de limão merengado. Uns gulosos.

A ver se entro em dieta para me conseguir enfiar com elegância nos fatos de banho.

Conclusão: a esta hora, como é bom de ver, estou cansada, com sono. 

Ficou cá um menino mas também estava cansado pois foi logo para a cama e, depois de mais uma história, ficou instantaneamente a dormir.

E, como é bom de ver, foi mais um dia sem ver televisão. Não sei de notícias, não sei de nada. A vida sem a gente conspurcar a mente com uma overdose noticiosa pode ser bem melhor.

E, para não darem o vosso tempo por mal gasto, vindo aqui para nada, partilho dos vídeos que me parecem interessantes.

Why Yuval Noah Harari meditates


An Architect's Hidden Family Home Built Into A Hillside

Um dia bom

Saúde. Vida longa e feliz. Paz-

quarta-feira, maio 24, 2023

Fake, fake, fake, fake
- ou apenas o novo real...?

 









Há muito tempo que falo dos imensos riscos da Inteligência Artificial, e tantas vezes já falei disso que sei que me torno repetitiva. Os benefícios são igualmente imensos e, por isso, o recurso a ela serão permanentes e crescentes.

O problema é que, enquanto era coisa apenas ao alcance de uns happy few, havia sério risco mas, enfim, relativamente possível de intervir.

Neste momento já não é possível. A tecnologia tornou-se ubíqua, está ao alcance de meio mundo, tem preços acessíveis e as comunicações distribuem-na por todo o lado. Aquilo a que antes uns quantos, poucos, especialistas tinham acesso agora estão ao dispor, for free. À borla, na ponta dos dedos.

Qualquer um pode obter imagens antes inexistentes, poesia ou prosa a pedido, aconselhamento médico, desambiguação sobre diferentes formas de expressão, explicação sobre a impermeabilização natural das telhas cerâmicas portuguesas, sobre o que se quiser seja de que natureza for. 

Há pouco tempo fui a uma consulta de rotina e estive a falar com a médica sobre o ChatGPT. Contou-me que ainda no outro dia um colega lhe tinha enviado uma opinião sobre um tema médico multidisciplinar, Ela debateu essa opinião com outros colegas. Depois, veio a saber que a opinião tinha sido gerada pelo ChatGPT. E, diz ela, era uma opinião bem fundamentada e que lhes deu muitas pistas.

E já temos algoritmos que assentam na inteligência artificial a interpretar exames médicos complexos e em que o olho humano poderia não detectar a génese de alterações que, no futuro, podem vir a gerar tumores. E isso é extraordinário pois um algoritmo que recorra a ferramentas de inteligência artificial consegue num instante comparar as imagens de um exame com milhões de outras imagens e detectar quando alguma coisa se afasta do padrão de normalidade. Mas deixará de ser bom se houver algum erro na construção do algoritmo e falhar redondamente no diagnóstico sem que nenhum humano faça a validação,  deixando escapar o erro.

Nas empresas já temos as máquinas a aprenderem sozinhas (machine learning) e já as temos a preverem possíveis avarias futuras através da conjugação de factores que elas próprias medem como temperatura, pressão, trepidação, etc. E podem apenas dar alarmes e os humanos que os interpretem e ajam em conformidade ou podem elas sozinhas ajustar parâmetros e/ou fazer parar a máquina. E tudo isto é fantástico. Mas apenas o é enquanto houver humanos que saibam tanto quanto as máquinas, que conheçam bem a lógica dos algoritmos e saibam detectar se alguma coisa de estranho estiver a acontecer. Mas passará a ser um problema dos grandes quando houver fraco conhecimento, desleixo ou falta de inteligência por parte de quem conduz um parque de equipamentos desse tipo.

E nas plataformas mais banais (Google, Bing, YouTube, Facebook, Instagram, etc) tudo funciona 'à base' de algoritmos que detectam, registam e processam o que nos interessa, aquilo em que mais nos detemos, aquilo que vemos até ao fim ou não, etc. E, com base nisso, seleccionam o que consideram que nos vai agradar.

Ou seja, aquilo que vemos é apenas uma ínfima parte do que há para ver (e isso seria sempre pois o que há para ver é quase infinito) mas é o que os algoritmos 'pensam' que nos vai agradar. Ou seja, sem darmos por isso, julgando que estamos a ser livres, estamos, à partida, já bastante condicionados.

Claro que podemos não nos cingir a isso. Podemos fazer pesquisas. Mas o que acontece é que os algoritmos, ao mostrarem-nos aquilo que já 'sabem' que é do nosso agrado e em que têm uma sucessão também quase infinita de coisas para nos mostrar, deixam-nos saciados, sem espaço para irmos, à aventura, pesquisar outras coisas.

Esta questão já foi usada em política, via Cambridge Analýtica para condicionar os eleitores britãnicos levando-os a votarem no Brexit sem saberem o que isso significava. Os riscos de manipulação são ilimitados e nem sempre fáceis de detectar.

Já no outro dia foi notícia a atribuição do prémio Sony, um dos maiores prémios internacionais de fotografia, a uma fotografia lindíssima que mostrava duas mulheres. Como se sabe, de facto aquelas mulheres não existem e aquela fotografia não resultou do registo de uma imagem. Foi totalmente construída por um algoritmo de inteligência artificial dedicado à geração de imagens.

As fotografias que acima mostro (Putin, Merkel e Obama, Macron e Trump) também não existem. São imagens falsas. Foram geradas pela aplicação Midjourney. Podem ser vistas mais em Médecine, climat, droit : l'IA va-t-elle causer notre perte ou nous sauver ?

Também a música lá em cima não foi composta ou interpretada por humanos mas sim obra de inteligência artificial.

Este é um tema que deveria mobilizar a opinião pública mundial criando-se grupos de estudo, comissões parlamentares ou o que for que estudem como regulamentar a utilização da Inteligência Artificial por forma a garantir o seu uso dentro das balizas do rigor, da segurança, do respeito pela humanidade e da ética.

Em vez de andarmos a criar pides de aviário ou a intoxicar a opinião pública com tretas cujo interesse numa escala de 1 a 10 é 0 (sim, abaixo da escala, abaixo de cão), deveríamos prestar atenção a um dos temas mais sérios da actualidade.

A propósito, a opinião de Harari.

AI and the future of humanity | Yuval Noah Harari at the Frontiers Forum

In this keynote and Q&A, Yuval Noah Harari summarizes and speculates on 'AI and the future of humanity'. There are a number of questions related to this discussion, including: "In what ways will AI affect how we shape culture? What threat is posed to humanity when AI masters human intimacy? Is AI the end of human history? Will ordinary individuals be able to produce powerful AI tools of their own? How do we regulate AI?"

The event is was organized and produced by the Frontiers Forum, dedicated to connecting global communities across science, policy, and society to accelerate global science related initiatives.

It was produced and filmed with support from Impact, on April 29, 2023, in Montreux, Switzerland



quinta-feira, julho 21, 2022

Isto não é conversa para moi até porque, ao contrário do que há quem pense, não sou uma influencer

 



A água do mar está boa. Estive um bom bocado dentro dela. Sabe bem estar dentro do mar, sentir-lhe as ondas, a frescura. 

Está muito calor. A fera estava connosco. Escava, escava, enche tudo de areia e depois deita-se. Mas, sentindo que a areia não está suficientemente fresca, volta a escavar. Só quando a areia está húmida e mais fresca se mantém sossegado.

Não se sente atraído pelo mar. Assusta-se com o ribombar das ondas e foge quando a água se aproxima. Quando os meninos estão dentro de água, ele, de longe, fica a fixá-los. Se se aproxima alguém ou se vem onda mais forte, levanta-se apreensivo e fica atento até que o forasteiro ou a onda se afaste.

Levámo-lo à noite para o restaurante, uma esplanada, mas não correu bem. Desatou a ladrar de cada vez que o empregado se aproximava. Está cada vez mais territorial. O meu marido teve que acabar à pressa para ir passear com ele para longe. A minha filha mandou-me um artigo onde se refere que, quando os cães estão fora do seu ambiente normal, costumam ficar stressados e que nada melhor do que lhes aplicar uma dose de CBD. O meu marido disse: 'O pior é se ele se habitua'. 

À noite, está um calor tropical. Chega a ser estranho. De dia, tórrido, de noite ainda quente. Não sopra aragem.

Pode saber bem, verão assim sabe a férias e já nem será preciso procurar destinos longínquos. Mas é demais. São temperaturas demasiado altas durante tempo demais. 

O mundo não está preparado para isto. Tanta civilização, tanto conhecimento acumulado e transmitido de gerações em gerações para chegarmos a esta altura do campeonato e estarmos metidos numa guerra medieval, com o planeta exausto e em vias de mandar os humanos às urtigas. 

Enquanto isso, alguns fazem o pino para verem as coisas diferentes do que elas são, outros discutem o fim do namoro de umas so called celebridades ou o novo namorado deste ou daquela, umas bloggers fazem posts a opinar contra quem opina, outras desencantam opiniões de quem se acha mais inteligente do que outros ao prever catástrofes que obviamente vão acontecer pois estão a ser deliberadamente provocadas por um assassino psicopata (o que, por um estranho lapso mental, nessas análises é escamoteado). E, pelo meio, a grande empresária Cristina Ferreira partilha-se em poses pretensamente sensuais, Brad Pitt apresenta-se de saia e Marcelo vai a Fátima de duas em duas semanas. As coisas bizarras sucedem-se e parecem não seguir um sentido lá muito promissor.

E até eu sou vítima destes novos tempos. Exemplifico. Fiz uma encomenda para entregarem em casa. Quando vou atender o entregador, salta ele da carrinha, olha para mim com atenção e pergunta-me: 'É influencer?'. Pensando não ter captado, questionei: 'Desculpe, não percebi'. O calmeirão, estacado à minha frente: 'A senhora não é influencer...?' Eu, pensando que se calhar estava a ouvir mal: 'Influencer...? Não...'. E ele, duvidando: 'Não...?'. Confirmei: 'Não, não sou'. 

Não há explicação. 

Com um mundo tão maluco, com este calor a fritar-nos os miolos, não sei como vamos conseguir fazer alguma coisa de jeito para nos salvarmos.

Mas, se eu não sei, há quem consiga alinhar as ideias de uma forma convincente. Lamentavelmente não há legendas em português mas, pela oportunidade e pela clareza de exposição, ainda assim acho que vale a pena a partilha. 

Yuval Noah Harari: The Actual Cost of Preventing Climate Breakdown | TED

Nobody really knows how much it would cost to avoid the worst impacts of climate change. Yet historian Yuval Noah Harari's analysis, based on the work of scientists and economists, indicates that humanity might avert catastrophe by investing the equivalent of just two percent of global GDP into climate solutions. He makes the case that preventing ecological cataclysm will not require the major global disruptions many fear and explains that we already have the resources we need -- it's just a matter of shifting our priorities.


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As pinturas de Jan Toorop obviamente não têm nada a ver com o texto. 
Mari Samuelsen – Einaudi: Una Mattina

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Desejo-vos um dia bom
Saúde. Boa sorte. Boa disposição. Paz.

domingo, abril 17, 2022

Notícias terríveis para a espécie humana

 

Poderia dizer que Yuval Noah Harari é muito cá de cá de casa mas não estaria a ser bem sincera. Todos os seus livros habitam esta casa mas quem os lê não sou eu. Contudo, de vez em quando, enquanto os lê, o meu marido fala-me do seu conteúdo. E não só enquanto os lê. De vez em quando, a propósito de algumas situações, diz 'O que aquele tipo, o Harari, diz é que... (isto ou aquilo)'. E gosto de ouvir. 

O meu filho já o lia antes de haver as traduções. Tenho ideia que, enquanto ia e vinha para um dos países onde, na altura, trabalhava, ia lendo, em língua inglesa, o Sapiens. 

Eu é mais vídeos. Gosto de ouvi-lo. Mas, um dia que tenha mais tempo, hei-de pegar nos seus livros. É inteligente, perspicaz e sensato, e, por escrito, admito que as suas ideias ganhem ainda mais solidez.

Já aqui o tive várias vezes via youtube e hoje cá está outra vez, e está pois fala dos sérios riscos de que Putin leve ainda mais longe a barbárie, escalando-a para patamares inimagináveis. Putin fala com demasiada frequência e demasiada ligeireza no uso de armas nucleares. 

Esperemos que nunca avance para esse nível ou porque alguém o trava ou porque, num assomo, ainda que fugaz, de racionalidade, perceba que está a matar demasiados inocentes e a cavar um fosso incomensurável entre a Rússia e o resto do mundo -- e isso a troco de nada.


We may be in the 'most dangerous moment' since the Cuban missile crisis, says Yuval Noah Harari

Author and historian Yuval Noah Harari discusses the Russia-Ukraine conflict and says "nuclear war is suddenly a possibility — still not very likely, but a possibility."


domingo, março 27, 2022

De que se fala quando se fala em meditação...?

 




Dia preenchido e bom. Almoço fora, em família, passeio à beira-rio, meninos felizes na brincadeira e na conversa uns com os outros, a minha mãe toda contente embora de vez em quando preocupada com o seu amigo little teddy bear, home alone. O céu estava cinzento mas ao ver as fotografias confirmei aquilo que me tinha parecido: todos estavam coloridos e sorridentes. Já lhes enviei as fotografias.

Não apareço, claro, pois eu era a fotógrafa. Mas gostava de ter podido fixar aqueles momentos em que os meninos vêm conversar comigo e caminhamos em conjunto. O meu mais crescido, já mais alto que eu, já com voz quase de homem, já com conversas e modos de rapaz crescido, é um bom conversador. Tem dúvidas, coloca questões, começa a pensar no seu futuro. Os outros ainda vivem apenas no presente, brincalhões e ruidosos na sua alegria. 

Ao fim da tarde fomos levar a minha mãe mas, antes, viemos a casa resgatar o nosso watch dog. De manhã, vendo os nossos preparativos, ele já mostrava que estava intrigado. Sentava-se a olhar para nós, seguia-nos pela casa, desconfiado. Quando saímos, veio a correr para nos acompanhar. Geralmente corre na brincadeira para ver se o conseguimos apanhar. Este sábado não, precipitou-se para o portão. Dissemos-lhe que não vinha, que ficava a tomar conta da casa. Ficou sentado, triste, a olhar para nós. Mas já está mais crescido. Antes, atirar-se-ia contra o portão, a ladrar, a ganir, num desespero. Hoje apenas ficou triste, desconsolado. 

Tínhamos deixado, no pátio junto à cozinha, a cama almofadada e a tigelinha da ração e a da água.

Quando chegámos, a almofada estava no jardim, ao lado do portão. E não tinha tocado na água nem ração. E, quando nos viu, ficou louco de alegria. Saltava, abraçava-nos, corria à nossa volta numa daquelas euforias que nos faz rir. A surpresa por ver a minha mãe, então, deixou-o fora de si, tanta, tanta a alegria. Alegria, de resto, recíproca.

Claro que, enquanto estávamos no almoço, depois a jogar matraquilhos, a passear, no parque infantil, a comer gelado e etc., todos, incluindo os meninos, perguntavam por ele e todos estavam com pena que o seu amiguinho não estivesse ali.

A minha mãe, quando íamos a caminho de sua casa, dizia que tinha sido um belo dia e que assim era muito mais descansado para mim. De facto, desde há dois anos que não íamos todos almoçar fora. Durante a pandemia todos os almoços em família têm sido cá em casa, de preferência ao ar livre. Por isso a minha mãe diz que assim é melhor para mim. Mas a verdade é que estou cansada, com sono, sem energia. É certo que acordei cedo e me tinha deitado tarde e é certo que a semana foi complicada. Talvez seja isso. É que hoje nem ânimo tenho para arrebitar a pele da cara com o pink jade-roller.

Ao sentar-me aqui, há pouco, ocorreu-me que, se calhar, está na altura de começar a meditar. Mas tenho com a meditação aquele mesmo desentendimento que tinha quando comecei a conduzir e não conseguia perceber o conceito do ponto de embraiagem. Diziam-me quando usar mas não me explicavam exactamente como era e como funcionava para se obter o ponto pretendido. Então, quando parava numa subida íngreme e tinha que arrancar, sofria horrores com medo de deixar descair o carro, bater no que estava atrás e não conseguir arrancar. Até que alguém me explicou detalhadamente os passos e a explicação. E tudo se tornou claro.

Com a meditação é a mesma coisa. Dantes, pensava que meditar era o mesmo que pensar. E que a meditação era boa quando se conseguia convocar pensamentos bons. Para meu espanto, vim a descobrir que é exactamente o oposto: não pensar. Por isso, se calhar é isso de que estou a precisar: esvaziar a cabeça, abolir os pensamentos. 

Já o contei aqui algumas vezes. Na única vez em que fui a uma sessão de meditação, deitei-me no colchão e, quando a professora mandou que fechássemos os olhos e pensássemos num lugar em que nos sentíssemos bem, pensei num campo verde, com as ervinhas a ondularem ao vento. E instantaneamente adormeci. Portanto, não sei de que se tratou entre aquele momento e aquele em que me dei conta que já tinha acabado e que estávamos a ser convidadas a respirar fundo e nos levantarmos devagarinho.

Para mim seria importante perceber de facto porque é que a meditação é benéfica: 

  • Porque, no fundo, consiste em respirar fundo, várias vezes a respirar fundo, e, portanto, oxigena-se bem todo o organismo, em particular o cérebro? é disso que se trata? 
  • E o tempo todo estamos alienados do mundo, concentrados apenas na respiração e, ao estarmos atentos à respiração, faz-nos esquecer tudo o que se passa à nossa volta? 
  • É isso que faz com que as pessoas se sintam tranquilas? 
  • Ou sentem-se revigoradas? 

Não sei e gostava de saber. Sem perceber isto parece que não consigo dar o passo seguinte que é de experimentar como deve ser.

Vejo vídeos mas é tudo muito conversa mística ou operacional e não os fundamentos científicos da coisa, as razões fisiológicas para as pessoas se sentirem bem. 

É que, por exemplo, estou a escrever isto e, ao mesmo tempo, estou a pensar que vou ter que me levantar cedo pois tenho um compromisso, estou a pensar nas horas a que tenho que me levantar, depois estou a pensar no que não posso esquecer-me de dizer às pessoas com quem me vou encontrar, depois num presente que tenho que comprar para mais um aniversariante, depois que gostava de ir comprar um banco para pôr numa parte do jardim em que é bom estar mas onde não há onde nos sentarmos a não ser no chão, nas lindas horas a que haveremos de conseguir almoçar, nas reuniões que tenho na segunda feira e em mais não sei o quê. Aliás, sei bem em quê, sei. No que se passa na Ucrânia. 


No carro, ouvimos as notícias e a minha mãe disse que o que já tinha dito ao almoço e que não reproduzo aqui para não ferir almas sensíveis. E falou, com revolta e pesar, da destruição sangrenta e feroz que está a ser levada a cabo. O meu filho diz que não devemos personalizar no Putin, que isto é uma questão geoestratégica. Não quero saber. Quando se invade um país para o destruir que se lixe a geoestratégia. E se me lembram os Iraques desta vida também não quero saber. Não determinei, aplaudi ou defendi essas guerras. Caraças para o Iraque: tantas pegas que tive nessa altura por não acreditar naquelas patranhas das armas de destruição maciça, tanto que me manifestei contra a porcaria da guerra no Iraque! E, por todas essas guerras serem absurdas, indesculpáveis, criminosas, destrutivas e desumanas é que me revolta que não se tenha aprendido nada e se volte a cometer os meus atentados contra a liberdade, contra o património, contra a vida.

Enfim. Adiante. É tarde. 

Deve estar quase a mudar a hora. Aliás: já mudou. Menos uma, ainda por cima. O que vale é que é por uma boa causa. Dias a crescerem é um sopro de oxigénio na minha disposição, fico sempre mais animada. É bom termos dias grandes, cada vez maiores, a encherem-se de luz. Tomara que tragam também mais paz a este mundo desgraçado.


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Já agora, a propósito da meditação:

Porque é que Yuval Noah Harari pratica meditação?

Seventy thousand years ago, our human ancestors were insignificant animals, just minding their own business in a corner of Africa with all the other animals. But now, few would disagree that humans dominate planet Earth; we've spread to every continent, and our actions determine the fate of other animals (and possibly Earth itself). How did we get from there to here? Historian Yuval Noah Harari suggests a surprising reason for the rise of humanity.


Qual é a ciência por trás da meditação?

Meditation has been practiced for thousands of years in many cultures to nurture calmness and inner peace. But what does science say about it, and how can we fit it into our busy, modern lives? CNN speaks to a psychologist about what it does to our brains and how we can do it better

[Não tem as respostas para as minhas perguntas mas aqui fica na mesma] 


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Pinturas de Andrey Remnev na companhia de Diana Tishchenko que interpreta Melody de Myroslav Skoryk

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Desejo-vos um belo dia de domingo 
(e que o milagre da paz comece a desenhar-se no horizonte)

segunda-feira, março 07, 2022

Que faremos depois disto? O mundo vai ficar diferente. E nós vamos ficar iguais?
E o que dizem os que conhecem Putin bastante bem (Bill Browder, Garry Kasparov) e os que observam e pensam sobre ele e sobre o que se passa na Rússia e no mundo (Ekaterina Kotrikadze, Yuval Noah Harari?
O que o vai fazer vergar?

Что мы будем делать после этого? Мир будет другим. И будем ли мы такими же?
А что говорят те, кто достаточно хорошо знает Путина (Билл Браудер, Гарри Каспаров), и те, кто наблюдает и думает о нем и о том, что происходит в России и мире (Екатерина Котрикадзе, Юваль Ной Харари?
Что скажут? заставить тебя согнуться?

 


Há assuntos que eram inequivocamente prementes e que agora parece que passaram de moda. E, no entanto, nem é correcto eu colocar a frase no passado (porque continuam prementes) como é erradíssimo que tenham saído do nosso radar. Um dos temas tem a ver com a emergência climática e com todas as medidas necessárias para travarmos o fim do mundo que conhecemos, habitável por humanos.

Mas, na realidade, como poderemos preocupar-nos agora os gases com efeito de estufa, com o aquecimento global, com os fenómenos climáticos extremos quando assistimos, em tempo real, a bombardeamentos, a estradas cheias de tanques e os céus cheios de aviões, a uma destruição em larga escala (e sabe-se lá que mais virá por aí)?

Um amigo, até há algum tempo, quando queria definir alguém que, em vez de se preocupar com os assuntos concretos que tinha em mãos, se dispersava por futilidades, dizia: 'é daqueles que está sempre com a cabeça no buraco do ozono'. E, de certa forma, ocorre-me que se, no meio da chacina a que assistimos, fossemos falar nas emissões poluentes que degradam a atmosfera e retardam a recuperação pretendida, alguém também diria que deveríamos andar com a cabeça enfiada no buraco do ozono para nos esquecermos das cidades em ruínas, de mais de um milhão de expatriados e de um número incontável de mortos, e só nos preocuparmos com frioleiras.

Com as economias a sofrerem os efeitos da guerra (e vão sofrer) -- e tomara que não com uma crise financeira daquelas barbudas à perna -- quem vai ter cabeça para querer saber das medidas para que daqui por uns quantos anos estejamos menos em perigo na vertente climática? As pessoas devem é estar preocupadas com o emprego, com serem capazes de pagar as suas casas, com terem dinheiro para viverem como antes pensavam que iam viver. Certo. E... no entanto... há outro mundo onde viver para além do que estamos a destruir...?

Tento ver alguma coisa boa nesta tragédia: sempre há alguma coisa boa, penso. Mas a mim própria me coloco reservas. Não sei se é altura para optimismos.

  • A Europa percebeu que não pode estar tão dependente de regimes ditatoriais? É verdade... Mas e é bom estar tão dependente da China (que também não é uma estampa em termos de democracia)? 
  • A Europa percebeu que é um peão (e um alvo fácil) entre os Estados Unidos e a Rússia? Ah sim... e daí...? Fazer o quê, agora? Fugir para Marte...?
  • O mundo percebeu que não tem meios para travar um demente, um paranóico, um mitómano, um psicopata? Muito bem. E então? O mundo faz o quê? Em concreto faz o quê? Espera sentado que apareça o tal Brutus, é isso...?

Diria eu que algumas pessoas inteligentes e de espírito forte deveriam estar, a esta altura do campeonato, a reunir-se para, rapidamente, se preparar uma refundação de uma série de instituições, posicionando-as à luz do que se tem vindo a viver.

Dirão os timoratos que não é bom pensar em refundações enquanto as sirenes tocam e o sangue escorre do corpo dos inocentes. Não interessa. Em tempo de guerra não se limpam armas. E qualquer altura é boa para melhorar o que está mal. Têm é que ser pessoas com alguma elevação para que os assuntos não sejam tratados com cegueira e espírito de vingança.

  • Os mais virados para a acção devem procurar-se uns aos outros -- certamente em conjunto com os serviços secretos daqui e dali --e estudar formas correctivas de travar malucos, dementes e tarados que estejam armados e sedentos de poder
  • Os mais virados para a organização, para as leis e para a justiça, deverão juntar-se e ver o que hoje os trava ou põe em causa a segurança do mundo sem que possam fazer nada par areformular leis, estatutos, etc. 
  • Os mais virados para as contas devem preparar os dias que se seguem: injectar dinheiro em força na economia? Preparar o embate financeiro decorrente das consequências das sanções à Rússia? 
  • Os mais resilientes deverão encontrar planos para salvar o planeta apesar da guerra. E deve haver cenários. O worst-case scenario, com partes do planeta mergulhados num longo e penoso inverno nuclear, o cenário intermédio, em que não há crise letal mas há destruição brutal e crises de toda a espécie ou o best-case scenario em que alguém consegue travar Putin dentro de não muito tempo e acabar com a destruição da Ucrânia sem que outros países sejam atacados.

Acredito que tudo isto esteja a ser preparado.

Uma coisa é certa: de uma vez por todas deveriam ser criados mecanismos que previnam a guerra. Não me venham com conversas de coisas que remontam a gregos e troianos, ao berço da civilização, o instinto bélico sempre presente na cabeça dos homens e o diabo a sete. Não quero saber. Que se dane isso. O que todos devemos querer é uma vida simples, sem medos, sem que ninguém tenha que matar ninguém, em que possamos pensar no futuro sem medo, em que possamos alimentar sonhos, em que possamos estar uns com os outros, felizes, livres, em que possamos dizer o que pensamos, sem medo, em que qualquer maluco com instinto criminoso seja legalmente impedido de fazer mal aos outros.

Lirismo?

Talvez. Mas se, em vez de andar meio mundo a fazer selfies a torto e a direito -- reduzindo o mundo às selfies e aos pratos uns dos outros, consumindo tempo com smiles e emojis infantis que nada acrescentam a coisa alguma --, prestarmos atenção ao que interessa, se formos cuidadosos a votar, se votarmos em quem nos representa, se mostramos, no nosso dia a dia, que queremos um mundo melhor, se nos chegarmos à frente para defender as nossas ideias (mesmo que seja apenas um chegar à frente simbólico, com os meios que se tem ao alcance) talvez se consiga alguma coisa. Pelo menos assim o desejo.

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Percorro as notícias e os vídeos a ver se encontro alguma solução milagrosa para esta guerra estúpida e cruel, tenho esperança que apareça alguém a saber, de fonte segura, como se irá conseguir pôr cobro a isto. Tenho visto entrevistas interessantes e, de certa forma, convergentes na forma como vêem Putin. 
Pensa nele e só nele, pensa no dinheiro que tem a ocidente, é um facínora e um ditador. Todos acham que o seu regime tem o fim à vista. 
Mas mais do que isso ainda não se sabe. Como? Quando? Não se sabe. 
Mas eu, que sou uma optimista (embora agora muito timidamente o seja, confesso), acredito que talvez dentro de poucos dias, talvez até ao fim deste mês, esta guerra comece a esboroar-se e que o resto será tratado internamente (na Rússia, quero eu dizer).

Mas tenho-me enganado tanto ultimamente que já não sei. Acreditava que ele não ia invadir a Ucrânia, que isso era histeria da comunicação social a fazer o frete aos senhores do armamento... e veja-se como me enganei redondamente... Portanto, já não sei é nada.

Deixem, portanto, que partilhe alguns dos vídeos. Não há com legendas em português mas talvez a maioria de quem por aqui me acompanhe arranhe o suficiente a língua inglesa para perceber o que dizem.

Russian news anchor, Ekaterina Kotrikadze, says millions of Russians feel invasion is a catastrophe

Russian news director and anchor, Ekaterina Kotrikadze, speaks to CNN's Fareed Zakaria about the state of the country's news media after her station, TV Rain, shut down due to the Russian government's crackdown on local media over unfavorable coverage of the war in Ukraine.

Bill Browder on Putin: When You Believe Your Time Is Almost Up, You Start a War | Amanpour and Company

Unprecedented sanctions have sent the Russian ruble tumbling. The U.S. has now cut off Russia’s central bank from its $630 billion so-called sanctions-proof fund. Bill Browder is CEO of Hermitage Capital and the architect of the Magnitsky Act, used by President Biden to impose sanctions on Vladimir Putin and his oligarch cronies. Browder speaks with Walter Isaacson about the tactic of cutting Putin off from his wealth. 


What is Putin’s Endgame? Garry Kasparov on Russia’s Attack on Ukraine | Amanpour and Company

A vocal critic of the Russian leadership is Garry Kasparov, the chess grandmaster who repeatedly ranked world number one for 20 years before turning his attention to politics. He tells leaders to “help Ukraine fight against the monster you helped create.” Kasparov speaks with Walter Isaacson


The War in Ukraine Could Change Everything | Yuval Noah Harari | TED

Concerned about the war Ukraine? You're not alone. Historian Yuval Noah Harari provides important context on the Russian invasion, including Ukraine's long history of resistance, the specter of nuclear war and his view of why, even if Putin wins all the military battles, he's already lost the war. (This talk and conversation, hosted by TED global curator Bruno Giussani, was part of a TED Membership event on March 1, 2022.

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As fotografias mostram imagens de quem quer a paz e de quem foge à guerra. Todas no Guardian, essencialmente de Ukraine protests around the world – in pictures. A música é Moonlight night, interpretada pela  Gimnazija Kranj Symphony Orchestra and Choir'composta por Mykola Lysenko com letra de Mykhailo Starytsky. 
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Desejo-vos uma boa semana a começar já por esta segunda-feira.
Saúde. Paz.