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sábado, agosto 24, 2019

A mensagem que umas toalhas sobre a cama podem transmitir


Hoje cheguei mais ou menos cedo mas, ao chegar, tive muita coisa que fazer e depois também e, ao pôr do sol e à noite, festa que só leões são uns poucos e depois, de lá, trouxémos uns meninos que aqui estiveram a ver fotografias  e eu a enviar-lhes para eles (sim, os pimentinhas já têm mail) e para os crescidos mas agora já cá não estão mas eu também não, porque o sono já me envolve e é como se eu já aqui não estivesse.

E este sábado de manhã tenho programa e de lá sigo para outro e, para esse, é que eu hoje também já preparei as coisas. 

A minha mãe, quando de tarde falei com ela, disse: 'Vocês não param. Descansem.' Mas é o que é. 

E, tirando isso, nada mais sei porque, em boa verdade, nestas últimas vinte e quatro horas estive como que ao lado do mundo. Foi muita concentração de muita coisa.

E, assim sendo, vou já ao que interessa. E não é que interesse. É mesmo falta de assunto, falta de energia e de imaginação.

Cenas com piada em hotéis. Isto deve ser porque estou com a cabeça nas vacances, com vontade de desligar deste pára-arranca, semáforo, pára-arranca, semáforo e isto numa ponta e aquilo na outra e semáforos que não acabam a cansar a minha beleza.

Hoje seleccionei três de entre muitas que acabei de descobrir no Bored Panda. Três cenas que os empregados da limpeza dos quartos resolveram montar sobre a cama, com recurso a toalhas, para que os hóspedes prestassem atenção.

Olha... Encontrámos os óculos que andavam perdidos...!


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Upsss... Cá estão eles... Os óculos. Again os óculos. Mas venham cá você buscá-los que este crocodile é dos maus. Ui.... Medo.... O patinho já era.


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Ui. Que noites loucas, hein, meu...? Com que então a ler as não sei quantas sombras de grey à socapa, à noite...? Veja lá, se tão bem escondidinho que estava o livrinho, não se esquece cá dele. Deixámo-lo aqui para ter a certeza que o vê, ok? 

Mas olhe lá, conte-me cá, gosta mesmo assim tanto? Não são mais as solteitas, divorciadas e viúvas que se entusiasmam com essas brincadeirinhas...? Pensei que sim, veja lá. Mas, pronto, sempre a aprender.


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E um bom sábado a todos, a todas e a todes.

E só não escrevo a tôdolos para não dizerem que estou a copiar a Alexandra, até porque se fosse para copiar teria que ir ver se leva mesmo circunflexo ou se deveria era ser enfeitado com um hífen, que um hífen enfeita sempre qualquer palavra, mas, com a pancada de sono com que estou, só consigo mexer-me daqui para ir para a cama. E mesmo assim a ver se não tenho que ir de gatas. Portanto, não. Fico-me pelo português d'aujourd'hui e pelo algarvio. Deixo os tempos medievos para quem sabe manuseá-los. 

Até e boa continuação. E be happy, ouviram?

terça-feira, abril 02, 2019

A Vogue francesa recomenda Lisboa para visitar em Maio --
e isto apesar do Tio Basílio não ter deixado o cavalo da Madonna pastar na sua Horta*


No fim de semana passado, pela primeira vez desde há várias semanas, não fomos podar árvores. Os carneiros atacaram e de gosto fomos rodeá-los e fazer a festa.

Mas se, por um lado, sinto sempre saudade de me misturar com a natureza e gozar a quietude que se vive in heaven por outro tenho uma grande vontade de ir passear. E se as circunstâncias da minha vida familiar me inibem de me afastar a verdade é que, contentando-me com pouco, visitar esta Lisboa amada me basta e enche de alegrias. 




Aliás, falar de Lisboa e dizer que é pouco é a primeira heresia. Lisboa é muito. E tanto que, se me puser a descobri-la, me surpreendo com as suas infinitas novidades. 

Há tantas cidades tantas vezes superiores, tantas tão mais majestosas, tantas tão mais boémias. Tantas. Mas esta tem tudo isso na dose certa e tem mil apontamentos diversos, novos, luminosos.

Estava a ver a Vogue francesa e logo a abrir a sugestão de cinco cidades a (re)descobrir em Maio. Intuí que Lisboa tinha que ser uma delas. E é. A seguir a Roma e entre Amesterdão, Madrid e Copenhaga lá está a mais bela de todas, Lisboa a magnífica.

Vai em francês que soa melhora:
Une vie nocturne qui fait penser à la Havane, des tramways et des ponts comme à San Francisco, des docks réhabilités rappelant Londres, un quartier d'Alfama pareil aux médinas du Maghreb, Lisbonne est un voyage à elle seule. A deux heures en avion de Paris, c'est surtout la destination idéale pour profiter des premiers rayons de soleil du printemps le temps d'un week-end en mai.

E recomenda o hotel Verride Palácio de Santa Catarina que não conheço mas cuja fotografia me deixa com vontade de ir lá dormir. Melhor nem ver o preço não vá mudar de ideias.

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O bailado não tem nada a ver, acho eu. Mas é muito bonito e tudo o que é bonito condiz com Lisboa. Transcrevo:
The Royal Opera House presents this short film by Andy Margetson featuring dancer Marianela Nunez who graces the pages of this month's Bazaar UK
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* O trocadilho lá em cima, no título, é fajuta, trocadinho mesmo -- bem sei. Começou por me apetecer chamar Primo ao Tio e, como resisti, acabei com a parvoíce da Horta quando queria era dizer Palácio. Mas um palácio para a Madonna pôr o ginete a pastar é capaz de ser o mesmo que uma horta com estilo.


E se esse episódio é ridículo, mais ainda é a birra dela e mais ridículo é se tudo for verdade. Gosto que as pessoas gostem do meu País, que falem bem dele -- mas gosto mais ainda que o respeitem. No entanto, devo confessar: não é para mim líquido que ter um cavalo dentro de um palácio seja desrespeito e que o cavalo, ao ver-se aburguesado, fosse fazer estragos. Ou seja, não é para mim completamente claro que o birrento aqui não seja o Primo Basílico.


E, nada me sendo líquido, fico-me por aqui que estou mais do que sólida de sono, quase a passar ao estado de 'pedra', 'pedregulho' mesmo. Salve.

segunda-feira, janeiro 07, 2019

O Hotel Parque de São Martinho do Porto



O ano passado, o meu filho andou a passar a férias numa caravana. Foram do centro do país até ao Algarve e, pelo caminho, pernoitaram em São Martinho do Porto. Digo que pernoitaram mas não sei se ficaram mais tempo. Nem eu nem o meu filho conhecíamos. Pela descrição parecia ser lugar bonito mas, apesar de ser tão perto de Lisboa, nunca nos tinha calhado ir até lá.

Fomos no sábado. Bonito, sem dúvida. Quando se está num sítio assim, a primeira coisa que nos ocorre é na qualidade de vida que se deve ter. Não há trânsito, não há falta de lugar para estacionar, não há barulho ou confusão. O meu marido fez notar que, se calhar, se em vez de Janeiro, estivéssemos no verão, já não diríamos isso. Pois não sei.


A praia é ampla, as casas distribuem-se ao longo da baía e monte acima e tudo é tranquilo e luminoso. Mas o meu marido também fez notar que um colega dele tem lá casa e se queixa do nevoeiro. Pois também não sei.

Subimos até ao miradouro e, de lá, vimos melhor a paisagem, a passagem para o mar aberto, a amplitude do horizonte, o azul das águas e do céu.

Lá em baixo a árvore de Natal que, se o Francisco não me tivesse falado nela, vendo-a assim apagada, à luz do dia, nem me teria apercebido. De noite deve ser bem bonita, as luzinhas sobre o mar.


Do passeio que demos pela Vila, chamou-me a atenção um belíssimo edifício ao abandono. Trata-se do Hotel do Parque. Fui, entretanto, informar-me e li que estará para ser reabilitado mas aparentemente o tempo vai passando, a degradação avançando -- e nada acontece. Parece impossível. Não sei como é por dentro mas li que os quartos são grandes. Com uma arquitectura apelativa, rodeado por um bonito jardim e a dois metros da praia, daqui poderia fazer-se um fantástico hotel de charme. Não faço ideia dos planos concretos, se é que existem, mas alguém deveria olhar para o potencial de um hotel assim, junto das praias, ao lado de Óbidos -- já para não falar das Caldas da Rainha, de Peniche, da Nazaré e, claro, de Alcobaça. E perto de Lisboa, para quem venha de fora e aterre na Portela.


Quando não há investidores privados que se cheguem à frente, perante a possibilidade de se vir a perder um património com beleza e potencial turístico, as autarquias deveriam chegar-se à frente e garantir que se encontra uma boa solução para todos.


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E queiram, por favor, continuar a descer para comprovarem como os portugueses se destacam entre todos os outros.

sexta-feira, julho 20, 2018

Lisbon Resort Hotel


Só para informar: estou out. Saí de madrugada, foi sempre a bombar e, como é bom de ver, já que o filme se repete esta sexta-feira, I'm not at home. Resumindo: estou sem saber notícias, sem saber coisa alguma. Falei com a família e foi de corrida e se o Bruno de Carvalho já foi cooptado pelo Benfica ou se a Kolinda já foi cooptada pelo Marcelo ou se a dupla de marretas Rio&Negrão já cooptou o Francisco Assis ou se a Alexandra Lencastre já insuflou mais as poitrines e a beiçola ou se a Judite Sousa apareceu de trancinhas, bibe com bordado inglês, botas de Dartacão e capacete de motard a entrevistar uma criancinha perdida da mão no Colombo ou se a Georgina apareceu com a D. Dolores ao colo e os filhos da barriga de aluguer às cavalitas dela e do padastro do CR7 -- juro que não sei de nada. Podem tentar que eu confesse que eu nada direi. Não sei de nada. Juro.

Portanto, escrever sobre a actualidade é coisa que está fora do meu alcance. Desenvolver teorias de cão de caça sobre assuntos altamente é coisa a que o meu exaurido intelecto se recusa. Pôr-me para aqui de asas depenadas a tentar voar, querendo que a minha alma se eleve até àquela camada da estratosfera em que a censura interna não alcança é coisa para a qual me falta inspiração.

Portanto, assim sendo, muito rasteirinhamente deitada num quarto super-hiper e com pena de não poder pôr-me nova no spa, limito-me a espreitar a televisão aqui na parede em frente e a ver os mails dos meus Leitores e amigos.

E, de entre tanta coisa engraçada, eis que dou com um que me traz coisa extraordinária. Pode ser trote. Ou treta. Ou truta. Não sei. Vê-se e não se acredita. Coisa do além.

Não sou de saudosismos, de ter o pé preso ao cimento do chão do passado, não sou de pirar sempre que alguém mexe nas paredes ou nos interiores de edifícios aos quais nunca antes liguei muito mas, confesso, às primeiras fiquei de olhos arregalados quando vi as imagens do Lisbon Resort Hotel. Depois caí na real: mas que diferença faz que seja hotel ou ministério? Que diferença faz que a praça tenha só pedra ou laguinho e repuxinho? Zero. Faz um bocado de falta a estátua, é verdade. Aquele cavalinho ali ao meio com o cavaleirinho em cima faz parte da paisagem e, alguns, os mais letrados e nostálgicos são mesmo capazes de dizer que tirar dali o cavalinho mexe com o imaginário da gente. Mas eu isso do imaginário deixo para lá. E saudosismos eu sacudo como quem sacode pó e extermina ácaro.

Por isso, vendo melhor as imagens, até que acho que o Terreiro do Paço tinha a ganhar com o Lisbon Resort Hotel. Aquilo ali ficaria mesmo supimpa... Não sei é onde é que vão pôr o cavalinho do D. José mas acredito que lhe arranjarão um lugar maneiro.

Portanto, por mim, luz verde.

[Mas, calma, há que ter em atenção o estado em que estou: não garanto que esteja na plena posse das minhas faculdades.]

Cliquem aqui no Lisbon Resort Hotel para entrarem no site.


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Ups...

Ao tentar encontrar uma fotografia para enfeitar o texto, descobri esta aqui acima e vi que saíu no Público e que tudo não passa de uma ideia, de um projecto -- e que as redes sociais, que são maioritariamente conservadores e reaccionárias, ficaram num alvoroço, tudo gente carregadinha de amor pela utilização dos edifícios como ministérios e tudo apegado ao cavalinho ali ao meio. Também pode ser pela história que não querem que se mexa. Pronto. Faz sentido querer preservar a história. Mas, caraças, a história é o que é, é memória, é gravura, é história em livro. E isso mantém-se. Não precisa é cristalizar no tempo. Se mantêm os edifícios todos lindinhos e limpinhos e se embelezam a praça, acho muito bem.

Não é com a vox populi e, muito menos, com os likes de facebookianos politicamente correctos que algum dia se conseguirá chegar a lado algum. Portanto, se o Costa ou o Medina ou o Marcelo -- ou lá quem é que tem que dar o visto -- precisam do meu ok para avançarem para a guerra, estão aqui o têm: ok. Go.

sexta-feira, setembro 02, 2016

De novo, a observar os outros






O lugar do pequeno-almoço é amplo: estende-se entre a sala de jantar, o largo terraço coberto com um telheiro de madeira onde grandes ventoinhas suspensas agitam o ar, transmitindo a ideia de fresca aragem, e a varanda sobre o jardim. Pode estar muita gente em simultâneo que não se dá por isso.


Vimos o irmão de grada figura de Estado, quase igual ao mano nos gestos, na camisa dez números acima e igualmente descontraído. Ninguém o conhece, presumo, pois, que me aperceba, há pouquíssimos portugueses. 

Há um rapaz que está com o que deve ser a mãe e que é, nos modos, tal e qual o tal da Little Britain, the only gay in town.


Fisicamente é extremamente parecido com James Corden. Ao princípio pensei que fosse mesmo ele e surpreendi-me por ser tão gay já que Corden é casado e nunca lhe vi tiques abichanados. Depois vi que são apenas sósias.

Apresenta-se todos os dias com calção curto e justo, blusa justa de alças e com os chinelinhos turcos que estão no quarto para uso com o roupão após o banho. Como são muto leves, se ele andar com passo mais largo, as chinelinhas caem-lhe dos pés. Então, anda com passinho miúdo, como se fosse uma gueixa. E anda com as mãos levantadas, todo a dar ao rabo e só não sacode o cabelo porque não o tem para isso. A mãe também é grande e bem nutrida e usa o cabelo liso, presumo que pintado de preto, e veste-se toda de negro, num curioso look gótico. O filho deve ser muito divertido porque, quando ele fala, ela frequentemente desata a rir-se à gargalhada.

Ontem à noite alguém tocava piano no grande hall do hotel mas, pelo aspecto, e pelo que tocava, fiquei na dúvida se não seria um hóspede. Muito bom e completamente inesperado.

Quem lá vimos a escutar a música com ar encantado foi aquele curioso casal cuja nacionalidade ainda não conseguimos identificar. Inclino-me para que sejam israelitas. Vestem-se de forma ocidental. Os três filhos muito bonitos e modernos, um rapaz de uns 17 ou 18 anos com um daqueles cortes de cabelo muito na moda em que parte é curta e parte, no alto da cabeça, é maior, depois uma miúda linda de uns 14 anos e uma que terá uns 12.  O homem tem um aspecto também ocidental e é alto e bonito. A mulher é que é o elemento especial da família. Parece uma adolescente mas, olhando bem, vê-se que adolescente não é. É magra, tem corpo de miúda. Usa vestidinhos justos e curtos. E tem traços diria que levemente árabes. Usa rabo de cavalo, um cabelo escuro e liso como o das filhas. E anda muito direita, sempre com um meio-sorriso, e frequentemente põe a cabeça de lado, com um ar zen. Nunca a vejo a conversar com o marido nem ele com ela, mas andam sempre juntos, ele muito sereno e ela em estado de quase levitação. Ao pequeno almoço, os filhos vão buscar o que querem que os pais nada dizem. A mais pequena apenas traz mini-bolas de berlim, bolas e mais bolas, e a mãe olha com ar de flamingo suave como se o tema não lhe interessasse. A do meio apenas come fruta. Traz melancia, uvas, laranja, melão, taças de fruta e nada mais. O rapaz traz uma tigela de cereais secos, sem leite ou iogurte. E para os pais tudo bem. Os miúdos conversam uma língua que desconhecemos e riem entre eles e os pais olham-nos sem nada dizerem, suaves e sorridentes, como se observassem uma realidade que lhes é estranha. Na piscina, o rapaz lê, está sempre a ler, as irmãs mergulham e brincam, o pai olha para o céu ou dorme e a suave jovem mulher de vez em quando lê, de vez em quando olha para a copa das árvores e parece sorrir.

Gostava de os conhecer porque me intrigam.

Hoje calhou coincidirmos ao pequeno-almoço, embora em mesas relativamente distantes, com o indiano/paquistanês/inglês. Afinal usa óculos de ver e, assim e vestido, fica ainda mais interessante. Estava só com os filhos. Ele conversa com eles, vigia o que comem, de vez em quando faz-lhes um pequeno gesto de carinho, sempre atento. O meu marido disse-me: 'As duas ficaram a dormir'.

Voltei a encontrá-los na piscina. Ele sempre com aquele seu ar diligente, dobra a roupa, tira o protector solar do saco e põe nos filhos, ajeita o chapéu de sol, ajeita as toalhas nas espreguiçadeiras. Depois foi tomar banho com os filhos, brincou com eles na água. Quando o meu marido chegou da sua caminhada, ao vê-lo só com os miúdos, perguntou-me com ar de gozo: 'Então? As louras continuam a dormir, não...?'. Pelos vistos.

Voltei também a ver um curioso casal que já no outro dia tinha visto na praia: ele, alto, bronzeado, corpo cuidado, diria que já pelos 70 mas ainda muito bem. Cabelo completamente branco, penteado quase para trás, corte que as entradas favorecem. Uns calções de banho de risqunhas finas verticais em cinzento claro e branco. Tem um ar distinto. Com ele, uma que deve ser modelo, escultural, talvez nos trintas. Ele passa a vida a fotografá-la. Hoje ela usava um bikini cor de rosa vivo, tem cabelo louro muito claro pelo meio das costas e presta-se, proactivamente, às sessões fotográficas que ele, embevecido, faz. Parecem um casalinho apaixonado.

As duas miúdas lourinhas lá estavam hoje também: a ler, a beber cerveja, a conversar, a irem nadar. Inseparáveis. Também não percebo. A cada dia usam bikinis e túnicas diferentes, elegantes, vê-se que tudo de boa qualidade. Olhei-as bem. São mesmo muito miúdas ainda. Decididamente não percebo que duas jovens adolescentes venham de Inglaterra, sozinhas, para passar férias num hotel destes, limitando-se a circular entre a piscina e a praia e sem procurarem a companhia dos muitos outros jovens que por aqui circulam.

Na beira da piscina, entre pessoas que me parecem 'normais' e que não despertam a minha atenção, reparei também em três new-balzaquianas louras, que falam sem parar, riem, segredam, conspiram. Uma tem um bikini muito bonito, preto com bolinhas pequenas brancas e com um folhinho em baixo, na pequena tanga, e em cima, no cavado soutien. Muito sexy. Ela tem generosa carnadura mas nada de mais e, muito bronzeada, fica bem com aquele modelo. As unhas são em pink brilhante. E está sempre a escrever no telemóvel. As mãos ágeis como nunca vi, escreve com as duas mãos, com as unhas grandes, e sem quase olhar para o aparelho, pois conversam ininterruptamente. Não sei como o consegue, ao sol, com as grandes unhas e sem olhar para o que escreve. E o que será que escreve tão copiosamente?
Vou para lá sempre bem intencionada, de livro na mão, com muita vontade de me deixar estar ali a ler naquele cenário tão tranquilo. Contudo, passado pouco tempo, estou nisto: a observar os outros. E agora persisto: a relatar-vos o que vejo. A ver se me inspiro noutra coisa qualquer para não vos voltar a maçar com isto.


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Lá em cima a companhia de dança barroca "Neveux de Rameau" interpreta uma passacaglia. Pertence à ópera Armide de Jean-Baptiste Lully.

As duas últimas imagens mostram peças da autoria de ​Alyson Mowat nas quais cristais (duradouros) são colocados em flores (efémeras).

As ondas de vidro são peças da autoria do casal Marsha Blaker e Paul DeSomma

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E queiram, por favor, descer até a uma verdadeira amazing Grace. Tomara que não seja daqueles sucessos precoces que ficam pelo caminho.

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quinta-feira, setembro 01, 2016

Observar os outros




Dia ainda mais tranquilo que os anteriores. O meu marido tem bicho-carpinteiro, não consegue estar muito tempo sossegado. Então vai dar uma volta a pé de mais de uma hora enquanto eu fico na beira da piscina.

Quando lá chego, procuro duas espreguiçadeiras à sombra das árvores. Fico na segunda linha de espreguiçadeiras. A primeira contorna a grande piscina. Esta segunda, a boa distância da primeira, está debaixo dos pinheiros, palmeiras e sei lá que outras árvores que no outro dia andei a fotografar à noite e que hoje aqui mostro. Lá mais para trás ainda há mais, num relvado também entre árvores. Aí se juntam os adolescentes que conversam, praguejam animadamente, bebem cerveja e riem.

Tenho um livro, tenho o telemóvel, o protector solar 50, uma garrafa de água. Começo por ler mas depois ponho-me a observar os que estão no meu raio de visão. Um conhecido jornalista de televisão que, assim, de calções e óculos escuros, me deixou na dúvida se era. Depois vi que era. Passou despercebido. Eu e ele devíamos ser os únicos portugueses.


Chegou, então, um casal talvez de uns 70 anos, elegantíssimos -- invejei tudo o que ela tinha vestido: um bikini com um corte favorecedor em azul marinho, turquesa e verde esmeralda. O bikini ficou à vista depois de ter despido uma túnica nos mesmos tons, com transparências intercalando zonas de suave aveludado. Aquela túnica até na cidade ficaria linda, com umas calças justas em branco ou em preto. Os chinelos eram igualmente elegantes e o chapéu de palha ainda mais, de abas bem largas, com uma fita de corda fina e com uma espécie de contas douradas, aqui e ali, à volta. A senhora é magra, elegante, de cabelos platinados abaixo da nuca. O marido o oposto: faz lembrar o Strauss-Kahn, uma coisa na base do touro. Entroncado, peludo, calções de pano coçado acima do joelho e por baixo da barriga, boné descorado e velho, cabelos grisalhos meio compridos, apesar de careca na parte de cima. Contudo, curiosamente um homem interessante. Enquanto a mulher protegeu a pele e ali se pôs ao sol, serenamente, ele fumou, viu o telemóvel, escreveu nele, mergulhou e deu umas vigorosas braçadas e o tempo todo manteve-se sempre neste tipo de actividade. Não se deitou nem por um segundo.

Reparei também naquelas duas raparigas muito bonitas, altas, louríssimas, que andam sempre juntas. Encontrámo-las a tomar o pequeno almoço, de tarde cruzamo-nos com elas na praia. Lêem, conversam, vão buscar autênticos baldes de cerveja ao bar da piscina e vão bebendo enquanto tagarelam, depois levantam-se e vão nadar. Parecem-me novas demais para terem vindo só as duas viajar, terão talvez uns 18 anos, e ainda por cima para se alojarem num hotel deste tipo. Miúdas que vêm à descoberta ficam em hostels, coisa assim. Mas nunca as vimos com o que poderiam ser os pais. 


Mas o que me manteve presa toda a manhã -- e, quando o meu marido chegou, estivemos os dois, quase como se estivessemos a ver um filme -- foi o grupinho mesmo à minha frente. Duas inglesas muito inglesas, com muito accent, muito louras, de bikini, elegantes, quase iguais, em espreguiçadeiras ao lado uma da outra. O meu marido disse que eram gémeas mas talvez não. Ao lado da que me pareceu talvez ligeiramente mais velha, um que deve ter ascendentes directos indianos ou paquistaneses mas igualmente muito british. Um pouco mais baixo que ela, um bocado para o entroncado. Ao lado dele, dois miúdos, talvez 8 ou 9 ou 10 anos, mostrando a mistura de raças, muito bonitos, pele e feições a atirar para o pai mas ao mesmo tempo com traços da mãe.

A mulher, quando comecei a reparar nela, fazia meditação em posições de ioga, como se estivesse sozinha no mundo. Ao lado, a que supusémos ser irmã, lia ou via o telemóvel. Ele tomava conta dos filhos, punha-lhes protector, ajeitava o chapéu de sol para lhes fazer sombra. Depois, quando a mulher se pôs numa posição curiosa, de gatas, ele pôs-se na mesma posição, ao lado dela. Mas estavam ambos compenetrados. Se fosse eu e o meu marido não apenas não nos poríamos assim em cima das espreguiçadeiras, em público, como, se o fizessemos, desatavamos ambos a rir (especialmente eu).


Depois foram todos para a piscina. Ela e a que talvez fosse irmã brincavam ruidosamente uma com a outra, davam amonas, uma ia debaixo de água assustar a outra que gritava e ria. Noutro canto da piscina os miúdos brincavam um com o outro. Depois o pai veio buscar uns óculos e uma câmara fotográfica daquelas que funcionam debaixo de água. Ainda tirou algumas fotografias aos filhos mas depois foi fotografar a mulher e a cunhada. Todo ele se ria, encantado, com as brincadeiras efusivas daquelas duas.

Às tantas descobriram uma grande bóia que lá estava a um canto e foi vê-las como crianças ruidosas a tentarem virar a bóia, a pregarem partidas uma à outra e a rirem de gosto. O marido observava e ria mas não interferia, apenas degustava com enlevo.

Quando saíram da água, o marido deu as toalhas aos miúdos, voltou a pôr protector solar neles. Durante as horas que ali estive nenhuma das duas mulheres dirigiu uma palavra que fosse às crianças. Nem as crianças a elas, apenas ao pai.

Depois o casal pegou em raquetes e foram jogar para a piscina dos pequenos. Iam de mão dada, ele sempre sorridente, ela também bem disposta. E lá estiveram divertidos, ela sem grande jeito, ele paciente.

De volta à espreguiçadeira, deitaram-se ao sol e ele deitou a cabeça no ombro da mulher. Depois passou o braço por cima dela e ali se deixaram ficar abraçados. Depois beijaram-se.


Passado um bocado, a outra, louríssima, seios generosos quase a saltarem do curto bikini, pôs-se a besuntar-se com protector solar, tendo pedido ajuda à que talvez fosse irmã. A irmã pôs, espalhou com cuidado, com a unha raspou-lhe o que talvez fossem umas pequenas borbulhas, aproximou o rosto para ver melhor, passou com a mão a ver se sentia irregularidades. Depois inverteram, foi a outra que lhe espalhou nela o mesmo protector. As duas espalhando o creme com cuidado e vagar. A seguir foi ele que quis que a mulher lho pusesse nas costas. Sentou-se na espreguiçadeira dela, de costas para a mulher, entre as pernas dela. A mulher massajou-o com cuidado. Então ele, de repente, deu uma reviravolta e, quase em mergulho, atirou-se para cima dela, e ficou ali um bom bocado, abraçado, cobrindo-lhe o corpo. Ao princípio ela riu, depois abraçou-o e voltaram a beijar-se.

A outra, nada, continuou placidamente a ler e os miúdos também nem aí, cenas daquelas deviam ser usuais.

Eu disse, baixinho, ao meu marido que sempre tinha achado que os homens de tez mais escura são mais fogosos. Como está tisnado como um marroquino tenho a certeza que se sentiu abrangido.

Depois o homem voltou para o seu lugar. Algum tempo depois, levantaram-se e foram de mão dada buscar a ementa. Ele segredava-lhe qualquer coisa ao ouvido e ela ria. Regressaram e ele perguntou aos miúdos o que queriam; depois, como eles não soubessem, pôs-se a ler, em voz alta, a ementa. Perguntou à que talvez fosse sua cunhada o que queria. A mulher era como se não tivesse nada a ver com aquilo, via o telemóvel, ele é que geria os pedidos.


O meu marido disse: 'O gajo é que faz tudo'. E eu disse que sim, era um facto, mas que reparasse ele como o homem o fazia de bom grado, sempre sorridente e amável. Não ligou e, pelo contrário, teceu considerações sobre a colonização e outras tretas que não eram para ali chamadas.

No fim, fiquei a pensar que, tivesse eu tempo e paciência, em torno daquelas personagens, se poderia forjar um enredo bem engraçado.

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Lá em cima, e não me perguntem porquê, apeteceu-me ter o Gattopardo, Luchino Visconti,1963. O Leopardo, uum grande filme. A valsa que se ouve é de Dmitri Shostakovich .

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E queiram agora, por favor, descer até uma evocaçao a propósito do Dia do Topless para verem como  há seios que ficarão para a história do cinema.

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domingo, março 20, 2016

O Hotel Grand Amour de André Saraiva, em Paris




Salvo honrosas excepções, os hotéis no centro de Paris ou são de cinco estrelas, hotéis de luxo e caríssimos, ou são acanhados, sem história e sem grande graça.

Talvez por isso, quando abre um hotel diferente, o acontecimento não passa despercebido. Os sites onde se anunciam as grandes novidades do género, como a Vogue ou a Harper's Bazaar, dão conta que André Saraiva, meio português e conhecido como Mr. A na sua vertente de autor de graffiti, abriu um novo hotel (já tinha outro) no centro de Paris. E, justamente porque não é um hotel qualquer, está a dar que falar: Hotel Grand Amour.


Transcrevo um excerto da Harper's Bazaar:

A great hotel isn't just a place to rest your head at the end of a long trip - it's an experience that adds flavor to your travels, which can certainly be said of graffiti artist and club mogul André Saraiva's Grand Amour. Centrally located in Paris' 10th Arrondissement, the hotel is an immersive celebration of Parisian art and culture. Behind the historic pre-Haussmannian façade are 42 totally unique rooms inspired by the artist's extensive travels and his favorite places in the world. If the Hotel Chelsea were to meet a Viennese café in modern-day Paris, it might look something like this. 


(...)

Saraiva has also been busy conquering New York. His new bistro, Café Henrie, opened in September of 2015 just down the block from his apartment and studio on Forsyth Street, and next, he his sights on another property nearby, which he hopes to turn into a deli. Is he planning to take over the neighborhood? In an exclusive interview, Saraiva told BAZAAR about the suite life, how to throw a party, and his latest ventures in art and hospitality.


Harper's BAZAAR: Who would be your ideal guest to host at the hotel?

André Saraiva: I would have loved to have Man Ray, if he was around. Of course Picasso would be welcome too. Andy Warhol, Marcel Duchamp. I have a chess game so he could come and play chess. Of course there are some iconic actresses. Everyone would be welcome!

(...)

HB: What are your favorite pieces of furniture in the Grand Amour?

AS: We've been collecting for 10 years. There's a lot of furniture from the early Viennese designers. We have some chairs by Josef Hoffman, and a few things from the French architect Pierre Chareau. He is the one that did Glass House. It's really rare to have originals and not reproductions. We also have stuff that's not signed and just things that I like. It's not about putting out a showroom of names.


HB: What kind of knick-knacks might a guest find in his or her hotel room?

AS: Glen O'Brian did a room where he made me buy two Hermès typewriters—one with a French keyboard and one with an American keyboard with a little desk. So it's a writers' room. I put some of my easels in the rooms so painters can come and paint their little view of Paris. 


HB: Maybe they'll leave their painting there.

AS: Yes, I hope so.


HB: And the art on the walls?

AS: Some of it is my art because I didn't know where to put it. We have a lot of photography, and there is a lot of painting and artwork from some of my friends.
(...)


HB: Tell me about your upcoming projects. I hear you're working on a mural near the Botto Machado garden in Lisbon.

AS:  That's my Sistine Chapel. I am originally Portuguese, even if I never lived there. I wanted to give to the city a mural, and I thought about the Portuguese tile tradition called Azulejo. I combined the ephemera of graffiti art with this technique, which stays for hundreds of years. It's more than 400,000 tiles, so I am working on the biggest puzzle you can imagine. But it's going well! We are almost finished.

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segunda-feira, janeiro 11, 2016

Óbidos, uma vila literária





Chove muito. Ouço a chuva bater no empedrado, escorrer pela estreita rua inclinada. Aqui dentro está quente, há um perfume agradável no ar, o ambiente é envolvente. Apenas uma luz quente e discreta ao meu lado, escrevo com pouca luz. Fui à janela ver a chuva. As muralhas estão iluminadas, o cenário não podia ser mais romântico. Ouço, baixo, a música que também poderão ouvir.


Há pouco, ao fim da tarde, estive a ler e li sobre amizades frágeis ou dúbias, sobre amores desencontrados, Madame de Staël que amou D. Pedro de Sousa Holstein, futuro duque de Palmela, bem mais novo que ela. Li sobre as suas cartas, li como o desacerto os levou por caminhos divergentes. Depois, ambos tiveram outros amores, a vida continuou -- sempre continua. Li sobre Camões ou livros que se lêem cedo demais. Ou sobre a melancolia. É o livro Biblioteca de Pedro Mexia. Crónicas curtas, bem escritas, temas diversos, sempre interessantes.

De vez em quando adormecia, e é tão bom sentir o sono a vir devagarinho, depois acordava, lia, depois sentia de novo o sono a querer vir. Levantava-me, espreitava a janela, sossegada a vila, sossegada eu.

Tinha andado, de dia, pela vila, encantada, sempre encantada aqui. Frio e vento, as folhas rodopiando nas ruas, mas os lugares onde se pode entrar são acolhedores, há uma cor suave nas cerâmicas, nos bordados, nos recantos, nos enfeites.

Nas paredes de fora das casas há coisas assim
E não sei se há ternura se alegria se poesia numa coisa assim mas é muito bom de ver


Sto António à janela

As Caldas da Rainha aqui bem perto, pois então

Apetece entrar para ver os santos, os presépios, os pequenos altares populares

Varandins, azulejos e um rodopiar de folhas ao sabor do vento

Encanto-me: cada pequeno pormenor, cada vista iluminada, tudo me faz parar para ver melhor. O meu marido diz que já andei mil vezes por estes lugares, que não há nada de novo para eu estar como se nunca tivesse visto. Respondo-lhe que me impressiona que tantos anos de convívio comigo não despertem nele o sentido estético e a urgência da beleza. Ri-se e diz que nem vai responder, tamanha a maluquice. Rio também, dou-lhe o braço e prossigo.

É um sobe e desce nas ruelas, escadinhas, canteiros, vasos floridos e, ao longe, uma paisagem serena

Uma loja tem cortinas na porta, como se ao transpor a portada nos esperassem segredos, intimidades.


Há pouca gente nas ruas, são sobretudo brasileiros. Um virou-se para mim, sorrindo, e disse: 'Cê é brasileira, não é? Se vê logo, tem todo o ar de ser brasileira. É, não é?'. Muitas vezes, especialmente quando eu usava o cabelo quase rapado, me diziam que eu tinha ar de francesa. Brasileira nunca ninguém tinha dito. Esclareci que não e ele ainda teimou: 'Mas olha que tem todo o ar de ser'. Antes tinha querido saber, junto da livreira, que autores brasileiros se vendiam mais em Portugal. Com ar desafiador, disse: 'Paulo Coelho? Vai, me diz'. A livreira disse que não: Clarice Lispector. E ele desfez-se, sorriu agradado e contou, logo ali, a história de Clarice, a brasileira que nasceu ucraniana. 

Disseram-nos, agora à noite, que a partir de Fevereiro, Março, há muito mais gente na vila. Mas para mim está muito bom assim. 

A igreja-livraria entre a renda das folhas que o inverno ainda permite

Agora ainda mais. Um homem teve uma ideia e da ideia fez um sonho e do sonho nasceu uma vila literária. José Pinho é um homem feito de livros, uma pessoa fascinante. Há livros por todo o lado e livrarias nos lugares mais improváveis - parece magia, loucura, coisa do além; mas é, afinal, fruto do sonho de um homem simples, de olhos luminosos e sorriso inocente.


Há livros no que era uma igreja e que agora tem recantos, em cima, em baixo, atrás de pilares, sobre o varandim. E há livros novos, usados, antigos, nunca vistos, coisa de loucos: de tudo um pouco.








E há livros no mercado biológico, onde se vende pão normal e pão de fruta, limões, laranjas, compotas, mel, bolinhos e biscoitos. Muitos, muitos livros.

Uma brasileira dizia para a filha: 'isto é que nem um sebo' e o sotaque gracioso dela trazia um toque ainda mais exótico àquele maravilhoso lugar.

Ao fundo, mal se vê na fotografia, ao pé dos livros, a secção de frutaria e mercearia

Aqui, sim, vê-se o mercadinho biológico o meio da imensa livraria

E há livros em caixotes, livros em mesas, em cima de cadeiras, em estantes imensas. E há livros em inglês, em francês, de poesia, de viagens, literatura normal, edições antiquíssimas. Uma coisa de perder a cabeça. Perdi. Perdi mesmo. Não gastei muito dinheiro porque há livros baratos, a 4 ou 5 euros e grande parte dos que trouxe andaram por aí. Um delírio, isto, para quem, como eu, tem a paixão dos livros.


E há livros numa antiga adega, num lugar em que só sabendo ou estando com atenção, num lugar onde se pode lanchar e estar serenamente a descansar, a ler, a conversar.


E há mais. Parece mesmo um sonho. É como se o prazer dos livros se tivesse materializado de uma forma quase inimaginável.

Fomos jantar a um restaurante muito agradável, comida boa mesmo, numa aldeia a 4 kms, Usseira. Pois lá estavam livros por todo o lado, até na casa de banho.

Mas os livros por estas bandas não são objectos inanimados, sacralizados: não, por aqui eles estão misturados -- ou misturados uns com os outros numa alegre anarquia ou misturados com toda a espécie de objectos.

(Continua a chover copiosamente e a chuva, talvez porque a janela está quase ao nível da rua empedrada, saltita e corre como um riacho musical; que som tão bom)

Temo maçar-vos. Tenho este meu lado infantil que se deixa entusiasmar e quase enfeitiçar por coisas assim, incomuns. Como parece que a minha memória retém impressões e pouco mais, quando revejo as coisas, parece que as redescubro, que nunca tinha visto coisa igual.
Estantes com livros? Que delírio é este por estar entre livros? 
Não sei dizer. Só sei dizer que poder estar entre livros, muitos livros, milhares e milhares de livros, estantes até ao tecto, muitas estantes, livros anacrónicos, mesmo livros que eu jamais lerei, livros de toda a espécie e feitio -- me deixa assim, neste estado de felicidade.



Livros de culinária


A fotografia está um bocado embaciada, talvez do ambiente da lareira, talvez do calorzinho bom que aqui estava
(Junto à lareira, um homem tinha-se deitado no sofá, os sapatos arrumados aos pés do sofá)


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Vou parar. Não quero cansar-vos mas acho que Óbidos merece mesmo ser visitada, divulgada. Ler é muito bom, escrever também -- e os escritores, editores e livreiros poderem ter uma vila dedicada aos livros deve ser, para eles, um prazer e um orgulho.
[Alonguei-me demais. Tantas vezes me dizem que quem procura os blogs quer ler  textos curtos, não longos lençóis de palavras. Mas desta vez não foi só o meu gosto pela escrita -- claro que podia ter mostrado menos fotografias e sido menos descritiva, mas há tantos leitores que são de longe ou que não têm possibilidade de se deslocar e vir conhecer que acho que, pelo menos, assim, talvez possam ficar com uma ideia. Pelo menos, eu gostava de achar que sim].
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Ah, esqueci-me de contar uma coisa. Óbidos é também a vila da ginginha e do chocolate e, portanto, com o frio que estava, obviamente, não dispensámos esse conforto regional: cada um de nós bebeu a sua ginja em copo de chocolate (ou seja, depois de bebermos a aguardente comemos o copo). Que bem me soube. E eu que, dantes, ao mínimo gole de bebida alcoólica fica perdida de sono e de vontade de rir, agora nada me faz diferença. Gosto, bebo e não me provoca qualquer alteração. Coisas boas que a idade me tem trazido, é o que é. O meu marido ri-se, diz que estou no bom caminho.

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Alguns vídeos relativos ao Festival Literário de Óbidos


(apesar de serem de 2013 acho que mostram bem o espírito do local)





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A primeira fotografia e as quatro últimas dizem respeito ao The Literary Man Hotel e -- read my lips -- que, não tarda, vai dar que falar. 

Note-se que não tenho participação nos resultados do hotel nem conheço os donos (os mesmo do premiado Hotel Rio do Prado) 
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E, agora que a chuva serenou, vou ler um pouco mais antes de dormir que amanhã é outro dia.

Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma boa semana a começar já por esta segunda-feira.
Bons sonhos, bons dias, muita saúde, alegria e dinheiro para os gastos.
E sorte (que é coisa que dá sempre jeito).

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