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sábado, agosto 09, 2025

Sobre a Guerra Rússia – Ucrânia"
-- A palavra ao meu filho --

 

Veio o segundo pedido, escrever sobre a Guerra Rússia – Ucrânia. 

Sendo este um texto pessoal, que expressa unicamente a minha opinião, há duas premissas de partida:

1) Culpo o governo e aparelho militar da Rússia, liderados pelo Putin, por terem iniciado uma Guerra que causou uma enorme destruição, muitas mortes civis e militares, e uma desestabilização do mundo. Provocar a morte nunca é desculpável e sobre o Putin recai essa culpa.

2) Este é um tema de enorme complexidade e, na minha opinião, a única verdade objetiva é a do ponto 1). Tudo o resto é o reflexo das últimas sete décadas de história mundial. Não sou historiador, não me preparei especialmente para este texto, não tenho uma equipa de pesquisa a trabalhar para mim, pelo que assumo desde já a superficialidade e subjetividade das minhas palavras.

Gostaria de neste texto de explorar três pontos que me parecem fundamentais para esta Questão.

1) Este conflito é um acontecimento isolado de um contexto recente?

2) Este conflito resulta da loucura imperialista do Putin?

3) A Ucrânia é inocente neste conflito?

Estabelecido o ponto de partida, vamos ao primeiro ponto. 

A sociedade foi-se interligando progressivamente ao longo dos últimos séculos, até se consolidarem dois grandes blocos geopolíticos: o Ocidental, orientado pelos princípios dos Direitos Humanos e pelo modelo capitalista, e o Oriental — ou de Leste — geralmente associado a regimes autocráticos e socialistas. Esta divisão é, naturalmente, uma simplificação excessiva, mas pode servir como ponto de partida para uma reflexão mais profunda.

A sua simplicidade é particularmente problemática porque, apresentada desta forma, estabelece logo dois lados — os "bons" versus os "maus". Por exemplo, a suposta virtude dos Direitos Humanos no Ocidente pode ser posta em causa quando se confronta com as contradições internas do liberalismo capitalista, que frequentemente sacrifica comunidades inteiras em nome da eficiência económica e da manutenção do sistema. 

A emergência e solidificação destes dois blocos resultou em alianças complexas e uma política permanente de tensão que teve altos e baixos, mas que se manteve latente, umas vezes mais global (auge da Guerra Fria) outras vezes mais episódicos e contidos (exemplo, Guerra da Síria).

Os Estados Unidos, enquanto potência dominante do bloco Ocidental, estabeleceram a doutrina de que a sua posição hegemónica exige acesso e controlo contínuo dos principais recursos estratégicos, essenciais para sustentar a sua economia e a dos seus aliados. O petróleo tornou-se o símbolo mais evidente dessa lógica, e muitos dos conflitos no Médio Oriente podem ser interpretados à luz desta necessidade geoeconómica.

A União Soviética — e posteriormente a Rússia — partilhou dessa mesma visão. A sua atuação em várias regiões, nomeadamente em África, revela uma ambição semelhante, marcada por uma voracidade estratégica sobre recursos e zonas de influência.

A tensão resultante desta pressão económica e politica sobre pontos críticos do planeta, associados ao antagonismo de ideais políticos, levou a um estado de permanente tensão militar com momentos de libertação de energia vulcânica naquilo que ficou conhecido por guerra por procuração por um lado, e por outro por operações secretas-militares altamente impactantes (caso do Chile por exemplo).

Este contexto global, marcado por disputas de poder, recursos e ideologias, parece-me ser um elemento fundamental para compreender o conflito na Ucrânia. Não se trata apenas de uma guerra territorial, mas de um episódio dentro de uma longa narrativa de confrontos sistémicos.

Os dois blocos antagonistas desenvolveram um arsenal nuclear de milhares de ogivas com capacidade de obliterar, muitas vezes, a população humana. Ainda esta semana ouvimos falar do paradigma Mão Morta, da Rússia, que assegura uma resposta imediata de aniquilação caso se dê o primeiro ataque.

Enquanto sociedade, vivemos em constante alerta perante ameaças como o aquecimento global, pandemias como a COVID-19, a proliferação de microplásticos, ou até a chegada da vespa asiática. No entanto, ignoramos com surpreendente leveza que, à distância de alguns códigos e botões, reside a possibilidade do nosso fim — não apenas o nosso, mas o dos nossos vizinhos, das futuras gerações, e de toda a espécie humana. Esta é, paradoxalmente, a maior ameaça à nossa sustentabilidade enquanto civilização: uma ameaça autoinfligida, nascida da nossa própria engenharia e ambição.

Parece ficção científica, mas a História mostra que já estivemos perigosamente perto dessa linha vermelha. O exemplo mais célebre é a Crise dos Mísseis de Cuba, em 1962, quando a União Soviética tentou instalar ogivas nucleares na ilha caribenha, a meros 150 quilómetros da costa dos Estados Unidos. Esta ação foi uma resposta direta à instalação prévia de mísseis americanos na Turquia, junto à fronteira soviética. Ambos os lados acabaram por recuar, removendo os mísseis e afastando-se das fronteiras adversárias — uma decisão prudente que evitou o colapso global.

Ora esta psicose, este receio de aniquilação que foi, pelo que leio, algo muito palpável nos anos 60 no auge da guerra fria, hoje é praticamente inexistente, por habituação, mas também porque depois das ameaças ficou o conforto de entender que em geral impera a razão (diria que a destruição mutua garantida é equilibrada pelo mais básico instinto de sobrevivência, o código mais primário do nosso DNA). Parece-me até que esta psicose foi substituída pela ideia de que esta ameaça não é credível e as armas nucleares são peças de museu, como as réplicas do Sputnik.

Mas a verdade é que o equilíbrio nuclear continua a ser uma força poderosa que molda as relações entre estes países e, em geral, entre os dois blocos. Claro que perdeu protagonismo em face das relações económicas e comerciais, diplomacia, e todas as outras formas de soft power (que Trump agora tenta destruir).

É neste enquadramento que chego ao primeiro ponto da minha tese: a guerra na Ucrânia não é um acontecimento isolado, nem fruto exclusivo do contexto atual. Trata-se, antes, de mais um episódio de elevada tensão entre dois blocos que há décadas se confrontam. A Ucrânia tornou-se, neste caso, o palco onde se projetam forças que transcendem o território e o momento histórico específico – uma guerra por procuração.

O segundo ponto decorre diretamente do primeiro: não considero que esta guerra seja simplesmente um ato de loucura desvairada por parte de Vladimir Putin. Essa leitura, embora compreensível, ignora a complexidade do cenário geopolítico. O conflito parece ser, antes, o resultado de uma pressão externa crescente sobre uma fronteira sensível, que gerou uma escalada de tensão interna — especialmente dentro do aparelho militar russo. A decisão de invadir a Ucrânia, por mais condenável que seja, inscreve-se num padrão histórico de reação estratégica, ainda que profundamente destrutiva.

Nas palavras de Mário Soares (um insuspeito aliado dos EUA contra a influência que vinha de Leste) num artigo sobre a Nato na Visão: “A NATO, criada como organização defensiva, no início da guerra fria, está a tornar-se, por pressão dos neoconservadores americanos, uma ameaça à paz.” E acrescentava “E a NATO, cercando a Rússia e instalando na Polónia e na República Checa bases de misseis, começa a ser uma ameaça para a Rússia, que a pode tornar agressiva. Um perigo!”. E por fim “Cheney foi à Ucrânia, onde tentou também dividir os dirigentes políticos, (…) Tudo em nome da Nato.”

Não são por ser do Mário Soares que estas palavras se tornam em verdade absoluta. Mas é conhecimento histórico do final do século passado e início deste, que a Rússia abatida e humilhada, foi sendo sucessivamente pressionada pela EUA como forma de solidificar a sua hegemonia, o seu papel de única e indiscutível potência. Do ponto de vista económico e de influência política os EUA conquistaram de facto esta posição. Faltou o lado militar.

A Rússia de Putin sabe-se que adotou muito dos princípios da Doutrina Primakov, de multipolaridade como eixo central e da Rússia como a potência com enorme influência Euroasiática. O BRICS é um acrónimo que simboliza isso mesmo, um mundo multipolar onde o Ocidente não detém o monopólio da liderança.

Esta doutrina e esta postura é tao aceitável ou criticável quanto o são as estratégias idênticas dos EUA e da China. No caso da Rússia é quase um mandato de sobrevivência e preservação de um estatuto outrora inquestionável. Ao que parece, os russos têm uma nostalgia da Rússia imperial, de Rússia motherland. um símbolo de orgulho e de grandeza perdida.

Se aceitarmos esta leitura como credível, podemos então estabelecer a base para o segundo ponto da tese: a aproximação progressiva da NATO às fronteiras russas foi interpretada por Moscovo como uma ameaça existencial e uma humilhação estratégica. A resposta russa — militar e política — visa reafirmar o seu estatuto de potência que não se deixa intimidar, e que detém o maior arsenal nuclear do planeta.

O poder militar, e em particular o nuclear, tornou-se o último bastião do estatuto da Rússia como potência mundial. E essas mesmas armas estão no cerne da tensão entre a NATO e a Rússia no contexto ucraniano. A guerra, neste sentido, pode ser vista como uma fuga para a frente por parte de Putin — não um ato de loucura irracional, mas uma decisão deliberada e planeada, nascida da pressão interna e da perceção de cerco externo.

Este segundo ponto, sobre Putin, é uma tentativa de entender, não desculpar. Porque perante esta pressão haveria outras hipóteses, nomeadamente diplomáticas, de deterrence baseada em ameaças. 

Esta Guerra não é desculpável por nenhum dos parágrafos anteriores, apenas é mais entendível. 

Quanto ao terceiro ponto, a inocência ou não da Ucrânia, importa analisar a relação da Ucrânia com a Nato. 

Primeiro ponto, a Ucrânia pode juntar-se à Nato? 

Pode querer juntar-se à Nato! Mas a Nato não a pode aceitar!

Porquê? Porque o equilíbrio que se estabeleceu, voltando ao tema das armas nucleares, requer zonas de tampão, zonas neutras. A colocação de armas nucleares na proximidade das fronteiras resulta num risco acrescido para a Potência alvo. E a Ucrânia, com as suas planícies, é a auto-estrada para a invasão terrestre da Rússia, desestabilizando ainda mais o equilíbrio.

Por ser evidente esta necessidade de equilíbrio, diversos líderes ocidentais prometeram, em declarações públicas, que a Nato não se expandiria para a leste depois da queda do Muro de Berlim 

Mas não me parece que a responsabilidade de manter a Nato fora da Ucrânia recaia sobre a própria Ucrânia, e como tal não a culpo de lutar pelos seus interesses. Também não me parece que seja culpada por lutar pela sua independência e pela soberania da totalidade do seu território prolongando a Guerra. Creio que esse é o seu direito e quiçá dever.

Mas ponho em causa um desejo bélico incontrolado dos aliados ocidentais, que animados pelo lobby militar, continuam a enviar armas e fogem da solução diplomática. Curiosamente só Trump tentou realmente uma solução de paz, sem sucesso. E, enquanto cidadão do mundo, parece-me um mal menor a Ucrânia perder território a leste versus o prolongar e escalar um conflito com consequências globais e riscos de dimensão incalculável.

Portanto, procuro estabelecer três ideias:

1) A guerra na Ucrânia não é um acontecimento isolado no tempo. É mais um episódio de elevada tensão entre dois blocos que se enfrentam há décadas, num conflito que se inscreve na lógica de guerra por procuração, com repercussões globais em múltiplas dimensões — económicas, políticas e humanitárias.

2) Não considero que esta guerra seja fruto de uma loucura imperialista de Vladimir Putin. Trata-se, antes, de uma ação deliberada, orientada pela tentativa de recuperar o estatuto da Rússia como potência mundial. A invasão da Ucrânia é, nesse sentido, uma resposta estratégica — ainda que profundamente condenável — à pressão externa e à perceção de cerco por parte da NATO e dos seus aliados.

3) A Ucrânia e o seu povo são, indiscutivelmente, as grandes vítimas deste conflito. Não encontro razão nos argumentos utilizados para justificar a agressão. A tese do “nazismo” ucraniano não tem fundamento, e não há evidência sólida de perseguições sistemáticas contra cidadãos russófonos no leste do país. O tipo de guerra que Putin escolheu travar é moralmente indefensável, e a sua inclinação para a destruição evoca um passado sombrio que não deve ser revivido.

Em resumo, não podemos ignorar o papel que os EUA, a Nato e os aliados no geral, têm na provocação à Rússia, que, qual urso ferido, se tornou perigoso. Mas não sendo Urso e sendo um sistema de pessoas, haveria outro caminho para a Rússia – o caminho escolhido não tem desculpa. No entanto, aqui chegados, para sair desta situação não basta à Rússia recuar, também o bloco ocidental tem de fazer concessões que permitam restabelecer a integridade do equilíbrio e à Rússia evitar a total humilhação.

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Nota de minha lavra a propósito do texto acima, escrito pelo meu filho

Levou algum tempo, ainda por cima com alguns aniversários e casa cheia pelo meio do habitual muito trabalho, mas o meu filho lá conseguiu arranjar tempo para escrever o texto que eu lhe tinha pedido. Mais uma vez, enviou-me o que acabaram de ler desafiando-me e questionando se haveria lápis azul. 

Não, mais uma vez não há. Primeiro, porque não teria que haver, é a sua visão das coisas, e é livre de a ter. Segundo, porque concordo com o que ele aqui escreve. É certo que sou um pouco mais linha dura que ele pois, em abstracto, penso que não deveria ser preciso muito para fazer vergar Putin, obrigando-o a recuar. Bastaria, pela via negocial, conseguir que, por exemplo, a China deixasse de abastecer a Rússia. Mas, claro, entre a abstracção e a realidade vai um mundo de oportunidades perdidas: à China também não lhe interessa enfraquecer a Rússia, deixando que o bloco ocidental cante demasiado de galo. Também alimentei durante bastante tempo a esperança de que o assunto se resolvesse dentro das portas da própria Rússia -- mas também já se viu que Putin está bem blindado, inclusive a nível de opinião pública interna. Portanto, também a esse nível, não consigo ver qual a melhor solução (e, por melhor solução, leia-se a mais justa, a mais decente, a mais segura para o mundo, e, simultaneamente, a possível) e, portanto, também a esse nível não me arrisco a contestar o que ele escreveu, alvitrando alternativas.

Em suma, considero que o texto que o meu filho escreveu está excelente pelo que nada tenho a ressalvar.

Quando acabei de ler, fiz-lhe mais um pedido: que se pronuncie sobre a posição do PCP em relação a este assunto. Gostava de conhecer a sua abordagem pois sei que é sempre racional, que enquadra bem os assuntos. Mas aí não sei se serei bem sucedida já que me respondeu o seguinte: "Essa não escrevo, pois seria uma discussão mais de comunicação do que de conteúdo". E pronto... Mas irei tentando, prometo...

Por estes dias em que Putin e Trump, essas duas sumidades, andam a tanguear o mundo com as suas erráticas conversações sobre este conflito, por acaso gostaria que as Estátuas de Sal desta vida e seus fervorosos seguidores lessem o texto do meu filho  -- e dissessem de sua justiça.

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Desejo-vos um bom fim de semana

sábado, março 01, 2025

O espectáculo que Trump, esse bully asqueroso, e J.D. Vance, um porcalhão mal-educado, deram na Casa Branca é uma coisa obscena.
Mais uma vez Zelenskyy provou que é um homem (e até dá vontade de escrever o H em maiúscula), um homem que os tem no sítio

 

O espectáculo vergonhoso, com duas bestas a humilharem e a quererem vergar um homem que há 3 anos se aguenta de pé apesar da violenta guerra a que o seu País tem estado sujeito, foi surpreendente. Mas não foi só isso que Trump e J.D. Vance fizeram: na verdade, humilharam todos os americanos e os Estados Unidos enquanto nação. Chamarem estúpido a Biden, como Trump já o fez repetidamente, gozar com Obama, dizer mentiras em catadupa, proferir ameaças, ofensas, falar com Zelenskyy como se ele fosse um jogador de cartas e a Ucrânia um tabuleiro, é uma vergonha, uma vergonha a nível mundial, uma vergonha nunca vista.

Não sei como é que os americanos, democratas ou republicanos, digerem um espectáculo tão vexante. Não sei se não se sentirão tentados a acabar com a ruína moral que representa a presença de Trump como presidente dos Estados Unidos.

Em contrapartida, perante aquela vergonha, Zelenskyy manteve-se fiel a si próprio: inteiro, frontal, humilde mas firme. 

Para a história Trump ficará como um palhaço. Putin como um psicopata, um assassino. E Zelenskyy como um herói. 

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E as reacções aparecem por todos os lados. Aqui está uma:

Trump and Vance ATTACK Zelenskyy in Oval Office and Align U.S. with PUTIN

Rick Wilson reacts to the disgraceful Oval Office meeting between Donald Trump, JD Vance, and Volodymyr Zelenskyy. Today's Oval Office spectacle wasn't about showing strength, it was about surrendering to Putin. Trump and JD Vance have sold out America.

terça-feira, novembro 19, 2024

Tempos perigosos

 

O inferno está à nossa porta e, muito provavelmente, nenhum de nós, os que aqui estamos, pode fazer o que quer que seja para o evitar.

A Rússia intensifica os ataques à Urânia, uma verdadeira chuva de mísseis e drones a atravessar os céus, causando danos demasiados sérios, provavelmente querendo avançar para uma eventual negociação em posição de grande força. E Biden, provavelmente, na mesma lógica, avança com o ok ao uso, por parte da Ucrânia, a mísseis de longo alcance para atingir território russo. 

Ou sejam, aos 1000 dias desta guerra maldita (mas há alguma guerra que não seja maldita?) parece que nunca os tambores rufaram tão alto.

Como tendo a ser optimista, quero sempre acreditar que algum bom senso acabará por prevalecer. 

Mas quando de um lado está alguém que já provou à saciedade que quer o que quer e avançará para o conseguir por muitas mortes e destruição que a sua vontade implique e, do outro, estará um louco imprevisível sem um pingo de ponderação, receio que o meu optimismo seja infundado.

Este último apregoava que acabaria com esta guerra em três tempos (bastar-lhe-iam 24 horas e um telefonema) e está a ver-se o que está a conseguir.

Não quero ver o mundo de forma sombria mas tenho que reconhecer que os ventos que sopram daqueles lados não nos trazem boas perspectivas.

Mas não quero falar apenas dos perigos da guerra, tão maiores quando os destinos do mundo estão nas mãos de gente de narcisistas, psicopatas ou alucinados. Quero falar de novo nos tremendos riscos da Inteligência Artificial.

Não sou tremendista, pessimista, não sou histérica. Creio que sou racional e realista. Quando aqui falo deste tema, pretendo apenas alertar para que a regulação é indispensável e urgente. Tal como as alterações climáticas, também a inteligência artificial deveria estar no topo das prioridades políticas de todo o mundo civilizado.

Os recursos para se usar a Inteligência Artificial estão cada vez mais ao dispor de qualquer um, a custo zero ou perto disso, e os riscos que isso comporta são infinitos e, alguns, potencialmente destruidores.

Por vezes (muitas vezes) os benefícios do seu uso são extraordinários. Ainda há uns dias um amigo médico me dizia que usava cada vez mais o ChatGPT e que se espantava por ainda haver colegas que não tinham percebido a ferramenta preciosa que aquilo pode providenciar. A inteligência artificial, bem usada, ao serviço da Medicina, é preciosa.

Para os mais diferentes fins, é raro o dia em que não recorro ao ChatGPT. 

Mas o ChatGPT ainda se engana e quem o usa tem que ter os conhecimentos suficientes para perceber quando a resposta do ChatGPT é inquestionável ou quando deve ser verificada. 

Mas esta é apenas uma das imensas ferramentas, ao dispor de toda a gente, que recorrem à Inteligência Artificial. Hoje toda a gente já é utilizador dela mesmo sem dar por isso. Quem usa redes sociais está a ver o que o algoritmo seleccionou para si face aos seus gostos habituais. No Youtube ou mesmo Netflix, o que me é apresentado é aquilo que o algoritmo entende ser o meu gosto. E não sei se todos os utilizadores destas plataformas (ou Facebook ou Instagram) percebem isso.

Mas isto continua a ser uma gota de água pois a IA é usada para tudo e mais alguma coisa, incluindo para falsificar imagens, vozes, para gerar obras de arte, na prática para o que se quiser.

O que aqui mostro, no vídeo abaixo, é uma das muitas coisas que cada vez mais se faz e que foi bastante usada por contas falsas na campanha eleitoral americana. Trata-se do uso da voz de alguém para dizer coisas que outro alguém resolve divulgar, querendo fazer parecer que foi o legítimo dono da voz a dizê-lo. Por exemplo, sendo Sir David Attenborough uma voz absolutamente credível, usar a sua voz para o pôr a passar outras mensagens.

Quem ouve, ouve a voz dele, e tão perfeita está que ninguém desconfia que é uma voz gerada por Inteligência Artificial. E podem pô-lo a dizer coisas completamente diferentes do que ele, ele mesmo, diria.

Quando ouviu a sua voz, uma voz forjada pela AI mas absolutamente igual à sua, a dizer algo que ele próprio nunca tinha dito (no fim do vídeo), ficou perturbadíssimo. 

E é caso para isso pois as ferramentas para o fazer estão disponíveis para que qualquer um as use. Qualquer um de nós pode ser o veículo para passar ideias que nós próprios nunca divulgaríamos.

Virá o dia em que não saberemos quem é quem, quem disse o quê, o que é verdade e o que é mentira. Um mundo distópico, louco, aterrador.

E isto já está a acontecer. E não há regulação, legislação, para o evitar. E cada vez menos o haverá. Um dos grandes propósitos da dupla Trump & Musk é acabar com qualquer regulação, seja a este nível seja a nível ambiental ou a qualquer outro.

Os demónios estão a ficar à solta e não há guardas para os apanhar e voltar a meter dentro das jaulas ou das grutas ou seja lá onde for.

Sir David Attenborough says AI clone of his voice is 'disturbing' | BBC News

"I am profoundly disturbed to find these days my identity is being stolen by others and greatly object to them using is to say whatever they wish." 

That's how broadcaster and biologist Sir David Attenborough has reacted after the BBC played him clips of his voice being mimicked by Artificial Intelligence. 

Dr Jennifer Williams, a researcher of AI audio, explains the issues of voices of prominent figures such as Sir David being cloned.


sexta-feira, outubro 04, 2024

Sobre o OE25 -- que a AD apresentará na AR -- não me pronuncio porque não o conheço (há alguém que conheça?).
Por isso, passo a palavra a quatro pessoas inteligentes.
É um gosto ouvir pessoas inteligentes...

 

Não vou falar dos anhucas que por aí pululam, uns mais saloios que outros, uns mais totós que outros. Nem vou falar dos jornalistas palermas que não têm neurónios e usam como raciocínio as 'bocas' que alguém manda para as redações sob a forma de comunicado ou as habilidades semânticas que uns espertos utilizam e que passam como verdades inquestionáveis.

In illo tempore, uma das áreas que mais gostei de estudar foi Lógica. Adorei, para ser mais precisa. Até sonhava com aquilo. E ainda gosto. E sofro quando a vejo quotidianamente assassinada. Partindo de premissas erradas com raciocínios errados aí está a malta a tirar alegres e erradas conclusões. Uma dor.

Como se combate isto?

Cada vez mais me convenço que o sistema de ensino deveria levar uma reviravolta das valentes. Deveria ser obrigatório ensinar em todos os níveis, desde a mais tenra infância e até ao fim da escolaridade, disciplinas como Lógica, Cidadania, Nutricionismo, Natureza, etc., e isto já para não falar em Língua Portuguesa, neste caso obrigatória até ao último dia das licenciaturas, quaisquer que elas sejam.

Mas isso, neste momento e neste contexto, está deslocado. É devaneio e não é dos poéticos.

Portanto, desloco-me para territórios onde ouço de gosto o que dizem, com um sorriso, com vontade de ouvir mais.

O vídeo abaixo está legendado.

Overtime: Fran Lebowitz, Yuval Noah Harari, Ian Bremmer


segunda-feira, setembro 23, 2024

Dmitry Peskov está em teletrabalho nas Caraíbas ou quê...?

 

Alguma explicação deve haver para apenas ouvirmos a sua voz. Cá para mim não quer ser visto todo bronzeadão, em fato de banho, pés na água, copo na mão enquanto manda bocas a propósito disto e daquilo.

domingo, junho 02, 2024

Tempo de dúvidas, de perplexidades, de receios - apesar de também ser tempo de arraiais...

 

As aulas, não sei como, estão prestes a acabar. Parece que esta semana já vai ser a última semana de aulas. Não sei como é possível cumprir os programas com tão pouco tempo de aulas. Parece que é porque vão começar os exames. Mas uma coisa impede a outra? Ou não seria suposto que os exames fossem mais tarde para haver mais tempo para dar aulas sem ser a mata cavalos ou deixar parte do programa por dar?

Não percebo nada disto.

Independentemente disso, constato que já há arraiais e festejos típicos dos santos populares por todo o lado. Isto sendo que o primeiro santo, que eu saiba, só dará as caras no dia treze de Junho. 

Que não se veja crítica nisto. Sou totalmente a favor de convívios, festas populares, malta na rua a conviver e a festejar. Se há coisa que abre a mente e o coração às pessoas é o ambiente leve, alegre, de convivência e festejo. Música, canto, dança, petiscos, conversa, cor, luz. Tudo isto é meio caminho para que a felicidade entre na vida das pessoas.

Contudo, ao mesmo tempo, numa realidade paralela, chegam notícias que não são boas. Bem tento pensar que é coisa longínqua, coisa que não belisca a nossa liberdade, o nosso direito e a real possibilidade de fazermos o que nos apetece, mas, num canto de mim, temo que de escalada em escalada, um dia destes acordemos com uma notícia que nos deixe gelados de medo.

Ao contrário do que eu, antes de 2022, pensava, Putin continua a bombardear, a destruir e a matar, e ninguém consegue detê-lo. Se deixarmos cair a Ucrânia, estaremos a pactuar com o delírio imperialista de um psicopata (um não, vários) que resolveu reescrever a história, redefinir fronteiras, anular o direito à autodeterminação de um país. 

Contudo, à medida que o tempo passa sem que ninguém o consiga travar, ouvem-se as vozes dos que, tentando fazer-lhe frente, dão passos que podem servir ao ditador louco para dar ele um passo ainda mais tresloucado. E um dia podemos estar todos ensarilhados, num sarilho que não desejamos. Espanta-me que não haja quem consiga ter um ascendente sobre os malucos para chamá-los à razão, aconselhando-os a parar. Não há um líder que se erga e consiga apelar à razão os malucos que parecem tê-la perdido (neste caso, Putin e comparsas). Em Israel tenho esperança que Netanyahu vá de asa e que, a curto ou médio prazo, as coisas se componham. Entre a população na rua e um empurrãozinho da opinião mundial e dos States, acredito que o patife não se aguente muito mais tempo. Mas na Rússia parece que não se vê jeitos disso. Por isso, tenho receio que Yuval Noah Harari tenha razão ao temer que já estejamos a meio da 3ª Guerra Mundial. 

De facto, a estupidez humana é uma desgraça.

Stupidity: A powerful force in human history

Are we in the midst of World War III? What's the role of fiction in human evolution? Why do we tend to overconsume food?

Big or small, every detail in our behavior can be explained by looking at the past, from dietary choices to how we've used stories to advance. But if progress is narrative-driven, what comes next? 

In Yuval's extended Brief But Spectacular take (@YuvalNoahHarari) he speaks on humanity's superpower, the paradox of wisdom and the relationship between government and war. 


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De qualquer forma, tenho esperança que algum milagre aconteça e que voltemos a sentir que vivemos num lugar seguro, um lugar onde podemos ser felizes em liberdade

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Um feliz dia de domingo

terça-feira, maio 28, 2024

Sem palavras
Ao cuidado do João Oliveira e de todos quantos, como ele, ainda não perceberem quem é que está a fazer a guerra

 

10-year-old boy describes missile attack that killed his parents


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Sim, eu sei, Israel está a portar-se também de forma criminosa, e escrevo criminosa com todas as letras, sim, eu sei, o que Israel está a fazer não se faz. 

Mas uma coisa não desculpa outra. A Rússia, apenas pela psicopatia de um imperialista narcisista, invadiu a Ucrânia para a anexar com a ideia megalómana de reconstituir, aos poucos, a antiga URSS ou, pelo menos, as partes que dela lhe interessam.

Israel não se tem portado bem, é certo, aliás, nada, nada bem, ninguém o contesta pois crimes de guerra são crimes de guerra e a dimensão do que está em curso ainda mais o empola, mas, não o esqueçamos, neste caso está a reagir a um bárbaro atentado levado a cabo por terroristas fanáticos que ainda mantêm um conjunto de reféns civis, inocentes. A reacção é bárbara, desproporcionada, indesculpável -- é um facto. 

Mas ao passo que a Ucrânia é um Estado de direito e a Rússia não teve qualquer pretexto para fazer o que continua a fazer, no caso da Palestina e de Israel não apenas o Hamas deu a Israel um pretexto como há uma situação histórica, religiosa, civilizacional que está longe de estar assimilada. Basear a constituição de países, de Estados de direito, em religiões não sei se será uma solução inteligente. Pelo menos, até ver, ainda não se conseguiu que resultasse. 

Claro que poderá sempre invocar-se que, por detrás do que se vê, há sempre equilíbrios geo-estratégicos, desequilíbrios e tentativas de reequilíbrios políticos, tudo isso. Mas só facínoras obtusos podem levar adiante crimes hediondos em que se violam leis internacionais e se mata indiscriminadamente em nome de estratégias fantasmagóricas. 

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terça-feira, maio 21, 2024

A propósito da posição do PCP sobre a guerra da Rússia contra a Ucrânia, é favor ler Der Terrorist

 

Como já aqui o confessei diversas vezes, custa-me muito ouvir as pessoas do PCP a dizerem inanidades quando confrontadas com o que Putin está a fazer à Ucrânia. Não se percebe que são tontos, se são aluados, se são lelés da cuca, se acreditam no pai natal ou se, apenas, sofreram alguma lavagem cerebral ou lobotomia. Ou se julgam que estão a falar com burros. 

Alguma coisa é, pois aquela conversa não é normal. Chega a ser patética. Avança um energúmeno pelas fronteiras de um país, destrói, mata, arruína, e os do PCP a única coisa que dizem é que querem a paz. Como se fossem os desgraçados dos ucranianos que estivessem a provocar a guerra.

E quando os russos avançam, tomam à força a terra que é dos outros, matam e esfolam, vêm os do PCP e falam na guerra da Nato como se fosse a Nato e não a Rússia a provocar a guerra.

E, quando os questionam sobre a sua posição hipócrita ou parva, não apenas dizem coisas ridículas, pueris, como, para se justificarem, invocam coisas que ou não vêm a propósito ou são até contraditórias face ao que estão a dizer.

Foi o papelinho (o papelão!) que João Oliveira hoje fez no debate na SIC. Coisa patética, absurda, coisa que mostra bem porque é que o PCP está a entrar pelo ralo da política portuguesa. Mas quem evidencia a dimensão do absurdo é Der Terrorist. Leiam, por favor, Ninguém leu a puta da acta

sexta-feira, maio 17, 2024

Ao ouvir João Oliveira a rabear em volta do tema da invasão da Ucrânia por parte da Rússia só me ocorre a dúvida: como é que as pessoas inteligentes do PCP não se demarcam da absurda e hipócrita posição oficial do partido?

 

Coloco esta questão pois admito que haja pessoas inteligentes no PCP. É que, se admitisse que não, então estaria explicado. Mas sei que há pessoas com boa cabeça. Mas, se têm boa cabeça, como é possível que se prestem ao papelinho, ou melhor, ao papelão de andarem às voltas do próprio rabo, a dizer coisas que não vêm a propósito, a desconversarem, a atirarem poeira para os olhos, a ver se conseguem passar entre os pingos da chuva, mas, na prática, incapazes de criticarem Putin, incapazes de dizerem que, para a guerra acabar, a Rússia deve tirar as patas ensanguentadas do país soberano que invadiu e que, barbaramente, estupidamente, quer anexar.

segunda-feira, fevereiro 12, 2024

Não me peçam para comentar o lado positivo e as coisas grossas de que o PCP gosta.
Vou antes contar como foi o meu dia, incluindo o telefonema da minha amiga sobre a minha mãe

 


Dia chuvoso e sem grande atractivo. Mais um dia em casa da minha mãe, mais um dia confrontada com armários e roupeiros cheios que nem ovos, coisas boas, mal empregadas para serem deitadas fora, e nós sem as querermos para nós, porque não temos falta, porque não temos onde pô-las, porque não nos serve ou não são o nosso género.

Tudo muito, muito, tudo infindável.

Valeu-me a minha filha que fez um bom rastreio e que consegue ter um desapego que eu não tenho.

Começo a pensar que, se a minha mãe guardou durante toda a vida, é porque era importante para ela e, se era importante para ela, dá-me pena deitar fora.

Mas tem razão, ela (e do meu marido nem falo pois, por ele, não aproveitava nem um só copo) pois poderia ter importância para ela mas teve-as guardadas longe da vista, durante décadas. A nós pouco nos diz e, a guardarmos tudo aquilo, seria também para ter encafuado, sem qualquer préstimo. E vamos ter as nossas casas atafulhadas de coisas que vão estar escondidas e que são inúteis?

É verdade, reconheço.

Portanto, enchemos vários sacos com coisas que considerámos lixo. 

E voltei a deixar a cama com uma pilha imensa de roupa que a senhora -- que lá ia a casa e que lá irá até esta monda estar feita -- fará o favor de ver se quer alguma coisa para ela e, o que não quiser, tratará de lhe dar destino. Contou que uma rapariga brasileira que veio para Portugal quase só com a roupa que trazia no corpo delirou com a leva anterior, que lhe assenta tudo bom, que está feliz da vida. Fico contente.

A minha filha levou algumas coisas, eu trouxe coisas que acho que têm valor e não podem ir para o lixo e que ela não quer e o meu filho ainda menos.

Ela também já levou alguns livros e eu trouxe também uns quantos. O meu filho diz que fica com o Eça. Mas espero que ele fique com mais alguns pois há muitos, muitos. Eu depois verei se há alguns que  não tenha ou que minimamente me interessem. Depois... nem quero pensar.

E de copos nem sei que dizer. Várias prateleiras cheias de copos. Ora, ninguém quer mais copos, e eu não tenho mesmo onde pô-los. É de loucos, não sei como é possível ter tantos copos. E eu, que ali vivi e que toda a vida frequentei aquela casa, nunca tinha reparado em tal. A gente, à força de tanto ver as coisas, parece que deixa de vê-las. Penso que vamos ter que embalá-los e serão mais alguns caixotes que ficarão na garagem. Como já aqui o referi, só espero que os meus netos, quando estiverem a 'montar' as suas casas, queiram ficar com todo o material que cá estará à sua espera.

Entretanto, quando estava lá, ligou-me uma amiga. Gostei imenso de falar com ela. Conhece a minha mãe desde os nossos dez anos. Contou-me que tem uma grande admiração por ela desde essa altura pois, nesse tempo, entre o nosso grupo de amigas e amigos, era a única mãe que trabalhava. Todas as mães estavam em casa. Lembra-se de estar em minha casa e gostar imenso de falar com ela e de, outras vezes, passarmos pela escola em que ela dava aulas e vê-la, com a sua bata branca. E isso, para ela, era o máximo. Achei graça ela dizer isto. Nunca tinha visto isso segundo essa perspectiva. Para mim era natural a minha mãe trabalhar, tal como era natural que todas as outras mães estivessem em casa. Depois, voltou a estar frequentemente com a minha mãe pois era médica no Centro de Saúde onde a minha mãe ia e, portanto, conversavam sempre e, através dela, ia sabendo sempre notícias de mim. Tal como eu ia sabendo notícias dela. Mas, diz ela, que, do que conhecia a minha mãe, não estranhou a decisão de não nos contar a doença que tinha, não se deixar aprisionar pelos exames e tratamentos que, vendo bem as coisas, não iam servir para salvá-la e iam estragar-lhe a qualidade dos últimos meses de vida. Assim, teve uma morte muito rápida. Quando eu disse que ainda me custa acreditar e que me custa perceber como é que ela esteve tão bem, sem que ninguém percebesse nada, até cerca de mês e meio antes de cair a pique, disse ela: 'Mas ainda bem, não é? Ainda bem que esteve bem quase até ao fim, não é?'. Pois, nessa perspectiva, sim. Esta minha amiga nunca foi médica dela mas conversavam muito e diz que também nunca lhe percebeu nenhum mal estar ou que sofresse daquilo que viria a morrer. Mas reforçou várias vezes: 'Ainda bem que foi assim'.

Hoje, lá em casa, vi as flores que plantou, ela própria, no canteiro do meio, perto do portão, pouco antes de ir para a residência. Estão floridas, alegres. São a prova viva da força dela.

Queixava-se de mil pequenos sintomas, coisas que atribuía sempre aos comprimidos que tomava, achava que mais valia não tomá-los pois vivia melhor sem os seus efeitos secundários. Pelos vistos também não os tomava todos. E, se calhar, dada a conjunção de maleitas e dada a sua idade, mais valia gozar a vida como se tivesse vinte anos, sem medicamentos e, quando tivesse que ser, isto é, quando chegasse a sua vez, chegava. E chegou. Para o mês que vem faria noventa e um anos. 

E toda a gente fala dela como uma pessoa jovial, independente, bem disposta e muito sociável. Uma vez, ao princípio de estar na residência, eu estava a falar-lhe de uma senhora que tomava as refeições na mesma mesa, uma senhora muito interessante, escritora. Como havia lá mais duas, uma delas, uma das quais sua amiga, a minha mãe perguntou a qual me referiu eu: 'Qual, a velhota?'. Fiquei como sempre ficava quando ela se referia às pessoas da idade dela ou mesmo mais novas como 'velhotas'. Mas, de certa forma, percebia. É que, se as outras pareciam ter a idade que tinham, a minha mãe não parecia nada uma velhinha. Nada. Uma vez, ela tinha que ir aos Correios. Disse-me que não ia em dada altura do mês porque estava 'cheio de velhos que iam receber a pensão'. Só que ela parecia bem mais nova mas, na realidade, já era nonagenária. Mas não se sentia. Nunca se sentiu velha. Quando se queixava que os medicamentos para o coração lhe provocavam a sensação de cabeça vazia e tinha receio de ter tonturas, eu e os médicos dizíamos que, se calhar, por segurança, podia usar uma bengala. Nem pensar. Nunca usou. Para ela usar bengala devia ser sinónimo de ser velha. E, de facto, ágil e desembaraçada como era, uma bengala não tinha nada a ver com ela.

Enfim.

Por vezes penso que pode parecer estranho eu, tão cedo, estar a querer dar destino às coisas da minha mãe. Não sei explicar. Como fui várias vezes a casa dela não estando ela lá (quando foi para a residência, como já contei, nas duas ou três primeiras semanas, enquanto ainda estava bem, queria mais casacos, mais sapatos, calças de fato de treino, etc). Por isso, entrar em casa sem ela lá estar não me faz impressão. E acho que, resolvendo já isto, me custa menos do que estar muito tempo sem lá ir e depois ir a uma casa abandonada, triste. Não sei explicar. Cada um vive e gere as suas emoções da forma que lhe é mais natural. Eu parece que fico mais tranquila se souber que as coisas que lhe eram mais queridas estão connosco, em nossas casas. Parece que assim, arrumando e organizando e vendo as suas coisas (como, por exemplo, as cartas, as fotografias, etc), estou a honrar melhor a sua memória, não deixo as suas coisas por lá, tristes e sem razão de ser.

Hoje descobrimos uma coisa que nos fez rir. Num dos roupeiros, numa bolsinha de crochet feita por ela para supostamente trazer, à tiracolo, com o telemóvel ou com a carteira, meia escondida no meio de uns casacos compridos, descobrimos cadernetas antigas da CGD, envelopes de cheques, uns antigos, outros actuais e, no meio, completamente ocultado, um molho de fotografias. Eram fotografias minhas com aquele namorado de quem já tantas vezes aqui falei. Nem me lembrava que as tinha. Ou seja, deu-lhes sumiço, escondendo-as completamente. Provavelmente foi para que nunca se corresse o risco de o meu marido ou os miúdos darem com elas. Mas que mal fazia? Não sei. Só sei que ela nunca engraçou com ele. Não quis que, de alguma forma, ele fosse tema. Fartámo-nos de rir.

Assim, parece que, às tantas, vamos encarando com mais naturalidade o que aconteceu e que tanto nos abalou e que tanta tristeza nos trouxe.

Afinal é o que se diz, a vida continua.

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Chegámos a casa ainda a tempo de vermos o Montenegro com a Inês Sousa Real, uma coisa sem história, pelo menos pela parte que me toca. Nada que se lhe diga. E vimos o infeliz Raimundo que, coitado, não consegue dar uma para a caixa a debater com a Mortágua. Também nada a dizer a não ser que o Raimundo arranjou dois tópicos: o PCP está ao lado do que é positivo e que só vale a pena o que é grosso. Quem viu e ouviu poderá confirmá-lo. Ora não explica o que é isso das coisas serem positivas e, quanto àquilo de só valer o que é grosso, nem vou querer saber até porque a língua portuguesa é traiçoeira. Tirando isso, é uma mão cheia de nada e que, quando quer dizer qualquer coisa, não é capaz. E quando se esforça, como no caso da Ucrânia e da Rússia, é uma infelicidade, vem com a conversa das 'forças da paz' sem que ninguém consiga perceber o que é isso das forças da paz. Uma conversa de pombinha, ainda por cima titubeante. 

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Uma boa semana a começar já nesta segunda-feira

Saúde. Ânimo. Paz.

quinta-feira, outubro 19, 2023

Amigos contra as tempestades

 

Por aqui ainda não dou pela Aline. Mas parece que vem mesmo. A ver se não faz estragos, pelo menos, estragos de maior. 

Passa da meia-noite e meia e agora é que estou a pegar nisto. Não sei como me arranjo mas parece que, sejam quais forem as minhas circunstâncias, arranjo sempre maneira de andar sempre ocupada. 

Hoje foi na conversa com uma amiga de longa data. Impressiona-me muito como algumas amizades resistem ao tempo. É como se fossemos sempre as mesmas pessoas. A nossa história vai mudando, já vivemos muitas vidas, temos mais experiência, mas nós, nós mesmas, estamos aqui, capazes de falar horas a fio, compreendendo-nos, com vontade de conversar, de saber mais, de mostrar as nossas coisas.

Há algum tempo, quando estava na fase de me desligar do meu trabalho, eu a querer sair e a quererem que eu ficasse mais e mais, e eu, sobretudo por solidariedade e estima para com um colega que não estava bem de saúde, ia ficando e ficando, mas cheia, cheia, cheiinha de vontade de me pôr ao fresco, eu desejava dar uma volta completa na minha vida. 

E isso está a acontecer. Tenho a gestão do meu tempo, tenho a minha vida, posso estar na minha casa, que era uma coisa que eu desejava tanto, posso ler e escrever. Tenho escrito muito. Sei que tenho que passar por algumas provações até chegar onde quero. Mas passarei. Sou resistente. E resistente. E confiante. 

E o reencontro e reaproximação de amigos de quem a vida me tinha distanciado está a ser uma surpresa e uma alegria muito grandes.

...

Hoje pouca televisão vi. Entre uma e outra coisa, não me sobrou tempo. Está agora a televisão ligada mas estou a escrever ao mesmo tempo pelo que a atenção está um pouco desligada.

Sei que o mundo está muito perigoso, que o malvado e hipócrita Putin deve estar feliz por toda a atenção e esforços estarem concentrados na crise Israel/Hamas, sei que as ameaças terroristas saltaram de imediato para a Europa. E isso custa-me imenso. Uma vez, estávamos para ir a Paris mas havia atentados e ameaças de atentados e tivemos que adiar. Até há pouco tempo isso parecia-me longínquo. Paris sempre foi dada a greves a sério (uma vez fomos de comboio pois os aeroportos estavam em greve e o meu marido tinha reuniões de trabalho e eu tinha metido férias para aproveitar para ir laurear), dada a manifestações atribuladas. Mas os atentados ou as ameaças terroristas pareciam ter dado algumas tréguas. Agora, voltaram. E isso é um terror. A imprevisibilidade do local e da hora do ataque e a barbaridade que assumem é de estragar a tranquilidade a qualquer um. Dir-me-ão que é isso que sofrem os desgraçados da Palestina, de Israel, da Ucrânia e de todos os países assolados pela guerra, sempre na contingência de ser atacados, de perder a vida, de perder a casa e a família. É certo. Mas eu falo da minha realidade, a de viver numa realidade pacífica e temer, por mim e pelos meus, que aconteça alguma coisa que me parece impensável nos dias de hoje.

Enfim.

Não vos maço mais. Não vale a pena estar para aqui com ladainhas. 

Vou mudar. Não vem a propósito, pelo contrário, mas, nestas situações, apetece-me sempre, distrair a cabeça. Por isso, com vossa licença, que entre quem possa fazer-nos sorrir.

Chaplin and Keaton Violin and Piano Duet 


Desejo-vos um dia feliz, tranquilo

Saúde. Afecto. Paz.

segunda-feira, outubro 16, 2023

O que éramos, o que somos. Os que deixaram de ser.
E o mundo que não compreendo.

 


A minha mãe encontrou uma carteirinha de fotografias pequenas daquelas a que, há milénios, se chamava 'tipo passe' com algumas fotografias de colegas de liceu. Nem todas têm o nome atrás. Naquela altura devíamos pensar que não fazia falta escrevê-lo. Agora olho para algumas dessas, lembro-me das pessoas que elas representam mas não tenho ideia do nome.

Partilhei com outros colegas dessa altura. Duas dessas foram identificadas. Outras não. Desapareceram nos meandros da memória de toda a gente.

De uma disseram que não está bem da cabeça, ausente, desinteressada do mundo. Fez-me muita impressão, isso.

Claro que, de tudo, o que me faz impressão são os vários que já morreram. Parece-me uma coisa muito contra natura. Já falei disso e estou a repetir-me. Mas a sério que isso me incomoda muito.

Não sei se também falei no seguinte: dou por mim a olhar para as fotografias em que estão os que já morreram. Tento perceber se, neles, naquela altura, já alguma coisa poderia fazer prenunciar o que iria acontecer. De uma delas já não me recordava. Ao ver as fotografias, reparo que estava sempre um pouco isolada, parecia um pouco distante. Ou triste. Um outro era muito divertido, gordinho, muito simpático. Vejo-o nas fotografias. Qualquer coisa nele me parece agora assimétrico. Uma outra era muito carismática quer na maneira de ser quer na maneira de se vestir. Vejo-o nas fotografias. Parecia quase nossa mãe, muito mais desenvolvida, rosto já um bocado marcado. Uma outra, médica, disse-me agora que foi terrível, que era a médica dela. Como me viu muito perturbada, disse-me que naquela família todos têm morrido de cancro. Ela disse-me isso como para me dizer que eu não estivesse impressionada pois ela já estaria 'fadada' à morte por aquela doença. Mas eu fiquei a pensar que os filhos e netos dessa que morreu devem estar bem apreensivos com essa triste sina.

De uma outra de quem fui muito próxima e a quem depois perdi completamente o rasto, disse-me a minha mãe que, tendo ela engravidado ainda miúda, foi afastada, levada para uma quinta que tinham no campo.

Mas agora soube que está bem, que se reformou agora, que também tem uma mão cheia de netos. Vejo a fotografia dela. Tão bonita e alegre que era. Já aqui falei delas algumas vezes. Gostava de voltar a vê-la. 

Uma coisa que, olhando para aquelas fotografias, também reparo é que antes, alguns de nós, quando éramos pequenos parecíamos mais velhos. Por exemplo, uma que, deveria ter uns catorze ou quinze anos, já parecia ter uns vinte e tal ou trinta. Não dá para perceber. Mas mesmo as que tinham ar de miúdas, frequentemente se mostravam circunspectas. 

Poder-se-ia pensar que o mundo hoje é mais leve para as crianças.

E, contudo, sabemos como isso pode não ser verdade em algumas partes do mundo. A televisão mostra crianças a sofrerem horrores pelos quais nem os adultos deveriam passar. Vejo-as a falarem, cheias de medo, a chorarem e o meu coração quase me dói. Não falo por falar, não é uma metáfora. É mesmo dor. E é sobretudo uma grande incompreensão.

Por vezes penso que se um dia um grande meteorito ou uma qualquer outra coisa chocar com a Terra e der cabo de grande parte dela, se calhar até fará algum sentido já que parece que grande parte dos humanos têm uma pulsão brutal pela autodestruição, não só de si próprios e dos outros, como do seu habitat. 

Tirando isso, vou falar de quê?

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Só se, por exemplo, partilhar um vídeo. Um qualquer. Talvez este aqui abaixo.

President Joe Biden: The 2023 60 Minutes Interview

President Biden answers questions on Israel, efforts to locate American hostages in Gaza, the state of the war in Ukraine and more during a wide-ranging conversation with Scott Pelley.

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Lá em cima, Jakub Józef Orliński interpreta "Amarilli, mia bella" (Giulio Caccini)

A fotografia lá em cima é da autoria de Ali Jadallah/Anadolu Agency/Getty Images e outras poderão ser vistas no Guardian

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Desejo, a todos, uma boa semana a começar já nesta segunda-feira

Saúde. Força. Paz.

Paz. Paz. Paz. Paz. Paz. Paz. Paz. Paz. Paz. Paz. Paz. Paz. 

quinta-feira, junho 29, 2023

Crimes de guerra (sem paz), juventude eterna a toque de vodka, agroflorestação em pequena escala e permacultura

 

Antes de ir comer um belo gelado, vinha no carro a espreitar as novidades e a comentá-las. 

Não vou aqui falar das cavalhadas da dupla de vígaros sanguinários Putin & Prigozhin a que agora se junta o mistério da possível evaporação de Surovikin, outro que tal. É daquelas cegadas cheias de improbabilidades tresloucadas, malta que suja as mãos de sangue e, a seguir, as lambe de gosto, malta que se esfaqueia mutuamente, arrancando os fígados ao que cair primeiro para, a seguir, os comer ou dar a comer ao cão.

Até que sejam todos postos com dono, tenho dificuldade em falar sobre o que quer que seja pois é tudo pior do que se possa pensar. 

Os nossos PZPs continuarão a defendê-los e a achar que a culpa de eles serem os assassinos que são somos nós e que bom, bom mesmo, era baixarmos todos os braços para que eles venham por aí, tripudiando, destruindo, roubando, assassinando, violando a seu bel-prazer.

Uma tristeza pegada. Estão bem uns para os outros.

Portanto, não falando disso, porque não encontro palavras para o fazer nem consigo compreender como o mal tão absoluto pode habitar o corpo de algumas pessoas, desloco-me para outros territórios.

A vida é assim, cheia de carreirinhos. Nuns caminham os grandes males do mundo e noutros vão, a passinho bailarino, as minudências e as rêveries.

Portanto, dizia eu, vinha no carro e, fugindo dos facínoras,  fui andando até chegar a Vera Wang, firme e jovem nos seus 74 anos. Certamente já se esticou várias vezes e já levou botulina por todo o lado. Mas, ainda assim, está bem, bastante bem, não desfigurada, normal. Diz que o segredo é não apanhar sol (presumo que compense com suplemento de vitamina D), é dormir 9 horas por dia (se calhar toma um comprimido para o garantir) e bebe 1 copo de vodka todos os dias. 

Como não me importava nada de parecer tão jovem quanto ela mas não me quero fazer esticar nem injectar nem quero tomar comprimidos para dormir ou para substituir o sol, resta-me o vodka. A ver se amanhã começo a caprichar nos cocktails pré-janta. Quiçá um dia rum, outra dia vodka. Mas com qualquer coisa para aliviar a força do álcool, acho eu. Senão não conseguirei chegar acordada, aqui, a esta hora, para escrever estas irrelevantes little coisinhas.

Tirando isso, ando a ver com muita atenção vídeos sobre micro-quintas e permacultura. Gosto. Qualquer coisa me diz que.

Tenho pena que estes vídeos não estejam legendados em português mas, para quem tenha maiores dificuldades, talvez as imagens falem por si.

The Incredible Benefits of Agroforestry on Small Farms | Introduction to Agroforestry

In this video, we visit James from@TapoNothFarm in Aberdeenshire, Scotland. Tap o' Noth is an incredible 8-acre agroforestry permaculture small farm that integrates crops and animals alongside perennial planting. By using inspiration from how this land would be if left fully to Nature, James and his partner Rosa are using that to their advantage to create a place that not only produces food and fuel, but also makes Nature a core part of their whole operation. 

From watching this video you will learn exactly what Agroforestry is, how it benefits farmers, plenty of examples of types of Agroforestry in action and what is needed to help make this amazing method more common in our food system. Agroforestry is a core element of Regenerative Agriculture. 



Traditional Farm Design vs. Permaculture Design: What's the Difference?

In this video, we explore the differences between traditional farm design and permaculture design on a sample land area. You will see that a permaculture design can be a little complex, but this video explains the most important permaculture design elements and the rationale for their implementation. Let me know if you've got any questions. 

Whether you're a farmer, gardener, or just interested in sustainable agriculture, this video will provide you with a basic understanding of traditional farm design and permaculture design and why they matter. 


Um dia bom
Saúde. Bons ares. Paz.

segunda-feira, junho 26, 2023

Putin a nu

 

Depois do bandido Prigozhin ter desmascarado a narrativa falsa engendrada por Putin para atacar a Ucrânia e de ter exposto perante o mundo as manigâncias corruptas da trupe do Kremlin nos territórios ocupados, a roubalheira que lá têm praticado e a estupidez das balelas com que tentaram enganar os mal informados russos e os poucos descerebrados que vão em qualquer cantiga (Nicolás Maduro, Kim Jong Un e PCP incluídos), tudo se complicou ainda mais para o Putinito.

Prigozhin, armado em não se sabe o quê, dizem que quiçá com apoio de alguém das forças armadas russas, avançou sobre o Kremlin e foi sem espinhas. Um ressabiado e descompensado Putinito apareceu na televisão a ameaçar os traiçoeiros e que fazia e que acontecia.

Pois, pois.

E quando já se falava em guerra civil e o escambau, de repente, nada. Nada. O balãozito esvaziou.

O maluco do Prigozhin não sei o quê, Nicolás Maduro e Kim Jong Un declararam a vitória do Putinito e este, por sua vez, não sei o quê.

Perante isto, repito aquilo que toda a gente diz: o caraças é a cena nuclear.

É que, senão, até a maltinha da animação do Eurodisney ia por ali fora e tomava o Kremlin.

Não sei se aquilo não passou de um arremedo de guerra de gangs ou se foi mesmo uma cena dos Monty. Coisa séria é que não foi.

Não sei qual a tese dos pzps nem dos amigos da estátua mas já devem andar a engendrar alguma. Será, certamente, mais uma anedota a juntar às muitas que têm vindo a produzir desde que a dupla de facínoras Putin & Prigozhin (e respectivas tropas) começou a destruição da Ucrânia.

Tenho pena é de não me ajeitar a fazer memes que é mesmo o que esta cegada está a pedir.

E como não sei que mais diga sobre o tema, passo a palavra à BBC.

'Cracks' in Putin's authority in Russia exposed by Wagner rebellion - BBC News

An attempted armed mutiny in Russia shows "real cracks" in President Vladimir Putin's authority, America's top diplomat Antony Blinken has said.

He told US media Saturday's rebellion by Yevgeny Prigozhin's Wagner fighters was a "direct challenge" to Mr Putin, forcing him into an amnesty agreement.

The deal halted Wagner's march on Moscow. The mercenaries had earlier seized two major Russian cities.

Mr Putin accused the group of treason, but all charges were later dropped.



quarta-feira, junho 21, 2023

A malta do PCP anda a aspirar o cheirinho das trombetas-de-anjo? Ou montou-se numa jangada e desaderiu da realidade?
Pergunto

 

Lê-se e não se acredita. Será uma rábula? Será para os Apanhados? 

Isto sim deveria incomodar a presidente do Parlamento Europeu. Eu pergunto: se não lhe incomoda que haja um impedimento da livre expressão? Se não a incomoda que ande a assassinar a população e o povo da Ucrânia, com o desenvolvimento desta guerra, e que muito resulta deste poder nazi?

Palavras de um doido varrido?

Pois, se calhar.

Mas, se lermos toda a notícia, ficamos a saber que:

O PCP perguntou esta terça-feira à presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, se não fica incomodada com um poder em Kiev sustentado em "forças de cariz nazi" que "assassina a população

e que as palavras lá de cima são também de Paula Santos, a excêntrica líder parlamentar do PCP que levou a excentricidade a ponto de acusar Roberta Metsola de ter uma "atitude de arrogância e ingerência", mas também de "profunda hipocrisia", defendendo que a União Europeia (UE) tem procurado "alimentar e instigar a guerra", em vez de tentar pôr fim ao conflito.

Nem mais.

Não sei em que planeta esta bizarra criatura vive ou se padece de algum problema, quiçá de foro mental. Não sei. Alguma coisa é pois nada disto me parece normal.

Quem consegue manter a calma é Roberta Metsola que desafiou na sexta-feira a deputada comunista Paula Santos a falar no Parlamento de Kiev perante os deputados ucranianos.

"Eu decidi falar no Parlamento da Ucrânia no dia 01 de abril de 2022. Peço-lhe [deputada Paula Santos] para que diga o que disse aqui em frente aos deputados ucranianos. Para falar com esses deputados que não falam com as mulheres durante semanas, cujos filhos não podem ir à escola (...). Isto não se trata de ficar sentado à mesa e fazer com que as pessoas negoceiem, isto é sobre fazer com que a Rússia saia da Ucrânia. Nem mais nem menos", disse Metsola dirigindo-se à deputada do PCP.

Artigo completo no DNPCP pergunta a Metsola se não a incomoda um poder em Kiev que "assassina a população"

Se alguém conseguir explicar-me que estranha forma de cegueira é esta, de que padecem as pessoas do PCP, gostava de saber. É uma cegueira que se manifesta a propósito de muitos assuntos mas, de forma absoluta e letal, neste tema da guerra ´que a Rússia desencadeou contra a Ucrânia.

Contra todas as evidências, eles desencantam argumentos absurdos, como se só eles vissem o que o resto do mundo não consegue ver. 

Uma tristeza. Desonram, vergonhosamente, o passado do PCP e atentam, de forma inexorável, contra o futuro do partido. 

domingo, abril 23, 2023

Entre o bafo quente da multidão

 

Na altura das eleições no Brasil disse aqui que obviamente desejava que houvesse um grande não a Bolsonaro. Mas que o meu entusiasmo com o Lula era reservado. Na lógica do mal o menos, ok ao Lula. Mas com muita pena que não haja melhor no Brasil. Um país enorme e complexo como o Brasil para ser bem governado e para ser respeitado interna e externamente tem que ter um presidente bem capacitado, consistente, com uma visão modernista, humanista. Lula está longe disso.

Por exemplo, a posição do Brasil sobre a Rússia a propósito da invasão criminosa da Ucrânia não é apenas dúbia. É também cínica, hipócrita, incoerente. Não sei se estas flutuações de posições, ajeitadas consoante o interlocutor, se devem ao seu caráter pouco consistente ou se Lula é simplesmente uma pessoa pouco informada. Ou se é a lógica interesseira do videirinho que quer fazer negócio e disfarça a coisa com conversa da treta julgando que os outros são mais parvos que ele. Não sei. Seja como for não é uma boa coisa.

E o que sei também é que, por tudo isto, Lula não me merece grande respeito.

Continuo a dizer: entre Bolsonaro e Lula, Lula. Mas que o Lula está aquém, mas muito aquém, do que o Brasil precisa, isso parece-me uma evidência.

E se pensarmos que o Brasil deveria ser um aliado de peso para Portugal, o que me ocorre é esquecer os interesses diplomáticos (que são incontáveis) e mandar bugiar o Lula. Ter um aliado como Lula é pormo-nos a jeito para vários tiros nos pés. Mas porque o Brasil é mais, obviamente muito mais, do que quem o governa, pois que se feche um bocado os olhos ao nonsense em forma de gente que é o Lula. 

(Num aparte, completamente aparte, também devo dizer que não percebo a que propósito é que anda em todo o lado, mesmo nos encontros institucionais, com a mulher a reboque). 

Enfim, uma tristeza.

Mas haja esperança. Por entre o bafo quente da multidão que acarinha gente como Bolsonaro, num quadrante, ou Lula, num outro, pode ser que surja uma consciência, uma voz que se erga. Muda como a exactidão   como a firmeza    como a justiça. Brilhando indefectível.

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Partilho um vídeo Cine Povero que me encanta, um remake de um anterior

Jorge de Sena :: Uma pequenina luz / Por Pedro Lamares


Desejo-vos um bom dia de domingo
Saúde. Ideias claras. Paz.

segunda-feira, fevereiro 27, 2023

A comovente homenagem de Juliette Binoche aos Ucranianos

 

Com lágrimas nos olhos e a voz embargada, Juliette Binoche refere o testemunho de alguém que não perdeu a vida mas perdeu parte do que a mantinha vivo, as palavras vazias, esmagadas pela dor de uma ucraniana que perdeu a família. 

“Ouvi-os, a todos, a morrerem. Micha respirava pesadamente como se tentasse livrar-se do fogão, mas não conseguia. A dada altura, deixei de ouvi-lo”.  E, então, ouvi Pauline a chorar. Morreu também. A minha mãe disse-me que o meu filho me chamou várias vezes, depois ficou calado. Para sempre. Tinha 14 anos."

 Juliette Binoche : son hommage à l'Ukraine - César 2023


sábado, fevereiro 25, 2023

Amizades improváveis
A tocante coragem e determinação dos ucranianos

 

Um dia viviam bem nas suas casas, tinham família e vizinhos. E no dia seguinte não tinham nada ou quase nada. E, no entanto, continuam a acreditar que novos tempos virão, que conseguirão reconstruir-se, reerguer-se. Habituaram-se a viver com quase nada e, por muito estranho que nos possa parecer, continuam a sorrir.

Se necessário for dão a vida pela liberdade, pelo amor que têm ao seu país. Se de vez em quando pensam na casa e na vida que tinham não conseguem evitar as lágrimas. Mas é nostalgia, não é desânimo. Têm uma incomensurável força dentro de si. 

Nunca os louvaremos o suficiente.

Que haja cobardes e hipócritas que nem com as vítimas da guerra se consigam solidarizar é coisa que me incomoda demais. Que haja gente rancorosa que, em vez de condenar o invasor e exigir que os que estão a soldo do assassino se retirem de vez do território massacrado, antes papagueiam os argumentos do bandido, acusando os que querem ajudar os invadidos é coisa que me deixa mais do que incomodada.

Mas dos vassalos dos invasores e dos assassinos não rezará a história. Melhor: serão arrastados para a sargeta da história.

Em honra dos bravos ucranianos que, com a sua vida, com a sua coragem e amor ao seu país, haverão de conseguir travar a sanha imperialista e assassina de Putin se erguerão mil memoriais, se construirão mil poemas, se inventarão mil pinturas, mil filmes, mil bailados, muitos mil agradecimentos sob muitas formas.

A Ucrânia há-de ser reconstruída e a paz habitará as casas, as ruas e os campos e a alegria dos ucranianos poderá exprimir-se em total confiança e tranquilidade na sua terra.

The Ukrainian comedian who rebuilt a stranger's house: The year that never ended

The Ukrainian comedian Vasyl Baidak sparks an unlikely and enduring friendship with retiree Iryna Terekhova when he joins a group of young people from Kyiv to rebuild her home. 
A devout Orthodox Christian, Terekhova lives in a farming village in the Chernihiv region, where her house was destroyed during the Russian occupation of March 2022. She reflects on a traumatic time when she was forced to share her cellar with Russian soldiers who said they had come to liberate her, but who devastated her village. 
Refusing to leave the area where she has lived most of her life, Terekhova is galvanised by the entrepreneurial spirit of the young Kyiv builders, while Baidak proves that humour is the vital ingredient to bolster their collective spirit.
'I wait for the war to end, that's when our new year will begin. For now, 2022 still continues,' concludes Iryna

sexta-feira, fevereiro 24, 2023

Será que a tecnologia usada nas vacinas Covid pode curar o cancro?

 

Desde que me lembro, ouço falar em investigações, em ensaios promissores, em avanços significativos, em descobertas animadoras.

E, de facto, muito se tem avançado. Há imensos casos de cura completa e definitiva, há outros casos em que já se trata como uma doença crónica.

Contudo, os tratamentos, em muitos casos, são incómodos, quase incapacitantes, e os exames são um sofrimento sobretudo pelo receio de más notícias que, tantas vezes, são sentidas como sentenças. 

Ainda há dias soube que uma pessoa que conheci pujante, todo ele seguro de si, morreu em pouco tempo. Uma outra pessoa que me é muito próxima, depois de pensar que o pior tinha sido ultrapassado descobriu que, afinal, não foi e está agora a passar pelos tormentos da quimioterapia. E a angústia não é apenas o mal-estar dos tratamentos mas, sobretudo, o receio de tudo o que ainda pode estar por vir.

Quando um dos meus tios esteve doente eu li, li, tentei perceber quais as perspectivas para o caso dele, se havia ensaios em algum país. Na altura, li sobre tratamentos promissores em Cuba. Ele não se entusiasmou, achou que já não iria a tempo e que, além disso, que já não tinha capacidade física para viajar até lá. Cheguei a andar a informar-me na Embaixada, o meu primo falou com o médico dele que ficou também de se informar. Infelizmente o meu tio tinha razão. Morreu poucos dias depois com uma embolia.

Mas mantenho a curiosidade. De cada vez que passo por notícias vou espreitando. Sou leiga, leiga, leiga. Leio como uma leiga. Não percebo muito do que leio. Mas interesso-me.

E, do que tenho visto recentemente, o que me parece mais animador é isto que aqui hoje partilho. 

Para ler:

‘This will happen before 2030’: how the science behind Covid vaccines might help to fight cancer

Transcrevo o início do artigo:

O sucesso dos medicamentos baseados em mRNA no combate ao coronavírus está a inspirar cientistas a criar vacinas semelhantes para melanoma e outros tumores.

Em dezembro de 2022, a empresa de biotecnologia americana Moderna, uma empresa que emergiu de uma relativa obscuridade para se tornar um nome familiar durante a pandemia, publicou os resultados de um ensaio clínico que repercutiu no mundo da pesquisa do cancro.

Conduzido em parceria com a empresa farmacêutica MSD, demonstrou que uma vacina contra o cancro de RNA mensageiro (mRNA), usada em combinação com imunoterapia, poderia oferecer benefícios significativos a pacientes com melanoma avançado que receberam cirurgia para remover seus tumores. Após um ano de tratamento, o estudo de fase IIb descobriu que a combinação reduziu o risco de recorrência do cancro ou morte em 44%.


(...)

E abaixo em vídeo. 

Não está traduzido, infelizmente, mas ainda assim acho que vale a pena aqui deixar esta informação:

Could COVID vaccine technology cure cancer? | DW News

O cancro está entre as principais causas de morte no mundo. Mas agora, graças a uma tecnologia de ponta para a vacina COVID, podemos estar mais perto de parar o cancro. A BioNTech da Alemanha está a lançar neste outono um ensaio no Reino Unido com vacinas personalizadas contra o cancro neste outono.

Tomara. Tomara. Tomara.

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E, por falar em esperança,


Paz na Ucrânia

Paz. Paz mas a paz que nasce da liberdade, da dignidade, do direito a viver num país independente, autónomo, autodeterminado. 

A paz que apenas será possível quando a Rússia tirar as patas e as mãos ensanguentadas da valente e gloriosa Ucrânia. 

E que todos os cidadãos decentes, democratas e solidários, se mantenham firmes no apoio à Ucrânia e na condenação da Rússia de Putin.

Glória à Ucrânia

Slava Ukraini

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Um dia bom

Saúde. Esperança. Paz.