De todas as vezes que estive no País Basco sinto-me encantada e com vontade de regressar com mais tempo. Tenho ideia que este enamoramento vem do tempo em que lia os livros da Menina Aguaceiro da Berthe Bernage e em que pelo menos uma da história se passa lá. Não sei se os avós dela eram bascos e ela ia lá visitá-los pelas férias ou se sonhei. Já tentei pesquisar na net para ver se confirmo a minha ideia mas não encontro. Acho que esses livros estão in heaven. Tenho que ver se os descubro e se encontro alguns passados entre os bascos.
Para mim é como se fosse uma terra de magias, de segredos. É um lugar de grande beleza natural, em que as pessoas mostram ser muito felizes, em que o convívio parece permanente, onde todos se mostram sorridentes e conversadores. E onde se vêem mais crianças na rua. É impressionante como há parques infantis nos locais de passeio e como estão sempre cheios de chilreios felizes e ruidosos. A demografia em Donostia deve ser motivo de tranquilidade para quem gere os sistemas de segurança social e, para as restantes zonas em que a população envelhecida prevalece, deveria ser inspiradora.
Portugal deveria tomar Donostia como um case study e analisar o que leva a população a reproduzir-se tão abundantemente.
Ao fim do dia, as ruas enchem-se ainda mais e há miudagem e adolescentes como não vejo em qualquer outra cidade.
[Abro um parêntesis para um aspecto que, aqui no texto, vai parecer a despropósito mas que é um tema que trago latente em mim.
Durante muitos anos sentia receio em afastar-me de casa pois parecia antever que, mal chegasse ao meu destino, iria ter que regressar para acudir a alguma crise do meu pai e, depois, da minha mãe. Aliás, mal eu estava a pensar afastar-me um pouco, eu sentia que a minha mãe ficava ansiosa, com receio que houvesse alguma e que ela não me tivesse por perto para encaminhar ou resolver o que aparecesse.
Por isso, aos poucos fui-me adaptando a, no máximo, ir fazer uma semana ao Algarve ou uma semana ou dias avulsos a locais próximos, em que, se necessário fosse, ao fim de duas ou três horas estaria cá.
Agora já não existe essa condicionante. Contudo, quando o nosso cérebro se enleia em preocupações e cuidados, é difícil, num curto prazo, vermo-nos livres deles. Por isso, cá no fundo de mim há sempre uma pequena ansiedade latente como se, a qualquer hora, alguma coisa fosse surgir que me atalhe as férias.
Mas isto já vem de antes. Ainda antes dos meus pais eram os meus sogros. Ainda me lembro de estar em Lagos e o meu sogro estar a ligar para o meu marido a querer que ele fosse com ele ao médico e ele a fazer uma ginástica, a dizer que ia na segunda-feira seguinte e o meu sogro a querer que ele fosse no dia seguinte. Eu ouvia aqueles telefonemas sempre no receio de ter que fazer as malas e regressar.
Claro que a nossa mente fica formatada...
Mas sei que, aos poucos, isto me há-de ir passando.
Mas ocorre-me também, frequentemente, que está na hora de ligar à minha mãe ou que não posso atrasar-me senão faz-se tarde para ligar. Claro que logo penso que é pensamento desfasado mas, nessa altura, parece que sinto a falta de ter a quem contar os meus passeios, o que os meninos fizeram, as notas que tiveram, como são as lojas ou os preços. Não digo nada. Falar nestas coisas causa apreensão nos outros, acham que alguma coisa não está bem connosco. Também, falar para quê? Mais vale encarar com naturalidade e seguir adiante.
Há cerca de um mês, quando fui a uma consulta de rotina, queixei-me ao médico que parece que ando com o sono alterado. Ele disse que isso era normal nos processos de luto. Nessa altura, contrariei-o: 'Acho que não deve ser isso, já passou um mês...' Ele riu-se e disse: 'Um mês nestes processos de luto não é nada. É normal durar meses.' Agora já passaram dois meses e meio. De facto, foi há pouco tempo. E estou bem melhor.]
Andar em locais de grande beleza, com a família, em ambiente boa onda, faz-me bem. Nenhum lugar poderia ser mais adequado a esta lavagem de alma do que o País Basco.
Por muitas vezes que esteja em Donostia, por mil vezes me sentirei encantada. Tudo tão bonito, tudo tão feliz.
Depois há o lado francês, Saint-Jean-de-Luz, Biarritz, Bayonne. Mas amanhã as mostrarei.
Tenho andado a tentar perceber se já se conhece tudo o que há para conhecer e se percebo o que ainda não vejo com clareza.
No dia em que António Costa falou sobre os apoios às famílias fiquei genericamente decepcionada e a pensar que, no que se referia às pensões, era gato escondido com rabo de fora. O meu marido tentou acalmar o meu desagrado: por um lado ainda viria o pacote da poupança da energia e, por outro, naquilo das pensões, ainda não se sabia exactamente os contornos do que ele tinha dito.
Dei o benefício da dúvida. Esperei caladinha.
Até que saíram as medidas de poupança às empresas e fiquei igualmente desapontada.
Até que, aos poucos, o gato começou a sair à luz do dia e se percebeu que, na realidade, a medida das pensões é pura treta e que o corte nas pensões é real.
E agora aparece, a trouxe-mouxe, um conjunto de notícias avulsas sobre a sustentabilidade da Segurança Social para justificar a anunciada esperteza saloia.
Face a isto resolvi que já tenho o que preciso para dizer de minha justiça. E faço-o com a franqueza que sempre uso, seja para criticar ou louvar este ou aquele, sejam de que quadrante político forem.
O momento que vivemos é de excepção pois temos a conjugação de uma guerra brutal
-- levada a cabo por um assassino que não se tem ensaiado em provocar guerras paralelas, energética e alimentar, nomeadamente --
com uma inflação inusitada e com uma escassez de alguns outros materiais (que vinha do tempo dos confinamentos). Tal como acontece na atmosfera quando se conjugam condições que se potenciam, também aqui, na sociedade, se desencadeia um daqueles fenómenos extremos, agudos e difíceis de controlar.
Por isso, não seria expectável que Costa tirasse da cartola um package bem pensado e já anteriormente testado com medidas para todos os gostos. Não podia, isto é novo, de certa forma até há pouco tempo inesperado. Até aí compreende-se.
Mas exige-se a um estadista (eu, pelo menos, exijo) que, perante situações de excepção, consiga pensar não apenas no imediato mas também no médio e longo prazo e que, além disso, não apenas pense em medidas conjunturais mas também em medidas estruturais.
Ora, penso que as medidas agora anunciadas são de curto alcance: aliviam momentaneamente uma parte da população (e isso é bom) mas nada resolvem na essência nem de forma duradoura.
Há que atacar na raiz nos problemas e não apenas aparar as pontas dos ramos, criando uma ilusão que não se sustenta no tempo.
Por isso, para além destas medidas imediatas (dar 125€ a uns, 50€ a cada filho, dar qualquer coisa aos pensionistas de mais baixos rendimentos, etc), estava à espera de mais, de melhor, estava à espera de ouvir falar em planos de fundo, planos concretos.
Por exemplo, apoios intensivos, substanciais, muito dirigidos e muito facilitados para instalação de painéis para produção de energia solar para auto-consumo ou painéis para aquecimento de águas em casas individuais ou prédios sejam de residência sejam de serviços (escritórios, hospitais, quartéis, etc).
Por exemplo, esperava um incentivo forte para uso de transportes públicos (passes muito baratos ou mesmo gratuitos pelo menos em linhas ou carreiras de maior uso ou que mais trânsito automóvel evitassem).
Ou seja, a poupança na energia e nos combustíveis pela via inteligente e sustentável, levando a um menor consumo.
Por exemplo, o incentivo ao teletrabalho ou aos regimes híbridos sempre que possível, levando a menos trânsito e a menos consumo de combustível (já para não falar em menos poluição e em melhor qualidade de vida).
Claro que, em paralelo, há que incentivar fortemente o investimento em fontes limpas de energia e isso creio que está a decorrer (hidrogénio verde, por exemplo). Mas isso são long shots, investimentos complexos que levarão bastante tempo até que produzam eficientemente. Por isso, há que avançar rapidamente para medidas de mais fácil implementação e retorno.
Ao mesmo tempo, há que reforçar rapidamente o investimento em creches públicas e em ATLs públicos. Havendo oferta pública para escolas e ocupações de tempos livres, a poupança para as famílias será significativa. E, lá está, serão medidas estruturais e não pontuais, não de carácter caritativo.
É preciso, em situações de aperto (e receio bem que o aperto ainda esteja no princípio) injectar liquidez na economia, nomeadamente colocando-a nas mãos de quem mais precisa. Mas, se for só isso, será caridade e não verdadeira ajuda, será dar o peixe e não ensinar e dar meios para pescar.
Para os mais velhos, os mais indefesos, há que avançar com residências para a terceira idade mas residências dignas, com assistência médica e de enfermagem e com actividades que permitam um envelhecimento digno. O que hoje há que cumpre estes requisitos é escassíssimo, caríssimo, para elite, incomportável para a maioria dos idosos. De resto, a maioria do que há mais acessível é mau, indigno, assustador, como uma antecâmara para a morte, ninguém quer ir para lá. É pois vital que haja apoios para investimento privado ou social ou que o próprio Estado avance com essa oferta na qual as pessoas paguem de acordo com os seus rendimentos.
Estas medidas não apenas garantiriam o estímulo à economia local através da construção de creches, lares, atl´s (para crianças e para idosos), como garantiriam a criação de muitos postos de trabalho, e, ainda, uma melhor qualidade de vida para quem deles iria usufruir, e garantindo, também, que a população não estaria em situações financeiras tão vulneráveis quanto hoje está, dependendo inteiramente de pensões que, às tantas, não asseguram a sobrevivência digna.
Uma outra medida que me parece essencial dada a maior longevidade das pessoas é que se prolongue a sua vida activa. Por exemplo, havendo mais creches, mais residências ou mais equipamentos para ocupação de tempos livros, poderá recorrer-se a pessoas que, embora já reformadas, poderão ainda trabalhar em numerosas tarefas podendo usufruir de rendimentos complementares.
Quanto ao tema das pensões, a coisa também fia fino.
Aqui tenho que dizer que não gostei nem um bocadinho dos artifícios de António Costa. Melhor: detestei. Apresentou aquela antecipação de meio mês das pensões e o aumento do ano que vem como se estivesse a dar alguma coisa. Não está. Pelo contrário, à sorrelfa preparava-se (ou prepara-se) para descer estruturalmente as verbas a pagar de 2024 em diante. É feio. Há aquela coisa rasteira de querer enganar os 'velhinhos'. Feio. Sempre tive António Costa em boa conta. Desta vez, desiludiu-me e não foi pouco.
Depois de negar a habilidade falhada, face ao burburinho gerado António Costa não teve outro remédio senão tentar desfazer o mal feito. E, então, ele e alguns ajudantes, apareceram a dizer que isso tem a ver com a sustentabilidade da Segurança Social. E hoje saíram-se à cena com um estudo que, supostamente, prova que, se aplicassem a fórmula, desgraçariam a sustentabilidade do sistema de pensões. E, mais uma vez, digo e digo com todas as letras: não gosto. António Costa está a jogar com o medo de pessoas vulneráveis. Não gosto. N-ã-o g-o-s-t-o. Com todas as letras.
Estas coisas não se fazem assim.
Ao agir como está agir, António Costa está a abrir a porta aos populistas (Ventura ou Catarina Martins, por exemplo), a dar espaço e tempo de antena aos passistas (Montenegro, por exemplo) e a fazer os apoiantes socialistas torcerem o nariz. Ou seja, muito mau.
E não sei que contas da Segurança Social são essas de que por aí falam. As contas para as pensões não são aritmética simples. Trata-se de cálculo actuarial que entra com probabilidades várias (a da subida de preços, a da longevidade, a da entrada de novos descontantes no sistema, etc). É matemática complexa. Só vendo e ouvindo explicar (por quem sabe destas matérias) poderei formar a minha opinião. Mas mesmo que estejam certas (e volto a dizer: não sei se estão) há que resolver os assuntos atacando a raiz dos problemas, não as pontas das folhas.
Há um problema estrutural no nosso país e do qual já muito aqui falei: o da demografia que, em Portugal, é anémica, descendente, decadente. Se as pessoas vivem cada vez mais tempo (o que é bom), recebendo pensões durante muito mais tempo, e se nasce cada vez menos gente, havendo cada vez menos pessoas a entrar no mercado de trabalho, temos que, cada vez mais, o dinheiro dos descontos da segurança social tem que dar para distribuir por muito mais pessoas, ou seja, teremos menos dinheiro para dar a mais gente.
E é aqui que há que actuar. Não é cortando as pensões. É injectando mais dinheiro no sistema, não pelo aumento dos descontos mas por ter mais gente a ingressar no mercado do trabalho. Todas as medidas que visem estimular a natalidade são necessárias e urgentes. Creches públicas, por exemplo, são importantes -- por exemplo. Tempo e dinheiro para os progenitores criarem os filhos são ajudas essenciais. Fomentar o mercado do arrendamento, outra urgência. Os jovens ou os que não têm economias ou não receberam heranças têm que ter acesso a habitações que não tenham forçosamente que ser adquiridas para poderem constituir família.
Mas também é essencial desincentivar a emigração e, ao mesmo tempo, é essencial integrar o mais e o melhor possível imigrantes no mercado de trabalho, com óbvia integração no sistema da Segurança Social. Temos que ter mais contribuintes líquidos no sistema. É urgente.
Também há uma outra coisa. Fiquei agora a saber que as pensões de reforma superiores a um certo patamar (um múltiplo de um rendimento mínimo, creio que 10 ou 12 vezes) não são aumentadas anualmente. Acho isso injusto e errado. Até poderia achar que isso poderia acontecer, e mesmo assim de forma progressiva, para valores francamente acima dos níveis de vida normais, sei lá, no mínimo umas 20 ou 30 ou mais vezes. E acho injusto por duas razões: se as pessoas têm pensões elevadas é porque descontaram muito, durante muito tempo, e, com esses montantes elevados, ajudaram a que o 'bolo' a distribuir por todos seja maior. Descontaram, convencidos que o pacto de confiança não seria quebrado, ou seja, que o seu nível de vida não iria descer ao longo do tempo, isto é, que à medida que vão envelhecendo e que têm maiores gastos em consultas, medicamentos, internamentos em lares, etc, o seu rendimento relativo não fosse diminuindo. Além disso, as pensões de reforma são tributadas em sede de IRS e as pensões mais elevadas descontam uma percentagem progressivamente maior. Por um lado, descontam mais que os outros e, por outro, enquanto esses outros vêem as suas pensões ser actualizadas com a inflação, eles ficam com os rendimentos congelados. É injusto e, creio que posso dizê-lo, até desonesto. Acresce que, com esta brincadeira de não se aumentarem anualmente as pensões mais elevadas, haverá forte tentação a que quem faz as leis (e ganha bem e trabalha para quem ganha ainda melhor) arranje buracos legislativas que permitam que certo tipo de rendimentos não sejam objecto de descontos para a segurança social sendo antes dirigidos para seguradoras privadas. Perigoso.
Não sei em que governo nasceu esta medida nem isso me interessa: é uma medida errada, populista e estúpida -- e deverá ser revista.
Quanto a António Costa é bom que refresque ideias, descanse, faça um retiro, respire fundo... e pense a sério no futuro dos portugueses. Há muito a fazer, muito, muito. Acredito que seja cansativo, desgastante. Não é para todos. Mas é o que é.
Agora uma coisa há que ter sempre presente: há que falar verdade, agir seriamente, estudar bem os assuntos, conjugar a visão de curto, médio e longo prazo, não se deixar ir na cantiga dos influencers e demais papagaios da política, nomeadamente os assessores da treta e os boys socialistas que sempre gostaram de se encostar ao poder convencidos que os portugueses se deixam levar pela sua lábia. Não deixam.
Gostaria de poder votar no PS nas próximas eleições mas esse meu voto não é um dado adquirido.
Há um aspecto nas cidades portuguesas que é muito diferente do que se pode encontrar noutras cidades europeias. Não precisamos de ir muito longe, basta ir aqui ao lado, a Espanha. Se estivermos depois das cinco da tarde na Plaza Colón ouviremos como que um muito sonoro chilreio: são crianças. Montes de crianças. Correm, brincam, chamam umas pelas outras, riem. Grande parte está com as empregadas, grande parte delas da América do Sul. Mas o que verdadeiramente impressiona é a quantidade de crianças. Numa outra cidade espanhola, aquela que prefiro, em minha opinião uma das mais belas cidades euopeias, San Sebastian, a Donostia do País Basco, também, a partir de meio da tarde, as ruas e os jardins estão cheios de crianças, aqui já muitas com os pais e não tanto com as babás como no centro do Madrid. Em Amesterdão, tenho ideia que é ao longo de todo o dia que se vêem jovens mães ou pais com crianças nas bicicletas. Tantas crianças.
Por cá, durante a semana, pouco se vêem. Não apenas não há muitas crianças como as poucas que há têm que ficar nas escolas até tarde já que os pobres pais têm que trabalhar até tarde e, depois, enfrentar longos e demorados percursos, presos no trânsito.
Se há aspecto francamente descurado por todos os governos, incluindo pelo da geringonça, é o demografia. É certo que tem havido uma ou outra medida mas, reconheçamos, nada que seja efectivo, tudo muito em ponto pequeno, medidas desgarradas, timoratas. E, por isso, não espanta que os resultados sejam tão desoladoramente incipientes.
Uma das filhas da senhora que vai ajudar a minha mãe a tratar do meu pai vive na Alemanha e tem duas filhas pequenas. As licenças de maternidade são extensas, os horários são reduzidos enquanto as crianças são pequenas, o ensino é completamente gratuito, incluindo todo o material escolar, e nem sei que outros apoios tem, pois, volta e meia, quando me contam, fico tão admirada que acabo por não fixar, quase como se fosse uma quimera em que nem vale a pena pensar. Apesar de não ter um emprego por aí além e de ser emigrante, ela não teve qualquer problema em ter uma criança e, pouco tempo depois, uma outra. E quando fala com a mãe, via Skype, está fresca e bem disposta, nunca se queixando de nada.
Um país com muitas crianças é um país com futuro, em que a população pode viver tranquilamente, encarando o futuro com tranquilidade, sem o peso do receio de uma possível falência de sistemas de segurança social. Em países como Portugal, em que há cada vez menos pessoas a entrar como novos contribuintes para um sistema repleto de idosos que vivem cada vez até mais tarde, paira sempre sobre o pescoço, em especial dos que caminham para a madura idade, o receio de que o cutelo do corte das pensões empobreça a sua velhice.
Por isso, é vital que se reforcem todos os apoios ao incremento da natalidade, e que se seja criativo, arrojado, que se tenha uma visão abrangente -- que haja subsídios de apoio ou redução fiscal (o que for mais eficaz) para famílias com crianças, que haja infantários e escolas públicas, obviamente gratuitas, com actividades e horários alargados e funcionando todos os meses do ano, que haja amplo apoio pediátrico, que se reduzam os horários para pais com filhos até aos doze anos, que se fomente o teletrabalho, que haja uns quantos dias para ausências para que os pais possam acompanhar os filhos, que haja também alguns dias para avós que tenham que prestar apoio aos netos.
E estou a escrever ao correr da pena. Mas que se abra um debate público, que se faça um inquérito junto de jovens pais para saber quais as suas dificuldades e outro junto dos que não têm filhos para saber o que receiam.
Dir-me-ão que receiam os ordenados baixos o desemprego. Claro. Mas isso combate-se com uma economia pujante -- e é outro lado da equação.
E não é apenas para a sustentabilidade dos sistemas contributivos que é indispensável ter um equilíbrio demográfico: é também porque cidades sem crianças pequenas e sem jovens irreverentes são cidades soturnas, tristes. E, quem diz cidades, diz vilas ou aldeias.
E, enquanto não estejam no terreno todas essas medidas e que comecem a produzir efeito, pois que se incentive a imigração.
E aceitem-se miúdos de países em risco, famílias de refugiados com filhos pequenos. E 'importem-se', por exemplo, médicos e enfermeiros.
Não os há que cheguem nos hospitais porque cada vez há mais clínicas e hospitais mas as Faculdades de Medicina são basicamente as mesmas. Como é que os médicos e enfermeiros hão-de ser suficientes? Não são, claro. Mas não é drama: incentive-se a vinda de médicos de outros países.
Ou engenheiros informáticos, que estão também em falta. Ou engenheiros de ambiente, engenheiros sanitários, engenheiros de materiais, ou físicos ou bioquímicos, ou gente que venha investigar seja o que for. Muita falta nos fazem. Todos os que cá tivermos serão sempre poucos.
E, já agora: uma vez que começam a rarear muitas profissões, criem-se muito mais escolas técnico-profissionais onde se ensine a ser electricista, canalizador, mecânico, instrumentista, torneiro, etc, para ter oferta diversificada a nível de ensino, incluindo para jovens que não querem fazer cursos superiores.
E outra coisa. Uma muito importante.
Estou a falar de algo que, em meu entender, é vital nas cidades para lhes dar vida, uma vida jubilosa, uma vida com irrequietude de espírito, alegria e criatividade: a arte.
Uma vez escrevi uma carta ao presidente da autarquia com um conjunto de sugestões: que enchesse as ruas de arte, que oferecesse prémios e bolsas para artistas que fizessem trabalhos para a cidade, que tivesse residências e ateliers para artistas vindos de onde quisessem vir, que tivesse galerias públicas.
A arte atrai bons espíritos, atrai mais gente, e mais gente atrai mais trabalho e prosperidade, maior qualidade de vida e maior qualidade de vida é segurança, e segurança e qualidade de vida dá mais vontade de criar família, de ter crianças, de renovar o mundo.
Terras sem artistas, sem arte pública, sem comunidades de artistas vibrantes, criativos, diferentes, são terras tristes, ensimesmadas, com tendência ao esvaziamento, terras com triste futuro.
É outro aspecto fundamental nas políticas públicas: muita arte, arte ao dispor de todos, arte a inspirar todos.
Forte apoio à natalidade, forte apoio à imigração, forte apoio às artes -- são três medidas que espero que estejam bem presentes no programa do próximo governo. Isso a par da defesa do planeta que, espero bem, há-de ser uma das principais causas dos anos que aí vêm.
Claro que muito mais que isto. Bibliotecas públicas abertas de manhã à noite e ao fim de semana, também, por exemplo. E mais, claro. Mas a estas políticas a que aqui dei destaque eu dou total importância. E defendê-las enche-me de entusiasmo, como se tivesse uma suave brisa a tocar-me o rosto, como se tivesse os braços cheios de braçadas de flores, como se tivesse outra vez dez anos e largasse a correr por um sinuoso caminho descendente, a saia voando, os cabelos compridos pelos ares, eu com a vida pela frente, eu ainda nunca desiludida, eu ainda inocente e crente na força da minha vontade.
Usei pinturas de Georgia O'Keeffe e o Smile pela Madeleine Peyroux para dar alguma graça a este post. O título é um excerto do poema Eternidade de Maria Teresa Horta
A demografia é coisa que se lhe diga. A política tende a preferir cavalgar a onda da opinião pública mais imediata e a descurar questões de fundo. Por isso, em vez de estar na base das principais medidas de fundo, a demografia é coisa que passa ao lado da conversa política. Quebra de natalidade nuns sítios, população a crescer demais noutros, movimentos migratórios descontrolados, crises e guerras, etc e tal -- temas que apenas vêm à baila quando algo de mais dramático chama a atenção dos media. E, no entanto, são factores como estes que influenciam uma sociedade na sua matriz essencial.
Um país com uma baixa natalidade pode tentar evitar a quebra da população activa fomentando uma regulada e bem integrada política de imigração. Por outro lado, contrariar uma baixa natalidade não é oferecer chegues de mil euros por cada criança nascida ou apenas falar disso quando o rei faz anos. É preciso muito mais e não é coisa que se consiga rapida ou facilmente. Creches gratuitas, horários reduzidos e flexíveis durante os primeiros dois ou três anos dos filhos, possibilidade de os pais poderem dispor de uma bolsa de horas para idas ao médico ou a reuniões na escola, etc, etc, etc. Só com uma vida estável e facilitada é que os jovens decidirão ter mais filhos. Mas não só. A precaridade em algumas franjas do mundo laboral, os ordenados extremamente baixos e a ausência de perspectivas de progressão farão com que a decisão de ter filhos vá sendo protelada. Não são medidas isoladas que resolverão o que quer que seja: tem que haver uma compreensão global do que torna uma sociedade saudável, sustentada e feliz: tem que haver um programa amplo, transversal, com uma forte componente cultural a suportar a mudança sociológica que é indispensável.
O vídeo abaixo é interessante e mostra o crescimento ou decrescimento da população do mundo.
No post abaixo já falei dos novos livros que aqui vieram juntar-se à babilónia que me cerca. Fiquei toda contente com eles, tão diferentes uns dos outros, trazendo-me tantas novidades, mesmo como eu gosto.
Mas isso é a seguir. Aqui, agora, a conversa é outra. Vou falar do Partido Socialista e não vou falar mal. Aleluia que já estava farta de nada dali me alegrar.
E vamos com música que acho que é caso para estarmos bem dispostos.
Fandango com castanholas.
Olé.
Li o documento Uma Década para Portugal que aqui pode ser visto na íntegra e gostei. Está bem escrito, bem fundamentado, é um trabalho feito por gente séria que se esforçou por apresentar um trabalho limpo, cuidadoso, bem estruturado. E há uma fundamentação política, humanista, na orientação que conduz os raciocínios e enforma as medidas propostas.
Ao contrário das provas de indigência intelectual a que temos assistido nos últimos anos por parte deste grupo de incompetentes que nos desgoverna, nota-se que o documento do PS está feito com rigor e que há uma linha condutora que deixa explícito ao que vem.
Ouvi, entretanto, a reacção primária, igualmente indigente, por parte do PSD e do CDS, mas não me admirei: aquilo é mesmo gente sem noção de coisa alguma. Depois de terem imposto sacrifícios desumanos a grande parte da população e de terem destruído parte do tecido social e económico do país com o intuito de diminuir a dívida - acabando com ela mais alta do que quando começaram o seu exercício de burrice - aparecem agora armados em comediantes dando lições de moral aos outros.
Sinceramente, ao fim de todo este tempo, acho que ainda mais do que mal intencionados, eles são é ignorantes e incapazes. Destituídos das capacidades cognitivas mínimas. Não perceberam ainda o que aconteceu, não perceberam porque é que o que fizeram funcionou ao contrário e são bem capazes de ser corridos daqui sem perceberem nada de coisa nenhuma. Mas, enfim, desde há algum tempo que já não me motiva desancar neles, é gente que, para mim, passou à história.
Volto ao documento do PS: todas as políticas estão voltadas para uma aposta forte no relançamento da economia.
Há medidas que se destinam a introduzir liquidez no sistema, outras que se destinam a que se volte a sentir confiança, outras que facilitam o investimento.
Todas visam o respeito pela dignidade das pessoas, com especial preocupação pelos mais pobres, ao mesmo tempo que incentivam a que parte da retoma se faça pelo lado do consumo interno.
Mas há o outro lado: uma aposta forte na inovação, na ligação da universidade às empresas, na abertura para mercados externos e na internacionalização - e isso é vital e está lá muito bem evidenciado.
E há apoio ao ensino em todas as idades e percebe-se que o conhecimento voltará a estar na ordem do dia.
E todas estas medidas, quando conjugadas, permitirão, não tenho dúvida, um impulso relevante no clima económico.
O desemprego baixará, haverá apoio ao regresso e integração dos que se viram forçados a sair do país.
E há atenção os sistemas que dão corpo a um estado social e democrático quer a nível da saúde, da educação, da justiça, dos apoios sociais.
E as contas estão feitas e há fundamentação para as despesas e para as receitas e todo o documento é credível e sustentado.
Ouvi com satisfação António Costa dizer que não é uma bíblia. Interpreto que, com isso, está a dizer que é um processo aberto, que incorporará melhorias, que se adaptará às circunstâncias.
No entanto, com esta minha satisfação pelo que ali vejo, não quero dizer que me cole a 100% ao documento. Mas tenho esperança que, com a discussão que certamente agora irá decorrer, os aspectos que abaixo refiro e outros que muitas outras pessoas bem intencionadas formularão serão, de uma forma ou de outra, incorporados nas medidas para a década.
Explicito os pontos.
Há um aspecto que eu gostaria de ver ali mais desenvolvido e com uma força quase central. Tenho para mim que um dos grandes problemas do país é o da demografia. Claro que a demografia, mais do que causa, é também consequência das políticas do país. Mas, pela gravidade que a situação actual apresenta, penso que mereceria uma atenção mais forte.
Não tenho dúvidas que com um aumento dos níveis de emprego, de poupança, com casas mais baratas, com uma carga fiscal mais suportável, os casais tenderão a ter mais filhos.
Mas é preciso mais do que isso. Tem que haver uma política concertada e total de apoio à natalidade: têm que haver creches, infantários e escolas gratuitas (ou quase gratuitas) com horários alargados como o são os das escolas privadas. Os meus meninos andam todos em colégios privados porque os pais trabalham e os avós quase todos também e porque não há escolas públicas que recebam as crianças a partir das oito da manhã ou antes e que os tenham até depois das dezanove ou que tenham carrinhas para os levar a casa e que não fechem nas férias. Mas colégios privados são caros e não haverá muitos jovens casais que os possam suportar. E esta questão é determinante na decisão de ter ou não filhos ou de ter mais do que um ou de dois. Um investimento forte neste domínio é indispensável.
E tem que voltar a haver postos médicos públicos com horários alargados e com urgências. No outro dia, no meu prédio, vinha uma senhora com uma miúda no elevador e disse-me 'agora, por causa de uma conjuntivite, temos que ir às urgências do hospital, horas e horas, uma pouca vergonha!'. Eu perguntei 'Mas já não há aquilo do SAP?' e a senhora disse, 'Agora... ? Acabaram com isso tudo'.
Pois. Um jovem casal com crianças pequenas, que trabalhe e que ao fim do dia, porque as crianças estão com uma virose, tenha que ir para o hospital horas a fio, não é o melhor incentivo para que fique com vontade de ter mais filhos.
E tem que ser possível que, quem tenha filhos pequenos, possa dispor de dois a três dias por mês para poder ficar com os filhos caso necessário pois sei bem o drama que é para os meus quando os miúdos estão doentes e não têm quem fique com eles e nem sempre se justifica ir para o médico para obter atestados. Tem que haver um sistema simples que facilite a vida aos pais de crianças pequenas.
É essencial repor os níveis equilibrados de natalidade e só com medidas efectivas, pragmáticas e integradas é que se consegue que as pessoas se sintam confiantes para pôr mais crianças no mundo.
Também gostaria de ter visto alguma atenção à questão da terceira idade. Para quem trabalha nas cidades e tem os pais velhos longe, sem lhes poder prestar grande apoio e sem rendimentos sobrantes para ter apoio condigno, é um pesadelo. Conheço pessoas que vivem num tormento porque os pais não têm dinheiro que chegue para pagar um bom lar ou um apoio doméstico integral, têm que ser eles a apoiá-los - e a verdade é que se vêem aflitos para o conseguir. Com a maior longevidade das pessoas, isto tende a agravar-se e não apenas retira qualidade de vida a pais e filhos como retira liquidez do mercado. Com um apoio articulado e inteligente, com mais equipamentos e estruturas de apoio qualificado, não apenas se criaria emprego nesta área como toda a gente beneficiaria a todos os níveis.
Também gostaria de ter visto mais desenvolvida uma aposta forte na cultura. É certo que se vê atenção na recuperação de património histórico mas isso na perspectiva da construção civil que é um sector que, quando estimulado, é fortemente empregador - mas acho que deveria ter havido mais ênfase em tudo o que tenha a ver com cultura. A cultura não é apenas uma base matricial para a identidade de um povo, é também uma forma de abrir as mentes ao conhecimento, à vontade de aprender e caminhar para o futuro, é uma forma de estar em fruição de beleza. Mas é também uma fonte de rendimento não negligenciável. O turismo cultural poderá um dos pilares importantes de revitalização económica. Apoiar toda a cultura, formar um cluster económico em torno das actividades culturais deverá ser uma das vertentes a ter em atenção.
.....
Seja como for, acho que o PS e a equipa que desenvolveu este trabalho estão de parabéns e serão certamente capazes de incorpor novos contributos. António Costa deixou claro que isto é uma base de discussão, medidas de índole macroeconómica, não o programa de governo. E, assim sendo, a bem do País, sejamos construtivos, ajudemos quem quer ajudar a melhorar a vida dos portugueses.
(Se eu não fosse tão comodista, diria que podiam contar comigo. Assim, limito-me a deixar aqui estes apontamentos mas confesso que começo a sentir, volta e meia, uma certa vontade de me chegar à frente. O diabo é a minha alergia total às partidarites bacocas que estão por todo o lado...)
Uma vez que não há ministros neste (des)Governo que tenham sapiência suficiente para desarrincar uma medida que se aproveite, aqui vos deixo, meus Caros Leitores, um anúncio que vos pode indicar algumas pistas.
Sabido como é preocupante a tendência demográfica em Portugal, alguma coisa tem que ser feita para que os portugueses não sejam vistos daqui por uns anos como uma variante longínqua dos dinossauros, espécie que se extinguiu e virou boneco de crianças.
Talvez não tão dramática mas, ainda assim, também a merecer alguma atenção, é também a questão na Dinamarca. Talvez por isso, a coisa que vos vou mostrar nasceu lá; mas está na hora de o Governo português, em vez de sortear carros topo de gama a quem pedir factura, sortear uma casa cheia de fraldas a quem provar que concebeu uma criancinha.
No entanto, se, como no filme se diz, os meus Caros já tenham cumprido a vossa missão ou mesmo que não haja hipótese de daí sair um bebé, que não seja por isso. Vale tudo pelo prazer da participação (no concurso, claro). E por Portugal, claro.
Há bocado, ao ouvir as notícias, o meu marido dizia 'Estes gajos, realmente, estão a conseguir dar cabo disto tudo'.
Na televisão a reportagem falava da acentuada quebra de natalidade que se tem vindo a verificar nestes últimos anos.
A natalidade em Portugal está agora aos níveis de 1900. Este ano regista-se uma quebra de 10% até Setembro, em comparação com o mesmo período do ano anterior.
Entrevistavam algumas mulheres (... como se ter filhos fosse coisa só de mães... mas, enfim, esse não é agora o tema) e todas falavam da imprevisibilidade que é o futuro, da falta de esperança, de segurança, de futuro.
Uma senhora, que não reparei quem era, falava nas jovens que emigram e lá têm os filhos pois é lá que têm emprego, têm melhores apoios, têm melhores ordenados.
Há ainda os que eram imigrantes e que agora regressaram aos países de origem.
Tudo junto leva a um quadro que, se não for invertido, levará à catástrofe social.
É que um país só progride se tiver uma demografia equilibrada. Uma demografia equilibrada é a base sólida para o desenvolvimento económico, financeiro e social.
Quando a demografia se encontra em linha decrescente, o sistema de apoios sociais tende para o colapso.
Muitas vezes aqui o tenho dito: uma das maiores preocupações de qualquer governo que saiba o que é governar deveria fazer - mas com urgência e de forma aplicada e muito articulada (pois envolve acções em várias disciplinas) - era incentivar e apoiar a natalidade. Criar condições de toda a espécie para que voltem a haver nascimentos em Portugal a um ritmo que reponha uma curva equilibrada é vital para a sobrevivência do país enquanto nação soberana e democrática.
A não acontecer isso, todos nós, daqui por não muito tempo, não teremos pensões de reforma - mas é que nem com muito boa vontade.
A média de filhos por mulher que garante uma demografia saudável é de 2,1. Em Portugal já está abaixo de 1,4!
Por isso daqui lanço um apelo a toda a gente em idade fértil:vá de fazer filhos (e de correr com este governo!) para ver se todos juntos ajudamos a construir um futuro agradável.