Não sou de fazer listas ou resenhas. Nunca fui de ter apontamentos. Vou para as reuniões sem papéis e saio de lá também de mãozinhas. Ao contrário de colegas que guardam memorandos sobre os temas mais relevantes ou que conservam cadernos ou agendas com registo de tudo ou quase tudo o que se passa, eu não tenho o que quer que seja disso. E, apesar de escrever aqui que me desunho, nada tenho de sistematizado que me permita, assim de repente, fazer um balanço deste ano que agora termina.
Seja como for, verdade seja dita, o que passa desinteressa-me. Ano passado, ano esquecido. Bye bye.
Quero pensar no que me marcou e só me lembro desta guerra maldita. Maldita, maldita, maldita, mil vezes maldita guerra.
Tirando isso, coisa avassaladora, de pouco mais me lembro. Puxo pela cabeça e, a bem dizer, a sensação que tenho é que mal dei pelo passar do tempo. Puxo pela cabeça e mal me lembro de qualquer coisa que aqui, agora, deva respigar a propósito do que me aconteceu a mim.
Profissionalmente, todo o ano o passei numa luta que devorou os dias. Uma luta esgotante. Digo por vezes que um embate destes devê-lo-ia ter eu tido no início da minha vida profissional. Melhor recruta não poderia haver. Quem passa por isto fica preparado para tudo. Agora apanhar um coisa destas pela frente quando, nos momentos mais complexos, me ocorre: 'Não tenho pachorra nenhuma para aturar isto' e já não tenho grandes travões para me impedir de o demonstrar, é uma experiência que já não me será grandemente útil para nada.
Pessoalmente, estou cada vez mais eremita. Gosto de viver aqui, longe do bulício citadino. No intervalo, estou no campo-campo, ainda mais eremita. Depois de anos e anos no meio da confusão, vivendo no meio de uma cidade e trabalhando em grandes edifícios em zonas de grandes edifícios, sempre com multidões em volta, consumindo parte do tempo no trânsito, em restaurantes, frequentando o comércio e estando ao corrente da última moda, agora estou parte do tempo em teletrabalho e não me custa nada estar tão longe da barafunda.
As minhas compras agora restringem-se praticamente às do supermercado ou de take away em restaurantes. Raramente compro roupa, compro muito menos livros, há mais de dois anos que não compro nem perfumes, nem sapatos nem bijuteria. As compras que faço nestes capítulos são sobretudo para oferecer. O tempo de vida que me resta, nem que seja meio século, não me chega para ler todos os livros ou gastar toda a roupa ou perfumes que tenho, até porque agora pouco perfume uso.
Tenho por felicidade maior os meus filhos que estão bem e vão progredindo na construção da sua vida, os meus netos que crescem sendo alegres, cheios de entusiasmo, a família que se une para desfrutar a alegria de estarmos juntos.
A minha cabeça, desde há algum tempo, está sobretudo nos tempos que vêm. Parece que nunca mais lá chego e até temo que, quando lá chegar, já me tenham passado todas as vontades que agora tenho a fervilhar em mim.
Sei que, nessa altura, terei que ensinar o meu biorritmo a uma outra dinâmica pois estou formatada para ter pouco tempo para fazer muita coisa. Quando tenho muito tempo parece que não sei o que fazer com ele. E estou também habituada a trabalhar de dia e guardar os hobbies para a noite. Quando deixar de trabalhar, acho que tenho que arranjar um rotina que me absorva de forma disciplinada senão fico como quando fiz a artroscopia aos joelhos. Não tinha nada que fazer e... não conseguia mesmo fazer nada, completamente tomada pelo tédio.
Mas, pensando bem, há um coisa que é fundamental para que estejamos bem: a saúde. Sem saúde, fraquejamos, ficamos uma sombra de nós.
E, assim sendo, concluo.
2022 já está numa de ir -- e que vá que não deixa grandes saudades.
E que venha o 2023. E que venha com tudo desde que seja bom. E que nos traga a paz e o castigo dos assassinos.
E nos traga a consciência de como é frágil a liberdade e a democracia e de que temos que as preservar a todo o custo.
E que nos traga saúde. E alegria. E motivação. E energia. E boa sorte. A sorte, sem que muitas vezes nos apercebamos, molda, e muito, a nossa vida. E nos traga compreensão, tolerância. Generosidade. E afecto, o afecto que nos une. E nos traga boas ideias e vontade e capacidade para as pôr em prática.
Poderia ainda falar do que gostava que acontecesse a nível político mas, lá está, não estou com pachorra e nada me impede de o demonstrar.
Claro que também poderia falar de livros que li no ano que agora acaba e dos que espero ler no que está a começar. Mas isso seria todo um outro filme.
E etc. -- que é sempre uma forma airosa (e preguiçosa) de acabar uma conversa.
Neste último dia vou ter visitas a fazer, comida para confeccionar e depois vamos fazer a passagem fora.
O dia de Ano Novo é cá em casa e espero que o mau tempo não impeça que a casa se encha para que as mesas estejam outra vez cheias para o primeiro almoço do ano.
Por tudo isto, não sei se cá consigo voltar em 2022 a tempo de vos deixar os meu votos para 2023. Por isso, aqui ficam já eles: tudo de bom para vocês. Tudo, tudo de bom. Felicidades com tudo o que as felicidades levam dentro. Um abraço para todos. É virtual mas é dos bons, dos sentidos.