Num comentário ao post de ontem, o Leitor António refere que estranhou eu não formular o meu louvor em relação ao meu médico de família e aos serviços prestados pelo SNS, no caso, o Centro de Saúde a que vou.
Pensei que estava implícito mas, tem razão, António, o que é bom é para ser louvado, e louvado com todas as letras.
Por isso, aqui estou, voltando ao tema.
Durante toda a minha vida recorri à medicina privada. As empresas em que trabalhei tinham médico para os funcionários e, desde há bastante tempo, para além de médico nas instalações, disponibilizavam generosos seguros de família. E o mesmo sucedeu com o meu marido. Portanto, que me lembre, apenas recorria ao então chamado SAP, Serviço de Atendimento Permanente, quando os meus filhos eram pequenos e era preciso ir com eles ao médico fora de horas. E também, durante algum tempo, ia lá a Pediatria pois a a médica ('particular') que os acompanhava deixou de trabalhar e fiquei sem saber onde ir. E, nessa altura, gostei bastante da médica do Centro de Saúde.
De resto, a realidade do SNS era algo que apenas conhecia pelas idas ao hospital com o meu pai e, depois, com a minha mãe (pois, para além de maioritariamente 'frequentar' hospitais privados, também foi várias vezes ao público, chegando a estar lá internada).
Quando eu e o meu marido nos reformámos, subscrevemos ambos um seguro de saúde que, apesar de ser razoável, fica a anos luz do que tínhamos nas empresas para as quais trabalhávamos. De qualquer forma, até por alguma influência de familiares médicos, resolvemos 'experimentar' o SNS.
De início, confesso, estranhei muito. Mas estranhei a nível de organização, de eficiência a nível de marcações e da demora na obtenção de uma consulta. Mas gostei bastante do médico de família.
Habituada a médicos até de algum renome no privado, não achei que este jovem médico ficasse minimamente aquém. Aliás, com o meu espírito crítico, quando um médico não me inspira muita confiança, fico logo de pé atrás. E tem razão o Leitor que diz que é difícil arranjar um bom médico de Medicina Geral. É verdade: passei por alguns, e também por alguns de Medicina Interna, e com alguns nunca me sentia totalmente segura. Mas deste gostei: é perspicaz, ouve com atenção, explica bem, é persistente. A nível administrativo já se despistou algumas vezes (por exemplo, passou um medicamento sem código pelo que, na farmácia, era como se não tivesse prescrito e tive que pagar por inteiro, prescreveu um exame num formulário errado pelo que não o aceitaram, etc). Mas dou desconto. Provavelmente o sistema informático não é famoso, queixam-se sempre que é lento, se calhar estava cansado. De qualquer forma, no que é relevante, sempre foi muito certeiro.
Com o meu marido aconteceu a mesma coisa. A ser seguido há anos e anos por um médico no 'privado' e a seguir religiosamente uma medicação, concretamente para hipertensão, ao chegar lá, o médico, ao observá-lo, questionou e questionou e não ficou convencido, prescrevendo um outro exame. E esse exame veio a revelar que o meu marido tem uma outra questão que não era atendida pela medicação que seguia. Ou seja, havia que adicionar um outro medicamento. Não muito certo dessa reviravolta nas suas 'convicções', o meu marido foi ouvir uma segunda opinião que atestou totalmente a abordagem do médico de família. E a verdade é que desde então não voltou a ter alguns picos de tensão que, apesar da medicação, tinha. E tinha pois a medicação que tomava destinava-se apenas a uma parte do problema.
Portanto, estou muito confortável com este médico, sinto-me confiante.
E já precisei de uma receita e foi fácil pedir sem ter que lá ir e, quando agora queremos marcar consulta, ligamos e, quando não atendem, recebemos, ao fim do dia, uma chamada a perguntar o que queremos e marcam o que for preciso.
O que é mais difícil ainda é encontrar clínicas que façam exames tendo protocolo com o SNS. Poucas o têm. E o Centro de Saúde (ULS) não tem uma lista das clínicas protocoladas, o que também não ajuda. Estes pormenores de organização facilitariam.
Li agora uma notícia a confirmar que dado não serem actualizados os valores, há cada vez menos clínicas a fazerem exames para o SNS. E isso é uma limitação um bocado chata a que o SNS deveria atender. Esta ministra incompetente ter 'despachado' o competente e experiente Fernando Araújo foi uma machadada no SNS. Estou convencida que o SNS, com um bom gestor à frente, um gestor do calibre de Fernando Araújo, poderia ser bem melhor.
E penso que também daria jeito que houvesse uma camada intermédia de atendimento de especialidades que não tivesse que passar pelo hospital. Por exemplo, oftalmologia, saúde oral ou mesmo cardiologia, deveriam estar mais acessíveis. Para uma consulta de oftalmologia tem que se ir a uma consulta com o médico de família, ele tem que referenciar para o hospital e depois tem que se esperar (cerca de 1 ano) para o hospital chamar. Penso que seria interessante, eficiente e lógico que as ULS dispusessem desses serviços.
Seja como for, apesar de durante anos não ter sido utente, sempre fui e sempre serei ferreamente defensora do SNS. E, por isso, luto para que seja gerido com eficiência, com cabeça, por quem sabe gerir. Por isso, fico indignada quando se põem grandes hospitais, que mexem com centenas de milhões de euros, com milhares de funcionários, unidades que requereriam gestores de mão cheia, na mão de gente inexperiente e que apenas é nomeada por ser do PSD.
Que há muitos profissionais muito competentes e dedicados no SNS, profissionais que dedicam toda a sua vida ao serviço público. Tenho vários amigos assim. Por isso, não é por falta de qualidade dos profissionais de saúde. Quando há problemas eles situam-se sempre (ou quase sempre) a nível de gestão, de organização.
Mas, Caro António, não tenha dúvidas: estou muito contente com o meu médico de família e com o acompanhamento que tenho tido na minha ULS.