Fomos até ao campo no sábado e foi aquela paz imensa que ali, mais do que em qualquer outro lugar, me invade de uma forma tão envolvente e feliz. Aqui, onde agora vivo, também há sossego, silêncio e canto de passarinhos. Mas não há a protecção da serra em volta, não há a serenidade rural que ali é absoluta. Mas o tempo anda-me a correr e eu mal consigo agarrá-lo. Foi ir, desfrutar um pouco, fotografar as belas cores de outono, os cogumelos que começam a irromper da terra, almoçar, descansar, olhar tudo, olhar como se quisesse ficar com as imagens, os sons e os cheiros impressos nas minhas células. Depois, no regresso, ainda fomos a casa da minha mãe. Ia escrever 'a casa dos meus pais' mas o meu pai é agora apenas memória. Quando estou com ela, tento não falar nele ou, se falar, falar com naturalidade. Sei que, se demonstrar emoção, a minha mãe não conseguirá controlar o pranto que lhe corre dentro.
Viemos tarde e, por isso, como sempre, jantámos muito tarde. O meu marido anda saturado, diz que não são horas, queixa-se que há muito tempo que não consegue descansar. Concordo. Também eu.
Ainda lá há alguma roupa por escolher, em particular roupa do meu marido. Recusa-se a olhar para aquilo e escolher, não tem paciência. Mas também ainda há coisas minhas. Agora tudo é para escolher, nada que seja declaradamente para trazer. Mas é roupa que está nos roupeiros embutidos. Ou seja, já não há mais mudanças contratadas. Nem há urgência. Agora apenas teremos que de lá tirar tudo quando vendermos a casa (era bom que fosse depressa) ou, quando nos enchermos de coragem, para tirar isto da ideia. Eu prefiro despachar tudo o mais rapidamente possível. O meu marido, que habitualmente também é assim, neste caso nem quer pensar no assunto.
Hoje, enquanto lá estive, consegui deixar as divisões vazias, sem tralha restante pelos cantos. Mesmo assim, uma varanda está cheia de sacos com roupa para dar. E um vaso com terra. E uns baldes de tinta que soprou de anterior pintura. E um cesto onde estão as cortinas de crochet que tinha numas janelas e que agora não tenho onde pôr mas que me dá pena deitar fora. Noutra varanda, num canto, há uns cestos com brinquedos desencontrados, incompletos, e uma figura de madeira pintada, de que muito gostava e que, não sei como, ficou com a cabeça partida. Se a colar fica boa. Mas não sei bem onde colocá-la. Talvez debaixo do alpendre. O meu marido ralha: não enchas tudo de tralha. Ele é minimalista. Eu quase sou mas também gosto de ter alguns objectos atípicos e nos quais reconheço beleza ou graça.
Mas, com isto, estou mais do que cansada. Foram muito poucas horas de sono, muito andar acima e abaixo, a dizer onde se põe isto, onde se põe aquilo. Já para não falar que, antes e a seguir ao jantar, estive a ver e responder a mails, a despachar e aprovar coisas da empresa ou, no meio de tudo, andei a telefonar, a mandar mails, a resolver trapalhadas. Mas, enfim, acho que esta noite devo conseguir dormir bem. Nestas alturas de mudanças, durmo mal. Acordo a pensar e a ter ideias sobre o destino a dar a cada coisa.
Por exemplo, não sabia onde haveria de pôr a aparelhagem, uma aparelhagem à antiga, um móvel preto, tipo ikea, mas com amplificador, leitor de cassetes, gira-discos, leitor de cd's, colunas separadas. De noite, acordei com a solução. E os LP´s, os CD's. Ponho-me a pensar nisto e, às tantas, não durmo. Agora já se sabe onde vão ficar mas é preciso tirá-los das caixas e arrumá-los. Ai.....
E agora ainda tenho que ir consultar um cv para uma reunião determinante que tenho de manhã. A covid pode estar por aí aos pinotes mas o mundo -- felizmente -- não estaciona.
E, já agora: que ideia absurda é essa de porem a Prova Oral a começar depois da uma da manhã? Logo hoje que queria tanto ver o maluco do Pedro Paixão... Não percebo quem são os palermas que fazem a programação dos canais de televisão.
Bem, já que estou numa de décor, permitam que partilhe um vídeo que gostei de ver.
A pintora italiana Malù Dalla Piccola mostra a sua casa em Paris. E eu gosto tanto de ver casas. Fará casas com a pinta desta.
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