terça-feira, setembro 22, 2020

O apelo de mulheres menos belas e não tão jovens

 


Apesar de possuir um apurado sentido estético e de ter preferido desde sempre as raparigas muito jovens com o seu encanto primaveril, não deixava também de reagir perante o apelo de mulheres menos belas e não tão jovens. Durante os bailes sucedia por vezes deixar-se prender por uma qualquer rapariga desanimada e sem frescura, que ninguém desejava e o conquistava pela via da compaixão, e não só da compaixão, mas devido também à sua eterna curiosidade. 
A partir do momento em que se dedicava a uma mulher -- fosse por semanas ou apenas por horas --, ela tornava-se bela aos seus olhos e a sua entrega era completa. A experiência ensinara-lhe que todas as mulheres eram belas e capazes de dar prazer, e que mesmo a de aparência insignificante, desprezada pelos outros homens, podia revelar um ardor e uma entrega inauditos, e que mesmo aquela que perdera já o viço da juventude era capaz de derramar uma doce ternura melancólica e mais que maternal; no fundo, todas possuíam um segredo e um encanto cujo desvendar o fascinava.

Nesse aspecto eram todas elas semelhantes: havia sempre um gesto especial capaz de compensar qualquer falta de juventude ou beleza, embora nem todas o prendessem durante o mesmo tempo. A menos bela não lhe inspirava menos amor e gratidão do que a mais jovem e graciosa, a sua entrega era sempre total. 


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Excerto de Narciso e Goldmund, Hermann Hesse; Bodyscapes de Carl Warner;  F Major de Hania Rani

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