terça-feira, agosto 16, 2022

Uma conversa em família sobre deuses e outras crenças.

[E, no meio disto tudo, o que Michio Kaku acha do nosso futuro também não me deixa lá muito consolada]

 


Hoje, dia feriado, durante a tarde, estávamos todos juntos cá fora quando os meninos começaram na brincadeira. O mais velho, um refilão do mais refinado que existe, queria ir comprar um jogo que não dava para encomendar online. Preparando o terreno para a persuasão, começou, então, a derreter-se em simpatias com a mãe. Creio que foi nessa altura que a conversa divina começou. Tenho ideia que já dizia que a mãe era uma deusa. O mais novo dizia que antes estava eu, a mãe da deusa.

Dizia ele, o mais crescido, que era um contrassenso ter sido batizado e não acreditar em deus. 

[A propósito do batizado surgiu, então, a conversa dos padrinhos. A minha filha lembrou que o pai é o padrinho do neto. O avô ficou muito admirado. E eu também, já não tinha nem ideia disso. Ela explicou que, na altura, tinha querido que fosse o irmão mas que, como o irmão não é batizado, o padre disse que, se era o que ela queria, então na prática era como se fosse... mas que oficialmente tinha que ser alguém batizado. Ela, então, quis que fosse o pai. Com esta explicação, lembrei-me. É verdade, tinha sido isso.

Mas lembrei-me só de metade pois, nessa altura, ela recordou-me que também eu embarquei numa assim: ou seja, sou a madrinha do mais novo. Também não me lembrava. Ela explicou que, nessa altura, a ideia é que fosse a prima a madrinha do menino. Mas a madrinha era quase tão bebé como o bebé a batizar. Tem uns quantos meses a mais. Para além disso também não é batizada. Portanto, neste caso avancei eu. Mas avancei nesse dia e nunca mais de tal me lembrei. Ou seja, quer eu quer o meu marido somos uns padrinhos desnaturados.

Isto dos batizados foi coisa do pai das crianças. Já o casamento foi pela igreja para ele e, para a minha filha, na igreja. Uma nuance que faz a diferença. Ele fez questão e ela não se importou. A mesma coisa com as famílias. A família dele é praticante e a nossa não está nem aí. Excepção talvez para a minha mãe que não frequenta a igreja mas tem a sua fé e faz as suas orações. Aliás, não sei se foi no casamento da neta ou num dos batizados dos bisnetos que, para minha surpresa, foi comungar. Perguntei-lhe se se tinha confessado antes. Na minha cabeça, a confissão era premissa indispensável para a comunhão. Respondeu-me que não tinha pecados. Lembro-me que o sogro da minha filha ouviu a conversa e achou muita graça, tendo-me dito: 'Pois, certamente que não tem'].

E tenho a impressão que foi nessa altura que a conversa derivou para a metafísica pura e dura. O menino mais crescido, catorze anos recém-feitos, já todo peludo, com voz grossa e dúvidas existenciais, perguntou-me se eu acreditava em deus. Disse-lhe que há muitos deuses, cada um acredita no seu deus ou no que quiser, que há quem queira encontrar uma explicação para as coisas e que eu acredito na natureza, na superioridade da natureza. Desatou a rir. Pôs-se a imitar-me, disse que ainda viro uma avozinha hippie, que qualquer dia chega lá, in heaven, e estou eu, toda peace and love, a adorar a natureza, numa caravana, a enrolar uns charros, envolta em cheiro a erva. Claro que o avô, ao ouvir isso, derivou para a paródia e, portanto, uma conversa que tinha tudo para ser elevada degenerou na gozação do costume.

Mas eu, gozem ou não comigo, curvo-me perante a beleza, a magia e a inteligência da natureza, mesmo nas suas mais ínfimas manifestações. Por exemplo, maravilho-me com a existência de esquilos nos nossos pinheiros e azinheiras. Não sei como lá apareceram mas o facto de lá terem aparecido parece-me milagre do melhor que há. Haver tantos pinheirinhos a nascerem a partir daqueles que o meu pai plantou há dezenas de anos é também daquelas que me faz sentir abençoada. E não sei se sou eu ou se é a terra que é abençoada mas para o efeito tanto dá. Ou que as árvores e os arbustos resistam a tanta secura, tanto tempo sem chover, parece-me outro fantástico milagre. 

Os cedros, os ciprestes, os pinheiros, as aroeiras estão verdes, verdes, como se a seiva corresse fresca nas suas veias. Os verdes guardam a memória das chuvas e parecem preservar-se até que elas regressem. Acho isto uma coisa superior. Já para não dizer 'do além'.

Mas alguns arbustos estão com pouco viço, as figueiras daqui a nada estão a deixar cair as folhas, muitas florzinhas estão secas, a terra está ressequida, uma dor de alma. Tenho esperança que, mal venha o outono e comece a cair alguma chuva ou comecem a descer as primeiras névoas matinais, a terra se volte a cobrir de musgos e os cogumelos voltem a rebentar do chão.

Mas claro que estes calores e estas secas continuadas me preocupam. Como não? 

Quando aquele terreno era apenas pedra e mato ralo e rasteiro, imaginava que conseguiria transformá-lo nom bosque onde os meus filhos e os filhos dos meus filhos e os filhos dos filhos dos meus filhos (e por aí afora) haveriam de passear e desfrutar as delícias das sombras das árvores e dos cheiros campestres.

Nessa altura não se falava nas alterações climáticas nem na situação de emergência em que iríamos entrar. Nessa altura jamais me ocorreu que, anos mais tarde, eu haveria de estar preocupada com as condições de vida na terra para os meus filhos, para os filhos dos meus filhos, para os filhos dos filhos dos meus filhos... E, no entanto, estou.

As notícias que chegam de todo o lado não podem deixar ninguém tranquilo. 

E, claro, as previsões de Michio Kaku não me sossegam. Pode ser que o futuro da humanidade resida nos outros planetas. Mas quando? Mesmo que, até que isso seja possível, sobrevivam os exemplares suficientes para se reproduzirem em condições mais viáveis... o que acontecerá a tantos milhões de outros...?

E isto, claro, se até lá um asteroide qualquer não nos mandar a todos desta melhor ou o planeta não secar, não mirrar, não ficar murcho e irrelevante.

Preocupações...

Michio Kaku: The laws of physics doom Planet Earth

Humans won’t survive if we stay on Earth. Michio Kaku explains.

On Earth, extinction is the norm: 99.9% of species eventually go extinct. Even worse, the laws of physics have destined our planet for destruction. Whether it be from a planet-killing asteroid or the death of our Sun, Earth is doomed.

Humanity needs an insurance policy. Ultimately, if we want to survive long-term, we need to inhabit other planets. 

We are entering a new Golden Age of space exploration, but there are obstacles we must overcome.


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Fotografias feitas in heaven na companhia de Gautier Capuçon que interpreta Après un rêve de Fauré
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Desejo-vos um dia bom
Saúde. Paz.

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