quinta-feira, outubro 23, 2025

Serão os homens uns trogloditas? Uma ameaça para as mulheres?

 

Nunca gosto muito de falar em cima do acontecimento. Não sou repórter. Prefiro falar em abstrato, sobre situações genéricas, indefinidas. 

Além disso, neste caso, estivam presentes pessoas conhecidas. Não quero ser indelicada ou inconveniente.

Em geral, posso até dizer que até gostei de lá estar. Gosto sempre de estar em lugares. Aproveito sempre nem que seja numa perspectiva de observação. Aquilo ali era bem uma amostra de uma certa sociedade. Não direi jet set, até porque estas pessoas não gostam de pertencer a esse género tão mal afamado. Direi antes bcbg (bon hic bon genre). A beautiful people da linha (Estoril-Cascais) ou os agro-betos (os que gostam de se afastar para o campo). As mulheres são globalmente iguais entre si. Fisicamente e na maneira de vestir. Os homens igualmente iguais entre si, identicamente no aspecto e no trajar. As vozes também iguais.

Tenho a certeza que eu não sou igual e que a minha voz é o oposto (quem me acompanha no Instagram, sabe bem que não tenho voz grossa nem o meu registo é histriónico). Mas não que faça para ser diferente: simplesmente, não conseguiria, mesmo que quisesse, ser assim. E não que tenha algo contra estas pessoas. Não. Simplesmente, quando num grupo assim, sinto-me totalmente a ovelha que não encaixa naquele rebanho.

Mas não vou entrar em questões objectivas. Mais depressa, daqui por uns tempos, repescarei alguns episódios desirmanados como o da jovem companheira de um conhecido actor que se descalçou e se sentou sobre as pernas cruzadas ou o incrível bronze de uma comentadora da nossa televisão. Mas mais tarde, agora não.

Hoje quero apenas trazer aqui o meu desconforto sobre o que lá foi dito. Não referirei alguns aspetos mais pitorescos -- realmente insólitos e divertidos --, mas, sobretudo, o tema que foi lançado: no fundo o da guerra dos sexos.

Referiram as oradoras, em especial a principal, que, desde pequenas, as mulheres são ensinadas a tomar cautelas com os homens pois são animal predador. Ia dizer que, segundo ela, são também animal insensível mas a tese dela é que não são insensíveis de todo pois há um tema ao qual são bastantes sensíveis: ao sexo. Segundo ela, salvo disfunções eréteis, estão sempre prontos para o sexo. Mais: diz ela que são relativamente indiferentes a outros atributos (nem ligam muito à beleza ou ao companheirismo ou ao que for) desde que se lhes proporcione a possibilidade de ter sexo.

E toda a dissertação, até a do senhor que também falou, andaram à volta disto: os homens são violentos, os homens fazem coisas que molestam as mulheres, e, por outro lado, as mulheres aprendem desde sempre a sujeitar-se à vontade dos homens, ou, se vão na rua, a temer os homens. E, mesmo em casa, a ter cuidado com o olhar do pai.

E depois afirmava ela que mulher que diga que não tenha tido estas experiências é porque não é mulher, é porque não tem vivido.

Portanto, tendo ouvido dizer isto, fiquei a pensar que, de acordo com esta afirmação dita com tamanha assertividade, não sou mulher. Ou, então, não tenho vivido.

Ora, posso estar enganada mas tenho-me em conta de ser mulher, muito mulher, e ter tido até aqui e ainda ter uma vida bem vivida.

E, no entanto, o meu testemunho é o oposto. Nunca, nunca, em tempo algum, senti qualquer olhar estranho por parte do meu pai, dos meus tios, do meu avô. Nunca, nunca, nenhum colega ou chefe se afoitou a ser inconveniente comigo. Nunca, nunca, nenhum amigo se aproximou ou se insinuou ou tentou o que quer que seja de impróprio comigo.

Poder-se-ia dizer: pudera, feia como uma bruxa, antipática como um animal do mato, como poderia ser diferente? Mas sei que não sou nem tão feia nem tão antipática assim. 

Talvez tenha tido sorte. Mas se todos os homens fossem as bestas quadradas, os trogloditas de que ali se falou, alguns já me teriam calhado na rifa. E não. Nunca.

Mais: constatei ao longo de toda a minha vida que mais 'atiradiças' são as mulheres, mais ousadas, mais destemidas ao darem um passo em frente sem saberem se são bem sucedidas.

Claro que há homens estúpidos, tarados, doentes, atrasados, perturbados e, nesse caso, dado terem fisicamente mais força do que as mulheres, podem ser perigosos. Mas não são todos. São uma minoria.

Os homens, na sua maioria, são boas pessoas, sabem estar, sabem viver civilizadamente, conseguem ter relacionamentos saudáveis. E merecem respeito e carinho. São pessoas de corpo inteiro. Pelo menos, é este o meu testemunho.

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