sexta-feira, junho 20, 2025

Podem desmentir-me se quiserem

 

Isto é uma catedral

Gosto agora muito de me sentar no jardim ou no campo, em especial à tardinha, a olhar para o ar, para o céu, para as árvores. 

No jardim há agora um perfume novo, creio que a mistura de várias flores. É um perfume floral, isso sem dúvida, mas, ao mesmo tempo, doce e íntimo. Os pássaros também gostam. Descem e vêm passear perto de mim, entretendo-se a debicar o que encontram na terra. 

Se estou sob as árvores gosto de as admirar, vendo-as de baixo. Não existiam e foram-se tornando a maravilha que são. E gosto de ver as flores através da luz. Ou a luz através das flores. Parece o mesmo mas não é. 

As nuvens também me cativam. São efémeras como uma aragem. Não têm a noção do tempo nem do espaço, são livres como uma partícula elementar, como uma palavra solta ao vento, como espíritos vogando por aí.

Isto é um deus, e creio que daqueles que não são particularmente santos
(honi soit qui mal y pense).

Muitas vezes tenho um livro comigo mas, se o livro não tem nada que me impressione (e impressionar no sentido em que a luz impressiona a película, nela gravando imagens, sombras, movimentos), fecho-o e deixo-me estar.

Isto é um milagre. Inexplicável. Fruto da inspiração de uma inexistente divindade

Tenho saudades de fotografar com as minhas máquinas fotográficas. Foram-se estragando e, depois, para quê continuar?, já tinha milhares de fotografias. Faz sentido continuar a acumular fotografias? Não vou voltar a vê-las. O que gosto é do momento em que capto a imagem. A partir daí já não me interessam. Agora uso o telemóvel. E vou apagando pois estou sempre a precisar de mais espaço.

Isto é uma obra de arte. Fortuita. Com a vantagem de não ser um Miró 

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Já contei muitas vezes que, quando fazemos as nossas caminhadas nestes dias de calor, mal transpomos e entrada do nosso jardim, sentimos a frescura que nele se acolhe. A temperatura está uns graus abaixo da temperatura fora dele. São as árvores, as trepadeiras, as flores, é o carinho que retêm.

In heaven a mesma coisa. Vou andar lá em baixo e, no meio das árvores, é outra a geografia. 

Em qualquer dos casos, o tempo suspende-se. 

Hoje estava sentada no meio das flores, o cão deitado, os passarinhos a cantar. Pensei que poderia ficar assim saecula saeculorum. Talvez bastasse não me mexer. O mundo à minha volta a girar e eu ali, parte do tempo, imóvel como o tempo, uma partícula imaterial suspensa na infinitude do espaço.

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E para que não protestem com o teor da conversa, para quem prefere temas mais concretos, aqui está um vídeo que poderia muito bem servir de inspiração a quem tem a responsabilidade de melhorar os espaços públicos.

THE MINI FOREST - Rewilding using the Miyawaki Method

Terrell Wong is about to plant 100 trees in her small Toronto backyard, a dense mini forest based on the Miyawaki Method. What at first seems like a simple act soon evolves into a complex story about dirt, lawns, fungus, wildlife, native species, and finally the human brain. An anti-lawn anthem from director David Hartman, The Mini Forest explores this innovative form of afforestation and the importance of restoring the native woodlands that once covered so much of Canada and the World.


Uma boa sexta-feira

6 comentários:

Anónimo disse...

E apesar de tudo a poesia por aí levitando à nossa volta!
LS

Ccastanho disse...

UJM, olá, viva.
Proponho um desafio . Numa destas noites, - na primavera era mais saudável-, entre na aventura de dormir no campo uma vez que, segundo parece tem alguma largueza de campo em redor, e saborei os cheiros da noite , os barulhos da bicharada, a conversa da passarada entre si, ao romper da aurora, os cheiros inesquecíveis do orvalho no arvoredo, enfim, para quem gosta de campo e de o contemplar, até para um ateu, é uma dádiva de deus beber todo esse perfume da natureza. Depois, há sempre a beleza de contemplar o campo ou de manhã, ou ao por do sol. Foi esse prazer que a caça me deu, poder andar livremente pelo campo fora partilhando companhia com borregos, cabras, porcos, vacas e bois mansos ou bravos, mas na paz do campo , todos somos mansos. É sublime UJM, creia que é verdade e experiências únicas de vivências.

Ccastanho disse...

https://youtu.be/CsuHTuRQVb8?feature=shared

Um Jeito Manso disse...

Consegue-se sentir. Por vezes ela é bem palpável.

Um Jeito Manso disse...

Enquanto escrevo estou com os vidros abertos (com rede mosquiteira!) e ouço os sons da noite (e o silêncio). Mas madrugar... isso não consigo. Mas, quando acordo, ouço os passarinhos. E tem graça o que diz. Tenho amigos caçadores e eles falam sempre da magia do amanhecer, da liberdade dos campos, da maravilha que é esperar a caça. Talvez eu gostasse de partilhar essa experiência em tudo menos na parte de disparar e matar animais. Embora reconheça como natural, e, portanto, não o condeno, a verdade é que, neste momento, isso perturba a minha natureza....

Um Jeito Manso disse...

Muito bonito. Não conhecia. Obrigada.