Hoje voltámos à clínica veterinária pois assim tinha ficado combinado há uma semana.
Mal entra na sala de espera, vindo à trela pela mão do meu marido, o doguezinho-mais-fofo dirige-se para junto de mim, para se sentar entre as minhas pernas. Sempre assim foi. Quando tem medo, procura o meu conforto. Fica ali, meio escondido, sentindo-se protegido por mim.
Mal me sentei, pareceu-me ouvir um choro. Só de pensar no que estará a acontecer, fico de rastos. Perguntei ao meu marido: 'Não estás a ouvir chorar?'.
Ele confirmou: 'Porra, temos sempre esta sorte'. Contrariei: 'Sempre? Que disparate. Aqui, acho que é a segunda vez. Na outra clínica, outra vez.'. Ele estava incomodado: 'E achas pouco?'.
Claro que não. É horrível. Uma vez que fosse já seria demais.
O choro e os soluços ouviam-se cada vez mais.
Eu ia fazendo festas ao meu fofo que ali estava encolhido, metade debaixo da cadeira, metade entre as minhas pernas. Felizmente não percebe o que se passa.
Na sala de espera, um senhor com ar infelicíssimo. Na cadeira ao lado uma mala de transporte de animais, uma mala bem grande. Mas devia ser de um gato pois não vejo que se transportem cães em coisas assim. Mas não sei.
Passado um bocado, uma das auxiliares saiu do gabinete da médica, amparando uma senhora que tremia de choro, inconsolável, as lágrimas correndo, soluçando. Depois foi buscar-lhe um copo de água.
Quando a senhora já estava sentada ao lado dele, o senhor disse: 'Já sabias que ia acontecer...'. Ela encolheu os ombros ao de leve, como querendo dizer que não era por saber que ia acontecer que se tornava menos doloroso.
Ele também estava com um ar consternado. Passado um bocado, quase a medo, pediu a confirmação: 'Mas.... já aconteceu?'. Ela fez que sim com a cabeça e o choro redobrou.
Ele tentou acalmá-la: 'Então... Vá, bebe água...'. Ela, quase sem conseguir falar, passou-lhe o copo de água: 'Não consigo beber.'
Passado um bocado, com o copo na mão, o homem voltou ao mesmo assunto: 'Mas... já está tudo...?'. A senhora tapou o rosto com as mãos e acenou que sim. Soluçava desconsoladamente.
Só me apetecia chorar. Ou ir consolá-la. Mas sei que, em situações assim, não há consolo possível.
A assistente veio perguntar se estava melhor. Ela não disse nada.
O homem perguntou: 'Já posso pagar?'. A assistente disse que sim. O homem mexeu na carteira da mulher para tirar o cartão. A mulher perguntou se ele sabia o código. Ele respondeu: 'Claro'.
Depois de ter pago, voltou para junto dela e perguntou-lhe: 'Vamos?'.
Ela chorou mais, soluçou. Ele hesitou. Estava comovido. Depois vi que se enchia de coragem para segurar a pega da mala transportadora. A senhora pareceu que ia quebrar de vez.
Foi à frente, a soluçar, sem querer ver.
Ele saiu, atrás dela, em silêncio, com a mala vazia desoladamente na mão.
Quando saíram, olhei para o meu marido. Estava a evitar olhar e não disse nada. Eu também não.
Depois eu disse: 'Para os veterinários isto também não deve ser fácil...'. Ele disse: 'Já estão habituados. Faz parte do trabalho deles.'. Pensei que, de facto, não têm vínculo emocional com os animais. Mas, ainda assim, não deve ser nada fácil.
Quando nos chamaram, o nosso cãomaisfofo não queria ir. O meu marido teve que puxá-lo com toda a força. Foi a deslizar, recusando-se a andar.
Felizmente está bem melhor mas ainda vai usar o colar isabelino até ao fim de semana, até estar tudo bem cicatrizado, não fosse ele pôr-se a coçar-se ou a lamber aquela zona ainda fragilizada. Mas, lá em cima da marquesa, não rosnou, não tentou morder a veterinária, esteve relativamente tranquilo.
Quando saiu de lá, veio encostar-se a mim, a dar ao rabo e, já todo aliviado, a olhar para mim. Fiz-lhe festas e elogiei-o: 'Muito lindo, portou-se muito bem, a dona está muito contente, muito, muito. Menino lindo.'. O rabinho a dar a dar, todo ele orgulhoso pelo seu comportamento.
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Entretanto, como depois de ter falado deste momento tão triste não me apetece falar de outras coisas, limito-me a partilhar um vídeo que me pare tocante.
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