domingo, outubro 09, 2022

Este meu sábado de outono

 


De manhã fomos à segunda aula de comportamento canino. Tranquilo, cordato (refiro-me à fera; mas o professor também é assim). O urso felpudo já interiorizou que o professor não vai atacar-nos e, portanto, já o cooptou. O prof. goza connosco, diz que o seu aluno vai ficar a gostar mais dele do que de nós. Eu já não digo nada. De tpc, mais técnicas, mais tácticas e estratégias para praticarmos, por nós, nos próximos quinze dias.

Depois da aula, passeámos no parque, visitámos outro jardim -- um lindo jardim de um palácio --, e regressámos. No caminho, pensámos que, em vez de comermos a comida que lá tínhamos em casa, melhor faríamos se fossemos buscar uma daquelas maravilhosas pizzas de forno de lenha. Bem o dissemos, melhor o fizemos.

De tarde, deitei-me no sofá do terraço e estou convencida que adormeci instantaneamente. Agora há moscas por todo o lado, incomodativas como melgas. Pois o sono foi tão profundo que nem dei por elas. Um calorzinho bom, absurdo para esta época do ano. De chuva nem sinais. Em pleno outubro, vestida à verão, dormi uma bela sesta ao ar livre.

Quando acordei, retomei  'O acontecimento'. 

Lá está: se calhar isto é literatura. Não há palavras caras, não há jogos de palavras ou de estilo, não há enredos do caraças. Nada. tudo simples. Há apenas uma escrita pessoal, sincera, tão pessoal e tão sincera que chega a ser íntima e que, de forma discreta, como se nada fosse, nos vai mantendo presos. 

Aos meus pés, dormia o meu amigo cabeludo. De vez em quando, levantava-se e ia pegar-se com o do lado que também se pica com este. Estão separados por um muro mas, totós como fingem ser, portam-se como se um pudesse invadir o território do outro.

Passado um bocado chegou o meu marido que provavelmente tinha estado a dormir na sala, quiçá enquanto via algum jogo de futebol.

Fomos, então, para a parte da frente do jardim para os trabalhos que tínhamos em carteira. A casa tem ali, naquela zona, pouca luz. Quando chegamos à noite, se não tivermos deixado a luz acesa, não é fácil. Muitas vezes tenho que ligar a lanterna do telemóvel. O meu marido recusa-se a fazer buracos nas paredes da casa para pendurar novos candeeiros ou a fazer puxadas de electricidade ou seja o que for que lhe dê mais trabalho. Ele diz que não é isso, até se ofende com a minha insinuação, que não quer é desfear a casa. Se calhar, é mesmo e, verdade, verdadinha, não lhe tiro a razão. Por isso, não quer instalar daqueles projectores com sensores de movimento nem quer substituir os candeeiros que lá estão a menos que tenham furação compatível, o que ainda não encontrámos. Mas tudo bem: se não tens cão, caça com gato ou se, te dão limões, faz limonada. Ou coisa do género. Pensámos, pois, que, nesse caso, partiríamos para o capítulo seguinte: luz solar. 

E, então, andámos a ver onde pendurar os projectores e as demais iluminações que comprámos no outro dia em sítios que apanhem sol e em que os pudéssemos prender com arame (na vedação, na armação metálica em volta de uma janela por onde cresce uma trepadeira, no tubo que está na esquina da casa e que desce do algeroz, etc). Não foi fácil. Nem sempre concordamos com a abordagem, com o processo ou com a perfeição da obra. Além do mais, nestas coisas o meu marido prende-se a minudências que não lembram ao careca (no pun intended) como não querer que eu corte o arame verde pois acha que não puxo com o cuidado devido, posso enleá-lo, ou refila porque, segundo ele, corto bocados demasiado grandes e não apenas no tamanho necessário. Depois eu quero mais acima mas, para lá chegar, só com a escada grande e pesada que está na garagem e ele não quer, diz que não é preciso ser tão acima, e eu acho que tem que ser. Visto de fora não sei se não parecemos os marretas. 

Estivemos ainda a pôr uns arames a partir de uma rede para ver se a glicínia se orienta por ali, criando um túnel florido no corredor lateral, e estivemos a puxar umas guias gigantes que já vão pelos ares no jardim da vizinha para ver se seguem estas novas orientações.

A seguir, já ao fim da tarde, fomos fazer uma caminhada alargada. Gosto de caminhadas longas, sem pressa, gosto de ver as casas ao fim do dia, as luzes já acesas, gosto de ver os jardins já com ar de outono, alguns muros cobertos por vinha virgem, linda, rubra. Há plantas que exalam um perfume agradável, doce, bem aventurado. Não sei quais são mas creio que ainda haverei de descobrir.

Regressámos já de noite. 

E, milagre, as luzinhas já estavam acesas! Não estávamos à espera pois mal apanharam sol. Fiquei surpreendida e contente. O jardim iluminado, os sensores de movimento em acção, tudo funcional e bonito. O meu marido também gostou, notei isso. Por mim punha mais umas luzinhas mas ele é conservador, diz que não é natal para enfeitar o jardim com luzes. Seja. (Também já não falta muito para o natal).

Aliás, ontem, quando estava no shopping, ao passar pelo Gato Preto nem queria acreditar: árvores de natal, pais natal, presépios. Pensei: já estamos no natal. Entrei para me certificar de que não estava a ter visões (e, confesso, para ver se havia algum presepiozinho pequenino, fora da caixa, daqueles que não têm nada a ver, de que gosto). Saí sem figurinhas mas com a sensação de que o tempo anda acelerado e que a vida mal consegue acompanhá-lo.

Tirando isso, o que sei é que já é domingo. 


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E agora vou partilhar um vídeo que acho o máximo, uma daquelas coisas que me enche as medidas. Vejam bem e, se vos apetecer, aproveitem também para dançar. É do caraças. E tem um final feliz.

Haute saison com Gordon Tracks & Giorgio Poi, dirigido por Natalie Portman e produzido por Rob & Jack Lahana


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Desejo-vos um feliz dia de domingo
Saúde. Sorte. Afecto. Boa sorte. Paz.

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