A noite da véspera para o dia não foi extraordinária: uma ventania que fazia um rugido cavo que nos entrava pela janela. Durmo com o vidro aberto, acho que durmo melhor se sentir o ar frio a vir de fora e eu quentinha entre lençóis. Mas a chuva e o rugido do vento eram fortes demais. Poderia ter-me levantado e fechado a janela? Sim, poderia. Mas não me apeteceu.
Talvez também pelo vento mas, certamente, também pela excitação de termos novos habitantes cá em casa, o urso peludo também dormiu mal. Mas, enquanto eu, quando não durmo fico quieta e calada no meu canto, a fera cabeluda não senhor, tenta acordar toda a gente. É ele e o dono. Para mal dos meus pecados, fazem sempre de tudo para eu perceber que estão acordados e a quererem companhia. Maçadores.
O dia foi muito bom. Não começou exactamente muito bem pois de manhã houve uma falha de energia que fez perigar o programa de festas. Ter um monte de janelas e serem todas eléctricas é daquelas que não se recomenda: estores corridos e sem electricidade é do mais frustrante que há. O meu filho já punha a ideia de irmos fazer o Natal em casa dele. Mas sou pessoa de fé. Por isso, depois de termos tomado o pequeno almoço quase às escuras, fui preparando os comes à luz das velas enquanto a minha filha foi buscar a avó e ajudá-la a fazer o teste.
E, entretanto, veio a electricidade e tudo se compôs. Ganhei novo ânimo, palavra. E começaram a chegar os restantes convivas.
Para entrada, tínhamos tostas com queijo fresco e salmão, tábua de queijos, tábua de carnes frias.
A minha mãe trouxe mini quiches: umas de frango e espinafres, outras de frango e cogumelos. E quiches normais, das grandes.
Eu fiz timbales, uns de bacalhau e outros de salmão. Uns com puré de batata, puré de abóbora e cenoura, grão, ovo cozido, e outros com puré de batata, espinafres crocantes, pouco grão, ovo cozido e todos com pão tostado grosseiramente picado por cima.
O meu filho fez uma deliciosíssima e maciíssima porchetta que esteve seis horas no forno e ficou suculenta, e que acompanhou com um saboroso molho de tomate com ricotta.
Portanto, gordices que me sabem pela vida mas que me devem acrescentar cinquenta quilos aos duzentos que devo estar quase a alcançar.
E jogámos ao joker, equipas mistas, os meninos a fazerem um chinfrim que quase fazia saltar a tampa da moleirinha à minha mãe.
E o cão correu atrás dos meninos e os meninos atrás do cão e os rapazes jogaram futebol na play station e a minha menininha mais fofa e mais linda encantou-se com o presente hand made por uma amiga da tia, presente delicado e amoroso feito especialmente para ela.
A árvore de Natal tinha as luzinhas a piscar e a lareira crepitava e o ambiente estava caloroso e feliz.
À noite, depois da jornada festiva, dividiu-se a comida por todos e ainda me sobrou o suficiente para ter esperança de quase não precisar de fazer nada nos próximos dias. Sou uma mulher de fé, já o confessei.
Saíram todos carregados com os presentes recebidos e com a marmita.
O urso felpudo também foi. Quando regressámos, mal entrou em casa atirou-se para o chão, logo ali mesmo, em pleno hall. Estava KO, completamente KO. Não apenas dormiu muito menos de noite do que é costume como não pregou olho durante o dia, ao contrário do que lhe é costume. Espero que esta noite durma a noite inteira, se seguida, de preferência até às dez e tal da manhã a ver se eu faço o mesmo.
E é isto. O Natal de 2021 já se foi. O que vale é que agora tenho o dia seguinte para rebater. Se tivesse que ir trabalhar é que era pior. Assim, sendo domingo, está perfeito.
E para o ano há mais. Tomara que se possa estar à vontade, marimbando-nos para a covid: um convívio mais alargado, todos à volta da mesma mesa, todos perto uns dos outros. Assim, em mesas separadas por agregados familiares, fica estranho. É certo que as mesas estão na mesma sala e nos vemos e ouvimos uns aos outros e conversamos de mesa para mesa e levantamo-nos e vamos ao pé uns dos outros. Mas não é a mesma coisa.
Seja como for, estamos bem de saúde, bem dispostos e isso é que interessa.
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E agora, para terminar os festejos do dia, os muito crentes que me perdoem mas irreverência é fundamental.
Por isso, recebam com um sorriso e o vosso melhor aplauso... o Mágico do dia
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