Então é assim: com a excitação e a vontade de estar ao pé da família que está cá de pernoita, a fera saltou duas vezes a barreira que separa a cozinha da sala e apareceu ao pé de nós. Como não há porta, o meu marido pôs a tábua mais larga que encontrou no Leroy, com 60 cm de altura a servir de barreira. Para prender a tábua, encostou uma mesa de cabeceira. Para ele não empurrar a mesa de cabeceira, encostou o saco de 15 kg de ração.
Ganiu, ladrou, empurrou aquilo, fez de tudo até que conseguiu. Saltou por cima de tudo..
O meu marido já está deitado, irritado por não termos ficado em silêncio quando deitámos a fera. Acha que foi a nossa falta de cuidado que provocou isto. Portanto, não quis levantar-se, que resolvêssemos nós.
A seguir, não o conseguíamos atrair para a cozinha nem por mais uma. Levámos um pau. Nada. Tentámos o engodo do biscoitinho. Nada. Chamámos, nada. Pôs-se deitado no corredor, sem se mexer.
Até que abri a porta da cozinha para a rua, bati, disse: 'Escuta! Quem é?', coisa que o costuma alertar. Nada. Até que a minha filha se pôs a ladrar a fingir que era um cão que estava ali. Enganou-o. Aproximou-se mas com um olho no burro e outro no cigano. Eu raspei-me e ficou lá ela, sem saber como se pirar sem que ele viesse atrás. Então resolveu ficar lá a adormecê-lo. Sentou-se no chão e ficou a fazer-lhe festas.
Apareceu agora. Diz que já estava com o rabo frio, ali sentada no chão. Esperou até que ele adormecesse, veio quase de gatas até que se aproximou da porta e saiu. E so far so good. Dá ideia que finalmente ficou sossegado. É uma e picos da manhã.
Eu sei, eu sei. Devia era estar a dormir na casota na rua. Mas a verdade é que já é como se fosse da família, toda a gente gosta de lhe fazer festas e de brincar com ele, dá pena deixar o pobre coitado ao relento. Ainda por cima, agora que está frio e chuva pareceria uma maldade sem explicação fazermos-lhe isso.
Mas provavelmente um dia teremos que nos deixar de mimo, mi-mi-mi, e habituarmo-nos à ideia que um cão destes é para ser cão de guarda, não um lulu amaricado e truculento.
Enfim. Cão à parte. Tivemos o jantar de consoada, fizemos a troca de presentes, arrumámos a cozinha, estivemos à lareira. Dei uma massagem nas costas e na cabeça de um dos meninos e ele retribuiu. Tão bom. Estão enormes, são alegres e sempre boa companhia.
Amanhã juntar-se-nos-á o resto da família mais chegada. É uma chatice este mau tempo que nos obriga a estar dentro de casa. Mas fizemos o teste, está tudo negativo. E, que remédio, andamos de máscara excepto quando comemos. As refeições são tomadas em mesas separadas por agregado familiar. Enfim, temos os cuidados possíveis.
Já é tarde e chove.
Parece que ainda ouço os meninos na conversa. Devem estar a falar das tshirts das equipas de futebol, das chuteiras, das cartas e dos jogos que receberam ou, então, estão a engendrar processos mais seguros para impedir que o urso felpudo escape da cozinha.
E eu, com vossa licença. vou dormir que o dia de Natal já aí está a caminho.
2 comentários:
... e pronto a noite da consoada acabou. Ficam-nos as conversas, o entusiasmo dos mais novos com as prendas, o sorriso da prenda ideal, mas tambem a desilusão da prenda descabida. Para o ano haverá mais. Oxalá.
Para si e familia um bom dia de Natal, com tudo que alegra a vida saude risos, conversas boas e comidinha saborosa.
Boas Festas UJM. :)
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