sábado, dezembro 25, 2021

Breve crónica de uma consoada com um escapista felpudo dentro

 


Então é assim: com a excitação e a vontade de estar ao pé da família que está cá de pernoita, a fera saltou duas vezes a barreira que separa a cozinha da sala e apareceu ao pé de nós. Como não há porta, o meu marido pôs a tábua mais larga que encontrou no Leroy, com 60 cm de altura a servir de barreira. Para prender a tábua, encostou uma mesa de cabeceira. Para ele não empurrar a mesa de cabeceira, encostou o saco de 15 kg de ração. 

Ganiu, ladrou, empurrou aquilo, fez de tudo até que conseguiu. Saltou por cima de tudo..

Agora, por sugestão dos meninos, pusemos a mesa de cabeceira em cima de uma banqueta e, para evitar que salte pelo intervalo entre a mesa de cabeceira e a parede, encostámos uma cadeira virada de costas.

O meu marido já está deitado, irritado por não termos ficado em silêncio quando deitámos a fera. Acha que foi a nossa falta de cuidado que provocou isto. Portanto, não quis levantar-se, que resolvêssemos nós.

A seguir, não o conseguíamos atrair para a cozinha nem por mais uma. Levámos um pau. Nada. Tentámos o engodo do biscoitinho. Nada. Chamámos, nada. Pôs-se deitado no corredor, sem se mexer.

Até que abri a porta da cozinha para a rua, bati, disse: 'Escuta! Quem é?', coisa que o costuma alertar. Nada. Até que a minha filha se pôs a ladrar a fingir que era um cão que estava ali. Enganou-o. Aproximou-se mas com um olho no burro e outro no cigano. Eu raspei-me e ficou lá ela, sem saber como se pirar sem que ele viesse atrás. Então resolveu ficar lá a adormecê-lo. Sentou-se no chão e ficou a fazer-lhe festas.

Apareceu agora. Diz que já estava com o rabo frio, ali sentada no chão. Esperou até que ele adormecesse, veio quase de gatas até que se aproximou da porta e saiu. E so far so good. Dá ideia que finalmente ficou sossegado. É uma e picos da manhã.

Só visto. Este urso felpudo é uma coisa, um desatino... 

Eu sei, eu sei. Devia era estar a dormir na casota na rua. Mas a verdade é que já é como se fosse da família, toda a gente gosta de lhe fazer festas e de brincar com ele, dá pena deixar o pobre coitado ao relento. Ainda por cima, agora que está frio e chuva pareceria uma maldade sem explicação fazermos-lhe isso.

Mas provavelmente um dia teremos que nos deixar de mimo, mi-mi-mi, e habituarmo-nos à ideia que um cão destes é para ser cão de guarda, não um lulu amaricado e truculento.

Enfim. Cão à parte. Tivemos o jantar de consoada, fizemos a troca de presentes, arrumámos a cozinha, estivemos à lareira. Dei uma massagem nas costas e na cabeça de um dos meninos e ele retribuiu. Tão bom. Estão enormes, são alegres e sempre boa companhia.

Amanhã juntar-se-nos-á o resto da família mais chegada. É uma chatice este mau tempo que nos obriga a estar dentro de casa. Mas fizemos o teste, está tudo negativo. E, que remédio, andamos de máscara excepto quando comemos. As refeições são tomadas em mesas separadas por agregado familiar. Enfim, temos os cuidados possíveis. 

Para o jantar fiz bacalhau com todos e, porque os meninos não são muito dados a bacalhauzadas, fiz uma coisa de que gostam sempre: empadão com puré de batata normal, batata doce e cenoura e, de carnes, novilho dos Açores, rojões de porco, lombo de frango e um pouco de chouriço de Seia que estufei em cerveja, com cebola, alho francês, salsa, louro e azeite. Depois de estufado, triturei, misturando três claras, e deixei mais um bocado ao lume, mexendo. Num tabuleiro largo, coloquei uma camada de puré, a carne, depois o puré. Depois espalhei três gemas de ovos e enfeitei com bacon e rodelas de chouriço. Foi ao forno a alourar. A minha filha fez fudge de chocolate que estava óptimo. Eu tinha broinhas com doces de ovos e ela trouxe também requeijão (creio que de cabra) e doce não reparei de quê mas que era bom. 

Já é tarde e chove. 

Parece que ainda ouço os meninos na conversa. Devem estar a falar das tshirts das equipas de futebol, das chuteiras, das cartas e dos jogos que receberam ou, então, estão a engendrar processos mais seguros para impedir que o urso felpudo escape da cozinha.

E eu, com vossa licença. vou dormir que o dia de Natal já aí está a caminho.


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Estes esquilos estão aqui apenas porque são daquelas graças da natureza que enternecem qualquer um. 

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Desejo-vos um dia de Natal tão bom quanto possível. 
Se não é grande coisa também não é grave, é só um dia. Se é bom é aproveitá-lo.

Peace and love

2 comentários:

  1. ... e pronto a noite da consoada acabou. Ficam-nos as conversas, o entusiasmo dos mais novos com as prendas, o sorriso da prenda ideal, mas tambem a desilusão da prenda descabida. Para o ano haverá mais. Oxalá.

    Para si e familia um bom dia de Natal, com tudo que alegra a vida saude risos, conversas boas e comidinha saborosa.

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