domingo, janeiro 12, 2020

O homem lobo


Na sexta à noite, ao atender o telemóvel, apareceu-me o bebé a dizer que iam ao lugar que, entre nós, tem outro nome, o nome da quinta, mas a que aqui chamo heaven. Escusado será dizer que é para todos na família um lugar especial e os meninos, ainda mais, adoram lá estar. 

Por isso, este sábado era para ser passado com eles. Contudo, manhã cedo, já estava a chegar uma mensagem a dizer que justamente o bebé de noite tinha estado com febre e estava doente e, por isso, o programa ficava sem efeito. Estivemos lá, fizemos o que tínhamos a fazer, descansámos e, ao fim do dia, passámos pelos meus pais e agora estamos em casa do meu filho. Foram jantar fora com amigos e pediram se poderíamos jantar com os miúdos. Claro que sim. Mais lindos. 

Agora já dormem.

Há bocado, estávamos nós dois aqui no sofá, pareceu-me ouvir uns sons vindos do quarto deles. Ao levantar-me para ir ver, sem querer, apoiei-me num comando que estava debaixo da almofada. Não faço ideia em que botão carreguei mas a televisão ficou sem imagem e apareceu uma coisa a dizer nem sei o quê. Não conseguimos tirá-la dali.

Portanto, agora, na sala e sem televisão, em silêncio, o meu marido já dorme e eu para lá caminho. Mas creio que devem estar quase a chegar pelo que acho melhor não me encostar senão chegam eles e dão connosco ferrados, a dormirmos como se não houvesse amanhã.

Não tenho aqui comigo a máquina fotográfica pelo que não posso ver as fotografias, aproveitando o ensejo para falar de como estava lindo e bom por lá, in heaven.

Ou seja, na ausência de melhor e incapaz de falar da guerra quiçá intestina no PSD pois não tenho conhecimentos para perceber qual deles é o grosso e qual o fino e qual o outra coisa qualquer, resolvi entregar-e nos braços do meu bff, o algoritmo do YouTube. E pimbas: bingo. Sabendo como me fascinam os lobos, apresentou-me o vídeo abaixo. O homem-lobo.

Ainda gostava de saber qual o retrato robot que o dito algoritmo faz de mim. Acerta sempre no que me sugere mas é uma tal miscelânea de coisas.

E qual será o retrato que vocês aí desse lado fazem de mim?

Ainda hoje um Leitor escreveu que ousadia não me falta. A querida Luísa escreveu-me dizendo que continuo a agitar as águas. No outro dia, houve quem achasse que eu me tinha passado mas também quem desejasse que eu continuasse como sou. Provavelmente sou um mix de tudo o que acham de mim. Mas uma coisa é certa: como sou como sou, sem me forçar a parecer ser uma coisa diferente da que sou, dificilmente conseguiria passar a ser uma coisa distinta. Por isso, mesmo que uns me achem assim e outros o contrário, acho que a minha maneira de ser não se altera para tentar agradar a gregos e troianos. Estou habituada a não me disfarçar, não me coibir, não me exibir. Mas, a sério, não sou tema que me interesse. Quando falo de mim aqui é mesmo por falta de assunto ou porque eu sou eu e é a partir de mim que as ideias nascem, que as opiniões se formam. Isto, claro, recebendo inputs do exterior, mas depois é na minha cabeça que os inputs se misturam, que as ideias se processam e que as opiniões se formam.

Bem. Ando aqui às voltas notoriamente para me manter acordada. Às tantas mais valia que me pusesse a falar daqueles maçadores do PSD que ainda não perceberam que não estão com nada -- leite condensado fora de prazo, batatas greladas, laranjas bolorentas, cebolas recozidas e molengonas.  Nenhum deles pode conduzir o país para a modernidade. Não dá. São gente datada, limitada, uma seca.

Ou podia era pôr-me a falar da Joacine, essa promessa que levou muitos eleitores a acharem que, votando nela, o PS ficaria apeado, longe da maioria, dependente das boas graças alheias -- e a vida seria bem melhor à superfície da terra. Um flop. Mas vou dizer o quê da Joacine? Que tudo o que ela faz é de dar dó? Não vou fazer isso. A única deputada do Livre agora, pelos vistos, nem da direcção do partido será. Fica como já está, para ali num canto, ar de sono, enfastiada, ar de diva incompreendida. Portanto, nada a dizer. É um custo que temos que suportar... e coração ao largo. Há piores males.

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Entretanto, já estou em casa e a minha vontade é fazer a agulha -- ir ver as fotografias e/ou falar aqui de outra coisa -- mas também me parece disparatado apagar isto e começar de novo. Até porque também estou aqui com outra em mente e a ver se me aguento acordada para lá chegar. Portanto, que se abeire o homem que vive como um lobo.


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Tinha ideia de escolher fotografias de lobos para aqui colocar junto ao texto mas depois achei que deveria era ter uma imagem daquilo que sou: uma jovem inocente que apenas tem pensamentos profundos e piedosos e que, por inexplicáveis razões, tem fascinio por lobos (e por tigres azuis). Pelo menos é assim que gostava de alguma vez ter sido, ainda que apenas momentaneamente. Para conhecer the taste of it, sabem. Bem, jovem de idade já fui. De cabeça, acho que também ainda sou. Pelo menos, sinto-me mas, sabido é, água benta cada um toma a que tem. E a outra coisa também. De pensamentos piedosos e profundos é que nem tanto.

A beldade ingénua é Lily Cole em "Like a Painting" por Miles Aldridge para a Vogue Italia, já lá vão mais de dez anos. Ou seja, por esta altura também já deve ter perdido a inocência.

(Sinceramente, não estou certa de que faça sentido ter aqui estas belas fotografias mas ainda mais sinceramente, já estou mais a dormir que outra coisa.)

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E a todos desejo um belo dia de domingo.

2 comentários:

Anónimo disse...

O algoritmo do youtube nunca me surpreende. Só me faz recomendações por fases: se vejo um sketch antigo do Mr Bean, mil e um Mr Beans de recomendação. Se vejo um bailado, mil e um bailados. Se vejo um porquinho doméstico (como eu gostava de ter um porco de estimação!), mil e um porquinhos. Acho que o youtube me considera muito básica, incapaz de ver videos sobre mais de um tema ao mesmo tempo. Se calhar sou eu que dou pouca amostra e o coitado faz o que pode para me agradar.
Abraço,
JV

Um Jeito Manso disse...

Olá JV,

Para já, presumo que a pesquisa tenha que estar associada a alguma identidade (ou utilizador google ou IP do computador) pois sem esse elemento agregador não terá como traçar um retrato. Presumo que depois vá sendo traçado o perfil de gostos através das pesquisas ou do interesse que essa 'identidade' demonstra nas sugestões. Provavelmente, como faço pesquisas heterogéneas, me apareçam vídeos que consegue surpreender-me e a que nunca chegaria por pesquisas minhas.

Por isso, para mim, o YouTube é hoje uma fonte quase interminável de motivos de interesse.

Gostei de revê-la por aqui. Este ano, já lhe desejei um glorioso ano novo? Pelo sim, pelo não, aqui vai de novo: tudo de muito bom para si, JV!