No post abaixo mostro imagens de grande beleza: rostos que nascem de paredes abandonadas, olhares tristes que nascem da destruição de muros.
Mais abaixo conto a anedota da mulher e do macaquinho.
Mas isso é a seguir. Aqui, agora, a conversa é outra.
As notícias falam da contestada escolha do futuro Comissário Jean-Claude Juncker (que, no entanto, por imperfeito que seja, será certamente melhor que o cherne que lá está); falam do Grupo Espírito Santo, antes tão sobranceiro de tradição e poderio, um colosso que todos os dias abre mais brechas, que nos aparece em ruínas, envolto em intrigas, falcatruas, ameaçando abrir nova crise num tecido económico e financeiro frágil como é o português; e falam ainda das lutas sem remissão em volta da liderança do PS. E ontem tinha lido que o patriótico merceeiro Alexandre Soares Santos do Pingo Doce, conhecido paladino da moral e dos bons costumes, ameaça tirar a sua sede de Portugal se não lhe derem aquilo que pretende. E vou lendo outras coisas. Guerras terríveis por esse mundo fora. E raptos. E vinganças. Não leio até ao fim, tento poupar-me. Sei que não conseguirei resolver nada: para quê atormentar-me? Mas a ira e o sangue vão abrindo pequenas fissuras dentro de mim.
Bird Gerhl, uma vez mais
Procuro, então, notícias ligadas à arte, à literatura, à ciência. Alienação, sim. Ou instinto de sobrevivência da minha parte, criatura egoísta.
Até que começo a ler sobre missões espaciais, satélites que gravitam em volta de planetas, cientistas que interpretam sinais ténues e remotos. Deixo-me deslizar, preguiçosa, sem querer perceber bem o que leio, deixo-me ir embalada pelo imenso azul do espaço que nos cerca. I'm a bird girl.
Depois leio que a terra está a perder o seu magnetismo.
Sorrio. Se a Terra perder o magnetismo, as pessoas também o perderão?
(Se eu perder o meu magnetismo, perderei o sal que alimenta a minha vida.)Mas o que significa a terra perder o magnetismo? Cai no imenso espaço sideral? E com a terra, cairemos todos nós, soltos no infinito como se indefesos caíssemos num imenso precipício?
Começo por nem perceber se há razões para alarme, se é apenas algo que pode acontecer daqui por muitos mil anos.
Leio no site brasileiro Terra: Os primeiros resultados da missão Swarm, o grupo de três satélites lançados em novembro pela Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês), confirmam a tendência geral sobre o enfraquecimento do campo magnético terrestre.
Segundo asseguraram nesta quinta-feira os responsáveis do projeto em uma conferência organizada pela ESA em Copenhague, o enfraquecimento é maior no hemisfério ocidental, embora em outras áreas como o Índico sul aconteceu o fenómeno contrário
Numa notícia anterior leio: A única coisa que evita que a Terra tenha um ambiente sem vida como Marte é o campo magnético que nos protege da radiação solar letal e ajuda alguns animais a migrarem, e ele pode ser muito mais frágil do que se imagina. Cientistas afirmam que nosso campo magnético está ficando mais fraco e pode praticamente desaparecer em 500 anos, antes de fazer uma reversão completa.
(...) "Com o campo enfraquecido [em Marte], o vento solar foi então capaz de arrancar a atmosfera e também houve um aumento da radiação cósmica chegando até a superfície", disse ele. "Essas duas coisas seriam má notícia para qualquer vida que possa ter se formado na superfície - ou a extinguindo ou forçando a sua migração para o interior do planeta."
(...) Na natureza, os animais que utilizam o campo poderão ficar bastante confusos. Pássaros, abelhas e alguns peixes usam o campo para navegação, assim como as tartarugas marinhas, cujas longas vidas, que facilmente podem ultrapassar um século, indicam que uma geração poderia sentir os efeitos.
Os pássaros poderão superar o problema, porque estudos mostram que eles têm sistemas que se fiam nas estrelas e em marcos terrestres, incluindo estradas e linhas de energia, para encontrar o seu caminho.
Continuo as minhas pesquisas, quero saber se corro o risco de ficar sozinha num planeta desolado, na companhia de pássaros tão tristes e sozinhos como eu. Leio um outro site brasileiro que explica:
Se a Terra não tivesse campo magnético, nosso planeta ficaria totalmente exposto à radiação nociva do Sol e as temperaturas seriam muito mais frias. A atmosfera seria muito rarefeita e a água líquida deixaria de existir na superfície. Ela congelaria ou evaporaria devido à falta de pressão atmosférica para mantê-la líquida. A vida como a conhecemos também não existiria.
Em outras palavras a Terra seria idêntica ao planeta Marte. Marte é o maior exemplo do que acontece com planetas que não têm campo magnético. Esfriam, a água líquida deixa de fluir na superfície, o solo fica estéril e começa a enferrujar ficando com uma coloração avermelhada. Se a Terra perdesse seu campo magnético, ao longo do tempo, o Sistema Solar poderia ter dois planetas vermelhos.
O que gera o campo magnético é o núcleo. Se ele não gira o bastante para criar a corrente elétrica, então quase tudo o que mantém o planeta funcionando entra em colapso. Não há mais movimento de placas tectônicas ou vulcões ativos e assim a atmosfera vai ficando mais rarefeita. As plantas morrem com a radiação e assim o oxigénio desaparece e todo o resto morre.
Não sei o que pensar. Num longínquo futuro, trevas, o infinito nada, a desolação mais absoluta.
À luz destas palavras, a reacção do Tozé parece-me ainda mais imatura e ridícula, as inacreditáveis irregularidades e a estrondosa fuga para a frente (que é sinónimo de fuga em direcção ao precipício) da ex-poderosa família Espírito Santo parecem-me ainda mais absurdas, todas as guerras parecem ainda mais destituídas de sentido. Os senhores dos mercados e das baixas politicas esquecem-se de que a vida é efémera e sujeita a factores que nós, frágeis humanos, não controlamos. Talvez os pólos terrestres se desloquem, os pássaros percam o norte, os ponteiros das bússolas entrem em desvario. Talvez um dia, os ventos comecem a soprar tão fortemente que arranquem todas as árvores, derrubem todas as casas, nos levem pelos ares, talvez uma chuva cósmica comece a tombar sobre os despojos, talvez os rios sequem, as pedras se desintegrem. Talvez todos os livros escritos durante séculos sejam convertidos em pó, todas as obras de arte sejam varridas da superfície deste frágil planeta. Talvez sobre apenas uma solidão silenciosa. Não sei. Talvez isso aconteça daqui por tantos anos que nem consigamos sentir preocupação.
O que sei é que, por via das dúvidas, na esperança de que os pássaros se salvem, vou colocar as minhas asas e vou já sair por esta janela, voando. Vou procurar outros pássaros como eu. E vou esperar que, como pássaro, conserve ainda o meu poder de magnetismo pois não quero voar sozinha nem quero deixar-me cair em desolados abismos.
O artigo é bastante interessante e tem vídeos elucidativos que recomendo. Pôr as coisas em perspectiva é sempre um belo exercício de humildade.
Não sei o que pensar. Num longínquo futuro, trevas, o infinito nada, a desolação mais absoluta.
À luz destas palavras, a reacção do Tozé parece-me ainda mais imatura e ridícula, as inacreditáveis irregularidades e a estrondosa fuga para a frente (que é sinónimo de fuga em direcção ao precipício) da ex-poderosa família Espírito Santo parecem-me ainda mais absurdas, todas as guerras parecem ainda mais destituídas de sentido. Os senhores dos mercados e das baixas politicas esquecem-se de que a vida é efémera e sujeita a factores que nós, frágeis humanos, não controlamos. Talvez os pólos terrestres se desloquem, os pássaros percam o norte, os ponteiros das bússolas entrem em desvario. Talvez um dia, os ventos comecem a soprar tão fortemente que arranquem todas as árvores, derrubem todas as casas, nos levem pelos ares, talvez uma chuva cósmica comece a tombar sobre os despojos, talvez os rios sequem, as pedras se desintegrem. Talvez todos os livros escritos durante séculos sejam convertidos em pó, todas as obras de arte sejam varridas da superfície deste frágil planeta. Talvez sobre apenas uma solidão silenciosa. Não sei. Talvez isso aconteça daqui por tantos anos que nem consigamos sentir preocupação.
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O Daily Mail avisa: Forget global warming, worry about the MAGNETOSPHERE: Earth's magnetic field is collapsing and it could affect the climate and wipe out power grids
O artigo é bastante interessante e tem vídeos elucidativos que recomendo. Pôr as coisas em perspectiva é sempre um belo exercício de humildade.
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O vídeo lá em cima é Bird Girl numa fantástica interpretação (como são todas) de Antony and the Johnsons
As imagens das coloridas mulheres pássaros referem-se aos anjos da Victoria's Secret.
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Convido-vos a descerem até aos dois post seguintes.
- O primeiro que se segue tem a ver com a arte de Vhils, uma arte diferente e muito tocante.
- O outro é uma anedota que me foi enviada.
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E cheia, cheia, de sono, por aqui me fico por agora incapaz de rever o que acabei de escrever.
O fim de semana volta a ser de encontro e festa. Os caranguejos começaram a atacar.
Desejo-vos, meus Caros Leitores, um bom fim de semana.
1 comentário:
Olá UJM,
Estou em época de provas orais e não tenho tido oportunidade de comentar nada, mas este tema interessa-me sobremaneira.
500 anos? Daqui a 500 anos, pode não haver mais Terra (com vida)? UJM, no problem! Daqui a 500 anos já estamos instalados em estações espaciais fora do sistema solar, já nem precisamos de planetas. Isto da Terra já se viu que não está para durar muito.
E mais: qualquer dia já nem precisamos nem de planetas com água líquida, nem de plataformas espaciais, qualquer dia somos imortais. Sim, imortais. Desmaterializamo-nos. Ficamos armazenados em bases de dados. Será possível captar toda a nossa configuração cerebral (sei lá, as ligações elétricas e mais não sei, enfim, a nossa personalidade, a nossa forma de pensar) e não precisamos de corpos. Esta é a minha grande convicção. Li um livro (aliás, uma saga) de ficção científica - a "saga dos Heechee" - em que isto acontecia e parece-me inteiramente possível. Pode não vir a acontecer, mas parece-me possível. Que loucura: ficamos quase como deuses. Quando isso se tornar possível, não haverá volta a dar: algumas pessoas poderão preferir agarrar-se à sua vida corporal, morrer fisicamente, para sempre(será possível, depois, fazer delete do nosso eu virtual, não há motivo para não ser possível o suicídio na era virtual), mas quando uma descoberta dessas é feita não há volta atrás.
Abraço,
JV
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