Quando refiro a enorme incapacidade do governo para resolver os problemas do País e a falta de ética com que governa logo vêm os comentadores encartados da direita, seguindo as passadas do chefe-máximo da falta de seriedade democrática (também conhecido por PM), dizer que o pessoal de esquerda "não tem humildade" e que não respeita o voto dos portugueses.
É claro que os portugueses votaram à direita, mas não será por causa disso que não se devem apontar os erros do governo. O governo não resolveu -- e tinha prometido resoluções milagrosas num curtíssimo prazo --, os problemas da habitação, da saúde, da educação, da justiça e do combate aos incêndios que tanto criticaram no tempo do governo PS.
Pelo contrário, nestas áreas, os problemas agravaram-se, como já foi aqui várias vezes referido.
Hoje, por exemplo, com o drama dos incêndios ocorridos nos últimos dias, vi uma notícia na televisão onde o "pintas" do presidente da liga dos bombeiros se reunia com o secretário de estado para falarem sobre a estrutura e os meios de combate aos incêndios. É absolutamente de loucos. Agora que os incêndios alastram no País é que têm estas discussões. Inacreditável -- mas na linha da atuação do governo. Finge que está a resolver os problemas mas, notoriamente, não tem capacidade para antecipar os problemas e para apontar as soluções atempadamente.
A falta de ética do governo, que compara com falta de ética do PM no caso Spinunviva, voltou a atingir o inexplicável patamar já o ano passado alcançado, com a devolução dos valores correspondentes ao 'acerto' de IRS resultante da descida das taxas. O mesmo aconteceu o ano passado. Não se percebe qual o racional que justifica as diminutas taxas dos meses de Agosto e de Setembro, sem relação com as novas taxas a aplicar a partir de Outubro. Mais parece um adiantamento por conta do acerto de IRS a declarar para o ano. Parece-me que só existe um racional possível que se chama comprar votos.
Pode o governo dizer, olhando-nos olhos, que esta 'benesse' não tem nada a ver com as eleições do início de Outubro?
Pode dizer que é diferente, no essencial, do que foi feito pelo Musk na campanha do Trump? Como uma pequena mas significativa diferença: o Musk assumiu publicamente que estava a dar dinheiro para esse fim, enquanto o governo finge que está a devolver dinheiro, "esquecendo-se" de referir que o vai recuperar no próximo anos.
Assim como assim, talvez o descaramento do Musk seja mais transparente.
Em democracia não deve valer tudo. É por isso que devemos apontar os erros do governo e não ficar manietados porque a malta votou â direita. No tempo da ditadura houve sempre "alguém que disse não" e vimos depois do 25 de Abril que, na generalidade dos casos, eram e são pessoas de grande valor. São um exemplo.
6 comentários:
Não é exacto dizer que "os portugueses" votaram.à direita, pelo menos uns 30% dos eleitores não o fizeram e têm o direito de ser representados no parlamento. O sr. pm não gosta mas chama-se a isto democracia
O povo zé, tem o que merece, e para começar merecem-se a si mesmos.
Ontem estava a ver uma reportagem do fogo numa aldeia em são carcalho da malha, e dizia a criatura que o povo está a preparar-se para enfrentar as chamas que já se aproximam bla bla bla. A imagem mostrava uma senhora a puxar a curta mangueira, e ao lado até onde se via, estava mato seco de um metro de altura. Todos os anos é a mesma treta. Eles merecem-se e têm o que merecem, só é pena e como sempre, pagar o justo pelo pecador.
A música anual dos incêndios. Há décadas que o diagnóstico está feito mas chega o Verão e a banda toca a tocar a mesma música no coreto.
Tanto se me dá como se me deu. Desde que não haja vidas perdidas o prejuízo é zero. Limpar o mato não limpam porque fica caro e não há quem faça. Fazer o registo cadastral também não interessa; é uma inutilidade. Seguro contra incêndios também não que aquilo não dá dinheiro. Pôr ordem na plantação de eucaliptos e pinheiros também não porque é o que ainda pode render. Um mal intencionado até poderia concluir que bom mesmo é o fogo se depois for seguido do cheque estatal.
Como muito bem diz, estamos a ser governados por gente sem respeitabilidade política a começar no PM e acaba no PR para já não falar do Presidente da Assembleia da República.
O presidente da liga dos Bombeiros é uma personagem que gosta do poder seja ele qual for. Na ASAE rebentou com metade dos comerciantes arrastando muitíssimas famílias para a miséria, acabou a ASAE virou-se para os Bombeiros, onde houver poder está ele.
É vergonhoso, escandaloso até , que o Marcelo se esconda nos Açores para não dar a cara pelo fracasso do governo nos fogos. Arde metade do país, famílias sem património perdido nos fogos, e Marcelo assobia para o lado de modo vergonhoso. Marcelo é o pior Presidente da democracia, sem um pingo de vergonha política na cara.O povo está farto dele, nem de cebolada o enxergo.
Pela vossa saúde, não deixem de ir de férias... estão mesmo a precisar.
«Agora que os incêndios alastram no País é que têm estas discussões» Toda a razão, evidente. Sinal do pensamento zero na AR. Aqui regressado há dias, um registo de observador externo, antigo, caracteriza a nossa 'nobreza'... «Em português, as palavras são um simples meio de simpatia, ou o seu contrário. As pessoas perdem assim horas em conversas inúteis, só com o fim de garantir a sua estima recíproca…
Uma das particularidades portuguesas: o gosto da pequena polícia, a que mantém relações sentimentais como povo. A sua arte de bisbilhotar, de procurar por trás, de inventar razões e causas, a um tempo teima de funcionário e regressão à inteligência infantil. Ou bem que os portugueses não fazem nada, ou bem que vão até ao último pormenor e, chegados aí, largam tudo como de costume…
Sem endereços e todos com o mesmo nome, obedecendo a dois ou três pequenos princípios, entre os quais o de inventarem títulos...»
Dominique de Roux (1977, Paris)
“O quinto império”
Como não perder assim a fé?
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