Continuo entregue a tarefas comezinhas tais como fazer máquinas de roupa, estendê-la ao sol e ao vento, apanhar brinquedo aqui, coisa acolá. E também a tentar organizar minimamente os meus escritos e isto é, para mim, o pior. Gosto de criar e detesto 'manter' (catalogar, etc).
Dentro do possível, o dia foi, pois, tranquilo. Tenho sempre muito que fazer e quando é criar a partir do nada é um empolgamento; quando é inventariar e arrumar é uma missão que executo com algum sacrifício. De qualquer forma, sou geneticamente esforçada e, por isso, se meto na cabeça fazer uma coisa, eu faço, goste ou não goste. E, além disso, ocupa-me enquanto a minha mente não se ilumina para me guiar no caminho certo.
Com estas ocupações, não sei como, o meu dia esteve sempre preenchido.
Felizmente dormi como uma santa. Dormia mais. Acordei porque fui acordada e também já não eram horas para voltar a cair no sono. A seguir ao almoço e depois de mais uma leva de roupa estendida, deu-me uma pancada de sono mas se caí no limbo da sonolência por uns dez minutos foi muito.
Ainda aqui não disse nada sobre o beijo do Rubiales na jogadora Jeni Hermoso e não disse pois tenho alguns mixed feelings.
Ao ver o beijo, não me senti chocada. Pareceu-me não apenas haver euforia da parte dele como uma grande cumplicidade entre ambos. Que pessoas que se dão muito bem (como ela, depois, disse que davam), num explosivo momento de alegria exuberante e de consagração daquilo que muito desejavam, se beijem momentaneamente na boca não me choca. O vídeo completo mostra um apertado abraço, ele com os pés no ar, ela também exuberante, naturalmente bastante feliz da vida.
Coisa diferente seria se eu tivesse percebido surpresa ou desagrado da parte dela ou se, a seguir, em vez de tê-la ouvido desculpá-lo, tivesse ouvido que não tinha percebido, aceitado ou desculpado aquele beijo. Mas não. Não apenas me pareceu, num momento de grande euforia, o corolário de uma amizade e cumplicidade anterior como, no momento, não a vi minimamente incomodada ou surpreendida com o que se tinha passado.
Já me chocou, confesso, uma imagem que mostraram em que ele, no palco, está na maior explosão de alegria, aos saltos, aos gritos, de braços no ar e, às tantas, tanta a adrenalina, agarra os próprios genitais. Parece coisa de excesso de testosterona, de pico orgástico -- mas, convenhamos, bastante despropositado em público. Aí diria que me parece inaceitável que uma pessoa com a responsabilidade dele tenha uma tão inusitada falta de maneiras. Mas este é um segundo tema e, que eu saiba, não é o que tem estado em causa.
Isto do assédio e do consentimento tem que se lhe diga e tem que ser avaliado por quem tenha os pés no chão, os neurónios a funcionar e um módico de bom senso.
Claro que se houver casos em que comprovadamente ele molestou, moral ou sexualmente, jogadoras ou outras mulheres, ou se fez depender o trabalho delas de cederem aos seus apetites ou caprichos, se foi inconveniente e desagradável causando-lhes incómodo ou pressão, aí as coisas, em minha opinião, mudam de figura.
Agora se foi só aquilo do beijo penso que antes de o crucificarem, queimarem vivo e apedrejarem, deveriam voltar a ouvir a jogadora. Se ela mantiver que são amigos, cúmplices de sonho e ambição, se têm grande confiança e à vontade e que não há nada a dizer sobre o beijo, então, o beijo não me parece caso para o que está a acontecer.
Num caso destes não se põe a questão do consentimento pois não se proporciona parar e pedir: 'Posso dar um beijo?'. É um pico de euforia e ou bem que ambos têm cumplicidade para que isso aconteça ou não.
Quanto à forma como publicamente agarrou os fogosos genitais parece-me, essa sim, muito incomodativa. Não sei se é caso para o sacrificarem publicamente ou se é caso de lesa-majestade mas acho que é, isso sim, caso para severa admoestação.
Quanto a ele, independentemente de tudo, ao ver o sururu que estava a ser criado, e ao ver-se a agarrar os genitais, o que penso que teria sido inteligente teria sido demitir-se. Simplesmente. Pedir desculpa se, com a sua exuberância emocional, tinha incomodado alguém e demitir-se. Tinha evitado muito exagero, muito moralismo, muita falta de bom senso. Tinha evitado ser esmagado, devorado, desonrosamente derretido na praça pública.
PS - Volto a dizer: digo isto apenas pelo que vi pois não o conheço nem faço ideia de como se comporta social, profissional ou sexualmente.
4 comentários:
Concordo!
É uma prática minha ao longo da vida, olhar o mais que posso uma pessoa na primeira vez que a vejo só pela imagem. E normalmente, ( claro que já me enganei) o primeiro juízo, bate certo com o comportamento dessa pessoa.
Há adereços que definem quem os usa. Por exemplo:
- cabeças rapadas; pulseiras de fitinhas no pulso, ou outras de ouro ou prata; tatuagens( essa coisa horrorosa que pegou moda em cabeças descerebradas), e outras coisas mais, quando observo isto numa pessoa, normalmente o juízo é negativo antes até de falar com tal pessoa.
Rubiales, só pela aparência, pela linguagem corporal independentemente da merda que fez, não me suscitava nenhuma confiança.
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Completamente de acordo com o seu texto.
Finalmente alguém faz uma análise isenta e descomprometida de – ou com – movimentos “underground” que mais não visam que linchar quem não alinha, incondicionalmente e com palas, com as suas ideias nem aplaude a lei do “mata que é ladrão”. Alguém “fez a cabeça” à Hermoso, uma vez não se vê ela esboçar um gesto de repúdio, antes parece ter participado no ato, e até declarou, em primeira instância, que este foi de consenso. Porém face ao alarido e possivelmente até ameaças (?) recuou para terrenos defensivos e irá acabar por subscrever a queixa que o MP Espanhol lhe está a solicitar, porque sem ela não haverá processo Judicial.
Não deveria merecer crítica que um homem e uma mulher, no calor da euforia de uma vitória desportiva única numa vida (repito única numa vida), se beijem, por um impulso mútuo já evidenciado em várias imagens e declarações, e os que criticam - o homem, a mulher, ou os dois - rasgando as vestes em tiradas estúpidas e balofas, desprovidas de contexto, é porque nunca vivenciaram na vida o sabor de uma única vitória pessoal, e mais não estão do que a contribuir para a antinatural e fundamentalista segregação de sexos e para a construção de uma sociedade assepticamente assexuada.
Mas... lá, como cá, a técnica já é velha e recria-se constantemente: – primeiro acusa-se, enxovalha-se e crucifica-se e depois de o visado/visada estar na lama e condenado(a) sem qualquer hipótese de defesa, logo se vê porque o objetivo já foi atingido. E mesmo que venha a ser ilibado(a) pela Justiça de nada lhe valerá porque condenado(a) na opinião pública já está, e a vida desfeita, também já.
Infelizmente somos um miserável rebanho que pratica o politicamente correto, eu, quase sempre, incluído.
https://sport.jotdown.es/2023/08/27/como-ibamos-a-explicar-la-situacion-de-las-futbolistas-si-en-las-redacciones-estamos-rodeadas-de-rubiales/
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