sexta-feira, novembro 26, 2021

Um Pai Natal gay...?

 

E as reticências seguidas de um ponto de interrogação, calma aí, devem-se apenas à minha admiração. 

E devo esclarecer que, num primeiro momento, o significado da palavra admiração foi 'espanto'. 

Depois li a explicação. Os Correios noruegueses, com este postal de Natal, pretendem evocar os 50 anos da despenalização da homossexualidade na Noruega.

Digamos que é um vídeo inesperado. Inusitado. Vivendo eu numa sociedade como a nossa em que a homossexualidade, em muitos meios, ainda é encarada como uma aberração ou uma deformação digna de gozação, um cartão de Natal em que o tema é a atracção entre homens e em que um deles é nada mais, nada menos que o Pai Natal, não escondo que, enquanto via, me interrogava: '... mas a que propósito vem isto...? que coisa disparatada...'

Mas, depois, sabendo qual a inspiração e sabendo que tudo o que se faça é pouco para que todos aceitemos os homossexuais como iguais, o significado da palavra admiração converteu-se em 'respeito'.

Harry, o habitante da casa, deixa um cartão a dizer que «Tudo o que eu quero para o Natal és tu, Santa» e o Pai Natal, já retirado, envia os presentes pelo Correio mas comparece para encontrar o seu amor. E beijam-se. 

Que melhor presente de Natal se pode ter do que a confirmação e a consumação do amor, em especial quando o amor era, antes, clandestino e, por isso, indefinidamente adiado, negado?

Quantos homens, pais de filhos, casados numa relação hetero, vivem uma vida de negação e encenação, recalcando em silêncio a sua atração e amor por outro homem? E, quem diz homem, diz mulher no caso da homossexualidade feminina.

Uma sociedade não será humana, inclusiva, progressista, civilizada, capaz de evoluir de forma saudável enquanto uma parte rejeitar outra parte, mesmo que a parte rejeitada seja uma minoria.

Por isso, que o Pai Natal seja hetero ou gay, real ou inventado, alpinista ou limpa-chaminés, magro ou gordo, barbudo ou cabeludo, sonhador ou comerciante, tanto faz. Que seja o que cada um quiser que ele seja.

E que o Harry e todos os Harrys desta vida encontrem o Pai Natal que desejam. E, se não for este ano, que seja quando puder ser. Mas que seja.


Em tempos tão difíceis, a braços com uma pandemia que não dá tréguas, no meio de incertezas terríveis como as que advêm da emergência climática, com tanta gente a sofrer angústias, ansiedades, medos, tanta gente aprisionada na mais triste solidão... eu desejo que saibamos passar por cima do que nos divide e nos juntemos em torno do que nos une. 

Lirismo, claro, mas, ainda assim, um sincero desejo. 

Lutemos pelos nossos ideais, procuremos o que nos faz felizes, deixemos de lado o que não interessa, afastemo-nos do que e de quem nos faz infelizes, compreendamos o quão efémera é a nossa passagem pela terra e não desperdicemos o tempo que nos coube em sorte com o que não empolga ou enternece o nosso coração. 

-------------------------------------------

Be happy

1 comentário:

Maria Santana disse...

Subscrevo! Muito bom o seu post!