sábado, maio 08, 2021

Voar, dançar.
Em Paris.

 

Quando chego à praia, em especial se apanho piso descendente, dá-me logo vontade de fazer competições de salto em comprimento com os meninos. Vem de sempre. Quando era miúda, adorava saltar em comprimento. Aquela sensação boa de a gente se desprender do peso e de atingir o mais longe... A última vez que fiz isso, esquecida da idade física, tanto saltei que, às tantas, num dos saltos, aterrei em falso, dei um mau jeito e consegui ficar, depois, com um joelho todo empanado. Claro que, em especial a minha filha com quem eu estava nesse momento, se fartava de gozar comigo: quando te perguntarem como ficaste assim, diz que foi a fazer salto em comprimento na praia. Como se fosse estranho uma mulher da minha idade fazer competição de saltos com crianças da mesma idade. 

Mas isto para dizer que saltar em comprimento é a coisa mais parecida com voar pelos ares que acho que ainda consigo fazer. E digo isto mas, como é óbvio, cada vez voo mais baixinho e para mais curtinho... Quando fazia ballet, até aos dez ou onze anos, adorava rodopiar, elevar as pernas, dançar com os braços,  esvoaçar com leveza ao som da música. Depois, aos poucos, sem exercício, fui perdendo essa agilidade, essa plasticidade, essa graciosidade. Mas mantive-me amante da dança: amante passiva, claro. Gosto de ver dançar. Muito. Não gosto muito daquela dança dita experimental, em que a música não tem melodia e em que os movimentos têm mais peso que leveza. Não encontro beleza em pessoas colectivamente esbodegando-se pelo chão. Mas de elegância, ausência de gravidade, gestos soltos, corpos entregando-se ao prazer do voo e da liberdade, isso eu gosto sempre.

Esta dança que aqui partilho convosco tem a graça suplementar de ser num daqueles telhados dos quais se vê a bela, bela, bela Paris. Quem já esteve num telhado a ver em volta o elegante casario, o rio, as pontes, a torre, os jardins, os boulevards, as praças de Paris sabe que é daquelas boas sensações que a gente leva desta vida. 

Cédric Klapisch é o obreiro. 

Le Châtelet sur le toit | Marion Barbeau


O making of


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Imagens do artigo Cédric Klapisch : "La danse reflète le côté à la fois grandiose et dérisoire de l’être humain" de Madame le Figaro

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