The Bathers -- Ahmad Nashaat Alzuaby,1964 |
Não gosto de falar sobre o que não sei. E a verdade, verdadinha, é que não percebo boi do que se passa na Síria. Só sei que o que lá se passa não é coisa boa, nada, nada boa. Melhor: uma desgraça de todo o tamanho e, pior, sem contornos. Se quisesse remeter-me para o léxico topológico nem saberia enquadrar o que lá se passa, na melhor hipótese diria que se trata de um qualquer espaço homeomórfico que se transmuta consoante quem o olha.
Do nada que sei, não consigo apontar um dedo convicto ao suposto facínora Bashar al-Assad como sendo o único mau da fita tal como não consigo fazê-lo em relação a qualquer um dos outros, terroristas, extremistas, aliados ou bandidos.
Mas uma coisa eu sei e tem a ver comigo: não embarco no que me dizem quando a coisa não é óbvia e quando não têm provas para mostrar (excepto se for gente credível a toda a prova -- o que, convenhamos, está longe de ser o caso).
Uns quantos resolveram atacar um país e fizeram-no por sua alta recriação; acontece que, ainda por cima, se trata de gente de índole mais do que duvidosa, gente doida, gente parva, gente a quem não se conhecem grandes escrúpulos, -- e isso a mim não me inspira qualquer confiança.
O espaço político (ou palco de guerra, como se diz) é mais do que conturbado e de lá nunca a informação nos chega escorreita; do palhaço do Trump já mais do que conhecemos do que a casa gasta; sobre o Reino Unido sabemos também bem como aquela tropa anda a deitar a mão a qualquer farsa para afastar o mau olhado do Brexit e a baixíssima popularidade da desajeitada May. Portanto, desculpem mas não vou na cantiga disto de ter sido uma boa coisa terem atacado o arsenal químico da Síria. E não vou por todos os motivos e mais um, sendo que esse um é que podem ter atacado muita coisa mas um arsenal químico não atacaram de certezinha absoluta. Não sou a única a dizê-lo e estou bem acompanhada nisso: não apenas o Pata Negra como várias testemunhas, cientistas e vozes informadas.
Horse market, Syria -- Alberto Pasini, 1893 |
Portanto, havendo na minha mente a dúvida não esclarecida sobre se este ataque tem alguma coisa a ver com alguma coisa do que é dita ou se é mais uma patranha como a das armas de destruição maciça que justificaram a invasão do Iraque -- e, nessa altura, também com meio mundo a acreditar nos aldrabões que se juntaram nas Lajes pela mão do faxineiro Durão Barroso -- deixo-me ficar calada. Que fale quem souber do que fala.
Outra coisa que eu também não percebo bem é que ideia é a do Macron para meter a França nisto, ao lado do anormal do Trump e do caso-perdido da May. Mas, enfim, nestes tabuleiros tudo se joga e, portanto, alguma é -- e, provavelmente, não é boa.
[Nem por coincidência acabei de receber, por mail, um vídeo desmontando imagens e notícias, tentando demonstrar a manipulação pegada que dali nos chega. Mas como também não sei se é verdade ou não, agradeço a quem mo enviou mas, por via das dúvidas, não o mostro].No meio disto tudo o que lamento, mas lamento de coração, é a destruição de tantas vidas e de tantas cidades. Houvesse maneira segura de interromper este ciclo de loucura e restaurar uma vida digna e feliz naquele país e era isso que eu apoiaria. Agora isto...?
Syria — Ruins by the Sea Frederic Edwin Church, 1873/1874 |