Fui juntar um pedaço de madeira ao fogo que crepita na salamandra. A chuva cai espaçadamente lá fora. A sala está acolhedora mas, se o fogo abranda, sente-se logo como que uma aragem fresca.
Não presto atenção ao que passa na televisão. Nada que me interesse. Estive a ler. Depois entretive-me a mudar o aspecto do blog. Gosto de mudar. Em mais um dos vários assessments a que me sujeitei, sem surpresa, dei por mim a responder que o que me atrai é a mudança. Perguntam a mesma coisa de muitas maneiras diferentes mas não há volta a dar:
Prefere o que conhece ou o que desconhece? O que desconheço.Prefere ambientes estáveis ou cenários de mudança? De mudança.Prefere trabalhar segundo regras conhecidas ou em situações em que as regras estão por definir? Por definir.[Muitas perguntas. Sempre respostas assim: construir, mudar, conhecer, ousar.]No fim, perguntaram-me: o que gostava de fazer? Disse: qualquer coisa de inesperado.Como?, perguntaram-me. Respondi: qualquer coisa que me deixasse surpreendida, em que nunca tivesse pensado, que não soubesse se saberia fazer.
Construir caminhos. Desafira-me a mim própria.
Gosto muito de construir caminhos. Aqui in heaven todos os caminhos foram idealizados por mim. Onde apenas havia mato rasteiro e pedras, eu dizia: por aqui, depois curva por aqui, depois segue, segue, segue, ali curva levemente, aqui bifurca e vai um para ali e outro para ali. Antes de eles existirem, eu imaginava-os. Agora parece que sempre ali estiveram e os meus passos seguem por eles como se eles não tivessem nascido na minha cabeça mas de dentro da terra.
Gosto muito de construir caminhos. Aqui in heaven todos os caminhos foram idealizados por mim. Onde apenas havia mato rasteiro e pedras, eu dizia: por aqui, depois curva por aqui, depois segue, segue, segue, ali curva levemente, aqui bifurca e vai um para ali e outro para ali. Antes de eles existirem, eu imaginava-os. Agora parece que sempre ali estiveram e os meus passos seguem por eles como se eles não tivessem nascido na minha cabeça mas de dentro da terra.
Ou do velho fazer novo. Restaurar. De uma casa velha e sem graça fazer uma casa nova e luminosa. Quase todos os móveis que aqui estão têm uma idade indeterminada. Foram restaurados. Mas um não, o mais bonito de todos foi feito pelo meu pai. Imaginei-o, desenhei-o e ele deu-lhe corpo. Sobreviver-lhe-á. Sobreviver-me-á.
O fruto dos meus sonho é menos efémero que eu. Mesmo estas palavras. Sobreviver-me-ão. As minhas fotografias também. Quase tudo me sobreviverá. Talvez alguém, um dia, vendo uma fotografia minha, diga: esta foi a minha trisavó; foi ela que imaginou estes caminhos, que plantou estas árvores, que aqui mandou fazer estes bancos. E escrevia muito, ela. Palavras soltas.
Somos efémeras e vulneráveis criaturas. E nem sempre nos lembramos disso. Se nos lembrássemos aspiraríamos com prazer o ar que respiramos, sorriríamos à passagem do vento, colheríamos com alegria todas as gotas de chuva, abençoaríamos os raios de sol. E viveríamos cada instante com o prazer de quem não sabe quantos mais terá. Sem pecado e com inocência. Os frutos, os amores, os sonhos, os reflexos de luz, os laços, os infinitos nadas.
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E queiram descer, para seguirem pelos meus caminhos aqui, in heaven
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E queiram descer, para seguirem pelos meus caminhos aqui, in heaven
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