Onde está a parte dos outros que é nossa quando eles estão longe e nós os sentimos tão misteriosamente próximos?
Por que lugar do imenso espaço circulam as palavras, as saudades, os sorrisos daqueles que se querem e que nem sempre podem ver o brilho do olhar e sentir na pele a doçura da voz do outro? Em que infinito lugar gravita, pois, a memória dos que não estão junto a nós mas habitam o nosso coração?
E qual o céu para onde vamos quando entramos no atraente corredor de luz que nos espera? E em que nos transformamos quando deixamos de ser aquilo que hoje somos? Em pó? Em matéria escura? Numa desconhecida matéria feita de coisa nenhuma, talvez apenas feita de tracejados movimentos, de aparentes aproximações? Ou de ínfimos, muito ínfimos, pontos de luz amorosamente enlaçados?
E em que outros mundos nos encontrámos, nós os que nos conhecemos desde sempre, talvez de outras vidas? Num mundo rarefeito em que nem o tempo existia?
E os que assim se conheceram, viverão juntos por toda a eternidade? Mesmo que invisíveis, intangíveis, habitando um misterioso halo de luz, para sempre estarão unidos por um amor inexplicavelmente real?
(Eu acho que acredito que sim. Ou melhor: eu gostava de acreditar que sim).
Energy flow
À volta de cada uma das galáxias, os astrónomos observam o efeito de um grande halo de matéria que revela a sua existência através da força gravitacional com que atrai estrelas e desvia a luz. Mas esse grande halo, do qual observamos os efeitos gravitacionais, não conseguimos vê-lo directamente e não sabemos de que será feito. Foram estudadas muitas hipóteses, mas nenhuma parece funcionar. Que haverá ali qualquer coisa parece já evidente, o que será, não sabemos. Chamemos-lhe hoje "matéria escura". Parece de facto tratar-se de qualquer coisa que não é descrita pelo modelo padrão. Caso contrário, vê-la-íamos. Algo que não é nem átomos nem neutrinos nem fotões...
Não é de surpreender que existam mais coisas no céu e na Terra, caro leitor, do que sonha a nossa filosofia; e a nossa física. No fundo, até há poucos anos nem sequer suspeitávamos da existência das ondas de rádio ou dos neutrinos, que, no entanto, preenchem o universo.
(...)
Por ora, é isto que sabemos da matéria. Um punhado de tipos de partículas elementares, que vibram e flutuam continuamente entre o existir e o não existir, que pululam no espaço mesmo quando parece não estar lá nada, que se combinam até ao infinito como as vinte letras de um alfabeto cósmico para narrar a imensa história das galáxias, das estrelas inumeráveis, dos raios cósmicos, da luz do Sol, das montanhas, dos bosques, dos campos de cereais, dos sorrisos dos rapazes nas festas e do céu negro e estrelado de noite.
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O título do post pertence a um poema de Herberto Helder. A primeira e a última fotografias foram feitas este domingo in heaven. A música é de Ryuichi Sakamoto - Energy Flow.O texto em itálico pertence ao livro 'Sete breves lições de física', capítulo "Partículas" de Carlo Rovelli.
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Muito gostaria ainda que descessem até ao post seguinte para ler um texto sobre os quanta e sobre as descontinuidades que existem em nós.
Ainda mais abaixo continuo com Herberto Helder, desta vez no último vídeo do Cine Povero.
Ainda mais abaixo continuo com Herberto Helder, desta vez no último vídeo do Cine Povero.
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1 comentário:
Cara UJM,
Já que nestes seus dois últimos Post faz referencias a questões do Cosmo, permita-me que partilhe consigo e com os seus Leitores um artigo muito interessante que recolhi outro dia num jornal, sobre questões sobre este nosso espantoso Universo:
"Recentemente, cientistias detectaram no Universo um objecto cósmico que é 570 mil milhões de vezes mais brilhante do que o Sol! Aqueles s cientistas acreditam que se trata de uma supernova - a confirmar-se, será a mais brilhante alguma vez observada. É um objeto muito distante e extraordinariamente brilhante que surgiu no céu pela primeira vez em Junho. Descrito num estudo publicado na revista científica Science, os investigadores acreditam que se trata de uma supernova - a maior alguma vez observada, ultrapassando aquilo que se pensava ser o limite de energia libertada pela explosão de uma estrela. A explosão descoberta por investigadores que usavam o All Sky Automated Survey for SuperNovae, projeto coordenado na universidade de Ohio State, é 570 mil milhões de vezes mais brilhante do que o nosso Sol e 200 vezes mais forte do que uma supernova normal!! Conforme destaca o Washington Post, este objeto, batizado ASASSN-15lh, é 20 vezes mais brilhante do que todas as estrelas da nossa galáxia juntas, mas só mede 16 quilómetros de lado a lado!! Uma supernova acontece quando uma estrela massiva chega ao fim do seu ciclo de vida e explode, emitindo quantidades assombrosas de energia e luz. Neste caso, porém, o ASASSN-15lh devia ter uma estrela enorme no seu centro. Os investigadores que escreveram o artigo científico a descrever o objeto colocam a hipótese de que se trate da supernova de uma estrela de neutrões, um tipo de estrela com um campo magnético muito poderoso, que poderia ajudar a amplificar a explosão da estrela. Mas mesmo essa hipótese chega a ser colocada em dúvida pelo tamanho e brilho enormes do objeto em causa. "É um grande desafio explicar este objeto com um dos nossos modelos mais populares para o motor de uma supernova superluminosa", explicou ao jornal Washington Post o principal autor do estudo, Subo Dong, astrónomo na universidade de Pequim. Mas o seu tamanho e brilho também facilitam o trabalho dos astrónomos e físicos que o estudam. "As boas notícias são que o ASASSN-15lh é brilhante, por isso é relativamente fácil obter observações de alta qualidade", disse Dong. "Estou certo de que num futuro próximo vamos percebê-lo muito melhor".
P.Rufino
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