Acredito cada vez mais que somos o que os outros vêem ou sentem por nós. E que, por isso, somos muitos, tantos quantos aqueles que nos vêem. E tão mais rica a nossa personalidade quanto maior a nossa capacidade de nos transformarmos na interacção com os outros. Acredito, pois, que somos em função daqueles para quem somos. Acredito também que somos consoante o lugar e as circunstâncias onde estamos.
Acredito que apenas uma ou duas ou três ou quatro, poucas pessoas, têm o dom de desvendar em nós aquilo que temos de melhor. E que, ao pé de quem não tenha essa capacidade de nos ver, retrocedemos ao nosso estado normal, mediano, neutro, quase inexistente.
Ou seja, acredito que, portanto, não somos seres unos mas múltiplos -- e incompletos enquanto não formos completamente desvendados, e vulgares enquanto a sensibilidade de um outro, como um líquido revelador, não nos mostrar aquilo que somos capazes de ser.
And the light is forever
Heisenberg imagina que os electrões não existem sempre. Existem apenas quando alguém olha para eles, ou melhor, quando interagem com qualquer coisa. Materializam-se num lugar, com uma probabilidade calculável, ao embaterem em qualquer coisa. Os "saltos quânticos" de uma órbita a outra são o seu modo de serem reais: um electrão é um conjunto de saltos de uma interação a outra. Quando ninguém o perturba, não está em nenhum sítio. Não está num sítio.
É como se Deus não tivesse desenhado a realidade com um traço grosso, mas se tivesse cingido a um leve tracejado.
(...)
Onde estão esses quanta do espaço? Em lado nenhum. Não estão num espaço, pois eles próprios são o espaço. O espaço é criado pelo interagir de quanta individuais de gravidade. De novo, o mundo parece ser relação, mais do que objectos.
(...)
Onde estão esses quanta do espaço? Em lado nenhum. Não estão num espaço, pois eles próprios são o espaço. O espaço é criado pelo interagir de quanta individuais de gravidade. De novo, o mundo parece ser relação, mais do que objectos.
.... .... .... ....
O título do post pertence a um poema de Herberto Helder. A primeira e a última fotografias foram feitas este domingo in heaven. A música é de Kevin Kern: And the Light is Forever. Os dois primeiros parágrafos do texto em itálico pertencem ao capítulo "Os quanta" e o último ao capítulo "Grãos de espaço" do maravilhoso livrinho 'Sete breves lições de física', de Carlo Rovelli.
.... .... ....
Permitam que vos convide a descerem até ao post seguinte onde poderão ver e ouvir um novo vídeo do Cine Povero, também com Herberto Helder.
....
Sem comentários:
Enviar um comentário